Ensaios sobre Filosofia e Ciência Orientais
3 — O Princípio Unificante Capítulo 22 do Livro 1 Introdução O princípio unificante da filosofia oriental é um conjunto de doze afirmações, chamadas teoremas, onze das quais complementam a primeira que admite um Universo essencialmente polarizado iniologicamente. Ou seja, todos os fenômenos universais podem ser classificados em categorias polares, com polos yin e yang; e mesmo categorias diversas se interelacionam através de uma ordem comum. Por exemplo, coisas aparentemente diferentes, como peso (leve = yin e pesado = yang) e calor (frio = yin e quente = yang) têm algo em comum. O princípio unificante tem uma função orientadora no estabelecimento de relações entre variáveis de significados nem sempre aparentados à primeira vista. Trata-se de uma filosofia essencialmente monista e que graças à classificação dicotômica de suas unidades chega a ser erroneamente considerada dualista. O dicotomismo é pura e simplesmente uma maneira útil de compararmos o teor de um caráter em dois objetos diferentes. Assim, ao dizermos que um corpo é yang e outro é yin, no que diz respeito à sensação térmica, nada mais estamos dizendo que a temperatura de um é maior do que a do outro. Não existem duas coisas diferentes (dualismo) pois quente (yang) e frio (yin) refletem sensações subjetivas e relativas a um mesmo caráter (temperatura). Em reforço a esta idéia, lembro que um corpo quente (yang) em relação a outro, pode ser frio (yin) em relação a um terceiro mais quente que o primeiro. Poderíamos, quando muito, dizer que existe uma dualidade interpretativa, relativa e momentânea a se relacionar a como os objetos e/ou fenômenos manifestam-se a nós, mas a retratar uma unicidade ou monismo filosófico por detrás dessa interpretação. O dicotomismo, o monismo, o relativismo e o interelacionamento entre variáveis deve ser analisado com muito cuidado. Nunca é demais repetir que o princípio unificante é essencialmente metafísico e, como tal, orienta o raciocínio científico. Embora nos auxilie até mesmo na utilização da lógica transcendental e na previsão de ocorrências, jamais será capaz de criar um coelho no interior de uma cartola, ainda que consiga em certas circunstâncias "trazer a montanha até Maomé". Assemelha-se, sob certos aspectos, com o princípio da causalidade ou com o princípio de Le Chatelier que, em ciência, são encarados mais como regras absolutas do que propriamente princípios. O princípio unificante é frequentemente comparado, e de uma maneira bastante feliz, com uma bússola: a bússola é um objeto único que se manifesta através de dois polos e, por seu comportamento, orienta os navegadores. Pois o princípio unificante é uma filosofia monista que se manifesta dicotomicamente e nos orienta no estabelecimento de um contato íntimo e sadio com a natureza. 2 A Ordem Iniológica O primeiro teorema é bastante simples mas, como encerra dois conteúdos de uma só vez, chega a ser mal compreendido numa primeira leitura. Apresentarei, e com a finalidade didática, duas versões equivalentes do mesmo pois, em cada uma delas, um dos conteúdos se torna mais evidente.
Isto é quase o mesmo que dizer que "tudo na natureza ou no Universo pode ser encarado como que constituído por antagônicos complementares". Este aspecto já foi discutido na introdução e podemos então passar para o outro conceito que está embutido na expressão "ordem iniológica" e que não significa pura e simplesmente uma dicotomização.
