Diálogos Ciencialist

 
 

A respeito de uma nova teoria
a propor as bases para o entendimento da Natureza Íntima da Matéria

framesDiálogo com Lígia Amorese
Fevereiro e Março de 2003
2ª. Parte

 

msg 20948
De: Alberto Mesquita Filho
19/02/2003

Na mensagem 20897 Ligia Amorese escreveu:

Ligia: Sim, mas ainda eu me atenho à idéia de que para um fóton, nada estaria diretamente associado a ele além de sua própria velocidade da ordem de c e da energia que ele "carregue" no movimento..

Realmente não é fácil abandonar essa idéia. Eu estou propondo uma teoria há 20 anos e ainda hoje, e com frequência, me flagro "visualizando" coisas que só existem adotando-se os modelos da física moderna. Se alguém for analisar tudo o que escrevi desde então irá notar uma alternância incrível na imagem que durante esses anos fui fazendo até chegar na visão atual que tenho sobre a natureza da luz. E no entanto, trata-se de algo por demais elementar, tão elementar que custo a crer que a verdade seja tão somente esta, e que tudo no universo possa ser descrito tão somente com quatro essenciais. Veja que até mesmo o termo quintessência é inapropriado, pois a rigor a "informação" seria a quartessência da física newtoniana. As outras três são espaço, matéria e movimento. Quintessência é coisa do tempo dos gregos antigos, quando as outras quatro eram terra, ar, fogo e água.

Alberto (msg 20853): É importante perceber que Planck nunca se conformou com esse algoritmo, e é importante perceber que ninguém melhor do que ele sabia o que poderia representar fisicamente esse algoritmo que dava certo. Era uma coincidência fantástica, nada mais do que isso.
Lígia: Nossa! A coincidência é tida por algo descartável... e como foi que nos pilares quânticos tal possibilidade de encarar-se uma "coincidência" com peso de "verossímil" pôde ser considerada?

Eu diria que naquela época não seria possível se pensar em nada diferente. Afinal, o modelo matemático de Planck caia como uma luva na teoria da luz de Maxwell e na experiência de Hertz com osciladores. E mais ainda: havia o modelo atômico de Thomson e os supostos elétrons oscilantes de Lorentz. Ora, que outras grandes autoridades nesta área da física teórica, além de Thomson e Lorentz, existiam na época de Planck (além também do próprio) após a morte de Maxwell, de Clausius e do descrédito em que caiu Boltzmann? Talvez Poincaré, mas parece-me que este seria uma autoridade para nós, que admiramos o seu trabalho.

Planck simplesmente construiu uma matemática em cima dessas idéias, mas jamais se conformou com o resultado que dava certo. Mas ele estava sozinho nesta empreitada, pois ninguém, além de Planck, teria coragem para enfrentar, sem bases experimentais outras, os leões (Thomson e Lorentz) do final do século XIX e início do século XX. Em cima disso as coisas foram se acumulando, ou seja, erros em cima de erros. Qualquer idéia diferente somente poderia vir a ser pensada, com base na experimentação que estava por vir, através da polar16experiência de Geiger e Marsden realizada em 1909 e que deu origem ao modelo de Rutherford. Assim mesmo, somente após a interpretação de Bohr (1913). É muito curioso que ninguém tenha se preocupado em deixar de lado os elétrons oscilantes em troca por elétrons em órbita. Como já comentei em outra mensagem, a projeçao de um movimento circular é um movimento oscilatório, conforme mostra a figura ao lado, portanto a matemática é muito semelhante.

Bohr chegou a receber, imediatamente após a publicação de seu trabalho, uma carta de Oseen (1913), onde este diz o seguinte:

Como muito bem sabe, a sua teoria levanta várias questões de diferentes espécies. Uma é evidentemente a questão dos espectros. Outra é a de saber como deverá ser modificada a teoria de Maxwell-Lorentz para que um átomo do tipo que propõe possa existir. É principalmente com esta última questão que tenho estado ocupado. Até aqui só posso dizer que cada vez vejo melhor quão profunda deverá ser essa modificação. Mas creio que é necessária.

Isso foi escrito em 1913 e até hoje, ao que parece, ninguém teve a coragem de continuar os trabalhos de Oseen. E a teoria de Maxwell está aí imutável, funcionando no macrocosmo mas totalmente incapaz de justificar a existência do átomo. E sem que se promova uma adaptação *decente* a ponto de que possa vir a funcionar no microcosmo. Alguns que lêem essa carta, à luz do que aprendem nos livros de física moderna, acreditam que Oseen estava propondo essa balbúrdia que está por aí sob o nome de mecânica quântica e que ninguém entende o que seja.

Pelo visto, a autoridade de Lorentz, não só com a idéia de elétrons oscilantes, mas principalmente com sua teoria dos elétrons livres (também chamada teoria dos fluidos elétricos incompressíveis, aceita até hoje como tal) deve ter inibido o jovialíssimo Bohr de pensar em algo mais lúcido do que as famigeradas órbitas permitidas. Como um jovem de 28 anos de idade poderia pensar em fazer carreira universitária desafiando ao mesmo tempo os dois veteraníssimos Lorentz e Thomsom? Afinal, Rutherford já havia abalado o modelo de Thomson, logo convinha não mexer com o outro leão da física da época. É incrível, mas a história da ciência tem muito disso. E o mais incrível é que se eu estiver certo em minhas críticas, esses absurdos continuaram se propagando por mais de 100 anos, indiferentes a todos os gnomos quânticos que foram criados em série e com a maior naturalidade nesse tempo. Mesmo porque o cordeiro (Bohr) um dia acabou transformando-se em leão, como não poderia deixar de ser. Sem dúvida, após terem levado a sério essa idéia de órbitas permitidas, a conviver com os elétrons oscilantes compatíveis somente com um modelo que já havia saído de moda (Thomson) e a ignorar a existência de órbitas, não restava mais nada a fazer senão despersonalizar toda a física dos séculos anteriores.

Lígia: Nós já discutimos sobre isso lá na lista Livres-Pensadores... e ainda é uma incógnita para mim. Ainda mais porque sou sempre rechaçada pelas minhas idéias "místicas"... :)

Não vejo mal nenhum nesse misticismo, desde que saiba se delimitar a linha divisória entre o que é ciência e o que é misticismo. O misticismo de hoje pode vir a ser a ciência do amanhã, mas não podemos pensar nisso como algo inevitável e sim como uma remota possibilidade. Por outro lado, não sei porque os místicos se encantaram tanto com a mecãnica quântica. Ela é ficção pura, e aqueles que realmente entendem de misticismo sabem que misticismo não é tão somente ficção pura. A maior crítica que fiz ao livro de Capra (O Tao da Física) foi que ele cometeu uma verdadeira heresia com a filosofia oriental. A meu ver filosofia oriental é coisa séria, e física quântica é brincadeira, é piada que já perdeu a graça. Não há como traçar um paralelismo entre as duas.

Lígia: A idéia nem é de "quebra" de tais moléculas, Alberto. Se eu me recordo bem da explicação de meu saudoso Toshio, professor de quântica, tal branqueamento dá-se pela emissão de fótons em efeito "rebote"... sem comentários.

Deixemos a quântica para os quânticos. Eu me contento em admitir a existência de uma explicação clássica.

Lígia: Bem... *SE* a energia fosse propagada continuamente, penso que a superfície exposta/bombardeada por tal emissão contínua estaria sujeita a uma desestruturação contínua nas camadas de última valência de suas moléculas superficiais sem nem ser necessário levar-se em conta que haja diferenças de ângulo/estrutura das mesmas. Parece que isso seria de pouca importância e é nesse aspecto que os quânticos se revezam dando a entender que o branqueamento seria "imediato"...

Gostei do *SE*. Pelo visto, os quânticos desconhecem esse vocábulo quando se referem à física clássica. Meu avô costumava dizer que SE a avó dele tivesse rodas seria uma carroça. Os quânticos não estão muito longe disso: SE a física clássica fosse o que eles admitem, a única alternativa que nos restaria seria irmos trabalhar no teatro de comédia que eles criaram.

Lígia: [...} É um angu, sim... mas dá estrutura para o argumento do OMO e a camiseta do Guilherme ficando branquinha num átimo!

Sem dúvida. Eu diria que isso relaciona-se àquele algo mais (ou ad hoc) que só a quântica consegue nos proporcionar. risos

Lígia: Só um parêntesis: a idéia de tais elétrons oscilantes é a que estipula a existência de orbitais?

Pelo contrário. Eu diria que a idéia de órbitas (sem i) [da teoria quântica primitiva de Bohr a apoiar-se no modelo atômico de Rutherford] contrapõe-se ou deveria ter substituído a idéia de elétrons oscilantes (de Lorentz e compatível com o modelo atômico em pudim de passas de Thomson). Não obstante, manteve-se as duas idéias, e em meio à confusão reinante alguém fez uma salada mista criando os orbitais matemáticos. Esses seriam órbitas que não são órbitas e onde os elétrons poderiam oscilar e/ou orbitar e/ou saltar daqui para lá conforme a necessidade do freguês. Se nada disso der certo, existe ainda a possibilidade de se pensar nos elétrons *livres* oscilantes de Lorentz, também a gosto do freguês. Em quântica tem sempre um jeitinho pra tudo, até mesmo para se criar novos ad hoc's sempre que necessário for.

Lígia: E de que tipo de carga elétrica estamos falando quando falamos em elétrons?

Eu prefiro dizer que o elétron, ao emitir informações de seu movimento, gera concomitantemente um campo de efeitos elétricos (bem diferente do campo de Coulomb) e um campo de efeitos magnéticos (bem semelhante ao campo da lei de Biot Savart). Não vejo necessidade nenhuma de dotar o eletron de um nome a retratar esses efeitos. Carga elétrica é apenas um nome a retratar um efeito comum a determinados objetos macroscópicos. Ela serve apenas para caracterizar o que há de comum a esses objetos. O elétron já tem um nome, logo não há porque criar outro, e não há porque considerar esse efeito como a caracterizar uma carga. Afinal, ele estaria carregado de quê?

O importante é perceber que o elétron ao se dispor na superfície de um condutor dá origem a um campo de Coulomb, é suficiente efetuar a integração do seu campo de efeitos elétricos. E se um grande número desses elétrons trafegarem por um fio condutor, a integração de seus campos dará como resultante a lei de Ampère. Toda essa matemática eu já cheguei a checar e a demonstração está em meu website, mas não é fácil expor em linguagem txt. Se houver interesse, poderei reproduzir a demonstração aqui, mas precisarei recorrer a inúmeras figuras gif.

Lígia: Então, mãos à obra! A GUT merece ser Newtoniana! :)

Sem dúvida, se existir será.

Lígia: E se houver mesmo tal "espírito da matéria"? Eu fissurei nessa idéia, desculpe... mas seria algo muito interessante criar uma matemática com bases na lebre que Newton levanta como possibilidade não apenas matemática.

