Diálogos Ciencialist

 
 

A respeito de uma nova teoria
a propor as bases para o entendimento da Natureza Íntima da Matéria

framesDiálogo com Lígia Amorese
Fevereiro e Março de 2003
3ª. Parte

 

msg 21158
De: Alberto Mesquita Filho
02/03/2003

Na mensagem 21146 Ligia Amorese escreveu:

Lígia: Olá Alberto!!!

Ops! Era o que o Brudna estava esperando para nos expulsar. risos Ainda bem que é carnaval e a essa altura ele deve estar se preparando para sair no bloco dos cientistas aloprados de Porto Alegre. risos

Lígia: Eheheh... vamos à Noosfera que, aliás, está às moscas ultimamente. O Bulcão sumiu de lá... O Lúcio ídem... O Geraldo vive postando as respostas dele às refregas de lá nesta lista. Enfim, zoneou de vez! :))

A Noosfera é muito nova, e apesar do ainda pequeno número de frequentadores (68) ela vem se mantendo. Se ela durar um ano, certamente deslanchará. O importante é não desanimar, o que parece ter acometido o Júnior na Livres-pensadores. A L-P era muito semelhante à Noosfera, em finalidade. Aqui na Ciencialist (287 participantes, hoje), se cinco dentre os mais ativos entrarem em férias, a lista continua como se nada tivesse acontecido. Na Noosfera, se um parar de escrever por um mês, a lista terá uma quebra violenta no número de mensagens. Espero que o Lúcio e o Bulcão retornem em breve, e que o GiL se recupere definitivamente da LER que vem apresentando.

Noto ainda, tanto aqui quanto lá, um preconceito injustificável, ora com relação ao misticismo, ora com relação à ciência, ora com relação à filosofia, e isto acaba gerando aquelas briguinhas bobas. Ora, se a Noosfera, ao contrário da Ciencialist, optou pelo livre-pensar, isso não faz sentido. Do contrário ela deixará de ser uma lista eclética, e creio que esse é o seu ponto alto. Lá eu posso falar em "espírito da matéria" sem deixar de ser cientista. Aqui, para dizer o mesmo, eu preciso pedir licença e assim mesmo apelar para a autoridade de Newton. Lá eu posso pensar em um Deus hipotético, aqui eu preciso lançar mão do Deus de Einstein (novamente a autoridade), aquele que não joga dados. Ora, se Newton e Einstein podiam tergiversar, porque nós não podemos? Em que eles eram melhores do que nós? risos Aos leitores desta thread: Não precisam responder, eu só queria perguntar. risos

Não estou me rebelando contra as regras da Ciencialist, simplesmente tentando mostrar diferenças entre as finalidades estabelecidas para uma lista e para a outra. Eu posso ser considerado briguento, mas procuro ser disciplinado. Do contrário já teriam me expulsado a muito tempo, pois eu digo o que penso e não aquilo que os demais gostariam de ouvir. Diálogo, a meu ver, tem que se pautar pela discórdia uma vez ou outra, do contrário as idéias não evoluem. Mas discordar não significa brigar. O importante no diálogo é aceitar que o outro possa pensar de maneira diferente, e temos que entender bem essa linha de raciocínio do outro, para podermos transmutá-la, ou não, para a nossa maneira de pensar. É assim que evoluimos através do diálogo. Se as idéias convergirem, ótimo! Os dois aprendem com isso. Se divergirem, melhor ainda! Pois sabemos que um dos dois está errado, apenas não sabemos qual dos dois. Se existem duas opções, não será melhor conviver com as duas, ao invés de uma? Mesmo que seja para optar por uma delas? Pelo visto a turma gosta mesmo é do partido único.

Lígia: Pois então... Ah, eu tenho uma dúvida e que "ninguém" (o próprio :) nos ouça: em que eu posso estar faltando com a memória de Popper de maneira notável inclusive para uma *douta-e-ilustre- professora-d'além-mar*?

Sinceramente eu não sei. Tenho a impressão que Popper foi um dos poucos acadêmicos que abominava essa postura de "douto-e-ilustre". Ele adorava andar fora dos trilhos, e certamente já teria sido expulso da Ciencialist e/ou dos doutos principados acadêmicos, tanto de Portugal quando do Brasil. Certa vez li um artigo de alguém que fez pós-doutoramento na escola onde Popper foi professor, na Inglaterra, e o autor desse artigo dizia que a primeira coisa que um aluno aprendia com Popper era criticar o próprio Popper. Esse era quase que um pre-requisito para o indivíduo poder se dizer popperiano.

Lígia: Tendo visto que o Taborda "venceu" (o que, qual o prêmio? Também quero!)

O Taborda tentou simular um jogo onde ele era o técnico, o juiz, o dono da bola, o vendedor de ingressos e quase todos os jogadores ao mesmo tempo. Eu acabei desistindo desse jogo assim que percebi que ele era também o fabricante e o dono do troféu, e já havia inscrito no mesmo que ele seria o vencedor. risos

Lígia: e eu estou na berlinda agora faltando com Popper depois de já ter meu nome afixado num *mural-da-vergonha-de-trás-dos-montes-do-além-Tejo*, penso que estamos, eu e você, numa mesma nau a naufragar pela "imprecisão do viver" à la Pessoa... daí o apelo semi-desesperado para que você me elucide. O caso é que careço de compreender minha falta antes que chovam tamancadas e que "ninguém" as arremesse pela digníssima :))

Bem, eu não quero entrar nessa briga, mas ouso palpitar que o Taborda deve ter sido aluno da dona do tamanco. risos Ainda bem que ele não usa tamancos virtuais, mas se usar não faz diferença pois o meu MacAfee Secury Center lê até maus pensamentos anexados às mensagens.

Alberto: Mas isso não muda em nada a física newtoniana, pois ele não se comprometeu com essa região de repouso absoluto. Simplesmente ele assumiu a existência de um espaço absoluto, em relação ao qual poderia em teoria imaginar esse repouso absoluto.
Lígia: Bem, o conceito do Eliseum era bastante enraizado na época. Interessante é que Giordano Bruno não parece ter tido dificuldades em imaginar um espaço dinâmico e contentor de vida ao ler as obras de Epicuro...

Newton certamente leu Epicuro e acho que também não o estranhou. Mas ele optou por situar essa agitação (ou dinâmica) como algo contido num ambiente em repouso absoluto. Ele soube muito bem distinguir continente de conteúdo. O espaço é o continente, ou seja, representa o nada. A matéria e a informação seriam o conteúdo a habitarem esse continente, ou esse nada existencial. E o movimento absoluto seria algo a testemunhar a existência desse espaço, manifestando-se através da informação também contida nesse espaço. De todos esses essenciais o único que efetivamente enxergamos é a matéria, e esta, apesar de tudo, move-se e recusa-se terminantemente a parar em relação a esse nada. A conservação do movimento absoluto é a base de toda a física newtoniana, não somente de suas três leis.

Lígia: Certo. Bem, casando-se a idéia de um possível Big-Bang com o conceito de repouso absoluto, que apresenta-se impraticável já que tudo está em movimento, temos a singularidade como representação de tal zona? Nossa! Muitos já notaram que levando-se em conta o fato de o tempo escoar-se lentamente tendendo ao infinito nessas condições, tal situação seria a mais propícia para explicar o conceito de Eternidade pela ausência do tempo e consequentemente perfaz uma idéia de "repouso absoluto". Mas duvido que Newton possa ter "previsto" tal conceito já naquele tempo... é você quem está pressupondo, não? Ou terei sido eu? A singularidade é quântica... :/

A idéia de big-bang é bem recente, e não há indícios de que pudesse ter sido suspeitada na época de Newton. É bem verdade que a idéia de estrelas fixas foi derrubada por Haley, amigo de Newton, mas isso aconteceu em 1718. A terceira edição dos Principia foi publicada em 1725 (Newton morreu em 1727), mas creio que Newton não chegou a comentar em nenhum de seus escólios essa descoberta do seu amigo, mesmo porque, e como eu já disse, isso em nada modificaria a sua física. Mas daí a se pensar em universo em expansão, alguns séculos nos contemplam.

Com respeito ao seu parágrafo, alguma coisa realmente é minha e não de Newton, mas noto que tem muito também de seu, e não sei se teria sido algum insight atual que você teve ou algo já bem sedimentado. Com respeito ao tempo, eu diria que ele é uma invenção útil (na física newtoniana ele pode ser encarado como um essencial de reserva, quando quisermos deixar o movimento em segundo plano). Não posso dizer que não existe, pois conseguimos medi-lo, logo pela nossa convenção do que seja existência, o tempo existe e não só no sentido filosófico (duração), mas também no sentido científico (reprodutibilidade). O problema da eternidade já é algo bem mais complicado, mas parece-me ser bem mais simples do que uma involução histórica em direção a uma possível singularidade inicial, a menos que essa singularidade seja Deus ou obra de Deus. Com respeito à eternidade, e com relação ao futuro, o único empecilho seria a segunda-lei da termodinâmica, mas esse problema já não me incomoda mais, pois considero-o definitivamente resolvido. Aliás, a esse respeito existe um francês que bolou uma idéia muitíssimo parecida com a minha mas, veja só, a apoiar-se na relatividade de Einstein. risos

Lígia: Mas é engraçado pretender que a interpretação de um conceito de absoluto/relativo possa ter dado entender que a Física Newtoniana apenas levava em consideração referenciais absolutos... eu entendo que nessas nossas conversas você tem defendido esse seu ponto de vista que toma por relativo o que normalmente é interpretado por absoluto quando se fala em Newton... mas se é da forma como você apresenta, como então mais ninguém chegou a essas conclusões antes?