Não há nada de místico nem de incompreensível nesta afirmação. A "Infinidade Una" pode ser pensada como o elemento primordial do Universo, ou seja, a matéria em sua expressão mais simples. E como tal é a única que não é yin nem yang mas manifesta-se através de seus polos em "mutação sem fim" [Ou podemos também pensar como sendo o caráter essencial e último a ser considerado, dentro dos limites que pretendermos impor ao problema a ser estudado — Nota acrescentada a esta versão de maio/2000]. À primeira vista esta idéia está bastante de acordo com os confusos conceitos unificantes da física moderna: espaço-tempo, matéria-energia, corpúsculo-onda. Mas podemos entender o princípio de maneira mais clara se adotarmos alguns conceitos antigos e "obsoletos". Vamos dizer então que a "Infinidade Una" representa os tijolos do Universo, ou seja, as partículas realmente elementares, os átomos de Demócrito. Note que eu estou partindo para o terreno representacional e, portanto, correndo o risco de cometer erros. Digo que os átomos de Demócrito constituem a "Infinidade Una" porque preenchem o Universo; onde houver espaço, haverá grande número destes corpúsculos espalhados pelo mesmo. E sendo todos eles iguais e indivisíveis, justificam a denominação Una. Para Demócrito seus átomos não estavam em repouso mas dançavam intensamente. É difícil saber como Demócrito chegou a esta conclusão mas, ao que parece, está bastante de acordo com os conceitos orientais antigos. Nesta dança os átomos obviamente devem trocar movimentos, vivendo assim numa "mutação sem fim". Veremos novos aspectos desta "mutação sem fim" no item 5, após a análise de outros teoremas. 3 Referenciais Iniológicos Um referencial iniológico será aqui considerado como um critério de classificação de entidades yin ou yang; por outro lado, um referencial físico, ou simplesmente referencial, será aqui considerado, salvo manifestação em contrário, com a sua conotação costumeira, ou seja, como um critério de classificação da posição de um corpo no espaço. Segundo a linha de interpretação oriental, o movimento é yang, tendo como antagônico complementar absoluto o "inexistente" repouso total (ausência de movimento — vide teorema VII no item 9) que seria yin. De um ponto de vista relativo e dentre duas partículas, a que está mais próxima do repouso é yin, enquanto a outra é yang. Vejam que o conceito de movimento, sob esse aspecto, é absoluto, mas os conceitos yin e yang são relativos [ou seja, um corpo A pode ser yin em relação a outro B e yang em relação a um terceiro C — Nota acrescentada nesta apresentação de maio/2000]. A mudança de referencial da cinemática newtoniana não deveria alterar as características iniológicas absolutas assim definidas. Um corpo dotado de movimento absoluto jamais poderá ser considerado em repouso absoluto pelo simples artefato de mudança de referencial. Dentre duas partículas com quantidades de movimento diferentes, uma das duas sempre será yang em relação à outra, que no caso será yin. E em nenhum referencial o inverso será verdadeiro. Este é um caso em que uma relação entre dois relativos é uma relação absoluta. A dialética oriental está repleta de situações aparentemente paradoxais como esta. Vejam que eu me utilizei de um teorema ainda não apresentado (teorema VII) a nos afirmar, dentre outras coisas, que "tudo está em movimento" e, consequentemente, nada está em repouso. Ora, se nada está em repouso, deve haver pelo menos um referencial físico onde tudo o que existe no Universo se move. Este nada mais seria do que o referencial em repouso absoluto da filosofia e/ou ciência oriental antiga. Este raciocínio aproxima-se, sob certos aspectos, da lógica newtoniana. Newton admitia a relatividade galileana, porém não abriu mão do conceito de repouso absoluto. Vimos como classificar o yin e o yang com respeito ao movimento. Porém esta classificação é de pouco interesse prático pois nào há como medir este movimento absoluto com os dados que dispomos até aqui. O referencial absoluto é uma entidade lógica porém, até hoje, não verificado