msg 14 De: "Alberto Mesquita Filho" Data: 11/05/00 Antonio Carlos M. de Queiroz escreveu: Alberto: Eu acredito que seguindo-se esta idéia à risca, e à luz dos dados experimentais, após estudarmos os efeitos magnéticos de duas cargas viajando lado a lado, e sob o ponto de vista do referencial das cargas, nós iremos reinventar o campo elétrico.Antônio: Há um problema aí. A força elétrica seria de repulsão, e a magnética de atração. Eu imaginei que você estivesse interpretando a teoria de Maxwell, daí a minha estranheza. Parece-me agora que você está tentando mostrar que a experimentação opõe-se à teoria de Maxwell. Deixe-me então refazer o argumento: Quando respondi para o Léo cheguei a dizer que "pela minha teoria", que não é a clássica e não é aceita como verdadeira, a não ser para mim, chego a algumas conclusões semelhantes às que você chegou, "apenas que por outro caminho". Pensei na época que você estivesse utilizando a teoria de Maxwell e estivesse visualizando algum artifício que não enxerguei, pois a teoria de Maxwell leva-nos a uma conclusão totalmente oposta. Agora você parece concordar que não está seguindo a teoria de Maxwell e sim uma nova idéia relacionada a uma reinterpretação de efeitos de campos eletromagnéticos visto por cargas em repouso relativo. Seria isso? Repito o questionamento em outras palavras: Parece-me que você estranhou determinados efeitos experimentais citados em sua primeira mensagem como "canal estreito por onde passam faíscas elétricas" e "condutor com formato de fita operando em alta tensão". Estes efeitos, a sua maneira de ver, e como a estou interpretando, não seriam compatíveis com a teoria de Maxwell e, para explicá-los você estaria propondo uma nova versão de campo magnético a agir em cargas em movimento porém em repouso entre si. Seria isso? Concordo com algumas de suas conclusões, à luz da minha teoria, porém não sei se as experiências (se é que realmente assim ocorrem) não têm explicações outras dentro da teoria de Maxwell (algum efeito não levado em consideração). Por outro lado, sinto algum artificialismo com relação à sua interpretação do campo magnético e relacionado à relatividade, não apenas a moderna mas também a clássica. Vou deixar isso pendente até analisar o restante de sua msg. Alberto: ... me é difícil enxergar uma partícula elementar como portadora de carga, como propõe a teoria de Maxwell.Antônio: Maxwell não sabia nada sobre elétrons. Não se sabia nada sobre partículas atômicas naquele tempo (1865). Realmente, bem lembrado. Pretendi dizer a teoria de Maxwell-Lorentz, o que hoje em dia é "quase" sinônimo de teoria de Maxwell. Antônio: Mas partículas elementares, no caso elétrons, tem mesmo carga elétrica, do contrário, de novo, os circuitos do meu monitor não fariam sentido. Como eu tenho enfatizado muito essa história do elétron ter carga ou não, é possível que você esteja se referindo a algo que comentei. O que eu tenho dito é que a carga elétrica negativa não é meramente um fluido composto de bolinhas amorfas e que por sua vez seriam compostas por bolinhas amorfas chamadas elétrons, com todos estes elementos gerando campos do tipo de Coulomb. Da mesma forma que a molécula de água não é uma bolinha formada por água que se agrupa assumindo o formato de bolinhas maiores formadas por água até chegarem á água que visualizamos como amorfa para, a partir daí, definirmos a primeira bolinha que dissemos ser constituída por aquilo que, até visualizarmos, não conhecíamos. Pois bem, voltemos à carga. Certamente um elétron gera um campo e sofre o efeito de outros campos. O que eu digo é que esse campo gerado não é coulombiano e que o efeito que ele sofre não é o mesmo sofrido por uma carga elétrica coulombiana. Jamais disse que o elétron não gera campo algum e que não sofre o efeito de campo algum. Apenas disse que tanto o que gera quanto a maneira como reage a campos é incompatível com aquilo gerado ou sofrido por uma carga coulombiana. Como não fui eu quem definiu pela primeira vez o conceito de carga elétrica, simplesmente digo que o elétron não é nada disso e portanto, sob esse ponto de vista, não é uma carga elétrica. Mas certamente é alguma coisa compatível com o funcionamento do seu monitor . Como teria dito Poincaré: "A ciência é construída de fatos como uma casa é de pedras. Mas uma coleção de fatos não é mais uma ciência do que um monte de pedras é uma casa." E eu diria: uma carga elétrica é constituída de elétrons mas uma coleção de elétrons pode não ser uma carga elétrica. O absurdo está em se pretender que as partes reproduzam sempre o todo e este foi o engôdo assumido pelos físicos modernos, tanto os quânticos quanto os relativistas. Alberto: Bem, aqui você já está colocando o problema de outra forma. O campo não está "preso" aos elétrons. Por outro lado, os elétrons percebem o campo e, ao contrário do dito acima, os "campos magnéticos