A PRODUTIVIDADE LITERÁRIO-CIENTÍFICA BRASILEIRA

framesAlberto Mesquita Filho

 

Editorial - Integração V(18):163,1999

"O Brasil começou com uma carta, a do Caminha, e a partir de então pouco se escreveu: o brasileiro tem ojeriza de cartas e árvores."
Otto Lara Resende

A baixa produtividade literária e científica, comumente utilizada para caracterizar a sociedade brasileira como um todo, dia-a-dia vem mostrando suas raízes a denunciarem a centenária política do descaso que a originou. Por um lado, convivemos com um corporativismo exagerado e selvagem, enfatizado até mesmo por uma legislação básica, a promover apenas e tão somente aqueles que se profissionalizaram, seja na arte de escrever, seja na arte de propagar o que é escrito por terceiros (livrarias, distribuidoras e editoras, se o objeto em foco for um livro). Por outro, flagramos a falta de motivação decorrente da ausência de uma política de incentivos a primar pela autêntica produção literário-científica nacional. Contrasta, a respeito, a valorização excessiva de uma produção destinada a locupletar revistas científicas internacionais, nem sempre interessadas em aceitar artigos relativos a nossa realidade. Como corolário a essa discriminação, promovida pelos agentes avaliadores e financiadores governamentais, ensina-se, na maioria de nossas universidades, que um artigo, para ter valor, deve ser publicado no exterior.

Erros pertinazes, de natureza política, quase sempre acabam adquirindo uma conotação socializante. Não por outro motivo, diz-se com frequência que o brasileiro não gosta de escrever, argumento esse que, lentamente, vem sendo destroçado graças aos meios de comunicação eletrônicos colocados à disposição do grande público. No que diz respeito a páginas Web, nota-se uma certa preferência dos escritores brasileiros pela mídia eletrônica estrangeira, em especial pela norte-americana, a favorecer seus usuários com uma legislação de direitos autorais digna de primeiro mundo.

A revista Integração, em seu quinto ano de publicação ininterrupta, é outro indício importante a mostrar que, pelo menos, a Comunidade São Judas Tadeu não apenas gosta de escrever, como também escreve bem e não tem medo de se expor a seus pares a produção com a altivez e o desprendimento característicos de quem domina o assunto sobre o qual escreve. Contrasta a dificuldade de há cinco anos, manifesta por nossa equipe à procura por bons artigos, com a chegada espontânea dos mesmos, e em número bem acima de nossa expectativa, verificada nos anos que se seguiram. Tanto é que já está em estudo a promoção de suplementos e a criação de novas revistas especializadas, a contemplarem os setores mais produtivos da Universidade.

A expansão de setores de publicação das universidade particulares não é um processo fácil e corriqueiro, mesmo porque os incentivos de natureza financeira são precários e não se pode admitir que o ônus desta produtividade científica recaia sobre os únicos estudantes brasileiros que realmente pagam por seus estudos. Não obstante, trata-se de um processo gratificante e, às vezes, até mesmo facilitado por incentivos outros de natureza político-governamental como, por exemplo, o "Voto de Júbilo e Congratulações" que recebemos recentemente da Câmara Municipal de São Paulo.

A.M.F.


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