experimentalmente. Uma outra maneira, de conceituar o yin e o yang, é através de um referencial iniológico relativo. Como veremos, não correspondem exatamente ao mesmo yin e yang já definidos, mas o estudo não é contraditório, pois o referencial iniológico utilizado é outro [As mudanças de referencial da ciência oriental não são iguais àquelas da física clássica, ainda que tenham um sentido equivalente. Na física clássica podemos transformar um objeto em movimento em um objeto em repouso pela mudança de referencial físico; isto também pode ser feito na ciência oriental mas existe aí também a possibilidade de transformarmos um objeto yin em yang, através da escolha de um outro modelo de referencial iniológico, como veremos abaixo — Nota acrescentada na versão de maio/2000 deste capítulo]. Vejamos então o que diz o teorema II do princípio unificante (em algumas versões ele é citado como teorema III):
Ou seja, se fixarmos um referencial numa partícula qualquer, outras partículas que se aproximam desta serão centrípetas (dirigem-se para o centro do referencial) e, portanto, yang; por motivo semelhante, as que se afastam serão yin. Por exemplo: em relação ao filamento de uma lâmpada, a luz emitida é yin, enquanto que aquela incidente (vinda de outra lâmpada) é yang. Notem que perdemos um caráter absoluto (movimento) mas ganhamos um caráter direcional ou polarizável. Por outro lado, como diferenças de movimento são independentes do referencial utilizado (isto em física clássica), a perda não chega a ser muito grande. O movimento, de um ponto de vista absoluto, é yang e, portanto, quanto maior a diferença de movimento entre duas partículas, mais uma delas será yang em relação à outra. O curioso é que não sabemos qual das duas é a mais yang, mas isso não faz muita diferença pois o referencial poderia ser colocado em qualquer das duas e o problema admitiria sempre a mesma solução. Uma situação semelhante é encontrada em eletricidade: uma corrente de partículas negativas é equivalente a uma corrente de partículas positivas em sentido oposto. 4 As Trocas de Movimento É um fato já sobejamente conhecido que as partículas elementares movimentam-se intensamente e, de uma forma desconhecida, trocam movimentos: uma influencia o movimento da outra, mesmo sem se tocarem. Uma das maiores aspirações da física moderna é descobrir como se dá essa troca à distância. No mundo macroscópico também existem estas trocas, porém notamos um "verdadeiro" choque ou mesmo trombada entre os objetos. Uma situação macroscópica muito semelhante à que ocorre no microcosmo é a interação ou "choque" entre corpos magnetizados (imãs) através de polos iguais (repulsivos). Os corpos magnetizados se reconhecem, ou seja, um informa ao outro qual dos seus polos está se aproximando. No item anterior vimos duas maneiras de estudar o movimento dos corpos: uma delas é polarizável quanto ao movimento (movimento/repouso) e a outra quanto à direção (aproximação/fuga). Não custa nada procurarmos uma explicação para as interações entre partículas relacionadas a essas polarizações. Os teoremas III e IV da iniologia (em algumas versões são citados como teoremas IV e V), aplicáveis também ao magnetismo, nos auxiliam nesta procura:
Já vimos que o movimento é uma entidade yang por excelência. Vamos admitir então duas partículas em movimento de tal forma que uma delas tenha maior quantidade de movimento absoluto do que a outra. Mesmo sem sabermos qual das duas é a mais yang, podemos escolher uma delas e dizê-la dotada de toda a característica yang do conjunto (diferença de movimento). O referencial físico a retratar a diferença real e a permitir a classificação absoluta das partículas dentro do conceito relativo yin-yang, seria o referencial iniológico absoluto. Consideremos agora um referencial físico fixo nesta partícula que escolhemos como sendo a yang. Neste referencial ela estará em repouso e a outra em movimento. Podemos então agora classificar a característica iniológica da outra segundo o critério direcional (teorema II): se ela estiver se aproximando será, neste referencial, yang, e como yang repele yang (teorema IV) elas serão brecadas, ou desviadas uma da outra e, por fim, refletidas. Por outro lado, se ela estiver se afastando, será yin e, de acordo com o teorema III, será atraída pela outra. A conclusão a que chegamos é que, a ser verdadeiro o princípio unificante, partículas que se afastam se atraem e partículas que se aproximam se repelem. A mesma conclusão poderia ter sido obtida com a generalização do princípio de Le Chatelier para o estudo do movimento. 