Integração I(1):63-75,1995
Esclarecimentos:
Logo após a conclusão dos trabalhos de apresentação dos temas escolhidos pela Coordenação da IV Semana de Psicologia para que fossem apresentados em 30/9/94, e relacionados à pesquisa na universidade particular, os membros da mesa se dispuseram a responder a questionamentos vários, oriundos da platéia composta principalmente por alunos e professores do Curso de Psicologia da USJT. As perguntas, todas de alto nível, como o leitor terá oportunidade de constatar, foram formuladas por escrito e, em geral, endereçadas a um dentre os palestrantes. A coordenação do evento promoveu a triagem que julgou devida para as perguntas que surgiram sem destinatários. Durante ou imediatamente após as respostas, consultas e/ou apartes foram permitidos, tomando-se o cuidado de realizar-se a gravação do debate. Em virtude da escassez de tempo, optou-se por respostas diretas, conclusivas e objetivas. A esse respeito procurou-se, acima de tudo, corresponder à expectativa gerada pelo momento.
Numa etapa subsequente, e de posse das laudas datilografadas sobre o evento, preocupamo-nos em agrupar as perguntas por assuntos. Após algumas tentativas preliminares, chegamos à seguinte disposição: 1) Sobre a pesquisa e a realidade nacional; 2) Sobre o profissional e a pesquisa; 3) Sobre a integração ensino-pesquisa-extensão; 4) Sobre o financiamento da pesquisa e bolsas; 5) Sobre pesquisa e filosofia da ciência. Foi então que percebemos a abrangência que a temática suscitou, entre os participantes, em torno do assunto pesquisa, quase que esgotando, em linhas gerais, o que há de essencial com respeito ao tema. Percebemos também que, se explorássemos as perguntas sob um ponto de vista mais amplo, e com maiores detalhes, poderíamos dar corpo aos subtítulos acima apontados ou seja, mesmo sem esgotar os assuntos poderíamos, dentro de nossa visão, propiciar esclarecimentos, sugestões, críticas e ensaios sobre os problemas que afligem a coletividade universitária. Surgiu então a idéia de refazermos os debates, agora em ambiente fechado e com novas regras. Nosso propósito transmutou-se de uma simples curiosidade técnico-administrativa, ainda que firmada em princípios nobres, para organização de uma publicação que retratasse essa nossa experiência.
As novas regras, assim estabelecidas, procuraram se prestar a atender os novos objetivos concebidos dentro de uma perspectiva mais ampla, qual seja, a de atingir não mais uma platéia específica, mas sim o leitor interessado em pesquisa. As regras adotadas foram as seguintes:
- Observar, no que diz respeito à abertura de cada assunto, ou seja, à resposta inicial a cada pergunta, a escolha do interlocutor efetuada em plenário pelo autor da questão ou pela equipe responsável pela triagem.
- Conservar, dentro do possível, o enfoque inicial dado em plenário, possibilitando-se no entanto modificações das respostas visando a adequação à nova ordem das perguntas bem como, e sempre que necessário, a expansão do conteúdo das mesmas.
- Convidar os demais elementos responsáveis pelo CPA e pelo centro de pesquisa da USJT em fase de implantação, para que participassem do debate, tendo em vista que estes dois órgãos foram amplamente citados por ocasião da mesa redonda. Esta participação limitou-se a detalhes de ordem técnica e/ou de esclarecimentos julgados necessários e aprovados pelos componentes da mesa.
O resultado está exposto nas páginas que seguem e os participantes, identificados pelas iniciais de seus nomes, estão relacionados abaixo.
AASF: Anete A. Souza Farina
AMF: Alberto Mesquita Filho
ARN: Armando Rezende Neto
CW: Carla Witter
EFL: Edilson Fernandes Loureiro
GGS: Ghislaine Gliosce da Silva
KI: Kayoko Yamamoto
ODS: Oberdan Dias da Silva
PQD: Pedro Quezada Duarte
SOBRE A PESQUISA E A REALIDADE NACIONAL
Alberto Mesquita Filho, AMF
Armando Rezende Neto, ARN
Carla
Witter, CW
Oberdan Dias da Silva, ODS
Pedro Fernando Quezada Duarte, PQD
1) Quais os órgãos existentes, dentro e fora da Universidade, voltados para a produção de conhecimento científico?
