Alberto Mesquita Filho
Daniel F. Fraga
Artigo publicado em
Integração V(18):208-14,1999
© 1999 - Direitos autorais: requerido em nome dos autores.
Reprodução proibida para fins comerciais.
- Física Clássica vs Física Moderna
- A Fé do Cientista
- Os Absurdos da Física Moderna
- Física vs Matemática
- A Inquisição dos Tempos Modernos
- O Conhecimento Autêntico
- O Eletromagnetismo e o Princípio da Equivalência
- Costume Popperiano
- O Importante é "mandar a bola prá frente"
- A Pesquisa no Brasil
Diálogo 1 - Física Clássica vs Física Moderna
Daniel (17/03/99): No segundo parágrafo da introdução de seu artigo lê-se: "Das ruínas emergiram duas grandes teorias: a relatividade e a física quântica." Desculpe a ignorância, Alberto, mas quais as principais diferenças entre a relatividade e a física quântica (pergunta de um leigo)?
Alberto (19/03/99):
As diferenças são muitas. Em primeiro lugar é preciso esclarecer que existe uma relatividade da física clássica (e até mesmo da física antiga, como você perceberá, caso evolua nesta thread) e uma relatividade da física moderna. Hoje em dia, quando se fala em relatividade, salvo considerações em contrário, quase sempre está se referindo a esta última (a relatividade de Einstein).
A relatividade, sob um ponto de vista estrito, é um capítulo da física que se preocupa com o estudo de fenômenos observados através de referenciais diferentes e como inter-relacionar essas diferenças. Por exemplo, ao observar a queda de uma bola, você terá a nítida impressão de que ela cai segundo uma vertical, mesmo que esteja no interior de um trem viajando a velocidade constante. No entanto, para quem está fora do trem a trajetória da bola é uma parábola.
Para grandes velocidades, próximas à velocidade da luz, alguns fatores interferem nos cálculos, condições em que parecem intervir fatores não explicáveis pela física clássica. Nestas condições, a matemática relativística da física moderna (equações de Lorentz) é mais feliz do que os artifícios apontados por Galileu.
A mecânica quântica, por outro lado, é útil ao explicar fenômenos que ocorrem no mundo do infinitamente pequeno (partículas elementares) e para os quais a física clássica ainda não encontrou uma explicação plausível (digo ainda pois acredito em variáveis ocultas da física clássica, coisa que a maioria dos físicos não aceita).
Resumindo, poderíamos dizer que em condições normais (baixas velocidades e objetos do nosso dia a dia) a física clássica responde a todos os nossos questionamentos. Para condições de velocidades elevadas, a matemática relativística sobressai-se à física clássica; e para o microcosmo, a matemática quântica sobressai-se à física clássica. Eu diria que a matemática dá certo pois ela conserta efeitos que a física clássica não leva em conta, por estar incompleta (poucos, na atualidade, desposam esta opinião).
Daniel (17/03/99): E quais as consequências de cada uma (relatividade e física quântica)?
Alberto (19/03/99): Para o nosso dia a dia, muito poucas. O homem foi a Lua graças à física clássica, e até mesmo, à física antiga. Alguns hão de dizer que o seu computador funciona graças à física quântica mas eu diria que os que assim pensam estão confundindo conteúdo com continente. Uma coisa é um determinado fenômeno ser explicável pela física quântica; outra coisa é determinado equipamento funcionar se, e somente se, a física quântica for verdadeira. Alguns dirão que o "teletransporte de fótons" é um fenômeno quântico; e eu digo: se ele tivesse sido descoberto há dez anos, teria sido um forte argumento a derrubar a física quântica (durma-se com um barulho desses).
Daniel (19/03/99): Gostaria de perguntar se existem inventos ou descobertas ou coisas do gênero, graças "unicamente" a física quântica? Acrescentando: quando ouvimos falar em "quarks" e coisas desse tipo, quais as aplicações desse conhecimento no mundo moderno?