Eu diria que qualquer teoria de campos de interações cedo ou tarde esbarrará nessa obrigatoriedade de levar em consideração o "espírito da matéria" newtoniano, seja com o nome que quiserem dar. Consequentemente, toda matemática de campos de interações acabará se traduzindo no que poderíamos chamar "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural", vulgarmente conhecido por Principia. Ou seja, o que estou propondo seria um update, ou uma versão atualizada, e adaptada ao nosso tempo, da genuína física newtoniana.

Lígia: Alberto! Você é muito gentil. E eu sou intuitiva se não posso ser culta, certo? Meus conhecimentos são parcos, só me restando portanto uma mente aberta, uma vontade muito grande de entender as traquinagens da vida... além de uma curiosidade compulsiva.

Eu acho que o ser intuitivo não precisa se preocupar em ser mais nada, é suficiente deixar o barco correr e saber separar o joio do trigo.

Lígia: Nunca peguei você de jeito antes porque fiquei penalizada de imaginar o quão cansativo seria ter que me "aguentar"...

Então estamos empatados. Se é pra cansar é comigo mesmo. risos O Colucci, por exemplo, não me güenta. Toda vez que ele responde alguma mensagem minha ele solicita que eu não seja "caudaloso" ou outros bichos. :-) Já pensou se eu respondo para ele em duas mensagens quilométricas? Cruiz, credo! Ele se naturaliza americano rapidinho. risos

Lígia: ...além do fato de eu querer entender o porquê do pessoal ficar jogando pedras antes mesmo de argumentar com você.

Eu já nem sei como começou essa história, mas é anterior à Internet. A Internet contribuiu apenas para transformar o efeito em bola de neve. Mas eu estou aí para isso mesmo, quem sai na chuva é para se molhar.

Lígia: Agora, dado o tempo em que já nos vemos pelas órbitas da internet, achei que já seria possível começar o bombardeio... :)

Após esse primeiro bombardeio eu diria que entre mortos e feridos escaparam todos. risos Quiçá a guerra do Bush fosse assim.


msg 20971
De: Alberto Mesquita Filho
20/02/2003

Na mensagem 20953 Ligia Amorese escreveu:

Lígia: O que eu entendo por "carregar" nesse sentido é o mesmo que "estar provido de", ou em outras palavras, o que o fóton em questão "traria/teria consigo" que seria capaz de interagir com a superfície em questão. No caso de um fóton, como eu já disse antes, imagino-o "provido" da velocidade com a qual ele se "locomova", esta sim determinante da energia que ele consiga liberar.

Perfeito. Foi mais ou menos nesse sentido que disse em algum lugar da msg 20943 que poderíamos pensar que a partícula estivesse carregada de movimento, pois "ela está provida de movimento". A proposição básica seria então relacionada àquela idéia de que "tudo é decorrente do movimento da matéria". Einstein simplificou, a meu ver de maneira indevida, para "tudo é movimento", dando a entender que até mesmo a matéria microcósmica seria conseqüência desse único essencial einsteiniano. A matéria seria o movimento de um "não sei o que". A idéia é bonita, mas está faltando aí algum ingrediente que Einstein não conseguiu "inventar", tanto é que a hipótese não saiu do papel.

Na física newtoniana: 1) existe um espaço imutável e absoluto; 2) existe a matéria que em sua expressão mais simples seria composta por tijolos elementares (átomos de Demócrito); e 3) existe o movimento absoluto. Existe também o movimento relativo, mas estaria relacionado a como nós sentimos o deslocamento de um objeto em um espaço a nossa volta e que estaria (esse hipotético espaço relativo) em repouso em relação a nós.

Pense no seguinte questionamento: Porque o movimento absoluto era tão importante para Newton? Apenas para contentar seu ego? Apenas para que ele pudesse esbanjar erudição, criando experiências de pensamento (balde e globos giratórios)? Não! Qualquer um que se dê ao trabalho de ler os Principia ou a Óptica perceberá que não há nada defendido com mais ênfase do que essa idéia do absolutismo do espaço. Porque? Em que isso interfere com suas quatro leis (mecânica + gravitação)? Em quase nada! Tanto assim é que seus sucessores deixaram esse absolutismo de lado e usaram e abusaram das quatro leis, e sob certos aspectos os físicos modernos continuam fazendo o mesmo, se bem que em condições limites. Mas esses seus seguidores acabaram criando uma física que não deu certo. Ou como disse o Colucci, "começou a fazer água" no final do século XIX e começo do século XX.

Do ponto de vista epistemológico (teoria do conhecimento) o espaço absoluto representava, para Newton, uma das essências de seu trabalho, e as quatro leis algo de valor tautológico (redundante) ou meramente decorrente de um melhor entendimento desta essência. Tanto é que ao final de sua Óptica (Questão 31 da Óptica III), ao comentar sobre sua mecância chega a dizer:

E portanto, não tenho escrúpulos em propor os princípios de movimento, sendo eles de uma extensão muito geral, e deixar suas causas serem descobertas.

Ora, porque haveria ele de ter escrúpulos ao propor as três leis de movimento? E porque ele não teve escrúpulos —muito pelo contrário, defendeu com unhas e dentes— quando propôs a idéia de espaço absoluto? Algo à primeira vista muito mais esquisito do que as leis que davam certo! Sinceramente, essa história está muito mal contada. O que vingou, e que acabou "fazendo água", não foi em absoluto a física de Newton, mas o menos importante de sua monumental obra. Supervalorizou-se aquilo que era decorrente de uma essência e desprezou-se a essência.

Perceba que as coisas estão se entrelaçando. Que causas seriam essas a que Newton se refere como a "serem descobertas" e a justificarem as três leis do movimento? Pois as leis ele já havia descoberto e até mesmo percebido que seus campos de atuação não seriam irrestritos, como de maneira errada hoje insistem em afirmar. Mas para efetuar essa depuração, para entender devidamente qual seria de fato o campo de aplicação das leis de seu modelo que dava certo, ele insistia que se perseguisse suas causas. Que físico, após Newton, seguiu essa sugestão? Pelo visto, suas palavras foram jogadas no vazio por mais de três séculos, e se alguém se dispôs a valorizá-las, a voz desse alguém foi esmagada. E eu sei com que intensidade, pois estou passando por esse esmagamento há cerca de 20 anos.

Acrescente agora, aos três essenciais acima citados, mais um: 4) existe a "informação do movimento da matéria", algo que Newton deixou no bolso do colete sob o nome de "espírito da matéria". Só nos resta agora completar o quebra-cabeças para concluirmos que as causas a responderem pelas três leis foram enfim descobertas, podendo-se até mesmo intuir em que condições essas leis não irão funcionar, *da maneira como foram propostas*. Obviamente, "informação" implica em "ação", ou seja, um campo de informações nada mais é senão um local onde os elementos materiais trocam movimentos entre si em um ritmo alucinante.

Mas... Se a matéria informa que está em movimento, e essa informação é um essencial de uma física coerente... Que raios de movimento ela está informando? Não seria um movimento absoluto? Pois do contrário a informação não poderia ser nunca um essencial! Para cada referencial ela seria diferente, pois o movimento relativo seria diferente! Dá para perceber a genialidade newtoniana? Suspeitar, no século XVII, aquilo que quase ninguém suspeitou nos dois milênios anteriores, bem como nos três séculos seguintes! E neste último caso, ninguém suspeitou por não terem entendido o que Newton não só deixou escrito, mas também defendeu com um vigor ímpar. Percebe porque é que eu digo que a física moderna é brincadeira? Quem dirigiu uma Ferrari jamais se conformará em ter que voltar para o seu fusquinha, por mais que ele funcione e nos leve a qualquer lugar. Pois a física moderna nada mais é senão esse fusquinha com pneus recauchutados (ad hoc) de tempos em tempos. risos E a física newtoniana é uma só, a apoiar-se em quatro essenciais perenes e absolutos, e quase nada mais; e coloco aí um "quase" porque o que há a mais pode sempre ser relativizado, a exemplo da energia.

Alberto: os físicos modernos ainda convivem com essa crença, se bem que poucos se dão conta disso, pois encapuzaram seus fluidos com belíssimas equações despersonalizantes.
Lígia: Bem, no campo das equações eu não entrei ainda... mas a idéia de partículas estarem portanto alguma coisa que as permitam interagir com o meio de forma efetiva não me parece de todo absurda. Todo "corpo estranho" a um ambiente quando arremessado a este ambiente, modifica-o.

É verdade. O único cuidado que devemos tomar, ao levar essa analogia para o microcosmo, é que no dia-a-dia trabalhamos com campos bem conhecidos, pois os demais interferem pouco com o resultado. Já no microcosmo não podemos desprezar as interações entre as partículas. Por exemplo, quando estudamos o choque entre duas bolas de bilhar podemos sossegadamente desprezar a atração gravitacional que há entre elas. No microcosmo nem sempre isso pode ser feito sem nos levar a erros, a menos que venhamos a pensar em algo do tipo da incerteza ad hoc de Heisenberg. A idéia de Heisenberg não deixa de ser genial, mas acaba se esfacelando à medida em que introduzimos na física o conceito de informação.

Lígia: Mas não é justamente a energia potencial de uma partícula que determina o "estrago" que ela possa provocar em um ambiente, tanto maior quanto maior for sua massa e as devidas proporções? O que um meteorito "carrega/porta" consigo senão a energia potencial transformada em cinética que permite o choque? Penso nisso quando penso em partículas colidindo, por exemplo.

Tudo isso é verdade. Mas o que seria essa energia potencial? Macroscopicamente poderíamos utilizar a analogia de um sistema dotado de molas. Mas e no microcosmo? Se duas partículas estão presas, uma em órbita da outra, e não enxergamos esse movimento orbital, podemos pensar que se conseguirmos soltá-las, as suas energias (até então ocultas) se mostrarão para nós como energia cinética. Mas o que é que estava prendendo essas partículas? Não seria um campo de informações? Pois esse campo não precisa ser energético, simplesmente ele deve colaborar para que a energia cinética, que cada partícula já possuia, fique oculta ou mascarada, como se o conjunto de duas partículas em órbita fosse uma partícula só em repouso (pois o centro de massa do conjunto está em repouso). Existem situações bem mais complicadas (a energia potencial de um campo, por exemplo), mas quero crer que a solução apóie-se sempre em idéias simples e do tipo apontado.

Lígia: Daí a grande "felicidade" em ler que já foi detectada a massa de fótons. Uma lacuna na minha concepcção de Universo foi preenchida.