AMF: Em termos de produção de conhecimentos, a Universidade São Judas Tadeu vive uma situação própria à sua jovialidade. Isto não constitui nenhum demérito, posto que a nossa insignificância científica é o produto de uma inexperiência que se traduz não a nível de ensino da ciência, mas sim a nível de administração de um setor que talvez seja o mais complexo jamais sonhado pelo homem. Associe-se a essa inexperiência um pouco da nossa ingenuidade em termos de política científica, acrescente-se uma pitada da nossa ignorância frente à importância do assunto, produto de nossa concepção temporã, conforme brilhantemente exposta, em sua palestra, pela professora Anete, e estaremos muito próximos de entender a nossa realidade. Demérito seria, sim, se estivéssemos satisfeitos com essa realidade, pois que então estaríamos totalmente alheios ao significado da palavra ciência, e totalmente avessos ao que quer que possamos considerar como postura científica. Que dizer da produção?
Mais do que responder a essa pergunta, eu gostaria, em primeiro lugar, de manifestar que essa vontade de evoluir, e exposta já tanto no termo de abertura, como no de encerramento da sessão de palestras desta mesa redonda, não é de hoje, nem tão pouco exprime a disposição solitária deste pró-reitor que vos fala. Inúmeras foram as tentativas aqui criadas por mentes ousadas, desde o nosso tempo de Faculdades Integradas. Frustradas, é verdade, mas que tiveram o dom de nos purificar, de nos engrandecer e de nos encorajar para que possamos vir a enfrentar sem temeridade todas as dificuldades, e não serão poucas, próprias de um país em que o governo ainda não se deu conta de sua maior riqueza: o potencial humano. Para que não me interpretem como eloqüente, porém sem conteúdo, citarei algumas poucas destas iniciativas, mesmo sabendo que vou magoar, pelo esquecimento, alguns dentre os muitos idealistas que nos acompanham e que têm contribuído significativamente para a superação desta etapa. Em dezembro de 1977, por iniciativa do nosso Chanceler, surgiu aqui a revista Faculdade. Num país em que raras são as revistas científicas que chegam ao número dois, a revista Faculdade chegou ao número sete ou oito, e sempre graças ao empenho de seu fundador que não se curvou frente aos que tentaram lhe convencer que nadava contra a correnteza. Em 1978 surgiu aqui na São Judas um projeto tão ousado quanto o que hoje estamos em vias de colocar em execução; e durante meses, talvez anos, alguns membros da direção ao lado de alguns professores, se deram ao luxo de sonhar com uma realidade que estava muito além das nossas disponibilidades. Este projeto ficou no papel, e hoje eu nem sei se existem resquícios ou testemunhos materiais desta iniciativa. Na década de oitenta, por iniciativa do professor Asdrubal do Nascimento Queiroz, materializou-se, através da FIESE, a nossa disposição em caminhar rumo à conquista do terceiro pilar a sustentar a Universidade: a extensão. A FIESE foi boa enquanto durou, mas hoje, se ainda está viva, isto ocorre muito mais por força da legislação, pois trata-se de uma fundação, do que pela ânsia em se manter sua chama acesa. Não é fácil nadar contra a correnteza sem morrer afogado. No seio da FIESE germinou o CEPEA, um centro de pesquisas multidisciplinares e que contou com o apoio de muitos professores, especialmente da área de Biologia, e de alguns alunos dos Cursos de Biologia e Engenharia Elétrica. O CEPEA também não vingou e por motivos vários, mas graças a essa iniciativa a FIESE adaptou-se a comportar um setor de pesquisas em áreas básicas, razão pela qual estamos hoje reestudando-a no sentido de adaptá-la a funcionar acoplada à USJT como um órgão a facilitar a integração ensino-pesquisa-extensão. Este é um desafio de natureza jurídico-administrativa, mas que de qualquer forma mostra que o sonho do professor Asdrubal não foi em vão. Todas estas idéias surgiram em momentos inapropriados, razão pela qual não vingaram. Mas é bom recordá-las para que se perceba que o espírito universitário, ainda que em forma latente, sempre esteve ao nosso lado. E aconteça o que acontecer com o nosso projeto atual, uma coisa é certa: nós estamos aprendendo a nadar contra a correnteza; e mais: nós estamos começando a identificar as razões e os agentes dos nossos insucessos; e estes agentes não são tão poderosos quanto no passado nos fizeram acreditar.