Alberto (19/03/99): Existem intuições ou
insights que mostraram-se produtivos e gerados por pessoas que aceitam a física quântica. Mas nada que não comporte explicações outras. O "quark" situa-se neste terreno. Não existem ainda modelos clássicos para explicar o próton ou o nêutron (são partículas definidas recentemente, e pouquíssimos progressos foram feitos no século XX no que diga respeito à física clássica). Não obstante, é perfeitamente possível imaginar prótons ou nêutrons formados por partículas instáveis (estabilizam-se ao se combinarem) e que poderiam ser chamadas "quarks clássicos".
Diálogo 2 - A Fé do Cientista
Daniel (17/03/99): Concordo com o exposto no
quarto parágrafo da introdução
do artigo original a respeito das verdades científicas. Certas coisas são verdades absolutas em uma época e em outras vão por água abaixo. De qualquer forma, se uma "nova" verdade aparece ela terá que concordar com a "velha" verdade que "funcionava". Caso contrário teremos duas verdades! Isto é possível? Duas verdades? Ou sempre teremos apenas uma única verdade absoluta?
Alberto (19/03/99): Por ser um cientista realista, eu acredito numa verdade absoluta. Mas isso não me preocupa, pois o cientista, a meu ver, não é o dono da verdade mas, sim, aquele que procura pela verdade. Perceba que, por acreditar numa verdade absoluta, posso continuar procurando pela mesma. Às vezes acreditamos demais em nossas verdades e damos a impressão de termos atingido este ideal; a esse respeito, vale a pena citar o seguinte pensamento de Einstein: "Se o senhor quer estudar em qualquer dos físicos teóricos os métodos que emprega, sugiro-lhe firmar-se neste princípio básico: não dê crédito algum ao que ele diz, mas julgue aquilo que produziu! Porque o criador tem esta característica: as produções de sua imaginação se impõem a ele, tão indispensáveis, tão naturais, que não pode considerá-las como imagem de espírito, mas as conhece como realidades evidentes." (Einstein em "Como Vejo o Mundo, Ed. Nova Fronteira, RJ, 1981, p.145)
Daniel (19/03/99): Realmente sem dúvida nenhuma, as obras de uma pessoa mostram quem ela realmente é. Sempre desconfiei das pessoas que "falam demais" e "fazem pouco". Não estou incluindo nós que participamos do
news, pois apesar de "falarmos" bastante, estamos trocando idéias, o que é uma coisa útil, mas Einstein tem toda razão, as obras é que dão a última palavra.
Mudando de assunto, em sua mensagem de 19/03/99 lê-se: "...acredito em variáveis ocultas da física clássica, coisa que a maioria dos físicos não aceita." Na minha opinião, aceitarão quando for provado. Mas pergunto: Como aceitar algo "improvável" como Deus, por exemplo? :)) Não quero entrar em questões religiosas, só queria discutir se é mesmo necessário se provar tudo?
Alberto (21/03/99): Não há como provar, cientificamente, a existência ou a inexistência de Deus. Trata-se aqui de um problema de fé de natureza não científica. Existe no entanto condições em que o cientista depara-se com fatos em que deve optar pela aceitação ou não de uma explicação em detrimento de outras. Esta opção diferencia-se da aceitação dogmática; não se trata de uma escolha pura e simples mas uma opção lógica, ainda que não apoiada no método científico. Há algum tempo descrevi esta opção lógica sob a forma de poesia dialética a qual intitulei "A fé do cientista":
Vejo e não creio.
Duvido.
Se não vejo, respeito,
Mas nego,
Logo, aceito.
Leio e não encontro.
Teorizo.
Nego e renego
Na esperança inglória
De ao testar a hipótese
Encontrar a glória
De aumentar meu credo.
Se preciso for
Abstraio-me
Do mundo do nada
A resposta ao tudo espero.
Se ainda assim permanecer nas trevas
Se os céus quiserem ocultar-me o certo
E me negarem a maravilha infinda,
Por esgotar o que me há de humano
Não me desespero.
Opto,
Logo, creio sem ter visto.
Diálogo 3 - Os Absurdos da Física Moderna
Daniel (21/03/99): Aprendemos, na escola, a teoria clássica e a aceitamos por ser uma teoria "aceita" mundialmente, não é verdade?