Essa massa tem um sabor de massa da física moderna, a se confundir com energia. Tanto é que os físicos modernos afirmam que o fóton, como tal, teria massa, mas a sua massa de repouso (obviamente no vácuo) *deveria* ser nula. Isso soa até esquisito, pois como é que uma coisa que em teoria está proibida de permanecer em repouso *no vácuo* (decreto de Einstein) poderia ter alguma propriedade estimável nesta condição proibida? Isso seria impossível até mesmo pensando-se como um limite, pois o decreto não permite que essa velocidade c seja reduzida de fator nenhum, logo não há o que ser extrapolado. Enfim, é o que procuram nos fazer engolir, mas isso não me desce redondo nem mesmo acompanhado pela Skol. risos Sem dúvida, em física clássica podemos perfeitamente pensar em massa de fótons, mas precisaríamos primeiro caracterizar bem o significado de massa em nível microcósmico e, a seguir, conceituar bem o que seriam esses fótons (creio que já cheguei a situar de leve esse problema).

Alberto: Esse movimento da partícula, como um todo, poderia ser chamado movimento externo (giro ou translação), a contrastar com o movimento relativo de suas partes entre si, que poderia ser chamado movimento interno (de natureza muitas vezes complexa). O movimento interno seria algo a se exteriorizar através de um hipotético zoom (isto é uma analogia, bem entendido) e retrataria o movimento (que agora já poderia ser pensado como externo) das partículas que constituem o que chamamos partículas elementares.
Lígia: Isso levando-se em conta que tudo deva estar em movimento.

Perfeito. E vou além: movimento em relação a um referencial absoluto, único e imutável. Por exemplo, o referencial de um *hipotético* big-bang clássico.

Alberto: Essas partículas menores seriam o "elementar do elementar", e esse zoom poderia ser novamente aplicado até chegarmos no átomo de Demócrito, que acredito existir fisicamente como tal.
Lígia: O "Indivisível"? Você está se reportando a um hipotético "tijolo" da matéria? O que Demócrito acreditava é que havia uma entidade indivisível quando tudo o que pudesse ser dividido já o tivesse sido. A isso ele chamou de átomo... mas o que se concebe por átomo atualmente está longe de ser indivisível... Na sua opinião, o que seria tal "tijolo"?

Algo do tipo expresso por Newton (vide abaixo, na reprodução a seguir da msg 20943). Realmente seria o indivisível, em acordo com a concepção de Demócrito. A matéria em sua expressão mais simples.

Alberto: A elementaridade absoluta foi descrita por Newton com as seguintes palavras: "Parece provável para mim que Deus no começo formou a matéria em partículas movíveis, impenetráveis, duras, volumosas, sólidas, de tais formas e figuras, e com tais outras propriedades e em tal proporção ao espaço, e mais conduzidas ao fim para o qual Ele as formou; e que estas partículas primitivas, sendo sólidas, são incomparavelmente mais duras do que quaisquer corpos porosos compostos delas; mesmo tão duras que nunca se consomem ou se quebram em pedaços; nenhum poder comum sendo capaz de dividir o que Deus Ele próprio, fez na primeira criação."
Lígia: Esse trecho dá uma idéia do que é o determinismo. Gostei da sua citação. Mas isso também dá a idéia de imutabilidade... o que não coaduna com a idéia de "matéria" uma vez que tudo está em movimento e em constante processo de mudança e reaproveitamento. Disso Newton ainda não sabia, ou demonstra não ter conhecimento no trecho que você cita...

Mas a idéia de matéria para Newton não era muito diferente, em essência, do conceito macroscópico associado a corpos rígidos. Essa comparação, à primeira vista, é bastante pobre. Mas enriquece-se profusamente quando percebemos a necessidade de um "cimento" a manter esses tijolos unidos. Esse cimento seria a "ïnformação", e isso tudo (tijolos + cimento) faz parte da matéria macroscópica. A dissociação tijolo/cimento só faz sentido no microcosmo. Ou seja, a matéria no microcosmo não é exatamente idêntica à noção intuitiva que temos de matéria macroscópica, mesmo porque são poucos os campos de informação (cimento) bem conhecidos e que concebemos em nossa imaginação (por exemplo, as ligações atômicas através de pares de elétrons - ligações covalentes).

Por outro lado, nessa história de que tudo é movimento, está faltando alguma coisa. Movimento de quê? Relativo a quê? Segundo a física newtoniana existiriam os tijolos que estariam em movimento e em virtude desse movimento gerariam o cimento (informação) a agruparem esses tijolos numa complexidade crescente até chegarmos na matéria macroscópica. Seria o yang gerando o yin e o yin gerando o yang, em sua mutação sem fim.

Sem dúvida, tudo isso retrata um determinismo teórico microcósmico, mas não sei se nessa evolução do simples para o complexo não haveria um ponto de quebra desse determinismo. Talvez quando a termodinâmica começar a entrar em ação. Até um certo nível de elementaridade (creio que até o surgimento dos elétrons) os processos parecem ser reversíveis. Aliás, acho que tanto no microcosmo (em sua expressão mais simples) quanto no macrocosmo (em sua expressão mais ampla) os processos são totalmente reversíveis. É aí que "aposto" em uma outra de minhas teorias a concluir que o universo é eterno, sem princípio nem fim.

Lígia: Uma idéia bonita para a matéria e tudo o que seja formado dela é a de "babuska", uma coisa dentro de outra, dentro de outra... e as vezes eu me pergunto quais seriam as implicações de tal processo extendendo-se ad infinitum... sem nenhuma pedra fundamental suportando o resto.

A idéia realmente é bonita, mas acho que inevitavelmente acabaremos por chegar num átomo de Demócrito. O que não se pode é deixar de lado a necessidade do cimento, pois como diria Poincaré, um conjunto de tijolos não é uma casa.

Lígia: Deus não é descartável, nem precisamos dele para a compreensão das coisas... portanto tanto faz. Os céticos ateus que me perdoem mas penso que pelo fato de estarmos "imersos/contidos" em Deus, mesmo a não crença nele não representa risco :))

Concordo e acho mesmo que o cientista, enquanto tal, deve deixar todas as suas crenças de lado, até mesmo a crença no ateísmo. Nas horas vagas o cientista poderá crer no que quiser, pois não existe uma conduta que seja mais científica do que a outra. Sinceramente, a ciência não está com toda essa bola, como pretendem os cientificistas, sejam eles crédulos, sejam ateus.

Alberto: ..."informação do movimento da matéria". Trata-se de uma entidade de natureza imaterial, não tem massa e portanto não pode conter energia sob o ponto de vista da física clássica.
Lígia: Mas a partícula que comporte tal "alguma coisa" tem energia, ou não? Veja que deslocando o foco do "continente" ao "contido" o quadro não muda muito de figura: tudo o que importa é a energia que permite que as reações aconteçam.

Eu penso na energia como uma expressão do movimento da matéria. A energia não deixa de ser um artefato útil, mas é um artefato. O que existe é movimento, e esse é a meu ver absoluto. Um objeto, mesmo macroscópico, somente estará em repouso absoluto se estiver no referencial de um hipotético big-bang clássico. Ora, a nossa Galáxia move-se no Universo numa velocidade muito próxima (se não igual) à velocidade da luz em relação a um possível referencial fixo nesse hipotético ponto singular. Não obstante, qual é a energia cinética de um objeto em repouso na Galáxia? Depende do referencial! No referencial fixo à Galáxia essa energia é nula. Ou seja, a energia é um artefato útil na resolução de problemas do dia-a-dia, mas em teorização ela passa por totalmente desnecessária ou redundante, pois os essenciais espaço, matéria, movimento e informação (todos absolutos) já nos definem todas as demais propriedades físicas do universo em consideração.

Lígia: Sem tal "energia", nada estaria acontecendo.

Concordo, mas poderia dizer a mesma coisa de outra forma: "sem movimento da matéria nada estaria acontecendo". A diferença está somente na fixação dos essenciais a serem aceitos como tais.

Lígia: Algumas vezes, em alguns devaneios, eu vejo a origem do Universo como a origem do movimento e do constante aproveitamento energético desencadeado pelo "empurrão" inicial. Nada de misterioso, só algo que não para porque ainda tem energia... E aí, como ficamos?

Cientificamente falando eu não consigo ver nem início nem fim para o Universo. Extra-cientificamente falando, diria que ou ele sempre existiu como tal, ou então ele foi criado por um ser superior. Com respeito a seu destino: ou ele sempre existirá como tal, ou ele será destruído por um ser superior. Em resumo: Não acredito nem em um efetivo big-bang e nem em um efetivo big-crunch. Obviamente eu tenho que resolver esse problema sob o ponto de vista da termodinâmica, mas não me parece ser nada impossível. Acredito mesmo já ter chegado à solução e não me parece ser uma hipótese ad hoc, mas uma hipótese necessária: a da existência dos entropinos, que acredito serem os próprios neutrinos [Espero que os quânticos não venham me cobrar royalties por isso risos ]. Seriam corpúsculos de Newton atípicos e em essência idênticos àqueles que entram na constituição dos fótons, mas propagando-se de maneira atípica e, em virtude disso, incapazes de entrarem num elétron, proeza essa que os fótons realizam com a maior facilidade.

Lígia: A grande dificuldade em achar uma "pedra" de apoio para a compreensão do Universo é a diversidade. Dá-se logo de cara com "infinitas" partes contidas/contendo tantas outras infinitas porções e seus campos de atuação. Mas há um jeito de simplificar tal quadro e é justamente projetar para as demais partes o que uma só parte, ou grupo de partes, represente. É mais ou menos nisso que se apoiam os físicos que defendem o Universo Holográfico. Você acha que tal idéia é baboseira?

Nada contra uma idéia nascente, muito pelo contrário. Acho que uma das falhas da nossa escola é inibir o potencial criativo dos jovens. Por outro lado, como eu critico adoidado a física quântica, muitos me confundem com um cético ingênuo, a combater o que não entende. O problema é que a teoria quântica está por aí há mais de 100 anos e ainda não justificou um por cento da fortuna que já se investiu nessa idéia, além do que os próprios quânticos de respeito vivem repetindo que não a entendem, enquanto outros ficam enganando a mídia e a população com milagres que efetivamente não aconteceram. Ora, creio não existir nada de natureza tecnológica produzido no século XX que não seja passível de uma explicação através de uma física clássica genuinamente newtoniana. Logo não devemos confundir progresso tecnológico com progresso de uma disciplina que ainda não conseguiu se justificar com tal.

Essa história da holografia eu entendo pouco, e o pouco que li foi de um livro e de alguns artigos do David Bohm. A idéia não me parece má, mas não chegou a me convencer. É como aquela história do "tudo é movimento" de Einstein (aliás, a idéia de Bohm tem muito a ver com seus diálogos com Einstein na década de 50). Está faltando aí alguma coisa de muito essencial, e o trabalho do Bohm deu-me a mesma impressão. Ele parece ter visualizado alguma coisa que ele próprio não conseguiu entender. Isso é muito comum ocorrer apos um insight, mas o tempo passa e as coisas tendem a clarear, ou surgem pistas novas. Não sei se surgiu algo desse tipo em cima dessa idéia, mas parece-me que não, pois do contrário teriam botado a boca no trombone e muito provavelmente isso teria me chamado a atenção. O que eu li depois disso não me pareceu esclarecer nada.