Respondendo agora à pergunta, eu gostaria de dizer, como espero já ter deixado claro, que nós estamos caminhando rumo à organização. E, até que tal se dê, os órgãos porventura existentes estarão esparsos, como é o caso do CPA. Aliás, e a bem da verdade, nem podíamos considerá-lo como órgão no sentido colocado pelo perguntador posto que, e como dizem os dicionários, órgão é a parte de um todo que goza de certa autonomia e desempenha uma ou mais funções especiais. Mas se, em termos de produção de conhecimento, não possuíamos este todo, o CPA não podia sequer ser considerado como um órgão, e sim como um apêndice estruturado em torno do setor da USJT responsável pelo ensino. Este assunto, aliás, foi colocado em pauta pela professora Carla em sua palestra quando, em poucas palavras sintetizou todo o nosso pensamento: é preciso definir algumas diretrizes e bases em termos de política e educação, não só a nível do país, como também a nível da própria instituição. Este é o nosso objetivo.
Completando a resposta eu gostaria de dizer que as demais universidades particulares, tendo em vista os contatos que temos promovido e a correspondência que estamos recebendo, estão enfrentando desafios semelhantes aos nossos e, dentro de suas respectivas vocações, têm-se mostrado dispostas a encontrar suas soluções. E como os problemas principais são comuns, creio que é chegada a hora de invocarmos o espírito universitário para que se promova a nossa união. Foi dentro desta expectativa que pensamos em organizar um Congresso Nacional das Universidades Particulares para que em seu primeiro encontro debata o tema A Pesquisa na universidade particular. Quanto às universidades públicas eu não tenho muito a dizer; ou quem sabe tenha tanto que me faltariam condições para expressá-las em poucas palavras. Quero apenas destacar que bem ou mal, organizadas ou não, elas estão desempenhando o seu papel no que diz respeito à produção de conhecimentos. Sei que elas enfrentam problemas tão complexos quanto os nossos, de conseqüências idênticas às dos nossos, porém de origens diversas. Se a universidade particular pretende se impor frente às universidades públicas, necessário se faz que ela evolua nessa direção. E o primeiro passo, a meu ver, nada mais é que o da união.
No tocante aos órgãos existentes fora das universidades, creio que o questionador se refere aos centros isolados de pesquisas. Estes são muitos, e nós ainda não os temos catalogados. Certamente já existe este rol, e muito em breve nós o teremos a disposição dos interessados. De qualquer forma é importante que se entenda a função e a importância destes centros isolados dentro da nossa realidade. Caso contrário poderíamos pensar que eles se constituem numa afronta ao princípio da integração ensino-pesquisa-extensão, ou então que representem organismos corporativistas, verdadeiros feudos a privilegiar determinados grupos de pesquisadores.
Integrar a pesquisa à extensão é uma forma de vinculá-la à realidade nacional, e como tal, cabe aos órgãos governamentais delimitar as diretrizes dessa integração, bem como fiscalizar o seu cumprimento. Não obstante, da mesma forma que o cientista deve ser livre para perseguir a sua vocação, como eu citei por ocasião dos comentários de encerramento da mesa redonda, a universidade também deve ser livre para se adequar a estas exigências segundo a sua carta de intenções. Isto é autonomia. Ora, existem áreas importantes para o desenvolvimento da nação cuja demanda de serviços, sejam eles de natureza assistencial, sejam de natureza da obtenção de "know-how", não podem ficar ao sabor da aleatoriedade ou da paixão do pesquisador por este ou aquele tema. Por outro lado, cabe ao político ter a sensibilidade para perceber quais são os anseios da população e, a esse respeito, onde o sistema universitário está permitindo a formação de lacunas, sejam elas de ordem assistencial, sejam elas de caráter estratégico para o desenvolvimento da nação. E uma das maneiras de sanar estas lacunas dá-se pela criação dos centros isolados de pesquisa e/ou extensão. Isto é governar dentro dos padrões rígidos do que podemos chamar democracia.
A esse respeito, e fugindo agora totalmente do questionamento, mas conservando a idéia de realidade nacional, eu pergunto: Quais são os nossos anseios? Do que é que nós realmente precisamos? Antes de criticarmos os nossos políticos, não seria o caso de nos questionarmos sobre: Será que nós estamos nos fazendo ouvir? Nós sabemos que eles querem o nosso voto, mas... Eles sabem o que nós queremos? De nada adianta passar o Brasil a limpo se o nosso rascunho nada mais é que uma folha em branco. De nada adianta se saber votar e após as eleições não se saber pedir. Os políticos atendem aos que pedem, mas o que se pede? Um emprego? Uma esmola? Uma ponte? Uma bolsa de estudos? Pois que se aprenda a pedir coisas melhores, antes que digam que nós temos o que merecemos: um emprego, uma esmola, uma ponte, uma bolsa de estudos, e quase nada mais. Chega de ideologia barata. Ideologia não se segue. O que se segue são os princípios, e estes fazem parte de nossa cultura milenar, quando não estão por aí para serem descobertos. O que se segue chama-se filosofia: o amor pela sabedoria, a procura pelo saber. Ideologia se cria, ideologia se testa e ideologia se derruba. Mas a filosofia permanece, acolhe as novas ideologias, e o homem evolui.
