Alberto Mesquita Filho
Editorial - Integração III(9):83,1997
Os relatos demonstram que o sistema
de pós-graduação está consolidado, embora haja
diferenças marcantes no desempenho dos cursos
entre as áreas e dentro de uma mesma área do
conhecimento.
Glaci Zancan (1997) (1)
Pós-graduação, segundo o Novo Dicionário Aurélio, significa "grau de ensino
superior, para aqueles que já concluíram o curso de graduação, e que visa a
formar e aperfeiçoar pessoal docente para o ensino de nível superior,
estimular o desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica, e
proporcionar o treinamento de técnicos de alto padrão". A lei Darcy Ribeiro,
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, incorporou ipsis-litteris tal
significado, restando agora que nossas universidades, bem como os vários
setores educacionais envolvidos com o ensino superior, adaptem-se à nova
lei. Este simples argumento serviria para demonstrar que a pós-graduação, no
Brasil, longe de estar consolidada, está, na realidade, despertando para uma
nova era. Deixo ao leitor e, em especial, aos especialistas em ensino
superior, a expansão deste argumento.
O que quero aqui comentar encaixa-se perfeitamente no antigo conceito de
pós-graduação, supostamente consolidado e que, juntamente com o sábio
princípio constitucional da indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão
¾hoje em vias de ser descaracterizado por consenso acadêmico¾ permitia a
superposição dos termos pós-graduação e "regime de formação de cientistas".
Digo permitia posto que, de fato, o que possuíamos era mais um "regime de
formação de mestres e doutores", conceitos, ao que parece, não muito bem
definidos, em termos de Brasil.
O Brasil é um país caracteristicamente pobre em regimes de formação de
cientistas, isto se aceitarmos, como cientistas, tão somente aqueles que
real e diretamente contribuem para o progresso das ciências
(2) ¾o que a
imprensa leiga convencionou chamar de "cientistas produtivos". Se há, no
Brasil, doutores que contribuem para o progresso das ciências, sejam estas
voltadas ou não à realidade nacional, é bem provável que isto se deva muito
mais à realização, pelos membros desta ínfima minoria, de um
pós-doutoramento no exterior do que, propriamente, em virtude de terem
defendido uma tese num dos nossos renomados "centros de excelência",
classificados pela CAPES como dotados de regimes de doutoramento tipo A, B
ou C.
O que caracteriza a ciência é que, em ciência, nada é estanque, nada é
seguro, nada é estável; ou seja, nada está nem estará consolidado, pelo
menos enquanto objeto de divagações científicas. Até mesmo os adeptos do
dogmatismo científico ou das teorias que pretendem limitar o alcance da
ciência aos paradigmas vigentes reconhecem esta verdade. Por que então
consolidar a ciência da educação? Por que criar critérios absolutos de
verdade num terreno que sequer sabemos para que serve, haja visto que a
maioria dos nossos cientistas doutores não estão nem aí com a realidade
nacional? Por que são obrigadas as universidades
¾sob pena de não
conseguirem credenciamento de suas pós-graduações¾ a se adaptarem a normas
vigentes em centros que ainda dependem de um pós-doutoramento no exterior
para justificarem suas razões de existirem?
Este e outros assuntos, de extrema relevância para a formação de cientistas
e/ou de profissionais de nível superior, estarão em debate em nosso III
Simpósio Multidisciplinar, a ser realizado em outubro próximo. Solicitamos a
todos os interessados em participar do simpósio, pertencentes ou não à nossa
Comunidade, que entrem em contato com o Centro de Pesquisa da USJT; de
nossa parte, garantimos aos participantes que, ao emitirem suas opiniões,
estarão longe das vaias, dos escárnios e dos apupos daqueles que pretendem
manter um regime único de pós-graduação no Brasil.
A.M.F.