As razões são inúmeras. Em primeiro lugar, valorizou-se em demasia o dogma de Côtes, qual seja, a ação instantânea a distância não mediada por nada. Esse Côtes foi o editor e prefaciador da segunda edição dos Principia e, segundo Maxwell, ele andou dizendo no prefácio algumas asneiras que passaram para a história da física como tendo sido proferidas por Newton. Isso era muito conveniente, pois havia um preconceito muito grande com relação a aceitação do "espírito da matéria" newtoniano. Os seguidores de Newton, com medo de passarem a imagem de místicos, aceitaram a interpretação de Côtes e destruiram a genuína física newtoniana, ficando apenas com um modelo de quatro leis que dava certo em condições restritas e satisfatórias para a época. Isso hoje soa engraçado, pois existe um "espírito quântico" a justificar cada experiência realizada no século XX e que falseou a física quântica, mas já houve tempo em que os preconceitos eram de outro tipo. Lembre-se que por muito menos alguns foram, nessa época, condenados à prisão e outros a arder nas chamas. Hoje as coisas apenas mudaram de lado: os candidatos às chamas são aqueles que duvídam dos inúmeros "espíritos quânticos". Ora, a bem da simplicidade não seria muito melhor aceitarmos tão somente o "espírito da matéria"?

Em segundo lugar, poucos perceberam que a Óptica de Newton é um complemento importantíssimo à física de Newton. Deixada a física de lado, aqueles que se contentaram com o modelo mecânico passaram a julgar a Óptica de Newton como um acessório de pouca importância. A partir de Young (início do século XIX) a Óptica de Newton por pouco não chegou a ser considerado um livro apócrifo nos meios acadêmicos, e somente no século XX, com a redescoberta da luz corpuscular (ainda que dual) pensou-se em reeditar essa obra magnífica, para que enfeitasse as bibliotecas dos físicos modernos.

O século XIX foi o século da luz ondulatória. Começou com Young e terminou com as ondas eletromagnéticas de Maxwell. É interessante notar o quanto Maxwell relutou em deixar de ser newtoniano, mas ele não quis em hipótese nenhuma aceitar a idéia dos "espíritos da matéria" e optou por um éter material para explicar a propagação dos distúrbios eletromagnéticos. Hoje o éter foi comprovadamente declarado inexistente (experiência de Michelson-Morley), mas as ondas eletromagnéticas de Maxwell conservaram o seu status de vibrações de um meio inexistente. Ora, se é para trabalhar com hipóteses inexistentes, porque não retornar à lógica newtoniana? Pelo menos Newton conseguiu dar testemunhos experimentais a comprovarem a existência desse "espírito". Ou não?

Lembro que a experiência de Michelson-Morley surgiu graças ao apelo de Maxwell para que se detectasse esse éter, pois a não existência falsearia sua teoria relativa à natureza da luz. Infelizmente Maxwell morreu muito cedo (48 anos) e não pôde consertar a sua teoria sobre a luz que, de maneira inesperada, acabou sendo definitivamente falseada. O que se seguiu foram os remendos de Lorentz: absurdos, inconseqüentes e a levarem os físicos para o atoleiro onde se encontram até hoje.

Lígia: O que há de errado na forma de perceber a Física de Newton que permita tal erro e consequentemente a inviabilidade de tais conceitos para maiores escalas como as do espaço cósmico por exemplo enquanto a RG parece cair como uma luva?

É suficiente tão somente a introdução do "espírito da matéria" newtoniano. Em altas velocidades o problema se resume em levar em consideração os potenciais retardados, não apenas para o eletromagnetismo mas também para a gravitação. A dilatação do tempo na realidade retrata uma modificação do ritmo dos relógios. E digo relógio no sentido mais amplo possível. O nosso metabolismo não deixa de ser um relógio, e ele funcionará em ritmo diferente em velocidades absolutas diferentes (a velocidade do espírito da matéria, que regula tudo, depende da velocidade da fonte). Ou seja, os dois gêmeos do paradoxo dos relógios, quando colocados em velocidades diversas, realmente envelhecerão diferentemente, e isso é perfeitamente compatível com uma física 100% newtoniana. E na física newtoniana não há paradoxo algum, pois em relação a um referencial absoluto saberemos, pelo menos em teoria, qual dos dois está em maior velocidade (por sinal, esse seria um outro método de localizar, por extrapolação, o referencial absoluto, obviamente não com gêmeos). Não preciso dizer que aquela história dos mésons também admite uma explicação 100% classica. A história de aumento de massa com a velocidade também é ficção. Um corpúsculo acelerado usa parte da energia recebida para incrementar seus movimentos internos. Não existe nem aumento de massa nem criação de matéria, isso é ilusão relativística. Quando o corpúsculo atinge um calorímetro ele devolve tanto a energia cinética de translação quanto aquela que incorporou em seus movimentos internos (por exemplo, rotação). Isso é perfeitamente compatível com a física newtoniana, e matematicamente já foi demonstrado que isso funciona, pelo menos para os elétrons.

Lígia: Então vejamos: se há movimento, há o espírito da matéria e a consequente intercomunicabilidade entre objetos em movimento. E mais interessante ainda é notar que o conceito desse tal de "espírito da matéria" é difundido também em certas doutrinas filosóficas que são encaradas como "ciências ocultas". O conceito de Karma ( que em sânscrito significa movimento) é basicamente levar em conta que onde há ação (movimento) há existência e que é pelo fato de existirem/estarem em movimento em relação a um referencial absoluto que tais corpos podem ser notados como reais... Newton estava fazendo uso de conceitos bastante interessantes para compreender a essência da matéria. Talvez seja por isso que ele tenha chegado a respostas tão absolutamente corretas quando da elaboração de suas fórmulas para movimentos de corpos em sistemas.

Se eu concordar contigo estarei selando a minha expulsão da Ciencialist, risos então vou dizer apenas que ele mereceu o título "post mortem" de o último dos grandes magos.

Alberto: Eu diria apenas que sob esse aspecto o big-bang está para nós assim como as estrelas fixas estavam para Newton. Não é impossível que daqui a 300 anos descubram que o Universo contém milhares de big-bangs, e que o nosso é apenas um big-banguezinho de um big-sistema-solar e que se move em direção a uma big-estrela fixa. ;-))
Lígia: Não vamos exagerar... :)) Decididamente eu não concordo com a idéia de micro-buracos-negros, brancos e muito menos com sequências de BBs...

Bem, o exagero foi proposital. risos Mas veja que eu não falei de "micro-buraco-negro" mas sim de múltiplos big-bangs. Essa idéia é bastante recente e não é minha, e foi proposta como alternativa a explicar aquela história de que o Universo estaria em expansão acelerada. Enfim, eu conheço muito pouco sobre o assunto para poder ir além.

Alberto: Os entropinos são corpúsculos de Newton, a base da luz e de tudo o mais.
Lígia: Bonita idéia essa... sinceramente. O problema seria encontrar os entropinos... :))

Eu penso que a constatação de sua existência não será muito difícil, pois já dispomos de argumentos teóricos a meu ver mais do que suficientes para caminharmos nessa direção. O difícil será o que virá depois, a determinação de suas propriedades físicas. Isso deve ser trabalho para mais de 50 anos, supondo-se um sucesso total.

Alberto: Neste caso chegamos naquela idéia de um Universo interligado. Mas eu ainda acho que isso ainda é muito pouco. Eu consigo até mesmo entender essa interligação sob um ponto de vista da física newtoniana, mas não consigo evoluir a partir daí a não ser deixando de lado o método científico. Ou seja, sob esse aspecto eu fico naquele mesmo impasse que Newton ficou, a ponto de ter escondido no bolso do colete o seu "espírito da matéria".
Lígia: Mas é justamente essa falta de "interligação" entre o que é intuído e o que é experimentado que gera todo o conflito armado entre o que está acontecendo e o que a gente entende pelo que está acontecendo... Parte da minha busca pessoal é justamente entender o que motiva um místico a apenas agir sem se preocupar com os detalhes científicos e o que leva um cientista a não se aperceber do que está "por trás" de tudo e continuar agindo. Sem que haja essa comunicação entre razão e intuição só o que há são membros dissecados que nada podem alcançar por si mesmos...

A modernidade separou a ciência do misticismo e sem entrar no mérito da questão digo apenas que o cientista tem que tomar muito cuidado com seus escritos, pois do contrário será definitivamente condenado ao ostracismo. A verdade é que a comunidade científica gosta de ser enganada, sem perceber que *todo* cientista que produziu de fato algo revolucionário para a ciência começou por valorizar aquele lado místico que todos nós possuímos. Não existem exceções. O cientista produtor de conhecimentos científicos tem que saber lançar mão de sua criatividade, logo tem que ser intuitivo e, acima de tudo, tem que saber separar o joio do trigo. A escola moderna bloqueia essa criatividade, logo colabora para a manutenção do status quo. Tanto a direita quanto a esquerda, de Hitler a Stalin ou de Bush a Fidel Castro, nada mais fizeram senão sufocar essa rebeldia, sem a qual a ciência fica aprisionada nas mãos do Estado. Os rebeldes sempre foram mal vistos pelos governantes e a Inquisição sempre existirá enquanto o homem não for livre para pensar, enquanto não iluminarmos a face oculta da ciência.

Lígia: É... e depois eu que sou "mística"... :)) Mas de fato, mesmo num conceito que você "abomina", o da "energia condensada" na forma de matéria não há nada de palpável... além da luz. Em todo caso, gosto da forma que você "dá nome aos burros". A coisa toda acaba sendo mais coerente simplesmente pelo fato de ser explicável até o fim. Isto é, *SE* os corpúsculos de Newton não tiverem uma estrutura interna... :))

Rigorosamente falando eu não abomino essa energia condensada, apenas dou outro nome. Eu aprendi o conceito de energia estudando a física clássica, e em física clássica energia é um construto, não é uma essência. A energia retrata uma das maneiras como o movimento se manifesta. Mas assim é porque os clássicos a definiram para que fosse assim. Os místicos dão outra interpretação à energia. Isso não tem nada de física clássica, mas sim algo que eles herdaram dos antigos. Não posso dizer que estejam errados, pois eles adotam a interpretação milenar da palavra, mas também não posso confundir coisas diversas, apenas porque receberam o mesmo nome. Os místicos de hoje gostam da física moderna porque acreditam existir aí uma aproximação com o conceito milenar, mas isso é uma ilusão que a meu ver jamais sairá do papel.

Alberto: Perceba então que as minhas teorias atendem a gregos e a troianos, a céticos e a anti-sépticos. ;-)
Lígia: Well, esta é uma postura conciliatória muito peculiar. A cisão realmente não leva a muita coisa além da discórdia. E fico feliz por constatar que você está realmente fazendo um bom trabalho. Tem sido mais com o propósito de sondar você que eu venho questionando ininterruptamente tudo o que eu percebo que dá sustentação aos seus argumentos. E eu até entendo quem discorde de você.