Alberto (22/03/99): Com efeito. Não obstante, mesmo quando nos ensinam a teoria clássica, chamam-nos a atenção para algo, que virá posteriormente, a negar alguns aspectos fundamentais do que nos ensinam. Mesmo no colegial é costume dizer-se que em determinadas condições, como em velocidades muito elevadas, próximas à velocidade da luz, a mecânica clássica não funciona; como também ensina-se, principalmente em química, que a "órbita permitida" para os elétrons de um átomo representa uma região em que o eletromagnetismo clássico não é obedecido (se o fosse, o elétron emitiria radiação, pois sofre uma aceleração centrípeta). Consequentemente, aprendemos a aceitar como verdadeira uma teoria que sabemos de antemão que será substituída por outras. Isto é bem diferente de dizer que a teoria clássica está incompleta. Não, ela é considerada completa e errada, porém é ensinada como um primeiro caminho, a ser um dia abandonado pelos que prosseguirem os estudos.
A minha posição é diametralmente oposta. Digo que a física clássica está absolutamente correta, porém incompleta. Ao ser completada deixará boquiabertos os atuais adeptos da física moderna. Retornaremos cerca de 100 anos no tempo. Obviamente, isto não será um retrocesso, como muitos poderão imaginar. Não estou propondo que se jogue fora 100 anos de experimentação. Seria suficiente que se jogasse no lixo algumas idéias absurdas que em nada estão colaborando para o progresso da física, pelo contrário: A física foi jogada num atoleiro há cerca de 100 anos, ainda que muito tenha sido aprendido nestas condições.
Daniel (24/03/99): Interessantíssimo! Poderia tecer comentário sobre algumas das idéias que você considera absurdas?
Alberto (25/03/99): Pois não: 1) A independência da velocidade da luz com o referencial de medida; 2) as órbitas permitidas; 3) a identificação entre matéria e massa e, em decorrência disto, a identidade matéria-energia; 4) o contínuo espaço-tempo; 5) a dualidade corpúsculo-onda; 6) a identificação de um elétron com uma carga elétrica; 7) o "spin" que não representa giro. Há muito o que ser comentado sobre cada uma dessas idéias mas vou me limitar a repetir o que muitos afirmam: "Todas contrariam o senso comum." Eu costumo dizer isso de outra forma: Nem tudo o que é óbvio é certo mas tudo o que é certo tem um lado óbvio. Nenhuma dessas idéias estratosféricas têm um lado óbvio. Via de regra são aceitas após anos de massificação e lavagem cerebral.
Diálogo 4 - Física vs Matemática
Daniel (21/03/99): Em mensagem anterior você chegou a comentar que os matemáticos que examinaram a sua teoria não encontraram erros. Então fico pensando: Se a sua teoria é perfeita matematicamente, porque não é aceita?
Alberto (22/03/99): É possível convencer uma criança, utilizando-se de raciocínios matemáticos elementares, e apoiando-se numa experimentação primitiva, que o Sol gira em torno da Terra, com um período de 24 horas. E não será fácil convencer a esta mesma criança que, na realidade, é a Terra quem está girando sobre o seu próprio eixo. Este problema que para nós, hoje, chega a ser elementar, já foi objeto de incansáveis polêmicas. A matemática, por si só, não pode e nem deve exercer uma influência dominante na cabeça das pessoas. Outros fatores, de natureza fenomenológica devem ser levados em consideração. A matemática nada mais é do que uma ferramenta nas mãos dos cientistas. Uma teoria com falhas matemáticas deve ser rejeitada como tal; uma teoria matematicamente perfeita, deve sujeitar-se à experimentação antes de ser aceita; em especial, deve fazer previsões "falseáveis" (previsões que podem falsear a teoria através da experimentação).