2) Sobre os Centros de Excelência, como está a organização deste local nesta Universidade?
CW: Nós falamos em centro de excelência, durante as palestras, mas é possível que alguns de vocês não saibam do que se trata, então eu vou aproveitar a oportunidade para esclarecer. Vamos admitir que eu fizesse uma proposta, digamos na área escolar, de trabalhar com a leitura, e para tanto eu contratasse professores, docentes, pesquisadores, só para trabalhar com a leitura e orientados no sentido de evoluir, por exemplo, para um centro de excelência em leitura. Este centro trabalharia tanto na prevenção contra o analfabetismo, com crianças em condições de serem alfabetizadas, quanto com problemas que poderiam ocorrer com o nosso estudante universitário como, por exemplo, com aqueles que chegam na universidade defasados, entre outras coisas, em termos de saber ler textos científicos. Para a montagem deste centro de excelência seria necessário o preenchimento de uma série de requisitos, como por exemplo, a contratação de docentes com doutorado e pós-doutorado, docentes que entendam realmente desta área e que sejam especialistas nesta área; ou seja, pessoas que existem e que sejam "experts" no assunto. Em resumo, deve-se escolher uma área de estudo e montar o que há de melhor. Estes centros de excelência existem no exterior. Lá eles têm universidades especializadas, por exemplo, na área de leitura, outras na área de Psicologia Clínica Freudiana, outras na área de treinamento de professores, outras na área de memória, e assim por diante. Então, conforme a sua opção como aluno, você se dirige para esta ou para aquela universidade, e é este grau de liberdade que falta em nosso país. Nós não temos ainda universidades com esse tipo de preocupação. Montar um centro de excelência em leitura, e aqui na São Judas, seria então adaptar a universidade para que ela pudesse atender àqueles que, por exemplo, pretendem saber bastante sobre leitura e escrita. Espero ter sido clara. Eu não sei como está a problemática a respeito em outras áreas, mas em Psicologia, conquanto nós façamos pesquisas, nós não nos constituímos num centro de excelência. Falta muito para que cheguemos a tal, e pelo que eu sei das outras universidades, elas também não têm essa visão do que seria um centro de excelência. Falta-nos massa crítica, ou seja, profissionais gabaritados, e que infelizmente estão sendo formados apenas na pós-graduação. E é por isso que é importante reafirmar as palavras do professor Armando, ou seja, a formação desses pesquisadores deve começar já na graduação. Quanto à questão de como está a organização deste local aqui na São Judas, eu acho que quem poderia responder melhor é o professor Alberto Mesquita.
AMF: Eu tenho a impressão de que a professora Carla respondeu a pergunta a contento, mas eu vou aproveitar a oportunidade para expor um dos aspectos relacionados ao nosso plano de desenvolvimento do setor e que talvez, num futuro ainda imprevisível e creio que longínquo, possa nos induzir à criação de centros de excelência aqui na USJT. De qualquer forma eu quero deixar claro que se tal acontecer, muito provavelmente isto se dará como uma evolução natural dentro da nossa organização, e não como algo previamente planejado. Nada está, nesse sentido, sendo discutido pela equipe de planejamento e por um motivo muito simples: Não pretendemos estabelecer privilégios de tal vulto antes de conhecermos todo o nosso potencial humano. Por outro lado, o horizonte que se nos apresenta é muito extenso e o nosso projeto é muito grande mas, e exatamente por isso, nós optamos por começar dando passos muito pequenos e em várias direções. De qualquer forma existe uma perspectiva e eu vou fazer aqui um ligeiro esboço das nossas intenções para que entendam que há um jeitinho brasileiro de se atingir a perfeição sem que para tal seja necessário se apelar para saltos quânticos.