Eu também entendo e acho muito natural, pois em condições similares eu também discordaria. Apenas não aprovo a atitude dogmática e a pobreza de espírito de muitos daqueles com quem tenho digladiado, na verdadeira acepção da palavra. Como já disse, eles não querem dialogar, eles querem que eu concorde com aquilo que eles acham que já sabem. Outros querem me derrubar, mas como não têm argumento para tal ficam alternando bajulações com pedradas. Terceiros, como o Taborda, querem me cansar utilizando-se do método da repetição exaustiva. Felizmente, entre um dissabor e outro surgem pessoas como você que respeitam e advogam a causa do livre-pensar. Eu só posso agradecer pelas suas "sondagens", pois sob certos aspectos, você efetivamente está conseguindo me colocar em xeque, coisa que os demais não conseguem fazer. E não conseguem porque querem dar o xeque-mate em um único lance, e mal se dão conta que não sabem jogar xadrez.


msg 21160
De: Alberto Mesquita Filho
04/03/2003

Na mensagem 21159 Ligia Amorese escreveu:

Lígia: Veja só que silêncio... pelo jeito todos os participantes da lista saíram em respectivos blocos e a lista é só nossa!!! Vamos ao "motor" de uma possível expulsão: meu entusiasmo crescente!!!

Pois então, antes que termine o carnaval vamos aproveitar para apocrifar de vez a Ciencialist. risos

Lígia: Aliás, deve ser algo de muito prejudicial a você trocar idéias assim, com uma reles pilota de fogão que pretende entender de física só para não pensar no que vai fazer prá janta... :))

Discordo. Já disse que você é bastante intuitiva e que sabe distinguir o essencial do supérfluo. Esta sua mensagem é uma prova disso, como mostro abaixo.

Lígia: Uns se arvoram de ciência, outros de misticismo mal sabendo que ambas têm uma raiz em comum... ou se sabem, ignoram por motivos de praticidade.

Eu diria que é uma praticidade burra e que só vem a favorecer os aproveitadores da ingenuidade popular, vulgo charlatães.

Lígia: Hum... pois é, depois dessa sua explicação eu entendi o que eu fiz de errado a ponto de ser notório: assumi "certezas" sem levar em conta possíveis dúvidas envolvidas com os estudos astronômicos. Mais uma vez, mea culpa... :)

Você está se culpando por nada, pois não vi nada de errado, nem aqui e nem na Noosfera. É verdade que não tive tempo de acompanhar todas as mensagens, mas creio que li boa parte delas.

Lígia: Uma idéia de Eternidade que me diz muito é a de Joseph Campbel em seu livro O Poder do Mito. Diz ele que "A Eternidade exclui o tempo". Desde que li essa frase, qualquer citação envolvendo o termo "eterno" é logo identificado como algo para o que o tempo não é levado em conta. Assim vejo o "início" do Universo como o início do tempo e o consequente desdobramento do espaço de forma bastante natural, sem esforço. Algo sem tempo é algo em suspenso, sem movimento, estático. A Eternidade portanto me dá idéia de estagnação... assim desde que algo exista pode acumular zilhões de anos de existência mas jamais ser eterno (novamente). Pelo menos da forma como compreendo a idéia do tempo e da interdependência do espaço em relação a ele. Então voltando a um espaço absoluto: o tempo é levado em conta em relação a tal espaço? Se sim não há como tal espaço ser estático: alguma coisa sempre muda com o passar do tempo.

O tempo é sempre um grande enigma. Eu diria que existe um tempo físico e um tempo filosófico, e ambos são complexos e com mais de um significado. Fisicamente conseguimos medir o tempo, assim como medimos o comprimento de um objeto com uma régua. Mas a rigor não estamos medindo o tempo e sim a duração. Quando comparo duas medidas de tempo para um mesmo fenômeno, na realidade estou comparando a duração, pois nem mesmo o intervalo de tempo é o mesmo, ainda que a duração seja exatamente igual. Eu posso dizer que T4 - T3 = T2 - T1, mas não posso dizer que T4 = T2 nem que T3 = T1. Ou seja, o que chamamos tempo em física nada mais é que duração temporal de um fenômeno.

Com respeito ao espaço absoluto, ele é suposto em repouso. Aliás, nem é necessária essa suposição, pois esse espaço representa o nada, logo não se altera. Esse é um postulado inicial, obviamente a justificar uma certa lógica. O outro postulado, o da existência da matéria, já é mais fácil de se aceitar, pois que satisfaz a nossa visão. Mas um objeto só, contido nesse espaço, não nos garante nada. Eu preciso de pelo menos dois. Com dois já posso verificar se estão se aproximando ou se afastando. Esse é um movimento de um em relação ao outro, mas da simples observação não podemos garantir que seja relativo ou absoluto. Automaticamente, ao observarmos o movimento vem a nossa mente o tempo. O tempo é criação da nossa mente e manifesta-se pelo movimento. Se ele já existia ou não antes do movimento ter sido observado, isso é um problema da seara da filosofia, jamais da física. O tempo entra na física como medida da duração de um processo (por exemplo, duração de um afastamento x ou de uma aproximação y). Perceba então que para caracterizar o movimento e/ou o tempo eu não preciso do conceito de espaço absoluto, o espaço relativo é totalmente suficiente. E, com efeito, o espaço absoluto existe por hipótese, pois como observadores nós vivemos num mundo de espaço e movimento relativos. Sequer sabemos qual é a nossa velocidade em relação ao espaço absoluto newtoniano. O espaço absoluto acaba sendo importante somente quando vamos estudar os campos sob o ponto de vista da física de Newton, e é aí que entra o "espírito da matéria". Como você concluiu em uma das mensagens anteriores, "o espírito da matéria é o representante direto do absoluto para o movimento". E acaba sendo o testemunho da existência de um espaço absoluto.

Lígia: Então, Alberto, o ideal seria criar experimentos que possibilitassem a compreensão de tal "espírito" antes que seja tarde e que físicos do mundo todo recriem a roda na forma quântica...:)

Sem dúvida, e eles já estão tentando fazer isso mesmo sem perceberem, como mostrarei abaixo. Dentre os clássicos, o único físico que tentou fazer isso de maneira consciente foi Newton, através das experiência do balde e dos globos giratórios, além de experiências relacionadas à óptica. O difícil não é levar o "espírito da matéria" para o terreno da experimentação, pois em qualquer experiência onde haja interação entre objetos, isso já ocorre naturalmente. O difícil seria bolar uma experiência cujo resultado somente se justifique através dessa idéia. Como já disse Popper, podemos falsear uma expectativa, mas não podemos garantir um sucesso através de uma única interpretação. Uma experiência pode, quando muito, corroborar uma idéia, mas nunca nos dá uma certeza absoluta. As teorias se mantém pela resistência a falseamentos, e é por isso que os físicos modernos não fazem outra coisa que não seja a criação de hipóteses ad hoc. A hipótese ad hoc é o equivalente à extrema unção. Os físicos deveriam aprender com os médicos a diferença fundamental que existe entre prolongar a vida e prolongar a morte. A física moderna dos dias atuais tem apenas vida vegetativa, e já está a merecer um enterro digno.

Lígia: E teria ele conseguido tais testemunhos apenas através dos estudos que desenvolveu em sua Ótica?

Como disse acima, Newton propôs duas experiências que têm deixado os físicos de cabelo em pé desde então. Até hoje ninguém conseguiu dar uma contestação razoável à interpretação newtoniana. Os físicos modernos contentam-se em repetir os argumentos estratosféricos de Mach, uma verdadeira loucura somente comparável às doideiras da física moderna. Aliás, Mach e Lorentz são os principais baluartes da despersonalização que se verificou na física do século XX.

Lígia: E já se tentou equacionar tal "espírito"?

Agora você tocou na ferida! Entende porque é que eu digo que você consegue me colocar em xeque? Mas por incrível que pareça, essa é a parte mais fácil de todo o processo. A matemática já está quase que todinha montada e a espera de ser utilizada da maneira correta. Eu colaborei muito pouco para essa matemática, pois a maior parte eu encontrei nos livros de Cálculo e de Física, até mesmo de física moderna. Basta visualizar um pouquinho da física que reside por trás de algumas equações que dão certo. Às vezes a turma chia quando digo que o elétron não é uma carga elétrica coulombiana, mas uma das maneira de encontrarmos a saída começa por aí.

O que eu chamo equação do elétron é a coisa mais simples que se possa imaginar. A equação é A = ω/r, em que A e ω são vetores [É possível também se começar o estudo através do escalar Ø = K/r, mas eu prefiro já começar com vetores, pois de uma maneira ou de outra eles acabarão aparecendo]. Essa única equação contém todo o eletromagnetismo, contém todas as quatro equações de Maxwell.

Essa equação não é de um campo de interações, mas sim de um campo de informações eletromagnéticas. O que seria esse campo de informações eletromagnéticas de um elétron? É o campo que contém tudo relacionado aos efeitos eletromagnéticos de um elétron. É interessante notar que ele varia inversamente com r, e não com o inverso do quadrado de r. Isso é o que via de regra acontece com os potenciais, tanto gravitacionais quanto eletromagnéticos, tanto os escalares (elétrico e gravitacional) quanto o vetorial (magnético).

Pois bem. Se eu aplicar o rotacional ao campo A, eu chego no campo magnético de um elétron. Se eu aplicar o translacional ao mesmo campo A eu obtenho o campo elétrico de um elétron. Esse dois sim, variam segundo o inverso do quadrado de r. O translacional é um operador diferencial vetorial que defino na minha teoria, mas está intimamente relacionado com o operador escalar divergência. A vantagem em usar o translacional é mais de estética do que de matemática propriamente dita. No eletromagnetismo clássico existem dois potenciais, mas na minha teoria existe apenas um. Eu posso utilizar A ou Ø, mas eles são dependentes entre si, dado um o outro estará determinado. Na solução das equações de Maxwell, pode-se calibrar os potenciais (esse efeito de calibrar é mais conhecido como operação gauge), assim como também na gravitação. Na minha teoria não, o A é um só, não existe calibração alguma. Por ser um só, ele pode ser pensado como um vetor conservativo, e de fato seu campo é conservativo. E o que se conserva nesse campo? Nada mais, nada menos, do que as informações eletromagnéticas. É perfeitamente possível conhecer o fluxo de informações eletromagnéticas emitidas por um elétron e que atravessam uma superfície qualquer (o gradiente de Ø com sinal trocado). E a partir desse fluxo conceituar de maneira absoluta as informações eletromagnéticas, a ponto de podermos até mesmo medí-las (obviamente de maneira indireta, como acontece com a grande maioria das mensurações).