5 A Mutação Sem Fim Como uma partícula reconhece a característica yin ou yang da outra? E como quantifica este caráter? Se formos adotar a linha de conduta clássica da física, diremos que as partículas geram um campo de forças iniológico. Mas isso não é uma resposta! Dizer que uma região do espaço está dotada de um campo de forças é o mesmo que dizer que esta região possui algo que não conhecemos e que, de alguma forma também desconhecida, atrai ou repele alguma coisa que julgamos conhecer. As teorias de campo clássicas são teorias representacionais dotadas de um nível de representação bastante pobre; são enunciadas mais como uma tentativa de esconder uma ignorância do que propriamente representar alguma coisa imaginária. Eu prefiro assumir maiores riscos e admitir a existência de uma entidade absoluta e desconhecida pela nossa física mas que se mostre real à medida que responde a uma infinidade de perguntas que a física ainda não respondeu. E este é o verdadeiro papel de uma "teoria de caixa translúcida", a se transformar cada vez mais em "teoria de caixa transparente"; e esta é também a trilha procurada por aqueles que adotam o realismo científico como ideal de vida. Procuro então criar uma imagem representacional para esta hipotética entidade; e nada melhor que começar atribuindo-lhe um nome compatível com sua função. Acredito, tal e qual Newton, na existência de uma entidade imaterial emitida pelas partículas em virtude de seu movimento, como que a informar este movimento. E esta informação deve ser polarizada: uma partícula que se dirige para a direita informa as que estão no seu caminho que está se aproximando; e informa as do outro lado (esquerdo) que está se afastando. Por se tratar de uma informação de movimento, e gerada por partículas elementares, chamo-a de informação motora elementar. E conforme o tipo de movimento (translação ou rotação) e a maneira como este movimento é "visto", os efeitos resultantes são gravitacionais, ou elétricos, ou magnéticos, ou mistos. Como o movimento, pensado sob o ponto de vista da ciência oriental, é uma entidade absoluta, a informação motora, pensada no mesmo contexto, também será. Desta forma, ao mudarmos de referencial devemos dotar as informações motoras de artefatos iniológicos semelhantes aos adotados para o movimento. A informação motora é algo emitido pelas partículas e, consequentemente, foge de sua origem, sendo então caracteristicamente yin, ao contrário do movimento que a gera e que é yang. Existe aqui também o aspecto relativo: yin significa algo que se distribui, como o amor ao próximo; e yang é algo que se tem, como o amor do próximo. A informação é yin na origem e yang no efeito (na chegada a outra partícula). Por ser yang no efeito, ela gera o movimento (gera num sentido absoluto, pois tanto pode acelerar como brecar a partícula que a capta). Notem que o movimento que é yang gera a informação que é yin, que gera o movimento que é yang, que... É isto que o teorema I chama de "mutação sem fim". 6 A Conservação do Movimento A informação motora elementar é responsável pela troca de movimentos entre partículas. Uma partícula em movimento emite informações que ao alcançarem outra partícula, ao mesmo tempo que exercem seu efeito, são refletidas; e a reflexão inverte a polarização das informações dirigindo-as de volta para a partícula emissora. Ou seja, se a informação primeira aumentou a velocidade da segunda partícula, a informação refletida diminuirá a velocidade da primeira. A mutação informação-movimento manifesta-se macroscopicamente como força; e a afirmação feita acima manifesta-se macroscopicamente como uma lei: a lei da ação e reação. Vejamos agora o teorema V (em algumas versões corresponde ao teorema II):