Em primeiro lugar eu vou tentar definir qual será a unidade básica de nossa estrutura. Muito provavelmente o nosso centro de pesquisas será nada mais, nada menos, do que a reunião de células a que chamarei de grupos. Estes grupos serão constituídos por pesquisadores e/ou pessoas que se proponham a evoluir para tal. Por si sós, os grupos não têm orientadores, embora possam ter líderes ocasionais e/ou pessoas com maior ou menor conhecimento que as demais em determinadas áreas de interesse para o todo. Existirão fundamentalmente três tipos de grupos: de Estudo, de Pesquisa e de Difusão, conforme os seus membros se proponham a agir como estudiosos de um determinado assunto, como pesquisadores, ou como difusores do conhecimento adquirido em etapa anterior. Os grupos serão dinâmicos, e passíveis de se transformar de um tipo em outro. Não existe ordem hierárquica definida entre os grupos, ou seja, os três tipos são igualmente importantes para o centro como um todo. Não obstante, por questão de estratégia, provavelmente iremos começar o centro dando ênfase especial à criação do Setor de Grupos de Estudos. Para que compreendam a complexidade do sistema, em nosso planejamento estão previstos cinco ou seis tipos diferentes de Grupos de Estudos.
Alguns destes grupos, sejam eles de Estudo, de Pesquisa ou de Difusão, especializar-se-ão de forma a manter a estrutura do todo, evoluindo no sentido de, por exemplo, virem a se transformar em grupos de babás de cientistas, ou então grupos de orientadores gerais, ou ainda, grupos de orientadores específicos. Outros evoluirão no sentido de se desprenderem do centro, como por exemplo um Grupo de Difusão que tenha por objetivo a constituição de uma empresa de prestação de serviços. Outros ainda poderão evoluir no sentido de virem a se constituir em centros de excelência, seja por um mecanismo de reprodução do mesmo, seja pela fusão com outros, multiplicando-se assim em complexidade e deixando de ser uma célula para se constituir num órgão autônomo, conquanto pertencente ao centro de pesquisas.
Em síntese, apresentei a idéia geral, procurando não me aprofundar nos detalhes. É bom dizer que nesta fase inicial pretendemos importar o mínimo e formar o máximo possível, dentro do que estiver ao nosso alcance. E o que está ao nosso alcance é o setor de ensino da USJT, pois que este, no momento, é o único setor da USJT financeiramente auto-suficiente. Com a expansão do setor de pesquisas, poderemos pensar em nossa auto-suficiência e a partir daí importar pesquisadores ou, melhor ainda, propiciar condições para que os membros dos nossos grupos possam se especializar em outros centros mais desenvolvidos que o nosso. De qualquer forma, um aspecto que tem norteado nossas discussões de planejamento é a idéia de que o Brasil não precisa apenas de pesquisadores: O Brasil precisa de pesquisadores criativos. Ora, criatividade se adquire pelo exercício, e quanto mais cedo se exercitar, melhor, e portanto eu também concordo com as palavras do professor Armando. Outro aspecto é o da integração com o ensino e a extensão. Com efeito, somos parte de um todo estruturado em departamentos e cursos, e a integração somente se efetivará se os departamentos e as coordenadorias de cursos compuserem as bases sobre as quais deverá se assentar nossa estrutura. Entendam que não é nossa intenção administrar a pesquisa e sim propiciar os meios para que se formem pesquisadores na USJT e para que estes se sintam num ambiente onde possam se mostrar úteis para a universidade, para a comunidade e para o país.
3) Há possibilidade de abrir as reuniões sobre a formação do centro de pesquisa para os elementos da comunidade docente e discente interessados na viabilização deste centro? Para as tomadas de decisões talvez surjam idéias que possam contribuir para agilizar o processo.
AMF: As reuniões referidas, como eu já disse, vêm sendo efetuadas desde março deste ano e quase que diariamente, razão pela qual parece-me que está sendo aqui proposta a constituição de uma assembléia geral permanente. Para alguns, isto é democracia; para mim trata-se do que poderia ser chamado assembleísmo ingênuo, por razões que espero deixar claras a seguir.
Ao contrário do suposto pelo autor da pergunta, a equipe nomeada pelo Conselho Superior de Administração da USJT não é deliberativa. Em suas reuniões, especialistas do assunto em pauta analisam a viabilidade da execução de determinadas tarefas e, em caso positivo, elaboram anteprojetos em que se expõe a melhor maneira, na opinião do grupo, de se concretizarem os objetivos visados. Freqüentemente consultam especialistas em outras áreas, e com maior freqüência realizam sondagens junto às populações pretensamente interessadas nos vários aspectos atinentes ao processo de criação do centro de pesquisas. Estes anteprojetos são convertidos em projetos pelo pró-reitor comunitário e, se pertinentes, são levados a apreciação pelas várias assembléias legalmente constituídas, ou seja, em restrita obediência à legislação em vigor.