Lígia: Veja Alberto, eu admiro muito essa idéia toda mas deve haver algum empecilho prático, ou outros já a teriam (re)descoberto, por assim dizer.

O impecilho prático resolve-se ao deixarmos de assumir que o elétron é uma carga elétrica coulombiana. Você tem razão. Muitos, mas muitos mesmo, já pensaram nisso. Maxwell chegou próximo a isso, Heaviside também. Mas todos, de uma forma ou de outra, acabaram fugindo de medo do "espírito da matéria". Mas medo de quê? Medo porquê? Medo de pensar no potencial como uma divindade espiritual. Ou seja, eles leram Newton e não entenderam que seu espírito não tinha nada de divino. Naquela época falava-se muito em espírito do vapor, espírito da umidade etc, e Newton achou por bem em falar em espírito da matéria, para se referir ao agente responsável por vários efeitos, muitos dos quais Faraday chegou a incorporar no que veio a ser chamado campo de interação.

Quando se pensa em fluxo de um campo, pensa-se em alguma coisa que flui pelas linhas de campo. Pode-se pensar em alguma coisa viajando por um campo gravitacional sem problemas. O mesmo se diga com respeito ao campo elétrico. Essa alguma coisa origina-se numa fonte (massa ou carga elétrica) e morre num sorvedouro (outra massa ou outra carga elétrica). Mas ninguém até hoje conseguiu conceber alguma coisa real ou de natureza sabidamente física e viajando por uma linha de campo magnético. Feynmann, por exemplo, chega a dizer que "qualquer teoria de emissão que pretenda se utilizar das linhas de campo como trajetória de entes imaginários responsáveis pelo campo, está fadada ao fracasso". Ou seja, os físicos já pensaram e muito nessa possibilidade, mas não conseguiram caracterizar fisicamente o que acabaram acreditando ser uma divindade, e como tal a deixaram de lado. Afinal, como uma coisa que não nasce numa fonte e nem morre num sorvedouro poderia ficar viajando pelas linhas do campo magnético, sem mais nem menos? Pois as linhas do campo magnético fecham-se sobre si mesmas! O fluxo do campo magnético é algo de natureza imaginária e 100% matemático. Não há como visualizar nada de físico nesse campo, nada que possa ser pensado como criado em um ponto e destruído em outro. Não há nada de conservativo nesse campo e que não seja única e exclusivamente de natureza matemática.

Quando pensamos em potencial as coisas complicam-se terrivelmente, pois o que se define é diferença de potencial, algo totalmente relativo. Mas o que eu estou afirmando é que dentre esses milhares de possíveis potenciais relativos (diferença de potencial em relação a um ponto escolhido arbitrariamente), existe uma maneira de caracterizar algo que seria como que um potencial absoluto, e que para o caso do elétron seria A = ω/r. É esta grandeza, e não os campos elétrico nem magnético, quem responde pelos efeitos eletromagnéticos gerados pelo espírito da matéria newtoniano. A equação fundamental é por demais elementar, se bem que no desenvolvimento do assunto a matemática acaba se complicando bastante, mas não mais do que a complicação que já existe no estudo do eletromagnetismo de Maxwell.

O fluxo de "informações eletromagnéticas" nada mais é senão o gradiente de uma função Ø definida a partir de A. Ou seja, pode-se até mesmo fixar uma unidade para o "espírito eletromagnético da matéria", mas eu procurei não fechar essa questão pois esse espírito ainda não é o primário, ou seja, aquele gerado por um corpúsculo de Newton, mas sim gerado por um elétron, uma partícula ainda de estrutura relativamente complexa. Aliás, uma das críticas mais ferrenhas que o Taborda fez a minha teoria, que na opinião dele seria uma falha grave, foi o fato de eu ter optado por deixar essa questão em aberto. Para variar, ele está tentando passar com a carroça na frente dos bois, sem se dar conta de que quando ele nasceu eu já fazia teorias. risos Minhas teorias podem não ser boas, podem não corresponder à realidade, mas se há uma coisa em que eu faço questão de caprichar é na lógica utilizada. E é porisso que eu leio Popper, dentre outros filósofos da ciência. E é porisso também que eu leio os bons teorizadores, como Newton, Maxwell, Einstein, Bohr, Heisenberg etc.

Em tempo: Ao contrário do que alguns chegam a pensar, o A da equação A = ω/r não deriva do meu nome, da mesma maneira que o "E" da equação E = mc² não deriva do nome de Einstein. Eu simplesmente utilizei o mesmo símbolo A do vetor potencial magnético, pois o meu A guarda um parentesco muito grande com esse vetor.

Lígia: Ainda que a existência de um "espírito" por trás de toda a dinâmica universal soe "mística" para ouvidos despreparados, ela é muito viável e de certa forma simplificaria tudo sim. Mas o problema recai sobre a matemática por trás da existência de tal "entidade"... e se ela nunca for "achável", como ficamos? Você tem idéia a partir de qual/quais equações poderia-se chegar a um equacionamento que resultasse numa base sólida para tais argumentos?

Bem, como você pode perceber eu já percorri mais da metade desse caminho e volto a dizer que isso foi o mais fácil de tudo o que fiz. A turma acha que eu não gosto de matemática, mas a verdade é que a dificuldade da física não reside na matemática. Quando o que falta para uma teoria é tão somente a matemática, na realidade não falta quase nada. A matemática pode assustar um principiante, jamais um teorizador. O difícil não é resolver um problema, o difícil é formular um problema, é encontrar o problema. Pois quem formula quase sempre resolve, não importa que isso dure 10 minutos ou 10 anos. Infelizmente a nossa escola está vocacionada para ensinar os jovens tão somente a resolverem problemas formulados pelos outros e a conseqüência é que não formamos cientistas teorizadores em número suficiente para as nossas necessidades. Aqueles que vão em frente, vão em frente apesar da escola e quase sempre sendo obrigados a se indispor com essa mesma escola. Os outros ficam por aí defendendo a matemática, depreciando a física e, quando falam em física, apóiam-se tão somente no método do copiar e colar. Você já pensou no que seria a ciência se todos fossem assim?

Lígia: Sim... quando se considera todos as partículas subatômicas como "corpúsculos" os conceitos da física newtoniana são muito viáveis... mas insisto que deva haver um modo/modelo matemático a ilustrar tais idéias. A MQ tem vencido a guerra simplesmente porque é matematicamente consistente a apoiar-se em argumentos que solidificam ainda mais o que se desenvolve através da matemática aplicada a ela e o que é "pior": as experiências vem comprovando a veracidade do que se argumenta utilizando-se de tal "ferramenta". Isso pode até soar estranho mas veja que talvez sempre tenha sido uma questão de um bom equacionamento e as respostas casariam com as idéias... de certa forma confirmando uma idéia ancestral de que tudo é da forma como a maioria crêr... e tendo em vista o emaranhado de conceitos e idéias que amálgamam a MQ, qualquer outra idéia que viesse de forma a "desenroscá-la" seria bem vinda...:)

Eu não estou tão certo deste ser bem-vindo. Eu tenho a impressão que Planck tinha razão quando disse:

Uma verdade científica nova não é geralmente apresentada de maneira a convencer os que se opõem a ela... simplesmente a pouco e pouco eles morrem, e nova geração que se forma familiariza-se com a verdade desde o princípio.

É por isso que atualmente eu tenho procurado transmitir minhas idéias apenas aos jovens, pois os da minha geração não querem nem pensar que a verdade possa ser outra bem diferente daquela que eles defenderam com unhas e dentes por anos a fio. Com os jovens eu pelo menos ainda consigo brigar. Os mais velhos fazem questão de me ignorar e/ou de acintosamente me virar a cara. Tenho muita pena deles, pois eles não têm forças para enfrentar a realidade, não lhes restando outras perspectivas que não sejam a de apelar para o saudosismo ou a de ficarem ministrando à extrema-unção a um cadáver.

Alberto: Os místicos dão outra interpretação à energia. Isso não tem nada de física clássica, mas sim algo que eles herdaram dos antigos. Não posso dizer que estejam errados, pois eles adotam a interpretação milenar da palavra, mas também não posso confundir coisas diversas, apenas porque receberam o mesmo nome. Os místicos de hoje gostam da física moderna porque acreditam existir aí uma aproximação com o conceito milenar, mas isso é uma ilusão que a meu ver jamais sairá do papel.
Lígia: O conceito de energia para um místico é tudo o que pode "vir a ser". Algo como uma latência que pode ser desdobrada de acordo com a forma como se pensar nela. O interessante é notar que o conceito de "espírito da matéria" casa muito melhor com o misticismo simplesmente porque dá um nome a essa "energia" imanente às ações desenvolvidas no Universo como um todo, intercomunicando as partes do todo.

Perfeito. Mas veja que como estou teorizando em física, tenho que usar as expressões adequadas à física. Como eu tentei mostrar acima, posso falar em um fluxo de informações elementares, logo posso pensar em medir essas informações segundo uma certa unidade. Mas essa unidade certamente não será o joule. Existe um parentesco muito grande entre a energia física e as grandezas acima definidas (veja que eu comparei a potenciais), mas são coisas distintas, e o fluxo dessa entidade Ø não retrata um transporte de energia pelo espaço, mas tão somente o transporte de uma informação capaz de alterar o conteúdo energético (ou o movimento) dos dois corpos assim acoplados. Perceba também que se não houver troca energética (partícula única em teoria) ainda assim haverá o transporte de alguma coisa não energética (em teoria, para que haja o transporte de informação não é necessário que haja uma ação, é suficiente a emissão). De qualquer forma não há como criticar essa sua idéia de "energia imanente às ações".


msg 21216
De: Alberto Mesquita Filho
/10/03/2003

Na mensagem 21186 Ligia Amorese escreveu:

Lígia: Mas não é temerário colocar o espaço absoluto como o "nada"? "Nada" para mim tem um peso imenso, significa algo fora do conceito de tudo o que se possa sequer conceber porque uma vez concebido já existe e deixa de ser nada.

