msg 27 De: "Alberto Mesquita Filho" Data: 18/05/00 Alberto: [...] chegamos à conclusão que a relatividade complica a teoria sem nada de útil acrescentar.Belisário: Bem, ela acrescenta explicações para uma porção de observações experimentais, como: o "fracasso" da experiência de Michelson-MorleyAlberto: Algo referente a isso poderá ser encontrado em "A Relatividade Galileana"Belisário: Se compreendi bem, nesse site mostra-se que propagações ondulatórias têm velocidades constantes em relação ao meio, enquanto fenômenos corpusculares têm velocidades constantes em relação à fonte. Ora, Michelson e Morley pensavam que a luz era uma onda e portanto tinha velocidade dependente do meio, ou seja, do éter. Puseram-se então a medir a velocidade da luz em relação ao éter. Descobriram que a velocidade da luz não depende do éter. O texto do site, então, argumenta que isso indica que a luz pode ser composta de partículas, pois a velocidade das partículas não depende do meio. Não seria necessária Teoria da Relatividade alguma. Conquanto não afirme que a luz seja corpuscular, não vejo incoerência nenhuma na conclusão. Realmente, se pensarmos, como pensou-se na época, (final do século XIX e início do século XX) nas "teorias de emissão", a experiência de Michelson Morley retrata exatamente o que teria sido esperado (não pela dupla MM mas pelos possíveis adeptos das teorias de emissão). Ou seja, a experiência Michelson-Morley sem dúvida alguma representou o mais brilhante falseamento da teoria ondulatória da luz efetuado após Young (que, segundo alguns físicos afoitos, teria negado experimentalmente a teoria corpuscular). Repito, o problema não se reduz apenas às querelas entre luz ondulatória ou luz corpuscular mas em luz explicável por teorias ondulatórias e luz explicável por "teorias de emissão". Poderia também adotar um outro questionamento: A luz necessita de um "meio imaterial" (éter) para se propagar ou seria a luz esta "entidade imaterial" a se propagar sem necessitar de meio algum? Em outras palavras: o "imaterial" é o conteúdo (luz) ou o continente (éter). Não há como valorizar a experiência de Michelson-Morley de outra maneira que não seja nesse contexto ou, então, num retorno à luz corpuscular. A relatividade, ao se apoiar na experiência Michelson-Morley (a bem da verdade, Einstein não cometeu esta falácia), nada mais fez do que burlar a realidade física que, queiram ou não, TEM que ser interpretada à luz da evidência experimental. Belisário: Ora, existe um erro, ou pelo menos uma incompletude no raciocínio. A Teoria da Relatividade afirma justamente que a velocidade da luz é independente da fonte! É isso que Einstein afirmou em seu artigo original (nos livros-textos atuais prefere-se o postulado "a velocidade da luz independe do observador inercial", que leva aos mesmos resultados que o postulado original de Einstein). Ora, a velocidade das partículas só depende da fonte. Se a velocidade da luz independe da fonte, ela não pode ser constituída de corpúsculos! E qual é a experiência que garante essa independência? A de Michelson-Morley, interpretada à luz da realidade física, mostra-nos exatamente o contrário. Parece-me que você está andando em círculo. Aceita os postulados de Einstein (que embutem o conceito de uma luz matemático-ondulatória), a partir deles dá a sua explicação para a experiência Michelson-Morley e, a partir daí, conclui que a única explicação para a experiência é a relatividade de Einstein!!! Belisário: Mesmo se adotarmos a visão atual, de que a velocidade da luz independe do observador inercial, isto também não pode ser interpretado lançando-se mão da interpretação corpuscular da luz. É óbvio. Isto meramente retrata a coerência da relatividade especial. Seria de se estranhar que uma teoria construída por cima do conceito de luz matemático-ondulatória nos levasse à conclusão de que a luz é corpuscular e/ou outra entidade emitida. Quando eu digo que não concordo com a teoria da relatividade especial jamais estou querendo dar a entender que Einstein teria sido um imbecil, pois suas idéias têm uma lógica fora de série. Pelo contrário, apesar de não concordar com nada relativo a sua teoria da relatividade, ainda assim acho que Einstein foi o maior físico do século XX, e as homenagens póstumas que recebeu recentemente foram merecidas. A meu ver, a postura do cientista está acima de suas teorias. Belisário: Poder-se-ia argumentar: mas da experiência de Michelson-Morley não dá para deduzir diretamente que a velocidade da luz independe do observador ou da fonte. Com efeito, como expus acima. A experiência de Michelson-Morley falseia a luz ondulatória. Por si só, corrobora a dependência com relação à fonte. Belisário: Mas esses fatos são corroborados pelas confirmações