Nesta fase de tomada de posições, muito mais pela vontade de acertar do que pela preocupação demagógica de consulta às bases, a pró-reitoria comunitária vem realizando reuniões com os setores vários da Universidade afetos ao tema pesquisa. E eu me sinto bastante à vontade ao expor a minha opinião a respeito, posto que esta pergunta surgiu nada mais, nada menos, que em uma reunião estrategicamente preparada pela coordenadoria do Curso de Psicologia, por solicitação da pró-reitoria comunitária, para que os alunos pudessem, sem abandonar a sua condição de aprendizes, participar de um fórum de debates de altíssimo nível, a ponto de nos encorajar a transformar em um livro o que aqui aprendemos, não apenas das palestras de eminentes professores, mas também dos questionamentos efetuados por não menos brilhantes alunos. Quanto às demais reuniões, atas têm sido lavradas e estão à disposição dos interessados em consultá-las.
O questionador preocupa-se ainda com a agilização do processo, preocupação da qual compartilho. Não obstante, pesam-me as tentativas frustradas referidas na resposta à pergunta nº 1 e que me induzem a agir com cautela, a analisar com profundidade as diversas etapas a serem vencidas, e a não permitir a proliferação exagerada das partes sem que se tenha uma visão geral do todo. A esse respeito, e é bom que se diga, nossa evolução é parte de um processo muito mais geral. Não estamos aqui para construir mais uma casa ou mais um viaduto para a cidade de São Paulo, mas sim para preparar aqueles que vão se defrontar com a tarefa de projetar o Brasil Século XXI. E é urgente, sim, que iniciemos este processo, para que no futuro o povo se dê conta de que casas foram feitas para dormir e viadutos para trafegar.
Assembleísmo ingênuo, meus caros, é o produto de uma política ultrapassada em que o homem, crente que exercia a democracia, cercou-se de paradigmas centralizados no conceito de capital. Com bases nestes paradigmas criaram-se ideologias desprovidas dos princípios humanitários e o mundo polarizou-se em direita e esquerda. Para os adeptos da direita, quem tem dinheiro tem poder; para os adeptos da esquerda, quem tem poder tem dinheiro. E quem nada tem? Quem nada tem, tem o direito de se expressar através do voto e/ou das consultas às bases. E é por isso que eu digo: É chegada a hora de o povo aprender a pedir. Consulta às bases ocorre de cima para baixo, e o que eu proponho é uma politização de baixo para cima. Em outras palavras, eu estou propondo uma revolução branca. Nada de fechar o Congresso. Que o povo exija que o Congresso se abra, mas acima de tudo, que o povo faça os congressistas saberem quais são os seus anseios, pois só assim eles trabalharão em benefício do povo. No mundo atual não existe mais espaço para a polarização preconizada no passado. Esquerda e direita estão se esfacelando a olhos vistos, e o mundo está se repolarizando. Ou nós ficamos em cima, ou nós ficamos em baixo, e a opção é nossa. No que diz respeito ao centro de pesquisas eu espero que aqueles realmente interessados na arte de pesquisar, encontrem aí um ambiente o mais democrático possível.
4) O aluno, quando chega na universidade, geralmente não tem em sua formação escolar anterior o contato com a relação teoria e prática, advindo como conseqüência o desinteresse pela pesquisa. Por que não ampliar o interesse à pesquisa no ensino fundamental e médio, para que futuramente tenhamos no Brasil essa tradição?
ARN: Eu tenho a impressão de que algumas iniciativas já vêm sendo tomadas pelo governo nesse sentido, como por exemplo a criação de feiras de ciências e outros projetos, que inclusive têm sido anunciados na televisão, como a iniciativa "ciência no ensino médio". Mas, de qualquer forma, esta é uma questão interessante e, ao que parece, está sendo pesquisada dentro do Curso de Psicologia. Os alunos que são supervisionados pela professora Carla, aqui do Curso de Psicologia, talvez pudessem levantar essa questão dentro das escolas que têm visitado. Qual é a produção científica, ou quais são os objetivos de pesquisas dentro das escolas que são acompanhadas por vocês alunos de Psicologia dentro da disciplina da professora Carla? Eu acho que seria uma questão interessante para pesquisa a ser levantada por vocês.