Embora o movimento cresça e decresça sem cessar, a quantidade de movimento de um sistema macroscópico, formado por bilhões de átomos de Demócrito, permanece constante em média. Se formos estudar apenas dois átomos de Demócrito, isto poderá não ocorrer: a quantidade de movimento aumentará ou diminuirá no intervalo de tempo entre ação e reação. Macroscopicamente também se verifica este efeito: em condições limites tais como o choque quase elástico; condições essas que a física clássica evita estudar em profundidade. 7 A Complementaridade Já vimos que a complementaridade pode se manifestar por inúmeros aspectos. Um deles é o aspecto absoluto; outro o relativo direcional. Existem ainda complementares de categorias diferentes. Com efeito, toda característica yin é sob algum aspecto um complementar antagônico de qualquer outra característica yang, em algum referencial iniológico apropriado. E este é um ponto em que se impõe uma interpretação iniológica muito cuidadosa, pois quando os complementares pertencem a categorias diferentes, o relacionamento pode obedecer a teoremas diferentes. Se as regras iniológicas não forem respeitadas, cairemos no absurdo de explicar qualquer coisa; e isto é feito, normalmente, pela falsa dialética. Querem um exemplo? Pois se admitirmos o amor e o ódio como complementares antagônicos próprios chegaremos à conclusão que duas pessoas que se amam jamais viverão em harmonia, pois polos iguais se repelem. Amor e ódio são, sob este aspecto, complementares impróprios e, no caso, assimétricos. Em física temos um exemplo equivalente: o calor e o peso (vide mais adiante). O amor tem como complementar antagônico absoluto a falta de amor, ou a indiferença. Em termos relativos devemos direcionar, ou polarizar o amor. Desta forma, o complementar próprio de amor ao próximo (yin) no referencial iniológico considerado, é o amor do próximo (yang). Consequentemente, duas pessoas que se amam se atraem; da mesma forma que duas pessoas que se odeiam também se atraem, ainda que com propósitos diferentes. Por outro lado, duas pessoas que amam o mesmo próximo, podem se repelir ou, mesmo, se odiar. Os complementares direcionais, que aqui chamei complementares próprios, são aqueles que se diferenciam iniologicamente unicamente pela característica centrífuga ou centrípeta. No mundo macroscópico esta característica nem sempre é muito evidente, dificultando a classificação iniológica. Porém, à medida que nos habituamos com o princípio unificante, começamos a enxergar melhor este aspecto. O importante é, em primeiro lugar, verificar se os complementares antagônicos considerados são próprios; e a seguir procurar pelo agente causador da característica comum, localizando assim o referencial iniológico responsável pelo direcionamento. Um exemplo simples é o de leve e pesado. O agente causador da sensação de peso é a Terra; logo, o mais yang é o que se dirige com mais ímpeto (não confundir com velocidade) para a sede do conceito de leve ou pesado (no caso, a Terra, que gera a atração gravitacional). Notem que nem sempre o mais yang é o mais centrípeto em relação à Terra: um corpo próximo da Lua se afastará da Terra com quantidade de movimento tanto maior quanto mais pesado (yang) for (evidentemente, estou considerando a face visível da Lua). 8 A Polarização Espacial Macroscópica A lei gravitacional de Newton afirma que matéria atrai matéria. Ora, a matéria não pode ser o antagônico complementar dela própria. Existe aí uma impropriedade que pode não significar negação da lei, nem negação dos teoremas III e IV. O princípio unificante nos orienta a procurarmos uma estrutura espacial para a matéria newtoniana. De alguma forma ela deve ser polarizada espacialmente. Curiosamente, e como um desafio à imaginação, os polos que se mostram devem ser sempre contrários, pois jamais se viu uma repulsão gravitacional macroscópica. Não é fácil vencer esse desafio; mas também