interagem com os elétrons" e não com os campos gerados por estes últimos. Alguma coisa está esquisita.Antônio: O campo gerado por um elétron está "preso" ao elétron. Ocorre que em um feixe, quando um elétron se move vem logo outro, e o campo observado a alguma distância não parece se modificar. Mas se o elétron se move e o campo move-se preso a ele, o campo também se move; e o elétron que está atrás, e que também se move à mesma velocidade, jamais conseguirá enxergar o campo do primeiro em movimento!!! Por outro lado, o campo observado a alguma distância dependerá do observador estar ou não em movimento. Continuo sem entender. Alberto: Neste caso, duas cargas elétricas em repouso no interior de um trem com velocidade constante deveriam perceber um campo magnético. Novamente pergunto: Não estaríamos reinventando o campo elétrico? Ou estamos falando de alguma outra teoria eletromagnética, que não a de Maxwell?Antônio: Eu disse que este caso era difícil de entender... E eu digo que você está realmente tentando criar uma nova teoria eletromagnética. O que eu não interpretaria como idéia absurda, apenas "ainda" não visualizei consistência. Antônio: Piore um pouco a situação. Coloque um par de fios isolados pendurados do teto do trem e carregue-os com cargas elétricas negativas iguais. Observando de fora do trem, vê-se corrente elétrica nos fios, deve aparecer campo magnético em torno deles, e eles deveriam se atrair caso a força magnética exceda a repulsão eletrostática. Considerando a relatividade, entretanto, observando de dentro do trem não poderia aparecer campo magnético, nem atração. Apenas a repulsão eletrostática. Não sei se chamaria isso de corrente elétrica ou fluxo de cargas acopladas (presas ao fio). Onde está a f.e.m. do circuito? Onde está o circuito? Realmente, pela teoria de Maxwell existirá um campo magnético a ser interpretado como tal para quem está fora do trem. Porém, pela própria teoria de Maxwell estas cargas ainda estarão presentes e exercerão campos elétricos repulsivos pois serão interpretadas como em repouso relativo. A diferença entre uma corrente efetiva e este fluxo de cargas é que no caso da corrente o conjunto é neutro, ou seja, não tem carga resultante e portanto não há campo elétrico (pelo menos esta é a visão interpretativa mais comum da teoria de Maxwell). Pela teoria de Maxwell não há transformação de cargas elétricas em "cargas magnéticas" mas, sim de campos elétricos em campos magnéticos ou vice-versa. Por outro lado, e para que este aspecto ganhe em significado a se traduzir em realidade físico-experimental, a teoria de Maxwell precisa da relatividade de Einstein e é aí que entra a história da contração do espaço. A teoria de Maxwell por si só, vista sob o ponto de vista da relatividade clássica, jamais explicaria alguns efeitos. Se você acredita na teoria de Maxwell e gosta de relatividade procure ler a interpretação que se dá à lei de Ampère sob o ponto de vista relativístico e, talvez, suas dúvidas a respeito se dissipem. O livro do French que citei na primeira msg desta thread trata muito bem desse assunto. Na minha opinião a teoria de Maxwell, com ou sem a relatividade especial, não explica tudo e creio mesmo que ela tem sido excessivamente valorizada. Porém não posso criticá-la em situações em que ela dá certo, ou como dizem, funciona. Antônio: Tire agora o trem e os fios, deixando apenas o excesso de elétrons se movendo. Mudou alguma coisa? Do ponto de vista da teoria de Maxwell + relatividade especial não mudou nada. Do meu ponto de vista mudou muito pois acima falávamos em fluxo de carga e agora em feixe de elétrons. Antônio: Dois feixes de elétrons em paralelo de novo, se movendo muito devagar (Se existe algum efeito, seria minúsculo). A questão aí é: O que realmente acontece? Feixes de elétrons paralelos se atraem? Se repelem? Nada disto? Eu realmente não sei agora. Sei que a teoria eletromagnética tem uma série de paradoxos, que se resolvem (?) apelando para a relatividade. Este pode ser um deles. Precisaríamos saber a resposta, qual seja: Se atraem? Se repelem? Nada disto? Você chegou a apontar algumas evidências de que eles se atraem. Ou eu muito me engano ou, salvo maior juizo, isto iria contra as teorias tradicionais a respeito (teoria de Maxwell e/ou relatividade especial). Antônio: Como a velocidade afeta a carga elétrica, segundo a relatividade? Sinceramente, este não é o meu departamento e se eu fosse dizer realmente o que penso iria desagradar a muitos e convencer a poucos. Já fui fanático pela relatividade de Einstein, até o dia em que me convenci de que isto era paixão e não ciência. De qualquer forma, além da referência feita acima (French), sugiro que você estude o potencial Liénard-Wiechert, realçando apenas que relaciona-se a um efeito não trivial e não fácil de ser aprendido, a não ser que sob uma visão muito superficial. [ ]'sAlberto |