PQD: Em complemento à resposta do professor Armando eu posso adiantar, como membro do Centro de Pesquisas recém constituído que, no sentido de despertar o espírito científico dos alunos de nível médio, há um projeto importante levantado pelo Conselho do Centro. Trata-se da realização de uma feira de ciências concomitante ao Congresso Nacional das Universidades Particulares, semelhante às semanas especializadas sediadas aqui no saguão da Universidade, porém planejadas e executadas por alunos dos colégios de segundo grau da zona leste. Tal feira teria por objetivo divulgar trabalhos de alunos e despertar o interesse pela pesquisa entre seus participantes. Esta idéia surgiu, ainda que de forma rápida e superficial, por ocasião do ciclo de reuniões da Pró-Reitoria Comunitária com os demais setores da Universidade, ou seja, diretorias, coordenadorias e departamentos. Não seria o momento de pensarmos mais seriamente nesta proposta?
ODS: Realmente consideramos essas idéias como sendo de grande importância, tanto é que já fazem parte das metas do Centro de Pesquisas. No momento estamos empenhados ainda na estruturação do centro como um todo, organizando as partes administrativa, técnico-científica e também normativa, de forma que, ao iniciarmos o trabalho tenhamos todo o suporte necessário para prosseguir sem problemas ou solução de continuidade.
Dentre as metas do Centro de Pesquisas está a realização do Congresso de Universidades Particulares, a ser realizado provavelmente em 1996. Esse congresso terá por objetivo, inicialmente, discutir sobre a importância e a problemática da pesquisa na universidade particular, bem como proporcionar condições para a união entre elas, no que diz respeito a essa área. Queremos, a partir desse congresso, criar condições para a formação de uma Associação Nacional das Universidades Particulares para fins de pesquisa. Essa associação virá a fortalecer, indubitavelmente, a nível nacional, as universidades particulares na consecução de seus objetivos de pesquisa e produção de conhecimentos.
Todavia, para que possamos conduzir e realizar esse congresso aqui na Universidade São Judas Tadeu, precisamos de um preparo anterior que nos dê condições para tal. Esse preparo virá agora em 1995, pois estaremos realizando, no segundo semestre, um simpósio interno, aqui na Universidade, envolvendo as coordenadorias, departamentos e docentes de todas as áreas. O simpósio também nos permitirá promover uma seleção de conferencistas e temas ligados a área de pesquisa, a fim de participarem do congresso representando nossa Universidade. Nesses dois eventos pretendemos inserir, também, a participação ativa dos alunos da São Judas, talvez em um simpósio e um congresso dos próprios alunos. Além disso, estaremos estudando a viabilidade de, durante o congresso, realizarmos, aqui na Universidade, uma Feira de Ciências e um Congresso de Jovens da Zona Leste, congregando alunos do segundo grau das escolas mais próximas. Buscando a participação e a integração dessas escolas no evento estaremos estimulando a idéia e atividades relacionadas a pesquisa em nossa comunidade. Para a consecução destas metas, evidentemente, vamos precisar contar com a colaboração dos professores e alunos de todas as áreas, visto o caráter multidisciplinar dos eventos.
AMF: Eu estou de pleno acordo com tudo o que foi comentado, mas gostaria de inverter o questionamento. Será que as universidades brasileiras estão preparadas para receber jovens com o ideal imaginado pelo autor da pergunta? Levanto este problema baseado em minha experiência pessoal como estudante universitário e, diga-se de passagem, ocorrida por ocasião dos anos dourados, ou seja, dos anos que precederam a chamada crise educacional brasileira da atualidade. Precisamos sim, despertar a criatividade em nossos jovens, mas esta iniciativa não pode e não deve se restringir a um mero incentivo. Amanhã estes jovens aqui estarão repletos de expectativas, de esperanças, de idéias revolucionárias e caberá a nós propiciar os meios para que estes sonhos possam se transformar em realidades. Não foi por outro motivo que transformamos em um dos objetivos do Centro de Pesquisas as palavras de Cristiane Neder, aluna do curso de Comunicação da USJT: alimentar os sonhos dos jovens e semear os seus desejos, sem arrancar o medo e a inquietude que fazem a dúvida desafiar a razão em busca do conhecimento.
SOBRE O PROFISSIONAL E A PESQUISA
Carla Witter, CW
Kayoko Yamamoto, KI
5) A não aplicabilidade da produção científica prática profissional também pode ser uma questão para uma pesquisa? Por que será que não existe essa aplicabilidade? Pode-se pensar numa função política, enquanto manutenção da repetição de conhecimentos importados?
