Armando Rezende Neto
Integração I(1):52-3,1995
Pediram para que eu falasse sobre se a sociedade requer pesquisa em psicologia e eu passei muitas horas pensando nesse assunto: O que eu apresentaria? Nós temos observado que a resposta é positiva: Realmente a sociedade requer pesquisa em psicologia, mas isso vai muito também ao encontro de nossas ansiedades, à ansiedade de cada pesquisador, à ansiedade de cada professor para colaborar com a sociedade e poder auxiliar algumas questões que são observadas por estes mesmos professores, por estes mesmos pesquisadores. Então, se a sociedade requer pesquisa em psicologia, isso vai muito da curiosidade ou da necessidade pessoal de cada professor, de cada pesquisador, de acordo com os interesses que são observados nessa sociedade.
No curso de psicologia da USJT nós temos nos preocupado muito com as necessidades da sociedade, principalmente as necessidades da zona leste daqui de São Paulo. A professora Ghislaine, com uma equipe de professores, levantou o perfil da zona leste; isso foi feito através de um projeto, chamado projeto piloto, em que essa população pudesse ser caracterizada e, em função dessa caracterização, perceber quais seriam as necessidades dessa população, quais seriam os seus anseios básicos, os seus problemas mais importantes, as suas doenças; enfim, que pudessem estar sendo atendidas de uma forma mais característica em função dessas necessidades. E qual a importância disso?
A importância dessa pesquisa, a partir do levantamento de problemas de uma população específica e caracterizada, é da não importação, da não repetição de modelos de atendimento, pura e simplesmente. Além disso, nós temos observado que:
- A pesquisa na área de psicologia no Brasil, como um todo, é muito deficiente, isto é, produzida muito mais no exterior, em países do primeiro mundo, do que no Brasil;
- O Brasil fica num segundo plano, como um mero reprodutor de modelos de atendimento, de modelos de pesquisa, sem realmente checar as necessidades da população.
Será que esses modelos estão dando certo? Sob essa perspectiva a nossa preocupação aqui na São Judas é:
- verificar quais são as necessidades da população;
- observar se alguns modelos de atendimento têm realmente uma eficiência que não apenas a mera reaplicação desses modelos.
No trabalho que é realizado pelos alunos, do terceiro ano do Curso de Psicologia, de atendimentos à população, são observados resultados positivos. Em decorrência desse estudo nós apresentamos recentemente, no III Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental, o resultado do trabalho dos alunos realizado nos anos de 92 e 93. Foram atendidos, nesses dois anos, 49 pacientes, apresentando no final do atendimento 57% de alta. Este é um índice importante; se nós somarmos a esses 57%, 40% que foram encaminhados para atendimentos específicos ou psicoterapia (e por atendimento específico estou me referindo ou a um atendimento de fonoaudiologia, ou a um atendimento psiquiátrico), então esses resultados são significativos, indicando que a população realmente está sendo atendida. Por outro lado, estamos promovendo atendimentos de acordo com a necessidade dessa população; e, além disso, pesquisando se esse atendimento está sendo bem acompanhado, se ele apresenta resultados efetivos ou não. Então a pesquisa realmente pode ser feita e, voltando ao tema da Mesa Redonda, concluímos que a pesquisa pode ser realizada em universidade particular, sim, e mais: a pesquisa pode e deve ser realizada clinicamente. Assim sendo, nós transformamos o nosso Centro de Psicologia Aplicada num Centro de Pesquisas; acho ainda que o Centro de Psicologia Aplicada da USJT pode, a longo prazo, alcançar o "status" de um Centro de Excelência na produção de pesquisas. Para tal eu vejo não alguns impedimentos, mas algumas necessidades: seria importante que tanto alunos como professores pudessem ter mais tempo para se dedicar a essas pesquisas; se por um lado nós estamos produzindo, e a prova disso são os resultados que foram apresentados no III Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (e tiveram uma receptividade muito grande), por outro lado precisamos agora sentar e escrever esses dados, publicando toda essa produção que temos aqui no Centro de Psicologia Aplicada. Então teríamos condições de alcançar, a longo prazo, uma excelência na produção de conhecimento psicológico: clínico, organizacional e educacional, que são as áreas que são abordadas no Centro de Psicologia Aplicada.
Gostaria de aproveitar o momento para entregar os certificados do trabalho que foi apresentado no III Encontro, deixando bem claro, conforme os alunos e os professores já sabem, que isso não é novidade aqui na São Judas. Vários alunos já apresentaram trabalhos em outros congressos, vários professores já levaram trabalhos para congressos e simpósios nacionais e internacionais, mas aproveitando o momento, já que estamos falando em pesquisa na universidade particular, simbolizo essa produção de pesquisas através desses certificados. Quero agradecer à Universidade São Judas por ter auxiliado nas despesas para a apresentação desse trabalho. A Universidade São Judas sempre está apoiando seus professores para que os trabalhos possam ser apresentados e a nossa produção científica, dessa forma, tenha saída através de congressos e simpósios. Quero também enfatizar meu agradecimento à professora Ghislaine por estar sempre estimulando tanto os professores quanto os alunos. Então eu gostaria agora de entregar o Certificado, pela apresentação desse trabalho, primeiramente à professora Ghislaine, tendo em vista ser ela a mentora de toda a produção de pesquisa no Curso de Psicologia e, logo a seguir, aos alunos.
O trabalho apresentado nesse encontro foi o resultado da disciplina Estágio de Análise Experimental do Comportamento; para os alunos que não sabem é uma disciplina do terceiro ano. A coleta dos dados e o preparo dos prontuários dos clientes foi um trabalho também realizado pelos alunos. Então é preciso deixar bem claro que para realizar pesquisas em qualquer universidade é necessária a participação de todos os segmentos. É impossível de ser realizada apenas pela iniciativa da reitoria ou dos diretores, quando não se tenha um corpo docente correspondente, e quando o corpo discente não participe também. Seria importante ainda que houvesse a possibilidade de uma bolsa ou algum outro tipo de incentivo para que os alunos e os professores pudessem ser apoiados e motivados a continuar produzindo pesquisas. A minha vida profissional se iniciou já no segundo ano da faculdade; tive o privilégio de receber, durante 3 anos, bolsa de iniciação científica do CNPq. Então acho que o trabalho de formação de um pesquisador não deve ser atrelado única e exclusivamente à pós-graduação, porque nela a escolha final (ensino-pesquisa) já foi feita. O trabalho de uma pesquisa e a formação do pesquisador deveriam ser iniciados sim no curso de graduação, pois esse é o momento em que ele vai estar mais próximo de seus professores e de disciplinas que lhe darão suporte para a pesquisa futura. O fomento e o incentivo para a formação de um futuro profissional na área de pesquisa deveria ocorrer dentro do curso de graduação, pois aí podem ser lançadas algumas sementes.
Gostaria então de entregar o Certificado de apresentação aos alunos que também participaram desse trabalho.