Alberto: Como a energia NÃO é um essencial da física newtoniana, mas uma entidade secundária (constructo de alto nível, como dizem alguns filósofos da ciência), não chega a ser nenhum sacrilégio afirmarmos que ela passa de uma partícula para outra sem, em nenhum momento, ocupar posições intermediárias entre uma e outra. Isso não é equivalente a um salto quântico, pois a energia pode ser pensada como uma propriedade da matéria, mas não é um essencial em si.
Lígia: Isso! É bem mais coerente! E é bem mais coerente ainda com a idéia de "imersão" em algo como Deus, por exemplo, ou Consciência, como diria um Goswami da vida.

A esse respeito eu diria que a ciência é neutra. A boa teoria não implica em sua potencialidade em nos aproximar de Deus. A esse respeito já citei aqui na Ciencialist que um professor chegou a criticar com veemência a minha teoria pois ele já havia concluído que a teoria quântica seria a única capaz de justificar a sua crença na existência de Deus, dando a entender que ao desafiar a teoria quântica eu estava me postando como um herege no sentido religioso do termo. Pobre coitado! Sua fé é tão grande quanto seus conhecimentos em mecânica quântica, e quero crer que pela primeira vez os quânticos irão concordar comigo risos. Por outro lado, e como já afirmei, todo teorizador deve ser intuitivo, e isso implica em conseguir, de alguma maneira, se comunicar com o cosmo. Mas não vou além disso, pois não sei o que seria essa comunicação, e pode bem ser um fenômeno ilusório. "Deus, oh Deus, onde estás que não respondes!" (Castro Alves). Seria essa comunicação uma resposta? Sinceramente não sei e não vejo como saber, a não ser através da fé e de mais nada.

Lígia: Veja que quem admite a idéia desse vácuo gerador de pares de partículas está na realidade negando veementemente uma intervenção externa ao processo criativo do Universo. Existe um algo mais que está sendo terminantemente negado com tais idéias de "auto-suficiência" da matéria.

Mas não deixa de ser uma negação boba. Eu não afirmo que Deus existe nem que não existe, mas se existir espero pelo menos que seja mais inteligente do que eu. Ora, esses indivíduos, se assim são, estão se iludindo com a inexistência de um Deus que, caso existisse, seria mais imbecil do que eles. Pobres coitados! Que falta de imaginação para criar um Deus inteligente! risos

Lígia: Interessante... mas qual a natureza de tais corpúsculos? Um fóton é um fóton... :) E um corpúsculo de Newton seria o que? Qual analogia seria aplicável aqui? Seriam o mesmo que fótons? Ou estariam intimamente relacionados ao "espírito da matéria" sendo portanto emanações físicas da mesma?

Quero crer que as respostas estão implícitas no restante da msg e pela primeira leitura rápida que fiz parece-me que você foi entendendo à medida em que ia lendo o texto. Se eu notar que persistiu alguma dúvida retornarei ao tema.

Lígia: [...] A idéia de corpúsculos de Newton é interessante sob o prisma de aceitar-se o espírito da matéria. Mas peca pelo fato de já ter sido possível detectar-se fótons e atribuir-se massa a eles. Bem... a idéia de um único fóton ser uma sequência de corpúsculos de Newton em número fixo de acordo com os estados iniciais e finais de um elétron não soa tão "distoante" assim... mas abre brechas para a expeculação de como tais corpúsculos estariam dispostos... em qual sequência e assim por diante. Ao invés de simplificar acaba complicando mais.

A figura abaixo talvez possa ajudar. A figura não é de Newton e o giro dos corpúsculos também não, mas ela foi imaginada tomando-se os argumentos de Newton e contemporizando-os à nossa época.

polar06

Temos aí quatro corpúsculos de Newton propagando-se pelo espaço. Seus giros estão alternadamente em oposição. Pense, por exemplo, no comprimento de onda dessa "luz" como sendo a distância entre o primeiro corpúsculo representado e o terceiro (aquele que gira no mesmo sentido). A freqüência dessa "luz" decorre também desse argumento. O que seria então um fóton? Seria um conjunto semelhante a esse com 4 corpúsculos, porém com um número "x" (creio que bem maior do que 4) que seria ditado pela quantidade de corpúsculos que saíram de um elétron quando este saltou de uma órbita para outra mais estável. Se esse mesmo elétron receber a mesma quantidade "x" de corpúsculos de luz alinhados (ou seja, algo idêntico ao fóton que emitiu), ele saltará de volta para a órbita de menor estabilidade.

quase-elétronVou agora tentar avançar um pouco rumo à especulação. O que irei citar agora não é para ser levado muito a sério, mas também não é para ser desprezado como idéia. Veja a figura ao lado. Num exame rápido tem-se a impressão que seria a mesma figura anterior apenas com os corpúsculos viajando segundo uma circunferência. Mas perceba que não é exatamente isso. Agora os corpúsculos estão viajando segundo uma circunferência, mas numa direção perpendicular à anterior. Ou seja, na figura acima os corpúsculos propagam-se numa direção perpendicular ao eixo de giro e na figura ao lado os corpúsculos propagam-se segundo o eixo de giro. Só para provocar os quânticos (e em particular o Colucci que me acusou de copiar coisas quânticas), vou dizer que no primeiro caso os corpúsculos propagam-se na forma bosônica (obviamente, seriam bósons clássicos), enquanto na outra figura eles são apresentados como se propagando na forma fermiônica (ou de férmions clássicos). As duas figuras são portanto coisas totalmente diferentes, embora constituídas por agrupamentos de uma mesma partícula.

Esta segunda figura apresentada pode ser pensada como sendo uma aliança de dedo. Nesta figura estão representados oito corpúsculos. Imagine agora essa aliança com centenas ou milhares de corpúsculos idênticos a esses (obviamente também milhares de vezes menor em tamanho, para uma circunferência de tamanho proporcional). Isso seria, a meu ver, um *quase*-elétron. Pegue agora uma aliança, imagine-a como sendo dotada desses corpúsculos em órbita, segure-a com o polegar e o indicador, e gire-a em cima de uma mesa. Se a rotação for razoável, a aliança irá se assemelhar visualmente a uma bolinha girante. Se adicionarmos a essa bolinha girante toda aquela complexidade já descrita [corpúsculos girando sobre si mesmos + corpúsculos em órbita segundo mostrado na figura + órbita (aliança) girando sobre si mesma] o resultado será aquilo que eu concebo como sendo um elétron, aquela partícula que segundo o Colucci seria proibida pela termodinâmica colluciano-quântica (termodinâmica esta a apoiar-se provavelmente no modelo e/ou equação de Lorentz-Dirac, com suas mil e uma hipóteses ad hoc associadas).

Vamos continuar especulando. Se você conseguir imaginar esse conjunto, perceberá que esse hipotético elétron [ou essa "bolinha" girante - giro clássico], está dotado de algumas particularidades geométricas interessantes. Por exemplo, se por um motivo qualquer o conjunto todo for impelido a girar mais rápido, e de maneira tal que isso possibilite a liberação de alguns de seus corpúsculos, pergunto: Qual seria o corpúsculo mais propenso a escapar desse elétron? elétronNão seria aquele situado no equador do elétron? E qual seria o segundo? Não seria aquele que está do outro lado da aliança, também no equador e em oposição ao primeiro? Isso está representado na figura ao lado (a figura não está muito boa, trata-se apenas de um rascunho, mas acho que dá para perceber o que estou propondo). Compare agora o conjunto de corpúsculos que é lançado pelo elétron com aquele mostrado na primeira figura acima. Ou seja, é assim que vejo um elétron emitir um conjunto de corpúsculos de Newton, que poderá ser um fóton se a emissão ocorrer num salto do elétron de uma órbita atômica para outra (estou falando em orbita clássica, não em orbital quântico).

Bem, geometricamente falando é isso, mas fisicamente não é fácil comprovar a estabilidade dessa partícula. Mas também não deve ser nada impossível. Infelizmente fui obrigado a deixar essa comprovação de lado, pois coisas mais importantes estão a espera de solução e estou sozinho nesta empreitada (lembro ainda que a conservação de momento deve ser observada no lançamento do fóton, mas como não fixei a causa, não há como se pensar no efeito).

Alberto: Descrevi essa natureza íntima do elétron em um livro que escrevi em 1983 e publiquei em 1985. De lá para cá mudei muito pouco essa imagem, mas ainda não tenho certeza de que ela se justifique plenamente.
Lígia: E o que daria a "consistência" corpuscular a um único elétron tomando-se este modelo composto, por assim dizer? Que tipo de forças estariam envolvidas? Qual a natureza dessas mesmas forças?

Seriam forças do tipo que escrevi mensagem 20853, quando fiz a analogia com o "andar no vácuo". Do ponto de vista matemático isso é uma verdadeira loucura, mas não tenho dúvidas de que mais cedo ou mais tarde chegaremos a um equacionamento a constatar se essa partícula imaginária pode ou não ser estável, a despeito do que afirma a termodinâmica quântico-colucciana.

Lígia: ...mas mesmo assim a minha dúvida permanece: de qual ordem seria a força a unir tais corpúsculos de forma tal a obter-se um fóton, ou um elétron, ou prótons e nêutrons?

Bem, não respondi de maneira satisfatória, apenas forneci um caminho a ser seguido por cima de uma especulação a meu ver bem fundamentada. Quanto a prótons e nêutrons as coisas se complicam bastante. Perceba que estamos falando na estrutura íntima da matéria e até agora não apareceu nada a sugerir a existência de um campo gravitacional. Não é estranho isso? Onde está a gravitação afinal? Não é uma propriedade da matéria? Mas a partir de que nível da estrutura da matéria? Eu diria que a gravitação está relacionada à complexidade estrutural do nêutron. Este, por outro lado, guarda um parentesco íntimo com o próton que, por sinal, em sua estrutura grosseira (num primeiro zoom após a "visualização do átomo) assemelha-se muito com o elétron (principalmente pelo fato de ser uma partícula também girante). Mas eu acho que para seguir esse caminho teríamos que discutir muitas outras coisas.

Queria apenas chamar a atenção para um fato citado por Newton: A gravitação "não é uma propriedade inata, inerente e essencial à matéria". Se isso for verdade, e não tenho dúvidas que é, nem todas as partículas ditas elementares geram campos gravitacionais, o que *não é o mesmo que dizer que não tenham massa inercial*. Putz! Você está afim de destrinchar todos os detalhes íntimos da minha teoria? risos Para mim seria ótimo, mas quero crer que se eu continuar expondo minhas heresias mais extravagantes, muito em breve acabaremos sendo expulsos da Ciencialist. :-) ou seria :-( ?

Lígia: [...] Mas veja que a natureza de tais partículas ou corpúsculos de Newton deve estar bem estruturada a fim de dar sustentação a seus argumentos.