O nada a que me refiro corresponde ao vazio de Lao-Tse:

Da sua não existência vem a utilidade.

Esse nada é o que sobra após termos retirado o tudo. É o continente a conter o todo, e esse todo é o Universo constituído por matéria e informação do movimento da matéria.

Alberto: Como você concluiu em uma das mensagens anteriores, "o espírito da matéria é o representante direto do absoluto para o movimento". E acaba sendo o testemunho da existência de um espaço absoluto.
Lígia: Absoluto sim... mas não "nada". Estava demorando: já vou tropeçar numa pedrinha conceitual e ficar "esparrapachada" no chão :))

Digamos então que é tão somente o continente, ou o que resta após retirarmos mentalmente o conteúdo. É a estrada sem os automóveis, o Universo sem a matéria (e, consequentemente, sem a informação da matéria), o Tao sem o Um. Esse nada seria o Caminho a ser percorrido pelo tudo.

Lígia: Eu já andei procurando pela descrição de tais experiências de Newton mas não encontrei muita coisa além da simples menção. Você poderia me fornecer alguma indicaçào de onde ler a respeito da concepção e "funcionamento" das mesmas?

A melhor discussão que já encontrei para a experiência do balde de Newton foi no livro "A linguagem do espaço e do tempo" de Hugh M. Lacey, que foi publicado em português pela Editora Perspectiva (1972) na sua Coleção Debates - Filosofia. Na Internet você poderá encontrar muita coisa, tanto a favor da interpretação de Newton quanto a de Mach. Vou dar alguns exemplos, sem significar isso uma aprovação:

  1. http://home.dfis.uevora.pt/~afitas/Principia.pdf
  2. http://fisica.udea.edu.co/~mpaez/moderna/cap2/node9.html
  3. http://sbf.if.usp.br/rbef/Vol21/Num4/v21_558.pdf (link desativado)
  4. http://www.fsc.ufsc.br/ccef/port/15-2/a8.html

Os dois últimos referem-se à Mecânica Relacional, do André Assis da Unicamp, a valorizar a interpretação de Mach.

Lígia: E já se tentou equacionar tal "espírito"?

Alberto: (...) por incrível que pareça, essa é a parte mais fácil de todo o processo. (...) O que eu chamo equação do elétron é a coisa mais simples que se possa imaginar. A equação é A = ω/r, em que A e ω são vetores (...) Essa única equação contém todo o eletromagnetismo, contém todas as quatro equações de Maxwell.
Lígia: Alberto... PELAMORDEDEUS! :)) De onde você tirou isso? :))

risos Eu apenas reuni as peças de um quebra-cabeças. Achei alguma coisa aqui, outra ali... e fui juntando as peças.

Lígia: Eu andei procurando nos meus livros de estante sobre física e as equações de Maxwell mas não houve nada relacionado a "A", que você diz manter pelo fato de fazer parte da tal equação de onde você tirou a sua.

O vetor potencial magnético A surge apenas em eletromagnetismo avançado, quando se procura resolver analiticamente as equações de Maxwell [Em mecânica quântica ele também é bastante utilizado]. Na minha teoria as coisas começam de maneira diferente. Eu começo definindo fisicamente a informação eletromagnética através de um vetor A. As hipóteses básicas da minha teoria traduzem-se nas seguintes afirmações:

  1. a existência do elétron;
  2. a existência de uma propriedade vetorial ω, relacionada a um possível giro clássico;
  3. a existência da emissão de alguma coisa a gerar todos os efeitos eletromagnéticos causados por um elétron, e relacionada a esse giro;
  4. a unicidade dessa alguma coisa emitida, bem como o seu caráter conservativo, a ponto de podermos caracterizá-la espacialmente como um campo vetorial único;
  5. a existência de outros elétrons sensíveis a essa alguma coisa.

Nada mais, nada menos. Essa "alguma coisa" de natureza vetorial eu represento por A. Coincidentemente esse A vai ser muito similar ao vetor potencial magnético, apesar de ser conceitualmente diferente. Curiosamente o módulo desse vetor é um escalar Ø que também vai desempenhar um papel muito similar ao do potencial elétrico. Volto a dizer: qualquer semelhança é mera coincidência, pois tanto o meu A quanto o meu Ø referem-se a elétrons e não a correntes nem cargas elétricas.

Por hipótese, A é função de duas variáveis físicas (ω e r), mas a expressão dessa função é algo a ser determinado. A montagem do quebra-cabeças começa por aí, e as únicas peças que vão entrar, além das hipóteses mencionadas, relacionam-se à experimentação, aquilo que é observado no laboratório.

As variáveis físicas a entrarem na expressão de A são um vetor ω, relacionado provavelmente ao giro do elétron (não é a velocidade angular, mas é algo relacionado a essa velocidade angular), e a distância "r" entre o elétron e o ponto onde se pretenda conhecer o campo. Perceba que ω não é ainda uma propriedade mecânica (velocidade angular), mas algo que matematicamente deverá se relacionar com as propriedades medidas em laboratório e que se traduzem pelos campos elétrico e magnético. Eu digo ainda pois não tenho dúvidas de que ω se relacione com essa velocidade angular a menos de uma constante com dimensões de origem eletromagnética. Veja bem, eu estou assumindo que o elétron tem um giro clássico e esse giro seria o responsável por todos os seus efeitos eletromagnéticos. Na minha teoria tudo é consequência do movimento da matéria.

Pois bem. Esse campo, como supus acima, é do tipo A = f(ω,r). A expressão a ser determinada é essa. Como resolver esse problema? Simplesmente interpretando a experimentação de maneira a satisfazer essas hipóteses. Mas o que a experimentação nos mostra? Simplesmente o campo elétrico E de uma carga elétrica (lei de Coulomb) e o campo magnético B de uma corrente elétrica (lei de Ampère). Aí estão todas as peças de um quebra cabeças, as hipóteses e a experimentação.

Resta saber como, afim de satisfazer as hipóteses e a experimentação, o elétron deveria se dispor na superfície de uma carga elétrica ou como ele deveria viajar no interior de um fio condutor de corrente elétrica. Eu montei esse quebra-cabeças e cheguei na solução mais provável para esse campo A, qual seja, A = ω/r. Esse campo é valido para um único elétron. O campo elétrico de um elétron em repouso é E = transA, e o campo magnético de um elétron em repouso é B = rotA.

Por estranho que pareça, na minha teoria o campo magnético de um elétron não é função do movimento do centro geométrico do elétron, ele existe mesmo com este centro em repouso. Mas o efeito desse campo provocado em outro elétron é função da velocidade relativa entre os dois elétrons. Se integramos esse campo E de um elétron para toda a superfície de uma carga elétrica, chegamos na lei de Coulomb. Por outro lado, se integrarmos o campo B de um elétron para um fio condutor retilíneo chegamos na lei de Ampère. Isso realmente você não encontrará em livro nenhum, a não ser no meu livro ou no meu website (o livro já está necessitando uma atualização).

Ora, se eu consigo estabelecer um único campo a gerar tanto E quanto B, o resto acaba derivando da correspondente eletrodinâmica do elétron, associado a uma relatividade 100% clássica. Em teoria, e aceitando-se essas hipóteses, não há mais porque se pensar em quatro equações ou quatro leis, pois a lei maior é uma só: A = ω/r. O resto é físico-matemática.

Lígia: Se for segredo de estado, tudo bem, vou respeitar... mas você sabe que negar uma explicação a uma curiosa compulsiva É um pecado e mais isso será acrescentado à sua lista de pecados mortais... :)) Depois nem vai adiantar reclamar que foi para o inferno injustamente...

Segredo nenhum! Todas as etapas matemáticas seguidas estão no meu website, e já foram apresentadas em livro em 1993. A matemática já foi checada por matemáticos desde 1993 e de lá até agora não encontraram nenhuma falha. Com relação a física, diria que físico algum jamais chegou a criticar de fato a minha teoria, pois eles sequer conseguem conviver com as hipóteses acima citadas. Eles simplesmente não querem que eu esteja certo, pois temem que com isso eles possam estar errados. Sinceramente, isso retrata uma ignorância sem limites, pois não há como se criticar uma teoria sem se entender e aceitar suas hipóteses, mesmo que seja provisoriamente. Do contrário, que apontem inconsistências nas hipóteses, mas que não signifique apenas um não gostei. Sou obrigado a pensar que eles se mostram impotentes para derrubar minhas hipóteses, e não querem dar o braço a torcer. Então ignoram minhas hipóteses e ficam me cobrando conhecimentos em física moderna, como se eu fosse obrigado a entender aquilo que eles defendem sem entender.

Alberto: Na minha teoria não, o A é um só, não existe calibração alguma. Por ser um só, ele pode ser pensado como um vetor conservativo, e de fato seu campo é conservativo. E o que se conserva nesse campo? Nada mais, nada menos, do que as informações eletromagnéticas.
Lígia: Bem: e o que determina a existência de um campo? Não é a diferença de potenciais (2 normalmente ) a fim de que se "forme" um fluxo?

Eu diria que o campo descreve matematicamente o que deve acontecer fisicamente com um objeto sensível aí colocado. O que de fato acontece traduz-se na expressão física do campo (por exemplo, através da relação campo-força, para campos de interação cujo efeito sensível é uma força). Os campos conservativos podem ser pensados em termos de um potencial escalar, e esse potencial relaciona-se a um ponto escolhido arbitrariamente.

Característicamente, a diferença entre os potenciais de dois pontos A e B independe tanto da origem O escolhida, como também do valor estipulado arbitrariamente para o potencial do ponto "O". Quando pensamos tão somente nos princípios clássicos de conservação (energia e momento), é indiferente a escolha do ponto O, pois essas entidades que se conservam não têm aquele valor absoluto defendido por Newton. A energia dessa física newtoniana "light" (modelo newtoniano) é sempre relativa, assim como o momento. Não obstante, onde estaria o referencial absoluto newtoniano nessa física de campos? E supondo que exista esse referencial absoluto, onde estariam os supostos referenciais inerciais em relação a esse referencial absoluto?