experimentais de suas consequências: por exemplo, a dilatação do tempo, equivalência massa-energia, etc., observada p. ex. nas experiências em aceleradores de partículas. Então não se diga que a experiência de Michelson-Morley por si só corrobora exatamente aquilo que falseia. Se as experiências citadas não são por si sós, concludentes, que não se apele para outras que também não o são no sentido esperado. Por outro lado, ao dizer que são "consequências", você parece estar admitindo que a experiência de Michelson-Morley é necessária para a relatividade, o que me parece não ser o caso (pelo menos Einstein não considerou assim). Estaríamos andando em círculo? Belisário: Muito recentemente, uma experiência mostrou que a velocidade da luz independe da fonte por uma parte em 1020. Tirei as frases seguintes do boletim informativo do American Institute of Physics, datado de 11 de maio de 2000: http://newton.ex.ac.uk/aip/physnews.484.html. [link desativado (2009) - tente http://www.aip.org/pnu/ e pesquise no site] Vamos dar tempo ao tempo. Estamos comentando uma experiência efetuada há mais de cem anos, com detalhes técnicos exaustivamente explorados, repetidos e comprovados, e a corroborar que a velocidade da luz depende da fonte. Essa outra, realizada há 7 dias, não deixa de ser interessante mas não me parece estar livre de se apoiar em suposições um tanto quanto fantasiosas. Está me parecendo aquela história da fusão fria, que até hoje ainda não foi muito bem explicada. Belisário: Agora sobre a dilatação do tempo:Belisário: [...] a dilatação do tempo observada no decaimento de partículas elementares velozes;Belisário: Belisário: Ou muito me confundi ou essa resposta parece fugir à questão. A questão não é sobre a mera adequação do conceito de "relatividade do tempo", mas como explicar classicamente o fato experimental de que observadores em movimento em relação a um "relógio" observam o relógio andar mais devagar que os observadores em repouso em relação a ele. Mas qual foi o observador que acompanhou o movimento das "partículas elementares velozes" citadas? Neste caso temos apenas dois relógios e um único observador em repouso. O segundo observador é hipotético. E, sem dúvida alguma, este hipotético observador deve ter um metabolismo interno ditado por regras moleculares a obedecerem às mesmas restrições impostas aos elétrons ou mésons. Não é impossível que seu metabolismo funcione num outro ritmo e que ele envelheça de maneira diversa a um observador em repouso. Ele, por si só, seria um relógio biológico. Tudo isso são conjecturas ou, no máximo, hipóteses. O que estou mostrando é que é perfeitamente possível, através de "conceitos clássicos", chegar-se a um tempo relativo. Porém relativo a relógios e não a um tempo no sentido newtoniano do termo. O problema é que quando me refiro a "conceitos clássicos" logo pensa-se na física clássica para os quais esses conceitos seriam proibidos. Ora, a física clássica não proibe nada que não contrarie o senso comum! Ela sequer foi concluída! Parece-me que os físicos foram enfeitiçados pelas fantasias quânticas e relativistas! Não, não fugi da questão não! A relatividade meramente inverteu os papéis e considerou o relógio absoluto. E acredito ser exatamente esta a falácia que estamos discutindo, ainda que você não a aceite como falácia. Belisário: E mais: que a relação entre as medidas dos dois observadores, não só para o relógio mas para qualquer par de eventos que delimitem um intervalo no tempo (como um "tic" e um "tac" do relógio), é descrita pela mesmíssima equação em todos os casos. Sendo assim, qual o significado de dizer que é o relógio que é relativo e não o tempo? Se assim fosse, parece que a fórmula deveria ser diferente para cada sistema físico estudado, mas ela é sempre a mesma. Isso caso existisse aquele hipotético observador a não envelhecer de maneira diferente. Mas o relógio considerado é inerente ao movimento da matéria e o observador é constituído de matéria. Ou não? Esse observador seria Deus, situado no referencial absoluto newtoniano, e segundo o qual "o espaço é o sensório de Deus"? Bem, não é impossível que para Deus a física seja um pouquinho diferente do que para nós. Afinal, ele é o dono da verdade. Para observadores outros, as leis seriam as mesmas, porém com constantes diversas (c, por exemplo, admitindo-se observadores a acreditarem na sua constância — ou seja, para esses observadores relativistas, c seria constante, ainda que com outro valor; e não só as leis verdadeiras, mas também as teorias, tanto as verdadeiras quanto as absurdas, seriam as mesmas). Por falar em tic-tac e para descontrair , vou repetir aqui uma poesia que escrevi em 1986: A RELATIVIDADE POÉTICA [ ]'sTic-Tac-Tic-Tac-Tic-... Alberto |