Sem dúvida. Esse é o caminho que devo seguir e deveria ser o ponto fundamental a orientar meus críticos. Não obstante eles preferem me criticar porque as "minhas" partículas contrariam os postulados da física moderna. Ora, e eu com isso! Quem tem que dar conta desses postulados absurdos são eles, não eu. Minhas hipóteses são outras. Sem querer bajular, esta é a primeira vez que estou recebendo uma crítica aprofundada e ao mesmo tempo decente.

Lígia: Afinal, como uma idéia transforma-se em teoria e daí para Lei? Sei, sei, tem muita coisa escrita aa esse respeito, mas gostaria da sua opinião.

Essa resposta realmente é longa, e comento alguma coisa a respeito no artigo A práxis científica, em especial no item 3.2 - A espiral da práxis. *Muito* resumidamente diria que "teoria é um conjunto de hipóteses coerentemente interligadas, tendo por finalidade explicar, elucidar, interpretar ou unificar um dado domínio do conhecimento". Uma hipótese "comprovada" através de uma observação controlada (teste e/ou experiência) nos permite suspeitar, através de um raciocínio indutivo (do singular para o geral), sua condição de lei. Um outro artigo no qual comento alguma coisa a esse respeito é Teoria sobre o método científico.

Lígia: Nossa! Lendo isso dá até a impressão de que Heisenberg só formulou seu princípio da incerteza para salvaguardar a natureza íntima da matéria de expeculações... :))

Por incrível que pareça, gosto muito do Heisenberg. Ele não tem culpa nenhuma de ter tido tão mal seguidores, como esses que andam por aí. risos Ele simplesmente procurou por uma saída, e acabou se perdendo num labirinto. Mas fazer ciência é isso mesmo. O que não podemos é ficar parados nesse labirinto. Creio que Bohr incentivou bastante o Heisenberg a prosseguir por esse caminho que não iria dar em lugar algum.

Alberto: Pela minha teoria não é sempre que dois elétrons se repelem, há condições em que eles chegam a se atrair.
Lígia: E quais seriam tais condições? Acho interessante a forma como sua teoria casa com certos princípios que fazem parte de outro ramo de conhecimento ancestral que diz que "semelhante atrai semelhante"...

Neste caso vou responder mostrando como seria o casamento da minha teoria com a lei de Ampère. Vou apelar para uma figura do meu website, exposta abaixo

corrente elétrica

e vou reproduzir aqui o texto que a acompanha:

A força magnética que surge entre duas correntes elétricas é conseqüência da somatória dos torques orientacionais. A figura mostra como dois elétrons de uma corrente elétrica agem sobre um elétron de outra corrente. Graças à simetria do sistema, o efeito resultante é uma atração dos fios condutores. A essa força resultante dá-se o nome de força magnética.

Neste caso, a atração entre os semelhantes dá-se pelo que eles têm de diferente, como mostro na figura seguinte.

correntes2

Ou seja, essa idéia casa-se com o conhecimento ancestral que você expôs sem ir contra o também ancestral princípio oriental a dizer que yin repele yin e yang repele yang.

Lígia: Fico imaginando a "papa" primordial logo no início do Universo, se é que ele teve algum. Baseando-se nisso que você diz, como você imagina tal início?

No passado eu já cheguei a me preocupar com isso, e cheguei a bolar alguns modelos. Mas desisti a partir do momento que conclui que o Universo é eterno, sem princípio nem fim. O big-bang não existiu, ele existe ainda hoje, e tem a função de realizar a neguentropia do Universo. É por isso que digo que a entropia do Universo não aumenta. A entropia aumenta no Universo que enxergamos, mas esse aumento se desfaz com a reestruturação da matéria em seu estado primordial. A nossa Galáxia vai se consumindo em entropinos à medida em que viaja para os confins do Universo, mas outras galáxias são reconstruídas a partir desses entropinos que realimentam eternamente o big-bang.

Alberto: Solto meu lápis e ele cai numa direção bem definida, como se soubesse que a Terra está abaixo. Ou seja, o lápis sofre um puxão a distância do mesmo tipo de todos esses outros puxões ou empurrões. De alguma maneira ele foi "informado" pela Terra que a Terra estava abaixo dele.
Lígia: Como se houvesse um meio unindo "ambas as extremidades" de um mesmo ato?

Se entendi a analogia, acho que é isso mesmo. A informação é emitida continuamente pelas duas partes, logo é como se algo estivesse unindo os corpos.

Bem, espero ter respondido o principal. É possível que eu demore um pouco para responder a outra parte, pois amanhã estarei em um simpósio que provavelmente me tomará o dia todo.


msg 21001
De: Alberto Mesquita Filho
22/02/2003

Na mensagem 20956 Ligia Amorese escreveu:

Alberto (msg 20948): ... trata-se de algo por demais elementar, tão elementar que custo a crer que a verdade seja tão somente esta, e que tudo no universo possa ser descrito tão somente com quatro essenciais.
Lígia: Já disseram que a verdade liberta, não? E que quando esta fosse realmente percebida, a simplicidade da mesma seria "gritante". Se não me engano foi Kalil Gibran quem disse algo parecido :))

Pois é. Alguém também já disse que a natureza é simples e o homem a complica.

Alberto: até hoje ao que parece ninguém teve a coragem de continuar os trabalhos de Oseen. E a teoria de Maxwell está aí imutável, funcionando no macrocosmo mas totalmente incapaz de justificar a existência do átomo. E sem que se promova uma adaptação *decente* a ponto de que possa vir a funcionar no microcosmo.
Lígia: Mas modificando-se teorias não se está incorrendo no mesmo que Plank fez? E veja que o mingau começa da água... e está dando no que deu...

Sem dúvida a analogia é boa, mas não consigo responsabilizar Planck por isso. É verdade, ele pensou na existência de minúsculos osciladores de Hertz como sendo fontes de radiações pensadas como ondas de Maxwell. Concluiu então que a energia desses osciladores deveria ser quantizada para que conseguisse chegar na lei de Wien. Não havia como se pensar na época em outro tipo de fonte de radiações. Coincidentalmente Planck estava ratificando a idéia de elétrons oscilantes da teoria de Lorentz, mas ele chega a afirmar que não partiu dessa hipótese. Na realidade a preocupação de Planck era a de chegar na demonstração da natureza não-estatística da segunda lei da termodinâmica, dedução esta a apoiar-se no eletromagnetismo de Maxwell.

Até então a teoria de Maxwell não estava em xeque. O panorama começou a se modificar em 1905, com a interpretação de Einstein do efeito fotoelétrico. Foi essa interpretação, amplamente refutada por Planck, que empacotou as ondas eletromagnéticas em fótons (o termo fóton parece-me que não é de Einstein). Qualquer semelhança entre os quanta de Planck e os fótons (ou pacotes de luz) de Einstein é mera coincidência.

O passo seguinte veio com a interpretação que Bohr deu ao modelo atômico de Rutherford. Essa interpretação mexeu com todas as bases do eletromagnetismo, até então não comprometido (a não ser no seu capítulo acessório relacionado à natureza da luz). A denüncia de Oseen refere-se à constatação desse rebuliço acontecido na teoria. Por outro lado, ao mesmo tempo em que não se modificou de maneira decente a teoria de Maxwell, passou-se a despersonalizá-la totalmente. O que era uma teoria física de fato, regrediu! Transformou-se em um modelo a dar certo em condições macroscópicas! Um mero conjunto de algoritmos a darem certo. Ou seja, com isso a física involuiu, caindo naquele atoleiro que já citei e onde permanece até hoje.

Alberto: Alguns que leem essa carta, a luz do que aprendem nos livros de física moderna, acreditam que Oseen estava propondo essa balburdia que está por aí sob o nome de mecânica quântica e que ninguém entende o que seja.
Lígia: A balbúrdia é mais resultado de uma espécie de "faça você mesmo" do tipo: já que não tem alguma coisa séria para dar bases às idéias, vamos contruir algo...

De fato. A física saiu da era das grandes "descobertas" e entrou para a era das "invenções" (e infelizmente não posso dizer que sejam grandes, pelo menos no sentido nobre do termo).

Lígia: Misticismo, no meu entender, é algo que permite ao ser humano contemplar o "algo" que nos une, não só à natureza como ao próprio Universo. As práticas místicas são uma forma de treinar a mente para perceber que não somos partes isoladas de algo exterior mas partes de um todo que pode ser percebido nas partes que o compõem, inclusive em nós mesmos.

É uma pena que tão poucos consigam entender isso que você diz. Via de regra, confunde-se misticismo com charlatanismo, e esses que confundem não percebem que ingenuamente estão favorecendo o charlatanismo. Seriam os inocentes úteis a, paradoxalmente, facilitarem a proliferação daquilo que supostamente estariam atacando.

Lígia: O que fascina os místicos quando lendo sobre a quântica é que ela dá margem para interpretação de que há uma "intervenção direta" do observador com relação aos fenômenos, como é o caso do colapso da função de onda... no mais, é só isso associado a outras vertentes dentro da própria quântica que defendem o holismo, ou a aplicação dos fractais para a compreensão do que ocorre a nível sub-atômico e no nosso nível de existência sendo interpretados como Universo Holográfico... Isso, sem os aparatos científicos, já é "conhecido" dos místicos desde que os primeiros shamans decidiram contar aos demais o que eles viam em seus sonhos. E eles viam que tudo está unido em um nível subjacente, obedecendo a uma espécie de comando "interior" que se estende aos confins de tudo...

Pois eu acho que estão se iludindo com as invenções dos quânticos. A física de Newton tem tudo isso e muito mais, e Newton, como místico que era, soube separar o joio do trigo, criando uma verdadeira ciência. Como eu disse, o misticismo de hoje pode vir a ser a ciência de amanhã, e acho que essa é uma condição necessária, mas não suficiente. Será que os místicos da atualidade não estão tentando inverter o processo? Estariam pretendendo partir da quântica, uma "ciência" inventada na obscuridade, para construir um novo misticismo? Eles que me perdoem, mas parecem estar caindo no mesmo atoleiro. Esse misticismo não dará bons frutos, pois é estéril.

Alberto: Meu avô costumava dizer que SE a avó dele tivesse rodas seria uma carroça. Os quânticos não estão muito longe disso: SE a física clássica fosse o que eles admitem, a única alternativa que nos restaria seria irmos trabalhar no teatro de comédia que eles criaram.
Lígia: Estão representando o papel deles... uma idéia atraente e que dá certo quando submetida a testes acaba sendo sedutora, não? Parece aquela história da mulher fatal que envolve seus amantes e estes, quando se dão conta, percebem que perderam tudo, nada mais restando do que permanecerem à mercê da vontade de sua "dona"...

Vou guardar essa idéia para provocar meus amigos quânticos. risos Eles merecem. Por incrível que pareça eu tenho amigos quânticos risos.