não é impossível. Imagine, por exemplo, duas bexigas A e B em contração (figura 1). A bexiga A tem uma face direita dirigida para a bexiga B; e esta face movimenta-se para a esquerda. Por outro lado, a bexiga B mostra para A uma face que se dirige no sentido oposto. Os movimentos de ambas as faces que se mostram são complementares e antagônicos; as faces são iniologicamente complementares e, consequentemente, se atraem. Chegaríamos à mesma conclusão se pensássemos no efeito resultante como consequente à somatória dos efeitos discutidos no item 4 para duas partículas elementares que se afastam. O exemplo não explica a gravitação. Simplesmente mostra a possibilidade da compatibilização da iniologia com a física newtoniana. Por ser a gravitação um fenômeno bastante complexo, certamente está relacionada a mais de um tipo de polarização. Volto a afirmar que o princípio de Le Chatelier é uma boa alternativa como orientação ao raciocínio lógico dialético. [Um novo modelo para explicar a gravitação, a se apoiar no princípio de Le Chatelier, foi apresentado em Outubro/2000 em mensagens postadas na Ciencialist. Caso haja interesse, comece pela Msg 32 da thread "Mecanismo da Existência"] 9 Complexos Iniológicos
O termo "fenômeno" deve aqui ser interpretado em seu sentido mais amplo. Tanto pode significar um processo de transformação, ou um acontecimento, como também um simples objeto de estudo. Um objeto macroscópico é um conjunto de partículas elementares, dotadas de incríveis movimentos; e graças a estes movimentos, equilibram-se dinamicamente, o que se manifesta na manutenção da forma e de outras características peculiares. Este equilíbrio deve-se a atividades yang (movimento) que geram e são geradas por atividades yin (informações dos movimentos). Sob esse aspecto o teorema VII complementa o anterior: Teorema VII: Todo fenômeno é apenas um conjunto de yin e yang que manifesta um equilíbrio dinâmico; tudo está sempre em movimento. Este teorema admite a existência de um equilíbrio dinâmico tanto no nível macroscópico quanto no nível das partículas elementares. Esta idéia também é aceita pela mecânica estatística clássica. Consequentemente, fica difícil explicar a entropia da termodinâmica, tanto em termos de mecânica estatística quanto em termos de iniologia. E, com efeito, os estudiosos da iniologia, ainda que não apontem uma explicação convincente, consideram a entropia um artefato da termodinâmica. Na minha opinião não existe artefato mas, simplesmente, o desprezo por uma partícula que, por não incomodar os nossos órgãos dos sentidos, passou desapercebida por muito tempo. Esta partícula, o neutrino, de nível intermediário entre os átomos de Demócrito e as partículas atômicas (elétrons, prótons e nêutrons), teve a sua existência postulada recentemente. Postulou-se com a finalidade de se explicar o desaparecimento de uma fração da quantidade de movimento que ocorre em interações entre partículas atômicas. Curiosamente, ninguêm se preocupou em analisar as transformações termodinâmicas sob este aspecto. É evidente que, além da quantidade de movimento, os neutrinos devem também transportar energia, mesmo porque energia é movimento. Se levarmos em consideração estes fatos, a termodinâmica fica nos devendo algumas respostas: 1) Existirá um sistema fechado?; 2) Calor e trabalho são realmente entidades energeticamente equivalentes?; 3) As considerações mirabolantes sobre a entropia são reais, ou meros artefatos? 10 A Relatividade Iniológica Já vimos vários aspectos da relatividade iniológica relacionados aos movimentos elementares. Esta relatividade também manifesta-se em complexos iniológicos. O exemplo típico é o da temperatura. Quanto mais quente um corpo, maior a quantidade de movimento de suas partes. Um corpo pode ser quente (yang) em relação a outro e frio (yin) em relação a um terceiro. E tudo isso está relacionado a propriedades de nível mais elementar (movimento, no caso). Percebe-se aqui também o conceito relativo de zero absoluto de temperatura, caso exista um verdadeiro referencial absoluto para o movimento.