Talvez você esteja utilizando o termo "aceitação" em acordo com a poesia que apresentei (A fé do cientista). Neste caso, digo "aceitar" uma teoria quando estou disposto a estudá-la, ainda que com a finalidade de negá-la. Se a sua dúvida é esta, não tenho respostas para a sua pergunta. A não ser remetendo-o ao estudo da Filosofia de Thomas Khun que, ao meu ver, justificaria não apenas a "Inquisição dos Tempos Modernos" mas, até mesmo, a Inquisição da Idade Média. Segundo esta filosofia, toda idéia nova, que não se coadune com os "dogmas" aceitos pela ciência de sua época, deve ir para a fogueira. Por incrível que pareça, esta idéia é amplamente defendida nos melhores centros universitários mundiais. Exemplos de autores que passaram por esta Inquisição defendida por Thomas Khun: Galileu, Boltzmann, Einstein, Newton, Piccardi, Kervran, Freud, Schrödinger, David Bohm, etc. A lista é bem mais longa mas estes são os nomes que me ocorrem no momento.
Daniel (21/03/99): Quer dizer que a matemática por si só não basta? Eu achava que a matemática era perfeita e uma vez equacionado o problema, a solução seria encontrada. No caso do elétron, que você disse não ser uma carga elétrica, se isso é matematicamente provado, não entendo o problema de não aceitarem.
Alberto (22/03/99): Espero ter respondido acima as dúvidas a respeito do tema física vs matemática. Quanto ao elétron e sua relação com a carga elétrica, a matemática não prova que estou certo. Simplesmente comprova que o modelo utilizado compatibiliza-se com a realidade física.
Daniel (24/03/99): Perfeito, agora compreendi.
Diálogo 5 - A Inquisição dos Tempos Modernos
Daniel (24/03/99): Eu estava pensando: Quem leva vantagem mantendo esta "Inquisição dos Tempos Modernos"?
Alberto (25/03/99): Aparentemente ninguém. Existem algumas exceções que mereceriam uma CPI :-); mas são poucas, embora eu tenha testemunhado alguns casos bastante interessantes (internacionais). No entanto, a maioria deve-se à velhice precoce. Einstein, por exemplo, morreu com 75 anos, porém nos últimos anos de sua vida parecia ser um jovem de 15 anos de idade. Mas isso é muito raro. A maioria dos cientistas, assim que defendem sua tese, envelhecem 50 anos em 1. Tornam-se carcomidos e têm um medo incrível de que alguém prove a eles que a ciência evoluiu e que eles se tornaram "obsoletos". Isso já chegou a ser dito, de outra forma, por Planck:
Uma teoria jamais substitui outra; o que acontece é que os defensores da teoria antiga morrem e os jovens optam pela teoria mais recente (desde que ela realmente tenha valor). Por cima desta idéia Thomas Khun criou sua "filosofia" em que defende uma ciência fundamentada em dogmas e a respaldar a Inquisição dos Tempos Modernos.
Daniel (24/03/99): A ciência propriamente dita não leva vantagem alguma, concorda?
Alberto (25/03/99): Concordo.
Diálogo 6 - O Conhecimento Autêntico
Daniel (19/03/99): No item 2 de seu trabalho (A Evolução do Realismo) encontra-se um pensamento de Demócrito, qual seja:
Existem duas formas de conhecimento: o conhecimento autêntico e a opinião. Correspondem à opinião: a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. O conhecimento autêntico é completamente distinto: quando o objeto é demasiado pequeno e não pode ser conhecido através da opinião, não pode ser visto, ouvido, cheirado nem tocado; quando se exige maior profundidade ao conhecimento, então atua o autêntico, que possui um instrumento para captar a verdade: o pensamento.
Bastaria qualquer físico, matemático ou o que quer que seja ler o que Demócrito escreveu para, pelo menos, aceitar a sua teoria como possível. Não estou querendo que a aceitem sem que a analisem friamente, só acho que o verdadeiro cientista jamais pode se limitar à opinião e deve se basear no "conhecimento autêntico".
Agora pergunto: E quando o "conhecimento autêntico" escapa às nossas potencialidades de compreensão?