Alberto: O importante é perceber que o elétron ao se dispor na superfície de um condutor dá origem a um campo de Coulomb, é suficiente efetuar a integração do seu campo de efeitos elétricos. E se um grande número desses elétrons trafegarem por um fio condutor, a integração de seus campos dará como resultante a lei de Ampère. Toda essa matemática eu já cheguei a checar e a demonstração está em meu website, mas não é fácil expor em linguagem txt. Se houver interesse, poderei reproduzir a demonstração aqui, mas precisarei recorrer a inúmeras figuras gif.
Lígia: Gostaria muito de ver. Está lá no seu site sob qual título?

A teoria está publicada sobre o título A equação do elétron e o eletromagnetismo (na página linkada está o índice do artigo, podendo-se daí ir para os capítulos ou subdivisões). A demonstração da compatibilidade com a lei de Coulomb está no capítulo 4. A demonstração propriamente dita começa no item 4.2.1 e termina no 4.3.1 (inclusive). A lei de Ampère eu nem precisei me dar ao luxo de demonstrar, pois ela sai quase que diretamente do que chamo "equação do elétron", que é apresentada no capítulo 6 (lembro que a lei de Ampère pode ser obtida a partir da integração da lei de Biot Savart). Um resumo do trabalho pode ser lido em Sobre a natureza físico-matemática do elétron. Um outro artigo bastante relacionado ao que estamos discutindo é O elétron emissor de informações eletromagnéticas.

Lígia: PS: Não querendo desfazer de sua boa vontade em explicar tudo de forma tão eloquente, eu me vi quase que na obrigação de responder a esta mensagem "amputando-a" em alguns trechos já vistos na primeira parte, bem como alguns trechos em que você explica o que ocorreu durante os primeiros respiros da quântica pelo fato de eu ter lido e compreendido não havendo portanto necessidade de maiores elucidações. Senão iríam sugerir minha expulsão da lista... :)) É que fica tão difícil ter que cortar trechos... só amputando mesmo. Por mim eu manteria todos os parágrafos... mas ficaria muito longa a nossa conversa.

Por mim, sem problemas. Eu também tenho feito isso. No verdadeiro diálogo não há porque se preocupar com trechos cortados, pois o interesse na captação da verdade é sempre recíproco. Se um deixar de lado algum detalhe, supostamente importante, o outro poderá lembrar e isso não será interpretado como uma cobrança ofensiva. Como a turma aqui mais briga comigo do que dialoga, eu acabo me enfezando quando propositalmente cortam um detalhe importante para depois afirmarem que eu não disse o que disse. Entende como é? Isso creio que seria quase impossível acontecer entre nós. Pode me cobrar a vontade pois eu tenho a certeza que isso somente servirá para enriquecer o diálogo. Quanto aos seus cortes e/ou amputações, creio que foram bem aplicados.


msg 21065
De: Alberto Mesquita Filho
24/02/2003

Na mensagem 21022 Ligia Amorese escreveu:

Lígia: *OBS: Note que o número de pontos de exclamação está aumentando... :))

Fico satisfeito com isso, mas ao mesmo tempo bastante preocupado, pois quando chegar em !!! vão nos convidar para dialogar em outra lista. risos

Alberto (msg 20971): Einstein simplificou, a meu ver de maneira indevida, para "tudo é movimento"...
Lígia: Não sei se estou redondamente enganada, mas penso que Einstein provavelmente leu e não compreendeu o significado de "espiritus", ou "Atman", ou "Ruash" hebráico que numa tradução grosseira seria o mesmo que "sopro", ou "aquilo que põe em movimento". Da mesma forma que o Chi chinês, o tal "vapor", sopro é referente ao Espírito que é o que faz tudo se mover... Dizer que tudo é movimento, nesse caso está errado também, já que para haver movimento precisa haver "o que há a ser movido". Questão transcendente esta... daqui a pouco me defenestram :))

Não conheço a fonte inspiradora de Einstein, mas é bem possível que tenha sido algum desses textos considerados apócrifos no Olimpo Acadêmico.

Lígia: Bem... ou muito me engano ou ele, Newton, estava a procura do "Espiritus", ou "do que move". Seria isto um movimento absoluto? Olhando assim, sem muito compromisso, parece mesmo que Newton estava interessado no que move o Universo. Não apenas no movimento em si, mas A origem do movimento, a causa primeva... e fechar os olhos para isso parece que teve consequências um tanto nefastas, não?

É interessante notar que o Universo conhecido no século XVII era bem diverso do atual. Havia naquela época a idéia de um território de estrelas fixas, como que a representar um possível repouso absoluto. Newton freqüentemente refere-se a esse território como a sede de um repouso absoluto, mas esse possível não é invenção minha, é o que se lê nos Principia. Hoje sabemos que esse território das estrelas fixas é aparente, pois as galáxias estão se afastando, logo nada está fixo no Universo. Mas isso não muda em nada a física newtoniana, pois Newton não se comprometeu com essa região de repouso absoluto. Simplesmente ele assumiu a existência de um espaço absoluto, em relação ao qual poderia em teoria imaginar esse repouso absoluto. Esse repouso absoluto poderia estar lá, no território das estrelas fixas, mas poderia também não estar (daí o possível). O importante não era a localização, mas o testemunho de sua existência. E esse testemunho é descrito através de forças de interação:

The causes which distinguish true motions from relative motions are the forces impressed upon bodies to generate motion.[Principia]

O exemplo típico encontrado por Newton relaciona-se à rotação através de duas experiências de pensamento: os globos girantes presos a uma corda e a experiência do balde. Fixando-se tão somente na rotação, construiu um argumento de maneira a poder utilizar o território das estrelas fixas como algo a representar um provisório repouso absoluto. Hoje poderíamos pensar nesse repouso absoluto como algo fixo em um big-bang clássico, um verdadeiro centro do Universo numa conturbação de violência tal que corpo algum estaria efetivamente em repouso. Ao contrário daquele marasmo próprio ao imaginário território das estrelas fixas, o repouso seria agora tão somente de natureza teórica, onde um hipotético observador, alheio às forças aí existentes, constataria a fuga das galáxias de uma região ultra-privilegiada, e que poderia ser chamada o zero absoluto do Universo.

Alberto: Do ponto de vista epistemológico (teoria do conhecimento) o espaço absoluto representava, para Newton, uma das essências de seu trabalho
Lígia: Acho que não consegui alcançar o ponto nevrálgico: como Newton definia tal "espaço absoluto"? Algo imutável, estanque e que necessitaria do "movimento" para estar sujeito às Leis que ele elaborou?

O espaço absoluto era um essencial necessário a sua física, assim como ponto, reta e plano são essenciais necessários à geometria euclidiana. O ponto nevrálgico a meu ver não reside na definição, mas no porque ele seria necessário, pois se é essencial não há como definí-lo. Antes de chegar as suas leis, em um dos scholia de sua obra, Newton chega quase que a enunciar um princípio da conservação do movimento absoluto, e a negar a conservação do movimento relativo (isso deve ser interpretado com muito cuidado, pois a noção de conservação de movimento é diferente daquela que utilizamos na atualidade —abaixo mostrarei a diferença). Vou reproduzir aqui esse trecho de sua obra, lembrando que para Newton os termos "absoluto", "verdadeiro" (true) e "matemático" são utilizados quase como sinônimos, quando referidos a seus essenciais. O texto é o seguinte (em inglês):

True motion is neither generated nor changed except by forces impressed upon the moving body itself, but relative motion can be generated and changed without the impression of forces upon this body.

Vamos pensar, por exemplo, em um corpo em movimento em relação às estrelas fixas (suposto referencial em repouso absoluto). O movimento absoluto (em relação às estrelas fixas) somente será alterado se alguma força agir sobre o corpo. É interessante notar que Newton está assumindo isso antes mesmo de enunciar a lei da inércia, se bem que já tivesse feito menção no item "definições". Aqui ele está simplesmente querendo conceituar o espaço absoluto e o movimento absoluto, mas já está antevendo que existe alguma coisa que poderia pensar como sendo uma conservação desse movimento absoluto. Deixemos agora de lado as estrelas fixas (não vamos mais olhar para elas, mas apenas para o corpo). Suponha então que de repente percebemos que o corpo está se movendo de maneira estranha, seguindo uma trajetória não mais retilínea. O que será que aconteceu? De duas, uma: 1) Esse corpo está agora sob a ação de uma força; 2) Nós estamos numa nave espacial, o corpo está fora da nave, e esta nave começou a se mover. No primeiro caso, uma força modificou o movimento absoluto do corpo. No segundo caso o movimento absoluto é o mesmo, mas o movimento relativo se modificou (o nosso referencial agora é outro). Foi através de alguma idéia desse tipo que Newton enunciou o principio da conservação do movimento, independentemente de seu modelo de três leis (obviamente ele usou a noção de inércia e o conceito de força).

Porque eu disse que deveríamos ter cuidado com essa interpretação? Porque da maneira como utilizamos a conservação do movimento na atualidade, fixamos antes um referencial. Ganhamos em um lado (o lado matemático, na resolução de problemas) mas perdemos de outro (deixamos de perceber uma importante diferença, a caracterizar o quanto é importante o movimento absoluto para a física newtoniana). E porque ele é importante? Muito simples: as forças de interação modificam tão somente o movimento absoluto. E o que são essas forças de interação? Lembro que até chegar nesse princípio, Newton ainda não fez a apresentação oficial de suas leis. Essas forças representariam nada mais, nada menos, do que a maneira como a matéria se comunica, ou como a matéria se interage. Nada numa mão, nada na outra. risos Estou falando do "espírito da matéria newtoniano", o outro de seus essenciais a que chamo por "informação do movimento da matéria". Newton não previu que seu espírito da matéria fosse decorrente única e exclusivamente do movimento da matéria, mas previu a sua existência. E se ele teve escrúpulos em não declarar de maneira acintosa a existência desse espírito da matéria (pelo menos em seus textos científicos), certamente isso se deve a ele não ter conseguido reunir na época razões suficientes a relacionarem causa (movimento) com efeito (também movimento).

Um pouco abaixo da citação relatada, Newton conclui explorando o princípio sob um outro enunciado, ligeiramente diferente, mas não em conflito com o que enunciou anteriormente:

Again, true motion is always changed by forces impressed upon a moving body, but relative motion is not necessarily changed by such forces.

Isto complementa sua maneira não usual de enunciar o princípio da conservação do movimento (como disse, válido na sua maior generalidade, a levar em conta mudanças de referencial).

Lembro-me que recentemente discutiu-se muito aqui na Ciencialist o problema das forças fictícias ou virtuais. Visto pelo prisma atual, eu diria que qualquer força que NÃO possa ser pensada como decorrente do "espírito da matéria" newtoniano seria uma força fictícia ou virtual. Seria uma força incapaz de promover uma modificação do movimento absoluto de um corpo, modificando tão somente o movimento relativo. Se o nome fictícia ou virtual está certo ou errado, eu não sei dizer. Sinceramente, acho esquisito dizer que fulano foi hospitalizado após ter recebido uma pancada virtual ou fictícia. risos Não obstante, rigorosamente falando essa força não existe, pois...