Um erro comum em iniologia consiste na classificação absoluta de objetos ou seres. Objetos e seres apresentam inúmeras características polarizáveis e o conjunto vive num equilíbrio dinâmico que pode manifestar-se exteriormente, ora caracterizando um comportamento yin, ora yang. É comum a afirmação de que o homem é yang e a mulher é yin; ou então que o homem deve ser yang e a mulher deve ser yin. No que diz respeito à harmonia do casal, isto pode ser parcialmente verdadeiro. E digo parcialmente porque tanto a masculinidade quanto a feminilidade encerram um conjunto de características nem sempre polarizadas no mesmo sentido; e às vezes até mesmo ditadas pela sociedade, e não pelas leis universais. O machismo, por exemplo, em geral deturpa um relacionamento sadio, natural e equilibrado; e vejam como é raro o encontro de algo semelhante entre animais selvagens. O homem é mais dado a possuir (atividade centrípeta) do que ser possuído; a mulher procura enfeitar o ambiente (atividade centrífuga) com sua presença. Até que ponto isto é natural ou imposto pela sociedade? Vejam que até mesmo para atingir estas finalidades o homem sábio, e para melhor possuir, distribui simpatia (atividade centrífuga) e a mulher enfeita o ambiente (centrifugalidade) com a finalidade de ser notada, paquerada (atividade centrípeta). Mas o importante, em qualquer caso, não é a masculinidade do homem nem a feminilidade da mulher e, sim o ponto de equilíbrio do casal; ou num sentido mais amplo, da sociedade. E sob este aspecto até mesmo o machismo é tolerável, se compartilhado por alguém que aceita ou até mesmo quer esta "afronta". O radicalismo vai contra as leis do Universo; mas as vezes o mais radical é aquele que julga estar lutando contra o radicalismo.
Trata-se aqui de mais um tipo de relatividade: não há nada neutro. É claro que um corpo pode ser neutro sob um aspecto, por exemplo, com respeito à eletricidade. No entanto o que o teorema nos diz é que essa neutralidade não é absoluta. Existirão sempre aspectos com predominância yin ou yang em qualquer ocorrência aparentemente neutra. Esta é uma maneira mais geral de afirmar que tudo está em movimento.
Este teorema apenas complementa de forma semiquantitativa os teoremas III e IV. 11 Extremos Iniológicos Um teorema bastante importante da iniologia é:
Este teorema deve ser interpretado com muito cuidado. Não espere que um corpo quente transforme-se num corpo frio pelo aquecimento. O que ocorre na realidade é o que chamamos uma transmutação iniológica; e o yin que sucede o yang (ou vice-versa) é um complementar antagônico situado num referencial iniológico diverso daquele em que o yang considerado tornou-se excessivo. O exemplo típico é o do aquecimento da água até a vaporização. A energia cedida ao sistema, ao mesmo tempo em que aumenta a movimentação das moléculas de água (aumento da característica yang), torna-as mais independentes e menos densas (mais yin, sob esse aspecto) até que, no extremo, a atividade yin (fuga, dilatação) acaba predominando sobre a atividade yang (união, contração). Outro exemplo é o de uma pessoa que atinge o extremo de agressividade e, a seguir, arrepende-se dos atos cometidos durante a crise. O arrependimento não é o oposto da agressividade mas, sim um complementar antagônico de outra categoria e transmutável. Um indivíduo extremamente arrependido também pode se transformar num indivíduo agressivo. Amor e ódio também enquadram-se nesta categoria e, em particular, constituem exemplo de complementares antagônicos simétricos. É importante perceber que não é o objeto ou o ser que se transforma mas, sim uma de suas características iniológicas que atingiu um limite excessivo. No caso da água aquecida as moléculas continuam sendo moléculas, porém ganham liberdade e perdem em harmonia. Da mesma forma, o homem agressivo não deixa de ser homem, ainda que aparente ser um animal selvagem, tanto no extremo de agressividade quanto nos momentos que se seguem. Vejamos agora como o teorema XI pode se aplicar ao estudo de partículas e, em particular, ao estudo de transmutações físicas. Uma transmutação física, como é vista pelo estudioso da iniologia, pode caracterizar-se pela união (ou separação) de dois seres, seguida de um novo estado de equilíbrio, em que impera a harmonia (ou recordações). Tudo isso existe em níveis elementares. Imaginemos a aproximação frontal de dois átomos de Demócrito, um pela esquerda e o outro pela direita. À medida que se aproximam, um repele o outro, pois seus movimentos geram informações repulsivas. Num extremo de aproximação as duas partículas param e todo o movimento relativo (energia cinética — yang) transforma-se em repouso (yin).