É aí que eu digo que para o campo de um elétron existe um ponto "O" melhor do que os outros. É melhor porque permite a caracterização da causa íntima dos campos, no caso o espírito da matéria newtoniano. Mas digo que somente isso não é suficiente, é necessário também dotar o elétron de uma estrutura diversa de uma carga elétrica, e como tal a gerar um campo diverso daquele campo de uma carga elétrica. Somente assim será possível unificarmos de uma vez por todas o vetor potencial magnético A com o escalar potencial elétrico Ø. O ponto "O", sede desse campo de informações eletromagnéticas a se traduzir por A ou Ø está situado exatamente no centro geométrico desse elétron. E não existe singularidade nenhuma (A = ω/0 —> divisão por zero), pois o campo somente existe a partir da periferia do elétron, e seria sem sentido pensarmos nesse mesmo campo no interior do elétron.

Lígia: E como o eletromagnetismo pode ser postulado sem que se leve em consideração os campos elétrico e magnético? Deu tilt... :)) Desculpe mas eu não entendi o que você quis dizer por: "No eletromagnetismo clássico existem dois potenciais, mas na minha teoria existe apenas um. Eu posso utilizar "A" ou "Ø", mas eles são dependentes entre si, dado um o outro estará determinado." ?

Eu quis dizer que consigo caracterizar os dois efeitos, elétrico e magnético, através de um único campo de informações (ou potencial entre aspas). Eu prefiro não chamá-lo de potencial, pois esse campo retrata a existência de uma entidade absoluta, enquanto o potencial é sempre relativo. Fisicamente falando, a informação eletromagnética se expressa por efeitos elétricos e magnéticos, logo trata-se de um potencial no sentido físico (as informações têm a potencialidade de gerar efeitos mensuráveis como elétricos e magnéticos), mas não no sentido matemático que costuma se dar à expressão. Existe uma origem absoluta para este campo A e ele não pode ser pensado em termos relativos, sob pena de perdermos a sua característica elétrica (E = transA), se bem que conserve a característica magnética (B = rotA). Em termos matemáticos isso seria equivalente a dizer que o translacional (operador trans) é um operador diferencial que não obedece à propriedade distributiva, ou seja, o translacional da soma não é igual a soma dos translacionais.

Por outro lado, à medida que deixamos o microcosmo com os efeitos já integrados para uma carga elétrica ou para uma corrente elétrica, podemos raciocinar em termos do eletromagnetismo de Maxwell. Ele continua dando certo, se bem que não corresponda à realidade microcósmica. E é justamente pelo fato de não corresponder à realidade microcósmica que ele deu origem aos dois modelos da física moderna, a relatividade e a mecânica quântica. Seria como se a partir de uma mecânica dos fluidos quiséssemos construir um modelo microcósmico, com as moléculas pensadas como entidades fluidas. Pois o eletromagnetismo de Maxwell nada mais é senão uma eletrodinamica dos fluidos elétricos, e a física moderna nada mais fez senão levar esse modelo fluido para o terreno da ficção.

Lígia: Então, recaptulando: para que tudo seja aceitável: deve-se considerar o elétron como "não possuidor" de carga coulumbiana e os campos como sendo conservativos e que os corpúsculos de Newton o atravessam não sendo "veiculados" por ele mas criando-o devido à informação do movimento?

Creio que aqui está havendo uma ligeira confusão. Os corpúsculos de Newton são os tijolos elementares, a representarem a matéria em sua expressão mais simples. Sob esse aspecto, diria que os elétrons são formados por um número enorme de corpúsculos de Newton e nada mais. Esses elétrons —ou melhor dizendo, esse conjunto de corpúsculos de Newton em movimento— emitem para o espaço a informação de seu movimento (o espírito da matéria de Newton). Esse espírito da matéria é que viaja pelo espaço e, por onde passa, constitue o campo de informações eletromagnéticas A. Esse campo de informações eletromagnéticas A traduz-se por efeitos eletromagnéticos (forças devidas aos campos E = transA ou B = rotA), ao agirem sobre outros elétrons ou elementos mais complexos (carga ou corrente elétrica).

Lígia: Nossa! Mas isso requer muita mão de obra.

Bem, a outra opção seria aceitar a física moderna como ela é. risos

Lígia: (...) Mas de todo jeito, o que você apresentou agora é bastante distante de tudo o que eu aprendi até hoje. Faço uma idéia da reação visceral de quem esteja fazendo uso da física "concencional" e depare-se com o que você expõe. Penso que seja justamente pelo fato de eu não estar lidando com a estrutura da física atualmente, eu posso ler o que você escreve e tentar idealizar sem pensar muito, só deixando "ser" como você concebe. Suas idéias são bastante revolucionárias e ao mesmo tempo voltam-se a conceitos há muito formulados/visualizados, sem contudo fazerem parte de ciência alguma...

De fato, mas existe uma frase que é bastante cultuada entre os físicos, e não sei qual é o seu autor, se bem que desconfie que seja Einstein ou Bohr: "Nenhuma teoria é boa se não for suficientemente revolucionária e à primeira vista maluca". A maioria das teorias alternativas que tenho visto por aí estão tentando salvar um ou outro aspecto da física moderna, logo são apenas parcialmente revolucionárias. A minha teoria não. Eu simplesmente promovo algumas pequenas revoluções no ambiente clássico da física do final do século XIX e a seguir convido os físicos para um retorno aos tempos em que a física era uma ciência inteligível.

Lígia: Eu tenho gostado muito de aprender a ver o Universo a partir dessas idéias que você tem elaborado de forma tão impecável. Tem sido um prazer. :) Mas nada do que eu diga ou venha a dizer tem um peso científico, nem filosófico...

Ainda bem. A história das ciências tem mostrado que muitos teorizadores foram esmagados por esse peso científico. risos Muitos podem não acreditar, mas a ciência deve muito mais ao que foi feito nos bastidores do que nas academias. Newton, Einstein e Darwin estão aí a comprovarem essa tese. Newton produziu enquanto a universidade fechou devido à peste negra. Einstein produziu enquanto trabalhando num departamento de patentes. E Darwin enquanto viajava pelo mundo. Os três estavam completamente livres desse peso científico.


msg 21220
De: Alberto Mesquita Filho
10/03/2003

Na mensagem 21219 Ligia Amorese escreveu:

Lígia: Parece que você está triste comigo... fica não!

Andei relendo a mensagem, à procura de algum indício dessa tristeza apontada, mas não consegui encontrá-la. De qualquer forma, não haveria porque estar triste contigo. Muito pelo contrário, eu só posso agradecer a chance que você me deu para expor aqui de maneira clara e livre de paixões os fundamentos das minhas teorias.

Lígia: Desculpe se eu tenho feito você reexplicar sua teoria por aqui, talvez pela vontade de que mais gente tome conhecimento dela se ainda não foi visitar seu site.

Não há do que se desculpar. Talvez por esta frase dê para entender o seu estranhamento. Realmente na última mensagem eu fui por demais técnico e/ou sucinto em alguns trechos, provavelmente aqueles relacionados à explicação do campo A e do como ele se transforma em E ou B. Não interprete isso como uma preguiça. Na realidade eu me vi frente a inúmeros possíveis questionamentos, e não quis me adiantar sob pena de deixar a mensagem por demais extensa. No meu site, à exceção das páginas de diálogos, as teorias são expostas com a sequidão que caracteriza os artigos científicos. O lugar de debate realmente é aqui, e não lá. Obviamente no site eu posso expor mais facilmente as fórmulas matemáticas, mas como costumo afirmar, física não é matemática.

Dentre esses questionamentos que me deixaram no impasse, e relacionados a nossos diálogos anteriores, eu relataria:

  1. Como justificar o vetor A como o representante matemático das informações eletromagnéticas, um tipo importante do chamado "espírito da matéria" newtoniano? Esse questionamento é crucial, e tem muito de física e de matemática, mas muito também de filosofia. Muitos desses detalhes filosóficos nós já discutimos, mas isso não significa que não possamos rediscutir, mesmo porque o enfoque agora é outro. Antes estávamos especulando sobre o "espírito da matéria" e agora estamos tentando estabelecer uma ponte entre a sua natureza metafísica e a realidade experimental. Em que momento a filosofia do "espírito da matéria" dá lugar à ciência das "informações do movimento da matéria"?
     
  2. De que maneira essas informações eletromagnéticas, uma vez matematizadas, se relacionariam com o "espaço absoluto" newtoniano? O que de fato seria esse espaço absoluto, senão uma entidade puramente metafísica, como muitos físicos modernos fazem questão de afirmar? Esse assunto também situa-se nas fronteiras da física, da matemática e da filosofia. Até o momento especulamos muito sobre esse "espaço absoluto", até mesmo sob o ponto de vista físico, quando o relacionamos com a existência dos campos, mas realmente ficamos apenas na superficialidade do tema.
     
  3. Como chegar do campo A de um elétron aos campos E e B de um elétron? Lembro que esses dois campos não são maxwellianos. Neste caso: Como chegar desses campos E e B de um elétron ao campo E de uma carga elétrica e ao campo B de uma corrente elétrica? Esses dois últimos campos agora sim, são os campos da teoria de Maxwell (leis de Coulomb e Ampère). Esse assunto realmente está no meu site, porém sob aquela linguagem matemática até certo ponto seca e sem muitas discussões físico-filosóficas.
     
  4. Quais as vantagens desse formalismo matemático para o estudo do microcosmo? Ou seja, nós temos discutido muito sobre a importância das informações elementares para o estudo do microcosmo. Creio mesmo que esse debate teve origem quando comentei alguma coisa sobre essas informações e o padrão de difração observado na experiência da dupla fenda. Mas o assunto é extremamente amplo, pois ele aborda todo o universo da física. Não há um fenömeno físico onde essas informações não desempenhem um aspecto de importância crucial. Ou seja, o "espírito da matéria" newtoniano páira por sobre toda a física, e representa, a meu ver, a única saída para que possamos um dia voltar aos tempos em que a física era uma ciência inteligível. Mas para isso precisaríamos entender muito bem o significado desse "espírito da matéria" e, como já disse, eu acredito ter decifrado, em toda a extensão, apenas um lado dessa verdade, aquela a relacionar-se ao eletromagnetismo.