...relative motion can be generated and changed without the impression of forces upon this body.

Na realidade o indivíduo foi hospitalizado não pela ação da força virtual, mas pelo choque, ou pancada real, com o outro corpo (por exemplo, o parabrisas de um automóvel) que teve seu movimento absoluto alterado pela ação de uma força real.

Lígia: [...] sinceramente eu não entendo: tendo em mãos uma forma de alcançar respostas simples a questões simples, qual o porquê da insistência em continuar buscando respostas cada vez mais complexas para as mesmas questões "simples"?

Talvez um pensamento de Einstein caia bem aqui:

A história das descobertas científicas e técnicas revela-nos quanto o espírito humano carece de idéias originais e de imaginação criadora. E mesmo quando as condições exteriores e científicas para o aparecimento de uma idéia já existem há muito, será preciso, na maioria dos casos, uma outra causa exterior a fim de que se chegue a se concretizar. O homem tem, no sentido literal da palavra, que se chocar contra o fato para que a solução lhe apareça. Verdade bem comum e pouco exaltante para nosso orgulho.
Lígia: Enfim ELE, o espírito da matéria! O representante direto do absoluto para o movimento! Que não me "escutem" agora...

Sem dúvida, não poderia ter dito melhor: "o representante direto do absoluto para o movimento."

Lígia: O que eu percebo é algo que pode-se estender para muito além do que os movimentos corriqueiros de anda e pára, mexe, não mexe a que estamos sujeitos. Ao assumir-se que há tal movimento absoluto, assume-se que tal movimento é absoluto de acordo com o referencial?

Eu acho que isso está aquém da conceituação de referencial. O movimento absoluto seria aquele relativo ao espaço absoluto. Newton concebeu logicamente esse movimento absoluto, mas não conseguiu localizá-lo. Para sua época, o mais próximo disso seriam as estrelas fixas. Mas ele conseguiu chegar a um absolutismo light, através do que chamamos referencial inercial da física clássica. Com o princípio da equivalência de Einstein, esse parentesco entre o referencial absoluto newtoniano e o referencial inercial ficou um pouco obnubilado. Podemos hoje, segundo Einstein, pensar em um referencial inercial mesmo estando dentro de uma nave acelerada, basta considerar a aceleração como sendo um campo gravitacional. Ou seja, Einstein também descaracterizou o parentesco entre o referencial inercial e o referencial absoluto. Para Einstein, o único absoluto é Sua Majestade a Luz, a Rainha do espaço e do tempo da sua física.

Na minha teoria sobre o elétron (item 7.2) eu consigo prever a possibilidade da constatação experimental da existência desse referencial absoluto newtoniano. Não creio que seja uma experiência muito fácil de ser feita, mas sem dúvida trata-se de uma experiência crucial. O conceito que está por trás da idéia é muito simples: um corpo em repouso absoluto não emite informações. Se for um elétron, seu campo de efeitos elétricos deverá ser nulo; se for um corpo dotado de massa gravitacional, seu campo gravitacional também deverá ser nulo (e essa nulidade é absoluta e válida para qualquer referencial, pois o corpo não emite nada, logo, *enquanto assim permanecer*, não exercerá efeito algum sobre o restante do Universo). Obviamente não precisamos chegar nesse referencial de campos nulos, e creio mesmo que isso seria impossível. Será suficiente mostrar que as "constantes" do campo (qualquer que seja o campo) variam regularmente com a velocidade (ou seja, não são constantes universais). Por extrapolação podemos até mesmo localizar esse referencial do repouso absoluto, pela observação da tendência a zero da "constante" considerada.

Lígia: Eu tenho alguns problemas em pensar sobre isso. Veja: se há apenas o campo de informação e há a energia decorrente do mesmo "inserida" no conjunto e ou nas partículas unitárias envolvidas em movimento "recíproco", como é que a energia cinética pode ser "mascarada" se há movimento? A energia cinética não é a que determina o movimento a que partículas em um sistema chegam a desenvolver? Tudo bem, isso é macroscópicamente falando... mas se a física Newtoniana pode ser aplicável a partículas a nível atômico, ela deve manter suas características mesmo quando em circunstâncias tais como as referentes ao mundo muito pequeno... ou não?

Você está absolutamente certa. O problema não está em poder ou não aplicar a física newtoniana. O problema está em visualizar ou não a estrutura interna das partículas. Se soubermos que existem duas partículas em órbita, o problema está resolvido, é só considerar as energias cinéticas individuais. Mas e se isso não for possível com a tecnologia atual? Vemos apenas uma partícula —cuja estrutura interna é desconhecida— aparentemente em repouso. Por um motivo qualquer, notamos que a partícula se desfaz e transforma-se, por exemplo, em duas partículas em movimento (portanto, com energia cinética diferente de zero). Como a energia cinética inicial foi pensada como igual a zero, dizemos que a partícula estava dotada de uma energia potencial, quando na realidade era uma energia cinética interna. Rigorosamente falando não existe neste caso transformação de energia potencial em cinética.

Alberto: Sem dúvida, em física clássica podemos perfeitamente pensar em massa de fótons, mas precisaríamos primeiro caracterizar bem o significado de massa em nível microcósmico e, a seguir, conceituar bem o que seriam esses fótons.
Lígia: Bem, se por fótons entende-se um conjunto de corpúsculos de Newton, a primeira coisa a ser feita seria: encontrar tais corpúsculos e achar-lhes a massa... caso contrário não poderiam ser classificados por corpúsculos, já que um corpo por definição apresenta massa e volume. O que fazer então?

Em primeiro lugar precisaríamos caracterizar muito bem os campos que agem sobre esses corpúsculos. Que eles existem eu não tenho a menor dúvida. A difração, a refração, o efeito Malus... são todos efeitos originados por algum(ns) campo(s) de força agindo sobre esses corpúsculos. Mas isso não é tudo, pois se conseguirmos caracterizar um desses campos, ficaremos com uma relação do mesmo tipo da e/m da experiência de Thomson. Não é nada fácil, mas não creio que seja impossível. O quase impossível, a meu ver, seria fazer com que uma fração significativa de físicos, tanto teorizadores quanto experimentais, acredite nessa idéia, pois isso é um trabalho para ser feito por muita gente e sem nenhuma garantia de sucesso. No caso do elétron, esse trabalho começou com Faraday (meados do século XIX) e terminou com Millikan (século XX). No caso do corpúsculo de Newton, o trabalho ainda nem começou, e creio que as dificuldades serão bem maiores.

Lígia: Isso levando-se em conta que tudo deva estar em movimento.

Alberto: Perfeito. E vou além: movimento em relação a um referencial absoluto, único e imutável. Por exemplo, o referencial de um *hipotético* big-bang clássico.
Lígia: É... lá vamos nós ao *absoluto*... pelo jeito intuí certo! :))

Perfeito. Eu diria apenas que sob esse aspecto o big-bang está para nós assim como as estrelas fixas estavam para Newton. Não é impossível que daqui a 300 anos descubram que o Universo contém milhares de big-bangs, e que o nosso é apenas um big-banguezinho de um big-sistema-solar e que se move em direção a uma big-estrela fixa. risos

Lígia: Ou o movimento gerando a ausência de movimento, a ação gerando a não ação (passividade). Mais uma vez a dualidade...

Dualidade me lembra a... Não, nem vou falar. risos

Alberto: É aí que "aposto" em uma outra de minhas teorias a concluir que o universo é eterno, sem princípio nem fim.
Lígia: Bem, vamos então tentar entender as consequências de um Universo sem início nem fim. [...] Assim, de onde seria advinda a matéria a fim de dar conta da geração de mais e mais elementos no sistema quando a capacidade "reativa" fosse esgotada? Das cinzas não se pode recriar madeira... o raciocínio é mais ou menos este, Alberto... :/

Cortei um bom trecho pois o assunto retorna posteriormente sob um outro prisma. Conservei a história das "cinzas" para concordar que apenas das cinzas não se pode recriar a madeira, mas se dispusermos de tudo o que saiu da madeira, apenas o segundo princípio da termodinâmica (irreversibilidade do processo) poderá nos impedir de recriarmos a madeira a partir de cinza + fumaça.

Alberto: Cientificamente falando eu não consigo ver nem início nem fim para o Universo.
Lígia: Mas não se pode fechar os olhos para o que as pesquisas na base da observação demonstram: [...] 5. Portanto, caso a matéria não seja reciclável, ou seja gerada constantemente em locais ainda não observados,...

É isso aí! Cruzinha na opção (5). risos

Lígia: ... todas as galáxias visíveis têm seu fim já traçado: suas estrelas serão tragadas pelo seu núcleo, como num ralo... e o que restará será apenas e tão somente um buraco-negro ultra hiper massivo deformando o espaço ao redor de si para todo sempre... e possivelmente brilhando quando de sua "anulação" pela emissão contínua a intervalos de tempo de um átomo... de acordo com Hawking. :)) Esta é a "morte"g alática em sua mais crua acepção... e estamos todos fadados a isso, sem exceção.

E o que restará após este buraco-negro (se é que eles existem de fato) se consumir através de um processo violentamente irreversível, dada sua dimensão irrisória em relação ao restante do Universo? Eu diria que em pouquíssimo tempo cósmico esse buraco negro será totalmente transformado em entropinos, que nada mais são senão corpúsculos de Newton atípicos. E estes, ou acabarão, mais cedo ou mais tarde, retornando ao centro do Universo, ou então serão trocados com entropinos provenientes de outros big-bangs (caso o Universo seja constituído por múltiplos big-bangs, como ultimamente alguns já chegaram a suspeitar). É bom deixar claro para os leitores que estão pegando o bonde andando, que boa parte do que estou falando reside no campo das especulações. Algumas bem fundamentadas, mas não deixam de ser especulações.

Lígia: Os entropinos ou neutrinos teriam a capacidade de criar uma "teia" de sustentação gravitacional para o Universo... impedindo-o de se expandir ad infinitum... até aí tudo bem. Mas e a questão da "matéria prima auto sustentável"? De onde surgiriam mais átomos de hidrogênio suficiente para a criação de mais estelas e galáxias, e para onde iriam as galáxias moribundas? Onde está o berçario de novas galáxias se estas que contemplamos estão com seus bilhões de anos contados? :))

Os entropinos são corpúsculos de Newton, a base da luz e de tudo o mais. Onde há luz, tudo o mais pode ser recriado, é suficiente que seus corpúsculos consigam novamente se entrelaçar. Como disse anteriormente, eles são atípicos no sentido de viajarem de maneira a não conseguirem penetrar em elétrons. Mas no centro do Universo eles estariam chegando numa quantidade fabulosa e num meio energético tal a possibilitar que se reagrupem em novos elétrons, prótons, nêutrons e tudo o mais. O Um dá origem ao Dois, e o Dois produz o Três e tudo o mais (Lao-Tse). O big-bang clássico é, ao meu ver, uma fogueira eterna, e o Universo é reciclável e auto-sustentável.