Alberto (21/03/99): De duas, uma: Ou trata-se de um fenômeno de natureza extracientífica (fenômenos que não se repetem e, portanto, não podem se adequar ao método científico, pois não há como comprová-los por um achado experimental) ou, então, fenômenos para os quais possuímos explicações em excesso (mais de uma).
Daniel (19/03/99): Não seria como explicar a um cachorro como funciona um computador?
Alberto (21/03/99): Tanto quanto explicar a um humano como funciona um disco voador, se é que ele existe. Como exemplo do primeiro caso (fenômenos de natureza extracientífica) citaria os milagres, as visualizações de OVNIs, etc. Não digo que algum dia eles não possam ser explicados; digo apenas que a nossa ciência não tem como reproduzir tais fenômenos, o que seria o mínimo necessário para que pudessem ser encarados cientificamente. Qualquer tentativa de entendimento pertence aos campos da filosofia, da teologia, do misticismo, etc. É importante assinalar que, visto estarmos discutindo uma citação de Demócrito, os filósofos gregos admitiam a autenticidade extracientífica, coisa que os bons cientistas de hoje também aceitam.
Diálogo 7 - O Eletromagnetismo e o Princípio da Equivalência
Daniel (24/03/99): Na terceira parte de seu artigo,
O Relativismo de Einstein, item 3d, lê-se:
Que dizer sobre um elétron, ou uma carga elétrica, em repouso num campo gravitacional? Estaria a teoria de Maxwell também incompleta no que diz respeito ao comportamento de cargas elétricas em campos gravitacionais? Ou o Princípio da Equivalência não é tão geral quanto suposto por Einstein? E, neste caso, em que isto afetaria sua Teoria da Relatividade Geral?
Alberto, desculpe se eu estiver perguntando a mesma coisa pela segunda vez,...
Alberto: (25/03/99): Creio que não. O que já discutimos a respeito parece-me que se referia à teoria newtoniana e não à teoria de Maxwell. De qualquer forma, o assunto não está muito claro no texto e a citação é bastante oportuna pois permite-me sanar alguns aspectos. O que eu quis dizer, em 1993, quando o texto foi escrito pela primeira vez, era que aceitando-se o Princípio da Equivalência de Einstein seria indiferente estarmos num referencial acelerado ou num campo gravitacional, ou vice-versa. Raciocinando desta forma uma carga elétrica situada num campo gravitacional poderia ser pensada como estando num referencial acelerado devendo, desta forma, emitir radiações, em acordo com a teoria de Maxwell. E isto, como sabemos, não acontece.
Após este texto ter sido escrito e como no Brasil não encontrei ninguém, e procurei bastante, que soubesse me dar uma resposta satisfatória (houve um físico brasileiro famoso que tentou me enrolar, apelando para a mecânica quântica; porém muitos, e não apenas eu, dentre os que estavam na platéia, perceberam que tratava-se de uma tentativa de enrolação; a rigor ele não tinha a resposta), postei minha dúvida no
sci.physics.relativity e recebi uma explicação, senão absoluta, pelo menos convincente. Estranha, porém convincente. Dizia o Paul Andersen: "uma carga situada num referencial acelerado emite radiações que são captadas apenas por quem não estiver situado neste referencial acelerado". Digo estranha pois vai também contra o senso comum: Como uma coisa que é "emitida" num referencial, não seria "emitida" num outro? Apesar disto fui obrigado a "engolir" a resposta, e creio que merecia, pois subestimei a capacidade dos físicos relativistas em criar explicações fantasiosas (esta característica é própria dos físicos quânticos). A verdade é que após ter "engolido" esta resposta, meu texto ficou, se não totalmente errado, pelo menos duvidoso (e foi porisso que, sem modificá-lo, acrescentei a adenda 19).
Percebi então que existiam mais coisas entre a minha dúvida e a realidade do que "poderia supor a nossa vã filosofia". Porém o texto estava escrito, o livro publicado e, tenho o costume, originalmente popperiano (de Karl Popper) de não modificar o que escrevo: apenas acrescento uma nota de rodapé dizendo que errei e, se possível, corrigindo o erro. Como ainda não encontrei uma solução definitiva, fica difícil conservar o texto e manter a didática.