No entanto, e neste instante, toda a energia está acumulada entre as partículas sob a forma de informação (energia potencial do sistema — yang). Imediatamente a seguir o repouso (yin) começa a se transmutar no movimento oposto (afastamento). Ou seja, no extremo de aproximação o movimento (yang) transforma-se em repouso (yin); por ser este um repouso extremo, ainda que relativo, logo transforma-se num movimento (yang) oposto ao primeiro (afastamento). Suponhamos agora que a colisão (o termo colisão é usado frequentemente como sinônimo de aproximação com interação) não seja frontal e sim como mostrado na figura abaixo. Admitamos ainda que as duas partículas sejam dotadas de uma propriedade magnética polarizável e que será estudada nos capítulos seguintes (o "spin"). E que esta polaridade magnética seja tal que provoque a atração das mesmas.
Somando-se a inércia a este tipo de atração, o resultado será bem interessante: de acordo com a distância d entre as trajetórias e a velocidade das partículas, poderá ocorrer a união entre as mesmas, ficando uma em órbita ao redor da outra (vide figura abaixo), tal e qual as estrelas irmãs (no caso das estrelas a força atrativa é gravitacional). [Este par de partículas é hipotético, construído apenas com a finalidade de exemplificar a transmutação iniológica. Não existem evidências experimentais de pares de partículas elementares idênticas e com a disposição apresentada. — Nota acrescentada na versão de maio/2000.]
Neste aprisionamento das partículas, uma em relação à outra, uma parte da energia cinética das partículas ficará indefinidamente sob a forma de informação motora (e nada mais é do que aquela que mantém a harmonia do casal de átomos). Consequentemente, a energia cinética do conjunto passa a ser menor do que a soma das energias cinéticas anteriores ao acasalamento. A energia não desaparece e muito menos se transmuta em matéria. O que ocorre é que no extremo de aproximação o movimento (yang) transforma-se em repouso (yin) do centro de massa do conjunto e a energia cinética (yang) desdobra-se, parte em energia cinética de rotação e parte em energia potencial do conjunto (informação aprisionada). Esta informação aprisionada é exclusiva do casal de partículas; é uma informação confidencial e íntima e, portanto, não se manifesta exteriormente. Visto por este prisma, a transformação matéria-energia é ilusória: os seres podem tornar-se mais complexos, mas a "Infinidade Una" se conserva como tal. A energia nào poderá jamais ser matéria, posto que é, na realidade, um atributo da matéria que manifesta-se de uma forma cinética (movimento da matéria) ou potencial (informação aprisionada). O colapso corpúsculo-onda também não respeita a ordem iniológica e muito menos o colapso espaço-tempo. Tais colapsos são, realmente, artefatos de interpretação. 12 A Polarização Iniológica Absoluta Teorema XII: Todos os seres e as coisas são carregados de atividade yang no interior e yin no exterior. Como vimos, as partículas elementares estão em movimento sendo, portanto, yang em seu cerne; e transmitem informações, tendo portanto uma aura yin (centrifugalidade). Sob certos aspectos poder-se-ia pensar na energia cinética como sendo yang (movimento) e a energia potencial de um campo como sendo yin, pois relaciona-se a informações emitidas (centrifugalidade — yin) pelas partículas que geram o campo. Note-se, no entanto, que a energia potencial é um atributo não do campo, mas da partícula que está neste campo, e a refletir que ela está sendo bombardeada por informações (centripetalidade). Portanto, a energia, seja ela potencial, seja cinética, é sempre yang, o que seria de se esperar pois retrata sempre o movimento (real ou potencial), que é yang. Pensando em termos do complexo formado por duas partículas (figura acima), vemos que o sistema tem energia (yang) no interior (sob as formas cinética e potencial) e informação motora (yin) no exterior (informação de giro). Nota-se, pelo teorema XII, que a energia potencial é mais yang do que a cinética, pois está aprisionada, escondida, ou seja, centripetalizou-se entre as duas partículas; e a energia cinética é a que manifesta-se exteriormente, gerando campos centrífugos (o termo centrífugo não se refere ao sentido de um vetor campo de efeitos mas ao movimento de seus agentes causais). * * * * *
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