Alberto: Seria essa comunicação uma resposta? Sinceramente não sei e não vejo como saber, a não ser através da fé e de mais nada.
Lígia: Veja só: se há um movimento absoluto, se há um espaço absoluto, se há um "campo de informação de tal movimento absoluto"... vamos somando, há um ponto de onde tais "absolutos" partem e de certa forma, dada a "regionalidade" do universo, dividido em setores do absolutamente "macro" ao infinitezimalmente absoluto "micro", entende-se que tal "absoluto" envolva tais "regionalismos" ou estamos simplesmente "fora" do salão de baile especulando que música está tocando lá dentro... :))

Bem, digamos então que existe uma certa lógica além da fé pura e simples [Já que eu resolvi encarar numa boa a expulsão da Ciencialist, não vejo mal nenhum em acrescentar mais alguns ingredientes como este risos]. Neste caso chegamos naquela idéia de um Universo interligado. Mas eu ainda acho que isso ainda é muito pouco. Eu consigo até mesmo entender essa interligação sob um ponto de vista da física newtoniana, mas não consigo evoluir a partir daí a não ser deixando de lado o método científico. Ou seja, sob esse aspecto eu fico naquele mesmo impasse que Newton ficou, a ponto de ter escondido no bolso do colete o seu "espírito da matéria".

Lígia: [...] Fico imaginando o tamanho de um acelerador de partículas apto a "quebrar" elétrons... :) Mas tudo bem, eu sou paciente... :)

Sob certos aspectos eu diria que isso já aconteceu. Afinal, um elétron e um pósitron não se transformam em raios gama? E em condições especiais não é possível efetuar a transformação de um raio gama em um elétron mais um pósitron? O que mais seria necessário? Tão somente aceitar que um fóton é formado por corpúsculos de Newton. Mas isso não é decorrente de uma única experiência, mas sim uma série de experiências a justificarem uma teoria. E um esboço do que poderia vir a ser essa teoria eu já apresentei no artigo "A Natureza da Luz" ou então em alguns outros artigos perdidos pelo meu site.

Lígia: Eu entendi! É apenas o movimento ou a informação do movimento dos corpúsculos que dá a "consistência" ao que quer que eles formem. Retire-se o movimento e tudo volta ao "princípio"... corpúsculos isolados não dotados de capacidade de "criar" formas... lindo! Assim tudo deve-se à existência de um movimento absoluto anterior até mesmo às causas... esse pensamento dá vertigem... mas é lindo de ser "contemplado"! Antes que eu me anime muito... estou certa nessa interpretação?

Parece-me que sim, mas para complementar vou construir aqui uma experiência de pensamento. Imagine que fosse possível um objeto qualquer ser colocado instantaneamente e "delicadamente" nessa posição de repouso absoluto e mais: isolado de possíveis interações com o restante do Universo. Nesse caso, todas as forças de interação provenientes de suas partículas elementares desapareceriam, mas o objeto permaneceria com a sua forma graças a inércia. Todas as suas partículas permaneceriam imóveis. Qualquer esbarrão que déssemos nesse corpo ele se esfacelaria totalmente, e restariam tão somente corpúsculos de Newton (ou átomos de Demócrito, se assim o preferir). É assim que eu vejo a matéria no repouso absoluto. Certamente ela estaria numa temperatura bem abaixo do que chamamos de zero absoluto, pois o zero absoluto da termodinâmica relaciona-se a um repouso não no referencial absoluto, mas num laboratório situado na nossa Galáxia, que viaja numa velocidade incrível, da ordem da velocidade da luz, em relação a um verdadeiro referencial absoluto newtoniano. No zero absoluto termodinâmico a estrutura cristalina se mantém (terceira lei da termodinâmica, ou lei de Nerst) independentemente da inércia.

Alberto: Onde está a gravitação afinal? Não é uma propriedade da matéria? Mas a partir de que nível da estrutura da matéria? Eu diria que a gravitação está relacionada à complexidade estrutural do nêutron. Este, por outro lado, guarda um parentesco íntimo com o próton que, por sinal, em sua estrutura grosseira (num primeiro zoom após a "visualização do átomo) assemelha-se muito com o elétron (principalmente pelo fato de ser uma partícula também girante).
Lígia: Nossa, eu posso ter tido um insight lendo o que você escreveu como explicação para a agregação" dos corpúsculos a criarem um único elétron. A impressão que eu tenho é a de um movimento constante gerando informações tais que assumam a aparência de partículas e seus respectivos campos associados, quer de natureza elétrica, quer magnética, quer gravitacional... a gravitação estaria inserida no próprio conceito de movimento ou "daquilo que permite que os corpúsculos permaneçam constituintes de alguma outra coisa", o "movimento constante" é a chave para a gravitação!

quarkSim. É bem possivel que você já tenha visto uma figura que está na página inicial do meu site. Aquilo é o que eu chamo uma dupla de "quarks" clássicos (espero que os cromodinâmicos quânticos não venham me cobrar royalties pela nomenclatura utilizada). Os quarks, a meu ver, seriam os responsáveis pela gravitação. Um quark clássico isolado pode ser visto na figura ao lado. Cada uma dessas bolinhas verdes é um elétron. Como pela minha teoria o elétron não é uma carga elétrica em miniatura, não estranhe que três quarks compostos somente por elétrons (quiçá pósitrons também —> seria uma antimatéria oculta —não digo que seja assim, digo que não é impossível que assim seja) possam se apresentar ora como um próton, ora como um nêutron. Pela observação destas figuras ainda não dá para perceber como surge a gravitação, mas perceba que o que você falou faz sentido. Trata-se de um movimento constante, onde elétrons estão oscilando pareados dois a dois e dão, como resultante, um aparente giro. Esse giro é ilusório: com uma régua na tela pode-se perceber isso facilmente. Ou então fixe o olhar em duas bolinhas em oposição, e note que elas simplesmente oscilam em direção ao ponto central. Em resumo: prótons e nêutrons seriam formados por quarks clássicos; quarks clássicos seriam formados por elétrons e elétrons seriam formados por corpúsculos de Newton. Ou seja, o Universo é constituído tão somente por uma única partícula fundamental que se associa com suas pares através de um único campo de informações. A teoria unifica não somente os campos, mas também a matéria. E acredite quem quiser. Nada numa mão, nada na outra. risos

Lígia: Aposto como nunca ninguém se atreveu a "forçá-lo" a dizer tudo assim abertamente.

Pelo contrário. Pretendem me forçar a ficar calado. Como não conseguem, ficam me forçando a falar o que eu penso sobre a quântica. Aí eu digo o que eles querem que eu diga e eles ficam ofendidos. Outros me acham exótico por ter lido os Principia. Mas quando fui ler os Principia eu já tinha boa parte da minha teoria montada. Meu insight surgiu quando estava estudando a relatividade de Einstein e a teoria do Big-Bang, e o que eu sabia de Newton é o que se ensinava num bom colegial do final dos anos cinqüenta. Agora estão querendo me checar para ver se eu li mesmo os Principia e a Óptica. Muito em breve vão descobrir que eu não li tudo risos, apenas a parte que me interessou (e que por sinal é bastante extensa). Um dia corrigirei essa minha falha.

Alberto: A nossa Galáxia vai se consumindo em entropinos à medida em que viaja para os confins do Universo, mas outras galáxias são reconstruídas a partir desses entropinos que realimentam eternamente o big-bang.
Lígia: Aqui está a resposta àquilo que comecei especulando lá no meio da mensagem...

Sim, eu percebi e foi por isso que cortei boa parte da sua exposição, mas ela é perfeita ao demonstrar que o Universo não poderia ser estático e/ou não reciclável, se quisermos pensar em sua eternidade. Por outro lado, se Deus existir, certamente ele é mais inteligente do que nós e não creio que iria criar algo que não fosse perene. Parafraseando Newton, "nenhum poder comum seria capaz de consumir o que Deus Ele próprio, fez na primeira criação." Perceba então que as minhas teorias atendem a gregos e a troianos, a céticos e a anti-sépticos. risos

Lígia: ...quer dizer então que tudo tem origem e fim sempre?

Eu diria que o Universo é reciclável. Ele vai se consumindo e se renovando continuamente. Os buracos negros (se existirem) seriam lixeiras cósmicas a triturarem a matéria em sua expressão mais simples, produzindo entropinos, e estes acabariam retornando para o centro do Universo, completando assim um ciclo de existência.

Lígia: De toda forma esta idéia é muito bizarra quando confrontada com a realidade do que é visível... mas vai daí que o que é visível não corresponda à realidade...

Pelo visto, bem ou mal a física moderna está caminhando a ponto de concluir que o Universo tem muito mais coisas invisíveis (matéria escura) do que visíveis, logo a minha maneira de pensar não está tão distante dessa possível realidade.

Lígia: Isso é realmente muito interessante, principalmente porque não descarta outros aspectos do plano que comumente eu considero "extra-dimensional". Na realidade, segundo o que você afirma, o tempo e o espaço estariam "interligados" unicamente pelo movimento desenvolvido pelo que compõe a matéria e as informações só se transformam em ações quando há uma continuidade entre o evento desencadeador e o evento resultante.

Sim. O tempo chega a ser considerado um não-essencial importante, ou um essencial de reserva. Pois se existe movimento, seja ele da matéria, seja da informação, o que seria o tempo? Aliás, como é que medimos o tempo? Não é através do movimento? Logo, o essencial é o movimento e não o tempo. Por outro lado, essa continuidade, que sob certos aspectos aparenta ser virtual, está dotada de certas particularidades sutis incríveis, quando pensada em termos de ação-reação. Pois embora ação e reação não sejam fenômenos instantâneos (a não ser para objetos em contato íntimo), o processo ocorre como se o corpo que reage "soubesse" o que está acontecendo naquele exato momento com a outra partícula, pois ele ao mesmo tempo que está recebendo uma informação, "sabe" que no passado enviou a informação que agora está agindo sobre o outro corpo. Sob certos aspectos, isso é fantástico, e se traduz na idéia de um Universo como se estivesse instantaneamente interligado (e tanto mais se esse Universo for eterno, pois todos os corpúsculos de Newton já estabeleceram contato uns com todos os demais).

Lígia: Veja que tal idéia não inviabiliza nem joga para o plano puramente subjetivo o que se relacione à percepção extra-sensorial. Volto a falar nisso.

Certamente as nossas células estão em contato com todo o Universo, e trocando informações ininterruptamente. Resta saber se nós estamos ou não aparelhados a proceder uma análise dessas informações.


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