Apenas para esclarecer: Sou um adepto do Princípio da Equivalência. Creio que este foi o maior legado de Einstein. Não obstante, existe alguma coisa no princípio que não me agrada, e que apontei num paradoxo ainda não respondido (vide referência 19). Ficaria bastante triste se, na resolução do paradoxo, alguém concluísse definitivamente que o Princípio da Equivalência é inconsistente.
[Adenda acrescentada em 27/06/2001: Este assunto foi rediscutido na Ciencialist em dezembro de 2000 - vide
Relatividade Geral e o Paradoxo da Carga Acelerada.]
Daniel (24/03/99): ...mas na sua opinião você acha que a teoria de Maxwell está incompleta?...
Alberto (25/03/99): Não. A teoria de Maxwell é uma teoria fechada. Não há nada a ser acrescentado nem retirado. Na minha opinião ela é uma teoria que funciona para cargas elétricas e correntes elétricas, mas não para partículas elementares. A teoria de Maxwell é uma teoria feita para fluidos elétricos e não para corpúsculos e portanto não se poderia esperar que ela funcionasse para o que não foi feita. O problema é que, em virtude dos sucessos obtidos com entidades macroscópicas, os físicos tentaram aplicar a teoria para partículas e neste ponto ela começou a se mostrar inconsistente.
Toda teoria de fluido é macroscópica. Admite-se que o fluido seja uma entidade contínua. Não obstante, no nível microscópico esta continuidade não existe. Da mesma forma que eu não posso dizer que a molécula de água é amorfa, embora a água se nos mostre como tal, também não posso dizer que o elétron, que é o constituinte mínimo de uma carga elétrica, tem a mesma disposição, o mesmo formato, o mesmo campo, etc., da carga de onde foi retirado. Dizer que o elétron é uma carga elétrica, posto que a carga elétrica é formada por elétrons, é o mesmo que dizer que o átomo tem o formato de um avião, posto que o avião é formado por átomos.
Daniel (24/03/99): ...ou o Princípio da Equivalência não é tão geral assim?
Alberto (25/03/99): Gostaria que ele fosse geral. Mas sinto que em algum aspecto ele deve ser modificado. Comparando o que aqui disse (Gostaria que ele fosse geral) com o que escrevi em 1993 ("ou o princípio não é tão geral quanto suposto.."), perceba que sob certos aspectos fiquei satisfeito em ter que "engolir" a afirmação de Paul Andersen, ainda que, por enquanto, não assine embaixo.
Diálogo 8 - Costume Popperiano
Daniel (26/03/99): Apesar do seu costume "popperiano" :), acho que você poderia tomar a liberdade de modificar o texto pois sendo uma publicação "virtual" não será uma modificação eterna. Mas isso vai muito do autor, temos que respeitar :)
Alberto (28/03/99): É verdade, uma mensagem na Usenet não deve seguir as regras de editoração de um livro. Mas, de qualquer forma, vejo pelo menos duas virtudes de Popper nesta conduta: A primeira é que deixa patente, ao leitor, que ele também erra (e isso está muito em acordo com sua filosofia); e a segunda é que mostra ao leitor as etapas de teorização. Uma teoria não surge do nada; e até que atinja a maturidade, está sujeita a muitas falácias, leva-nos a muitos caminhos tortuosos, cometem-se muitos erros, até mesmo quando chegamos a um resultado satisfatório (Lembra-se do que comentei sobre a equação obtida por Planck?). O leitor fica então ciente de que errar é humano bem como de que uma teoria não resulta, meramente, de uma "queda de maçã na cabeça".
Daniel (28/03/99): Compreendi! Faz-se necessário mostrar todo o processo. Tem razão.
Diálogo 9 - O Importante é mandar a bola prá frente.
Daniel (26/03/99): Alberto, a respeito do paradoxo apontado, quase não dá para acreditar que não exista uma pessoa no Brasil que possa discutir isso com você.
