Breve história da Universidade Autônoma de Lisboa "Luís de Camões"
INFORMATIVO CP
Integração I(5):128-9,1996
Instalada no nobre Palácio do conde do Redondo, a Santa Marta — presença multissecular na História Portuguesa —, em pleno coração da Cidade, a Universidade Autónoma de Lisboa "Luís de Camões" (U.A.L), não obstante os seus escassos quatro anos de existência, já se configura plenamente com o modelo que para a Instituição idealizaram os seus mentores e fundadores: "Universitas magistrorum et scholarium", ao serviço da Comunidade.
A U.A.L. não foi uma construção "ex nihilo": muitos dos que aqui ingressámos, professores e estudantes, trouxemos connosco uma sólida vivência de anos de ensino superior privado, plena de esperança, de alegria, e também, por vezes, de amargura e desilusão —que a vida é um misto destas contradições. Deixámos pelo caminho pedaços da nossa própria existência, quantas vezes vivida com angústia! Mas valeu o sacrifício, que foi de todos — professores, estudantes, funcionários —, e reverteu afinal em lição proveitosa, para benefício da U.A.L. E assim já formámos centenas de licenciados, que por todo o País se distribuem, a dar testemunho válido das nossas capacidades.
O Palácio, que é propriedade da Cooperativa de Ensino Universitário (C.E.U.), entidade instituidora da U.A.L., tem a sua história que, se muito nos honra, também muito nos responsabiliza. Foi morada régia e de nobres: nele viveu a rainha D. Catarina II de Inglaterra, após o regresso a Portugal, em 20 de Janeiro de 1693; nele viveram os Coutinhos, da Casa do Redondo, alguns deles particulares amigos de Camões, como o vizo-rei D. Francisco Coutinho, também poeta. Camões havia de honrar os ascendentes heróicos dos Coutinhos, ao consagrar a D. Álvaro Gonçalves Coutinho, "o Magriço", 27 oitavas do canto VI d'Os Lusíadas, no episódio de "Os Doze de Inglaterra". Esta é outra razão por que Luís de Camões é patrono de nossa Universidade.
Quando aqui chegámos, encontrámos um palácio em deplorável estado de degradação: mal se podia nele entrar, e, visto de fora, houve até quem pensasse que a casa poderia derruir. Mas, para nós, a quem animava uma grande força interior, o Palácio era como a imagem do Épico, que talvez um dia lá tivesse estado: pobre de bens materiais, mas, ao mesmo tempo, imensamente rico, dessa riqueza do Espírito que tudo vence e que a tudo sobreleva.
Lançámo-nos na obra esgotante de recuperação, sempre em obediência à traça arquitectónica primitiva, quanto possível, criando-lhe, no entanto, novos espaços, indispensáveis ao funcionamento de uma Universidade, como seja, a biblioteca, o grande auditório, os laboratórios, as salas de computadores e reprografia, os centros de investigação, o centro polivalente de línguas, as instalações sociais e administrativas, o posto clínico, e outras. Pensamos ainda que, com este trabalho de restauro de um imóvel classificado, enriquecemos o património monumental português e prestámos um serviço à cidade de Lisboa.
Somos 500 professores, 4500 alunos e 70 funcionários e empregados, "grosso modo": uma família numerosa, mas unida, como se impõe, que o segredo do êxito está na unidade de acção.
Ao presente, ministramos as seguintes licenciaturas, oficialmente reconhecidas:
Ciências Sociais; Direito; Economia; Gestão; História; Línguas e Literaturas Modernas (variantes de Estudos Portugueses, Português/Francês, Português/Inglês, Português/Alemão, Inglês/Alemão); Matemáticas Aplicadas.
Outras se encontram já na fase final de aprovação pelo Ministério da Educação (Engenharia, Informática, Relações Internacionais), ou com os processos instruídos (Ciências da Comunicação, Ciências Documentais, Tradutores e Intérpretes). Criados estão também os cursos de especialização em Arqueologia, em Ciências Documentais, em História da Arte e em Museologia Social, e estruturado um mestrado em Estudos sobre Portugal e o Mundo de Língua Portuguesa, no Departamento de História; outros no Departamento de Direito: A Protecção dos Direitos Fundamentais a Nível Europeu: Instrumentos de Defesa do Cidadão no Plano Administrativo e Constitucional (Jurídico-Políticas); O Estado Social de Direito, as Garantias Judiciárias Fundamentais do Cidadão e a Electrónica (Processual Civil); Novos Contratos: do "leasing" ao "franchising" (Cível); e, nos Departamentos de Economia e de Gestão, mais os seguintes: Mestrado em Auditoria Contabilística, Económica e Financeira; e Mestrado em Direcção e Gestão Bancárias.
Obra essencialmente pedagógica, fruto do sonho de alguns, e da vontade e do esforço de muitos, assim nasceu, se projectou e prossegue a U.A.L. rumo ao futuro — firme, imparável, insatisfeita na sua caminhada, ao serviço da Comunidade.
J. M. de A.
Vice-Reitor[Compilado de material obtido pela professora Marly Santos Mütschchele, por ocasião de sua participação no Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação (vide Editorial 2 desta revista). Conservado o estilo do original.]