Bem, isso não é tudo, mas cada um, dentre esses temas que por ora me ocorreram, se subdivide em múltiplos temas secundários, e não é fácil escolher por onde começar, se pretendermos realmente tentar esgotar alguns dentre esses assuntos. É possível que em meio a toda essa problemática eu tivesse respondido à mensagem anterior de maneira muito seca, quiçá movido pela impossibilidade de abordar todos esses assuntos ao mesmo tempo, coisa essa que, caso fosse possível, seria realmente o que eu gostaria de ter feito. Em momento algum passou-me pela cabeça dizer que a resposta a alguns de seus questionamentos estivesse em meu website. Nada contra que as teorias sejam lidas no original, mas o problema é que lá elas mais convidam à reflexão do que propriamente dão uma resposta imediata. Ora, que mal há em refletirmos aqui? Consequentemente, não há porque eu ficar chateado em "ter que (re)explicar" o que de fato não está lá.

Lígia: É que eu gostaria que mais gente tomasse conhecimento do que você tem feito, sem a chance de simplesmente achar que está errado sem nem ver o que você tem para explicar... em todo caso, desculpe.

Sinceramente, volto a dizer: Não há porque se desculpar. Eu é que tenho a agradecer por esta chance que você me proporcionou. Realmente, relendo a minha mensagem anterior e colocando-me na posição de crítico, senti a possibilidade de o autor estar parecendo, sob certos aspectos, querer fechar os questionamentos. Quando escrevi a mensagem não tive essa intenção, mas tão somente a de não encompridar demais um tema sem saber de fato quais seriam as dúvidas seguintes e mais fundamentais. Com isso promovi uma síntese excessiva e a dar a impressão de estar querendo encerrar o diálogo. Realmente, há muito pouco a ser respondido por cima dessa minha aparente grosseria. Tenha certeza de que não foi intencional. Esse diálogo em hipótese alguma me deixou triste, muito pelo contrário, passei por momentos de felicidade ímpar. E quando respondi à sua última mensagem o meu estado não era outro.

PS.: Em determinado ponto da última mensagem cheguei a dizer: Com relação a física, diria que físico algum jamais chegou a criticar de fato a minha teoria, pois eles sequer conseguem conviver com as hipóteses acima citadas. Essa frase é realmente injusta com muitos físicos que de uma maneira ou de outra chegaram a emitir alguma opinião sobre as minhas teorias. A minha revolta não é contra os físicos, mas contra o academicismo a que estão obrigados a se submeter. Mas de uma forma ou de outra já recebi críticas dos seguintes físicos: Lígia Amorese, Wilson Lopes, Fábio Chalub, Luiz Ferraz Netto (Léo, ou deus para os íntimos), Belisário, Taborda, Bruno (do news uol), Renato Vicente (news uol), Daniel Bezerra [atualmente na Ciencialist, com o passe emprestado risos do CdA] e muitos outros (estou deixando de lado os teorizadores com quem mantenho contato, pois como alternativos eles chegam a ser encarados como suspeitos nos meios acadêmicos). Via de regra esses físicos não estão atrelados ao academicismo, mas não deixam de ser físicos e todos de peso (acho que, em meio a esses, o único peso leve sou eu).

[ ]´s
Alberto


msg 21266
De: Alberto Mesquita Filho
16/03/2003

Na mensagem 21233 Ligia Amorese escreveu:

Alberto: 1) Como justificar o vetor "A" como o representante matemático das informações eletromagnéticas, um tipo importante do chamado "espírito da matéria" newtoniano? Esse questionamento é crucial, e tem muito de física e de matemática, mas muito também de filosofia. Muitos desses detalhes filosóficos nós já discutimos, mas isso não significa que não possamos rediscutir, mesmo porque o enfoque agora é outro. Antes estávamos especulando sobre o "espírito da matéria" e agora estamos tentando estabelecer uma ponte entre a sua natureza metafísica e a realidade experimental. Em que momento a filosofia do "espírito da matéria" dá lugar à ciência das "informações do movimento da matéria"?
Lígia: Pois então, mãos à obra porque você se adiantou em fazer as perguntas que eu faria! :)

risos Na realidade, eu não fiz apenas uma pergunta, mas sintetizei toda a realidade da nossa ignorância sobre o assunto. E quando digo "nossa" não estou me referindo a nós dois, mas a toda a comunidade científica da qual fazemos parte.

A classificação de físicos em relativistas e absolutistas, faria sentido até Mach, inclusive, e a relatividade em questão seria a clássica. A matemática era tão somente um instrumental útil aos físicos. Hoje não é tão fácil falar em espaço newtoniano frente a essas matrizes desvirtuadas de espaço e tempo que andam por aí. Hoje todos se dizem relativistas. Não obstante, são quase todos absolutistas disfarçados, e o absoluto agora é outro.

Pois bem, deixando de lado esses absurdos eu diria que a coisa começa pela recaracterização do que representaria para nós o espaço físico. Ora o que é física? Não seria o estudo da natureza, ou de como se nos mostra a natureza? Esse estudo não deveria se pautar pelos objetos a ocuparem um espaço a satisfazer uma geometria euclidiana? Pois essa é a base da física newtoniana, o resto são experiências que deveriam ser interpretadas frente a essa realidade. A meu ver toda a física teria que se encaixar na realidade dos quatro e únicos essenciais newtonianos, e só a partir daí poder-se-ia pensar em encontrar a matemática a dar certo. O mais é ficção.

Ao retornarmos a um espaço clássico e euclidiano, ficamos frente a duas realidades: a absolutista newtoniana e a relativista leibniziana. E tanto uma quanto outra se desdobraram em inúmeras facções. Até mesmo as facções absolutistas abandonaram a coerência newtoniana ao ignorarem a importância do campo (espírito da matéria) e a valorizarem aspectos relativistas: ação instantânea à distância, algo que entrou na física newtoniana pela porta dos fundos, através de um prefácio escrito por um editor imprudente dos Principia.

Para retornarmos ao genuíno absolutismo newtoniano precisaríamos primeiramente entender o que seria o espaço relativo, pois é neste espaço que vivemos. Uma vez concebido esse espaço relativo podemos pensar na inércia e nos possíveis referenciais inerciais. Até aí não existe cisma algum entre relativistas (clássicos) e absolutistas. Não obstante ficamos frente àquela citação de Einstein e Infeld: "A física clássica flutua no ar". Por mais que esse modelo de referenciais dê certo, fica-nos a idéia de um referencial privilegiado. Em alguns referenciais o modelo newtoniano dá certo, enquanto que em outros precisamos efetuar determinadas correções relativísticas.

Quando Newton propõe a experiência do balde e, como acessório, expõe a experiência de pensamento dos globos giratórios, ele está simplesmente tentando demonstrar a existência de um movimento absoluto. Não obstante, esse movimento absoluto ainda está fixo a um referencial relativo. Ou seja, está fixo a um referencial onde o seu modelo funciona (referencial inercial), e que seria um referencial em repouso em relação às "estrelas fixas". Neste referencial ele consegue demonstrar a lógica de um movimento absoluto sob o aspecto da rotação. Essa idéia é perfeita e até hoje não há como contestá-la.

Mach não resolveu esse problema, apenas abriu uma porta onde Einstein entrou e ficou durante toda a sua vida tentando encontrar outra saída, sem no entanto visualizar nada além da porta de entrada. É importante perceber no entanto que com essas experiências Newton simplesmente apontou outra porta, onde ele entrou e se defrontou com inúmeros mistérios passíveis de solução experimental, porém não com os recursos que dispunha na época. Todos esses mistérios relacionam-se com o "espírito da matéria", como Newton chega a comentar "de leve" no derradeiro escólio dos Principia.

Somente após Faraday seria possível se pensar em evoluir experimentalmente em direção à resolução desses mistérios, algo tentado por Maxwell (que morreu em meio a seus estudos a respeito ¾Maxwell morreu aos 48 anos de idade). É interessante ressaltar que as "ondas eletromagnéticas" parecem ter se constituído num impecilho enorme nessa direção, e chamo a atenção para o fato de que a Óptica de Newton não é, em hipótese alguma, produto de perfumaria, ou algo escrito com a única finalidade de enfeitar a biblioteca dos físicos modernos.

A Óptica de Newton está toda entrelaçada com a sua Mecânica e, muito em particular, com o "espírito da matéria". Newton não se agarrou à idéia de luz corpuscular apenas para ser contrário a Huyghens, pois sentiu a necessidade de compatibilizar sua Óptica com sua Mecânica, e sabia que uma luz ondulatória iria contra os essenciais de sua física. Mesmo porque, até mesmo a onda mecânica, como por exemplo o som, necessita de alguma coisa de natureza não ondulatória a se propagar e a transmitir a vibração de um corpúsculo do meio a outro. Para o caso das ondas mecânicas essa alguma coisa nada mais é senão o próprio espírito da matéria. Mas assumir uma luz ondulatória seria equivalente à criação de um novo essencial (o éter) em uma física que já se bastava com seus quatro essenciais: espaço, matéria, movimento e informação.

Suponhamos então que a solução seja aquela proposta por Newton. Existe, neste caso, um movimento rotacional absoluto. Mas... O que dizer quanto à translação? Existiria um movimento translacional absoluto? Ou seriam todos os referenciais inerciais equivalentes entre si, como propõem os relativistas clássicos? (E os modernos também, se bem que sob argumentos outros). Essa resposta Newton não deu, simplesmente deixou a entender que no futuro, com o desenvolvimento da tecnologia, estaríamos capacitados a efetuar experiências relacionadas a seu "espírito da matéria", responsável pelo que hoje chamamos, a partir de Faraday, campos de interação.