Alberto (28/03/99): Existe, sim. Não obstante, a maioria não quer discutir. Há cerca de 5 ou 6 anos, logo após ter equacionado e publicado minha teoria, fui convidado por um Secretário Municipal (um físico amador), para expor a teoria em sua cidade. O Secretário escolheu uma universidade pública para sediar o evento. O Setor de Física da universidade rebelou-se e tentou, a todo o custo, impedir a minha palestra. O Secretário mostrou-se irredutível e ameaçou cortar a verba municipal destinada à universidade. Os físicos cederam sob pressão, autorizaram a palestra, concordaram com a presença dos alunos do curso de física porém proibiram que os professores do Setor de Física assistissem a palestra. O Secretário não se conteve e exigiu que pelo menos um dos professores representasse o Setor. Sob esta pressão compareceu, como único representante dos Físicos desta universidade, o chefe do Departamento de Eletromagnetismo. Após a palestra fomos jantar e, na presença do Secretário, apenas recebi elogios deste professor, ao lado de manifestações de espanto e admiração pela palestra a que tinha assistido. Chegou mesmo a me sondar sobre a possibilidade de auxiliá-lo na orientação de teses, caso alguns dos pós-graduandos, que assistiram a palestra, resolvessem trabalhar em cima da minha teoria. Respondi afirmativamente e nunca mais tive notícias a respeito. E eu fico pensando com os meus botões: Será que este professor estava sendo sincero? E admitindo que estivesse: Seus colegas, que sabe-se lá porque, recusaram-se ostensivamente a comparecer à palestra, permitiriam que este professor os afrontasse? Pois se nem queriam permitir que a palestra fosse ministrada?
Este é apenas um exemplo. Não estou citando nomes mas fornecendo alguns dados para que aqueles que não acreditam no que estou dizendo, possam comprovar os fatos. Isto aconteceu, de fato. Porque? Será apenas velhice precoce, como afirmei em mensagem anterior? Será que eles tinham medo de se confrontarem comigo na presença de seus alunos? Será que todos os físicos desta universidade têm medo de deixar patente suas mediocridades? Por muito menos os políticos são levados a uma CPI. Não existem CPIs nas universidades?
Daniel (28/03/99): Mas por qual razão estariam contra você, se nem te conheciam?
Alberto (29/03/99): Eu já me fiz esta pergunta inúmeras vezes e não obtive uma resposta definitiva.
Daniel (28/03/99): Estou imaginando aquele profissional que trabalhou numa firma durante anos e, de repente, se vê na necessidade de aprender informática mas não quer. Então faz de tudo para que os computadores não entrem na firma para que não seja despedido :). Essa é uma comparação um tanto grosseira, mas como você disse, se você chega lá e mostra muitas coisas além do que os professores sabem, certamente eles vão se sentir ameaçados. Bom, Alberto, realmente interessante a sua história.
Alberto (29/03/99): Talvez a comparação seja grosseira mas é muito comum em nossa sociedade. São homens que não percebem que se o seu departamento evoluir eles somente terão a ganhar. O homem sábio não é aquele que sabe tudo (este não existe) mas aquele que, ao se investir num cargo de chefia, por exemplo, escolhe, para auxiliá-lo, outros que possam completá-lo e não apenas dizerem amém.
Daniel (28/03/99): Às vezes até fico assustado com esse tipo de represália.
Alberto (29/03/99): Pois não fique. O importante é "tocar o barco", é "mandar a bola prá frente". Os incompetentes, sim, têm motivos de sobra para viverem assustados. Lamentavelmente nem todos têm forças para persistir com seus ideais e alguns acabam desistindo; outros chegam a ser por demais sacrificados (foi o caso de Boltzmann que suicidou-se após ter sido ridicularizado não apenas pelos colegas de Departamento mas também por seus alunos; dois anos após, se vivo fosse, teria recebido o prêmio Nobel, e quanto a isso todos os físicos atuais são concordes). Mas exemplos como estes são raros. Você já deve ter percebido que além de física gosto também de fazer poesias. Pois tenho uma, ainda inacabada, cujo título é: "Feliz eu sou, eu fui, sempre serei." Duvido que esses professores que me ignoraram possam, um dia, escrever algo semelhante.
