Diálogos Ciencialist

 
 

Abril a Junho de 2000 eCC

   Teorias Realistas Atuais e O Paradoxo EPR

 

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msg 30
De: "Alberto Mesquita Filho"
Data: 19/05/00
Belisário: Hm... não achei uma boa idéia deslocar a discussão para os seus artigos, Alberto, porque acabamos mudando completamente de assunto, inauguramos novos "threads" simultâneos, e não vamos conseguir voltar ao assunto original por ali. Então retomo a discussão original

OK, eu somente citei os artigos porque o argumento apresentado em sua msg de 09/05/00 cobrava-me um grande número de comentários relativos a: Como a física clássica explica determinados efeitos observados experimentalmente e assumidos como explicáveis unicamente pela relatividade moderna? Procurei expor em poucas palavras os argumentos essenciais a minha lógica e encaminhei os leitores interessados no assunto para que visitassem meu site. Voltemos então à discussão original. Vou apenas comentar ligeiramente a questão que teria ficado pendente em sua última msg (responderei aqui para não ramificar desnecessariamente a thread), qual seja:

Belisário: A questão reformulada então é: como explicar classicamente que fenômenos idênticos envolvendo sistemas físicos idênticos levem tempos diferentes para acontecerem, dependendo da velocidade do observador em relação a esses sistemas?

Simplesmente entendendo bem os princípios que estão por trás do funcionamento do que chamamos relógio. E isto inclui os seguintes questionamentos:

  1. Os relógios seriam funcionalmente idênticos?
  2. Relógios a se apoiarem no conceito "giro" de partículas seriam idênticos a relógios a se apoiarem em "vibrações" periódicas outras observadas pelas partículas?
  3. As células vivas seriam relógios biológicos, no sentido de apresentarem metabolismos diferentes quando em velocidades diferentes?

Percebe-se nitidamente que tais considerações implicam em algo muito ao estilo do espaço e tempo absolutos referidos por Newton. O que não é de se estranhar, pois estou propondo uma explicação clássica. Quando digo que os físicos estão enfeitiçados pela física moderna é porque dão-me a impressão de quererem que eu explique uma coisa como clássica utilizando-me dos princípios da física moderna. Isso, de duas uma, ou é ignorância ou má fé, além de implicar no pressuposto de que eu deveria adotar um raciocínio ingênuo.

Voltemos então à discussão original:

Alberto: eu creio que na prática existe apenas um anteparo com orifício. Ou a partícula passa pelo orifício ou não. Se passar, a posição estará determinada dentro da incerteza dada pelo tamanho do orifício...

No caso dos elétrons a situação é diferente. O campo imediatamente "cria" o conceito de "spin" que não tem nada a ver com um possível "giro" primitivo. Perceba também que não existe o correspondente ao tamanho do orifício: qualquer que seja a intensidade do campo, desde que o efeito se manifeste, o resultado será praticamente o mesmo: 50% up e 50% down para uma população aleatória. Somente após o efeito do campo se manifestar é que o "spin fabricado" irá ser medido, ao passo que no caso anterior a medida é feita exatamente graças à passagem pelo orifício e não após a entrada num campo.
Belisário: Ainda me parece ser possível estabelecer uma analogia. Vejamos: Antes de o elétron passar pelo campo magnético, ele está num estado misto de spins. Da mesma forma, antes de passar pelo orifício, a partícula está num estado misto de posição: a sua função de onda estende-se pelo espaço.

A passagem do elétron pelo campo magnético e sua posterior detecção num anteparo equivale a uma medida do spin, que colapsa a função de onda mista para um dos dois estados "puros" de spin. Da mesma forma, a passagem da partícula pelo orifício e a sua posterior detecção num anteparo equivale a uma medida da posição, que colapsa a função de onda mista para um estado ainda misto, mas com dispersão na posição muito menor.

Concordo plenamente, lembrando apenas que, com esta argumentação (estados "puros" de spin), você está admitindo a possibilidade de que eu possa interpretar o spin como um artefato devido à existência de um "giro clássico". E é nesse sentido que digo "deixar a quântica para os quânticos", desde que eles não pretendam, apoiando-se apenas em postulados, limitar minha maneira de observar a realidade. Mesmo porque, não havendo atritos desse tipo, porque haveria eu de desprezar "a matemática que funciona"? O problema é que na história da física quântica, parece-me que existem indivíduos que tentaram dar esse grau de liberdade aos clássicos e foram considerados hereges. Ou eu muito me engano ou foi o caso de Schrödinger (após seus feitos notáveis iniciais), David Bohm (não apenas por suas teorias, mas também por sua complascência com teorias outras) e, segundo ouvi, mas não tenho muita certeza, até mesmo Dirac. Lembro ainda que o argumento diferencia formalmente a experiência EPR original da "experiência EPR" com spin. Enfim, esses são apenas comentários paralelos. O importante, para o que se segue, é que concordei com sua argumentação.

Belisário: É claro que os dois sistemas têm diferenças cruciais. Por exemplo, o spin é quantizado, é uma variável discreta, enquanto a posição é uma variável contínua. Por isso, uma medição do spin pode resultar num valor bem determinado, enquanto que a da posição não.

Mas ainda assim fica-me uma esquisitice por trás desse argumento. No caso da posição, a outra variável do par conjugado é o momento. No caso do spin parece-me que os físicos quânticos dão a entender que seria o próprio spin, apenas que o da outra partícula e medido com o polarizador fixado em outro ângulo. Não é esquisito isso? Estaríamos falando da mesma coisa? É como se, no caso da posição, eu desprezasse o par conjugado momento e pretendesse medir a posição duas vezes, em uma utilizando um orifício circular e, na outra, utilizando um orifício quadrado, ou então com o anteparo formando um ângulo com a vertical...!!? Enfim, quero acreditar também que, se "a medição do spin resulta num valor bem determinado", parece-me que utilizando a "lógica" de Heisenberg (não sei até que ponto poderia me referir ao princípio em si) o spin na outra partícula (fosse esse um par conjugado do primeiro) poderia tomar qualquer valor (estaria totalmente indeterminado), mesmo que os polarizadores fossem paralelos. E não me parece ser essa a conclusão do teorema de Bell, a fixar determinados limites à expectativa experimental, conquanto meus conhecimentos a respeito tenham se esvaido no tempo (estudei isso há mais de 10 anos). Parece-me então que, ou a física quântica tem outra explicação para o fenômeno, que não o princípio de Heisenberg, ou a desigualdade de Bell extrapola o que seria esperado pela física quântica.

Belisário: Mas isso não impede que, da analogia posta acima, siga-se que é possível abordar os dois processos de medida com o mesmo formalismo axiomático da Mecânica Quântica - incluindo o princípio da indeterminação, que em ambos os casos é o mesmo velho princípio de Heisenberg tradicional.

Pois não consigo enxergar dessa forma. O grau de liberdade que você me deu acima, ao permitir-me enxergar um spin clássico, além de outros fatores, levaram-me a uma conclusão diversa.

Belisário: (Note que em ambos os casos a medição só é concretizada após a partícula bater no anteparo.) Para falar a verdade, não vejo muito bem como esse problema do spin pode implicar em alguma inconsistência no desenvolvimento do teorema de Bell.

Pois eu estou cada vez mais convencido de que o teorema de Bell não serve como critério a justificar qualquer experiência que pretenda confrontar a física clássica com a física quântica.

[ ]'s
Alberto

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