Ora, como se comportam esses campos no nosso referencial (o mesmo suposto por Newton em repouso em relação às "estrelas fixas")? A resposta é simples. No nosso referencial o campo gravitacional é aquele mesmo definido por Newton, assim como o campo elétrico é semelhante a esse, como mostrado por Coulomb (1784). O magnético é um pouco mais complicado, mas eu tenho mostrado que pode-se perfeitamente pensar em uma unificação entre eletricidade e magnetismo por uma maneira 100% clássica e a satisfazer totalmente a experimentação dos séculos anteriores, a incluir aquela do século XX. Perceba então que a expressão matemática de qualquer desses campos (gravitacional, coulombiano, amperiano e, até mesmo, o meu campo de um elétron) dá-se através de uma constante.

Será que essa constante é mesmo uma constante absoluta e universal? Sim, estou me referindo àquela constante G, da lei de Newton, ou a constante K da lei de Coulomb, ou a constante K da minha teoria sobre o elétron. Seriam essas constantes realmente universais? Será que a lei gravitacional de Newton, medida na nossa Galáxia, assumiria um mesmo valor para G, se a medida fosse efetuada pelos habitantes de quaisquer outras galáxias do Universo? Será que todas as galáxias viajam em uma mesma velocidade em relação a um possível referencial absoluto newtoniano (agora sim, absoluto em relação à translação, e não apenas à rotação, como ele mostra na experiência do balde)?

A esse respeito eu chego a afirmar em minha teoria sobre o elétron (item 7.2.1):

Como já afirmei em artigo anterior [40, op cit.], o escalar K, da hipótese 1 (e, portanto, o valor absoluto do vetor ω), parece conter segredos relacionados aos referenciais inerciais, que somente a física experimental pode decifrar. Seria extremamente interessante verificar se o seu valor absoluto, uma vez definido, permanece ou não idêntico, qualquer que seja o referencial inercial considerado. A variabilidade de K seria um indício fortemente sugestivo a corroborar a intuição de Newton quanto à existência de um referencial absoluto. É de se esperar, no entanto, a observação de K aproximadamente constante para v << c.

Quando eu falo em v << c alguns gaiatos acham que estou apoiando-me na relatividade moderna. Como se eu pudesse negar essa evidência experimental, a de que há algum mistério a relacionar-se a grandes velocidades. Ou seja, esse mistério existe sim, mas pode ser explicado sem a necessidade da despersonalização de uma física genuinamente newtoniana.

Em outras palavras: Não se deve confundir uma lei com as suas constantes. Uma lei universal não implica que suas "constantes" sejam constantes universais. Nada impede que G seja função da velocidade absoluta da fonte, G = f(v), e a lei continuaria sendo a mesma, apenas assumindo-se a variabilidade de sua "constante".

Ora, se os campos de interação forem consequentes a um essencial da física newtoniana, a que chamo informação (o espírito da matéria de Newton), e se essa informação for emitida por um elemento em virtude de seu movimento em relação a um único referencial absoluto, é de se supor que se esse elemento estiver em repouso ele não emitirá informação alguma, logo não gerará campo algum. Se esse elemento estiver em movimento absoluto, essas informações serão tão mais efetivas quanto maior for a velocidade (seja de translação ou de rotação). Se é essa informação quem gera os campos, nada mais lógico do que conceber que as leis de campo devem conter em suas fórmulas essa dependência. E nada mais simples do que satisfazer essa dependência através da variabilidade das "constantes" dessas leis. Isso é o que eu digo em teoria, pois na prática isso precisa de algum tipo de comprovação experimental. Mas... Quem irá se dignar a pensar nisso, que não é fácil de ser posto em prática, numa era em que os físicos experimentais estão mais preocupados em firmar 100 anos de ficção criada pelos físicos teorizadores?

Lígia: É, o conceito de espaço absoluto, aliado ào espírito da matéria, ou muito me engano ou permeiam a totalidade do Universo! É necessário que tais conceitos sejam compreendidos de forma clara e sem margem à dúvida. Ah e principalmente: que nenhum dos dois conceitos caia na graça de ser alcunhado de "acepção metafísica" da natureza de x ou de y... é caminho andado na direção certa da exclusão do meio científico. Infellizmente...

Nada contra a metafísica deste que ela represente tão somente uma muralha inexpugnável. Pois nesse caso ela não faz parte de nosso estudo, e deve ser deixada a cargo dos que gostam de estudá-la. Eu diria que a física newtoniana apóia-se em quatro essenciais. Ora, se ela começa a partir desses postulados de existência, a natureza íntima desses essenciais não pode ser decifrada pela teoria que se alicerça nos mesmos. Mas isso não significa uma impossibilidade de decifrarmos a estrutura desses essenciais até chegarmos no limite da indeterminação. Acima mostrei que é possível em teoria mensurar o absolutismo do movimento através de uma variabilidade nas expressões que nos dão os campos de informações. Com isso vamos nos aproximando desses essenciais, até chegarmos na sua realidade última, e essa sim será indecifrável.

Por exemplo, suponhamos a hipótese da existência de um tijolo de matéria único (digamos, um átomo de Demócrito). Se chegarmos experimentalmente na comprovação dessa idéia, não poderemos dizer mais nada a respeito. Jamais poderemos dizer do que seria constituído esse tijolo, pois esta seria a realidade última da matéria. Ou seja, existe uma indeterminação que está muito além daquela proposta por Heisenberg, e essa indeterminação não é física, mas metafísica, e inerente aos quatro essenciais newtonianos.

Lígia: Ainda hoje vi numa resposta de um co-listeiro que eu uso uma linguagem poética e pelo jeito é isso o que "trava" certos entendimentos da parte de quem lê o que escrevo.

O ser intuitivo dificilmente é compreendido por um indivíduo normal. risos

Lígia: A necessidade matemática é mais de "aferição". É um meio de conferir se está tudo bem, sem ter que entrar no meio da bagunça... :)) O fato é que se não há um meio de equacionar algo, esse algo não pode ser compreendido "universalmente" nem estar sujeito a testes. Que pena... mas necessidade não se discute.

Eu ainda acho que o equacionamento é uma necessidade secundária. Importante, porém secundária.

Lígia: (...) Já conversamos que nem tudo é movimento e que há o que é "movimentado". De onde se originaria a idéia de que existe esse algo que movimenta, ou que permite que as informações sejam transmitidas a fim de permitir que a matéria exista, bem como a forma com que Newton abordou o tema.

Não sei se entendi a dúvida, mas eu acho que as idéias surgem para explicar o que existe. Sob esse aspecto eu sou adepto do realismo: a natureza existe independentemente de a observarmos. O que não significa dizer que ao observarmos não possamos modificar a realidade, mas nesse caso fazemos parte dessa realidade, e ela é como é, e não como gostaríamos que fosse. A meu ver não há como "inventar" uma realidade, mas deve-se sim "descobrir" a realidade existente. A nossa função não difere muito daquela da criança ao reunir as peças de um quebra-cabeças. Se ela "inventar" uma nova peça, esta peça dificilmente se encaixará no quebra-cabeças.

No caso em apreço, eu diria que o segredo é partir para a explicação causal da existência dos campos de interação, sem acrescentar nenhuma outra peça que não as quatro imaginadas por Newton: espaço, matéria, movimento e informação. Se a "matéria" se interage através do "espaço", isso se deve a ela emitir alguma coisa, "informação", que se propaga por esse "espaço", e a relacionar-se a alguma causa primária, e dentre os quatro só sobrou o "movimento". Perceba que o que a informação promove nada mais é senão uma troca de movimentos, pois este tem se mostrado ser conservativo. Ou seja, a matéria informa ao espaço o seu movimento absoluto, e esta informação, ao agir sobre outra matéria, modifica o movimento absoluto da segunda. Concomitantemente, se esta segunda está sob a ação da primeira, a primeira também estará sob a ação da segunda, e é desta forma que a matéria troca movimentos.

Ou a física se explica através tão somente desses quatro essenciais, ou deveremos partir para outra física tão elementar quanto essa, o que obviamente não é o caso da física moderna (existe pelo menos 20 conceitos estratosféricos criados no século XX dentre os mais fundamentais da física moderna, deixando-se de lado os secundários, caso em que chegaríamos a centenas de gnomos quantum-relativistas).

Lígia: O que eu penso que ainda esteja faltando para a minha compreensão é entender os mecanismos de tal "operador".

Eu diria que esse operador traduz-se *fisicamente* por algo muito semelhante ao andar no vácuo dos automobilistas. Uma saída louvável seria a utilização do princípio de Le Chatelier da físico-química: Modificando-se uma das condições que definem o estado de um sistema em equilíbrio, o mesmo responde opondo-se a esta alteração. A partir desse princípio não é difícil chegar-se em uma lei da ação e reação a levar em consideração a comunicação a distância intermediada por um agente a se propagar em velocidade finita. Em eletromagnetismo existe a correspondente lei de Lenz, via de regra estudada logo após a lei de Faraday.

Matematicamente isso traduz-se por operadores diferenciais, mas é aí que a coisa começa a se complicar.

Lígia: Engraçado é que eu estou traduzindo um texto sobre os "memes" do Dawkins e me ocorreu uma idéia estranha: a de que tais corpúsculos de Newton pudessem estar sujeitos ao mesmo algoritmo de multiplicação que os genes e os memes... idéia estúpida, mas bem que pode ser verdade... :))

Quanto a isso eu não posso ajudá-la em nada, pois desconheço a teoria dos "memes". risos

Alberto: PS.: (...) Mas de uma forma ou de outra já recebi críticas dos seguintes físicos: (...) e muitos outros (...).

Neste trecho da mensagem anterior, aqui bastante cortada, eu não pretendi relacionar todos, mas apenas os que mais me questionaram, pois os "muitos outros" são realmente muitos. Mas já que eu citei alguns, eu não poderia nunca deixar de citar também o Eduardo Gueron, o Tarcísio Borges e o Leandro Hollanda. Com todos esses briguei bastante no passado (deve estar faltando gente pacas, mas a minha memória não é lá das melhores). O Hollanda, inclusive, tornou-se grande amigo meu. De toda a galera que conheci na Internet, o Hollanda foi o único que acabei conhecendo ao vivo, e pudemos discutir bastante sobre física. Dessas discussões ao vivo, nós dois saímos vivos risos e hoje nos respeitamos bastante. No momento ele está preparando a tese de doutoramento, mas creio que no futuro ele não resistirá ficar afastado de nós e certamente voltará para a Ciencialist.

[ ]´s
Alberto

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