Daniel (26/03/99): Nem mesmo os seus professores puderam te ajudar nesta dúvida?
Alberto (28/03/99): Não gosto de criticar meus professores. Se cheguei onde estou, foi graças ao que me ensinaram; mas também não conseguiram bloquear minha criatividade.
Daniel (26/03/99): Existe algum físico que você admire e que gostaria de fazer-lhe a pergunta?
Alberto (28/03/99): Não. Já publiquei a minha teoria juntamente com as minhas dúvidas e, portanto, não estou mais à procura de físico algum. Se eles se dignarem a estudar o que escrevi, ficarei imensamente agradecido. Os dois físicos que mais admirei, para os quais eu gostaria de fazer várias perguntas, e tenho certeza que me ouviriam, já morreram: Albert Einstein e Mário Schenberg.
Daniel (26/03/99): Resta continuar a busca... e nunca desistir.
Alberto (28/03/99): Sob certos aspectos você também é popperiano. Esta frase diz tudo.
Diálogo 10 - A Pesquisa no Brasil.
Daniel (30/03/99): Quanto à pesquisa no Brasil, no campo da Física, projetos, esse tipo de coisa, o que está sendo feito nesse sentido? Há algum projeto interessante ou o que interessa só é feito lá fora mesmo?
Alberto (01/04/99): Eu não sou
a pessoa ideal para responder a essa pergunta e por vários motivos:
- Atualmente, em termos de física, sou um teorizador (alguns chamam o teorizador de cientista teórico mas prefiro reservar este termo aos que apenas estudam teorias, o que é diferente de fazer teorias). Como tal, proponho pesquisas. Como minhas teorias são ignoradas, ficaria muito fácil para mim dizer que não se faz pesquisa genuinamente nacional mas, com isto, estaria assumindo uma atitude egocêntrica. Realmente, não conheço outras teorias nacionais que estejam sendo testadas (conheço algumas ignoradas e, em sua maioria, não posso dizer se são boas ou não) mas isto deve-se em grande parte à minha ignorância a respeito.
- Na época em que militei em laboratórios (na minha opinião, todo cientista teorizador deve iniciar sua carreira pela experimentação) eu era um cientista da área médica, mais especificamente Nefrologia, Fisiologia e Biofísica, com alguma relação à Bioquímica.
- Atualmente a única prática que me é dada observar refere-se à Educação em nível superior. A esse respeito tenho efetuado críticas ao comportamento observado em nossos Centros de Pesquisa mas não pretendo afirmar que seja válido para a física em especial. Via de regra nossos cientistas agem como "papagaios". Não teorizam e não testam teorias nacionais que são muito poucas por sinal. Nossos Centros de Pesquisa não se preocupam com a "formação de cientistas"; estão cientes de que formando doutores, mesmo de má qualidade, um dia estes irão fazer pós-doutoramento no exterior e voltarão com idéias novas.
O problema é que eles realmente retornam mas com idéias estrangeiras e que fogem à realidade nacional. Via de regra utilizam-se dessas idéias por cinco anos e precisam retornar ao exterior para captar o que não captaram na primeira ida. E a história se repete. Os estrangeiros nunca fornecem todos os detalhes e conservam nossos cientistas dependentes de sua tecnologia. Por outro lado, aqueles que vão são extremamente prestigiados pois o CNPq somente valoriza quem publica no exterior; e estes que vão para o exterior têm todos os canais abertos para a publicação lá fora. Vivemos pois num ciclo vicioso a condenar a nossa ciência, a ciência genuinamente brasileira, à estagnação. Mas eu não tenho dúvidas de que isso, mais cedo ou mais tarde, irá acabar. E é por isso que eu me esforço por dialogar com a juventude que aparece aqui na Internet para discutir ciência. Precisamos mostrar a todos que existe uma ciência nacional e que esta ciência, se não está nas universidades, isto se deve muito mais a uma política universitária obsoleta, proposta na década de 40, do que ao baixo nível de nossa ciência.
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