KI: Sim, penso que é um ótimo tema para pesquisa. Não sabemos por que tantos e tão importantes trabalhos e que foram realizados com empenho e dedicação, permanecem esquecidos e pouco utilizados. A pesquisa poderá esclarecer os motivos de tal situação, a fim de que ela possa ser modificada. Enquanto isso, podemos conjecturar algumas explicações. Quem sabe, talvez, falte aos profissionais o hábito de buscarem, em pesquisas existentes, as respostas para as dúvidas e as dificuldades que encontram em suas atividades. Ou as pesquisas ainda não são devidamente reconhecidas e valorizadas como importantes recursos para obtenção de conhecimentos.
6) A tecnologia de ponta vai substituir o Psicólogo?
CW: Quando eu falei sobre tecnologia de ponta, espero ter deixado claro que existem, em nosso país, áreas que têm tecnologia de ponta. Realmente existem, como é o caso da área de engenharia. Que eu tenha conhecimento, existe no Rio, em termos de engenharia, mecanismos desenvolvidos para segurar pedras para que não caiam nas favelas, etc. Esta é uma tecnologia de ponta e o nosso país é chamado ao exterior para resolver problemas nesse sentido. Então tecnologia de ponta é isso, é você desenvolver uma determinada especialidade. Existem aqui no Brasil áreas em que o número de pesquisas realizadas é tão grande a ponto de quase se poder dizer que estamos desenvolvendo tecnologia de ponta nestas áreas. Um exemplo é o estudo da memória; neste setor muitas pesquisas vêm sendo aqui realizadas. Façamos o seguinte questionamento: Em que a retirada de um pedacinho do cérebro de uma pessoa alteraria a sua memória? Na USP, a nível de Psicologia Experimental, existe um pessoal estudando este assunto com animais: Faz-se uma incisão, retira-se um pequeno pedaço do cérebro e observa-se a alteração do animal para investigar se ele perdeu o aprendizado que teve. Como vêem, existem áreas com grande desenvolvimento, enquanto que em outras tal não acontece. Acho também que é fundamental que se pare e se pense sobre o que o professor Alberto Mesquita pontuou em relação à AIDS. Não adianta nós querermos nos desenvolver numa área, ter uma tecnologia super aperfeiçoada por exemplo na área da memória, enquanto nossas crianças, por exemplo, estão morrendo de fome, ou então não sabem nem escrever. Eu acho que existem outras prioridades, e deveríamos investir muito mais dinheiro em educação do que em outras áreas. A nossa Psicologia, a própria memória, estão sendo muito estudadas e pesquisadas, mas... Até que ponto isso está trazendo benefícios para a nossa sociedade?
Espero ter respondido a questão com os exemplos dados, mas para os que não perceberam, eu quero dizer que a tecnologia de ponta não vai substituir o psicólogo, podem ter certeza, pois somos nós, os psicólogos, ou nós profissionais, cientistas, pesquisadores, que fazemos essa tecnologia.
SOBRE A INTEGRAÇÃO
ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO
Alberto Mesquita Filho, AMF
Anete A. Souza Farina, AASF
Edilson Fernandes Loureiro, EFL
Kayoko Yamamoto, KI
7) Quais os passos que um aluno de 1º ano deve dar para participar do projeto da São Judas?
AMF: O aluno de 1º ano, digamos no mês de março, acabou de enfrentar um vestibular e ingressou num sistema de aprendizado bem mais complexo que aqueles aos quais ele estava acostumado até então. Com um setor de ensino funcionando bem e podendo contar com um setor de pesquisas razoavelmente organizado, e mais, se as coordenadorias, os departamentos e os professores estiverem entrosados entre si e com a universidade como um todo, o aluno em pouco tempo, queira ou não queira, estará sendo preparado para a sua jornada rumo à conquista da sua condição de universitário. E o que isto significa? Significa que ele deixou de ser um simples receptáculo questionador de conhecimentos transmitidos para se transformar num agente cada vez mais ativo de uma comunidade que tem também por missão a produção de conhecimentos. Creio, pelo que aqui tenho sentido, que o Curso de Psicologia, por si só, graças talvez ao CPA, esteja propiciando esta iniciação científica acoplada ao ensino.
O centro de pesquisa que estamos criando certamente vai trabalhar lado a lado com o CPA. Portanto, no que diz respeito ao Curso de Psicologia, os primeiros passos, via de regra, deverão ser dados no CPA. Nos cursos nos quais não existe algo equivalente o aluno deverá permanecer atento às informações a serem veiculadas nos vários órgãos competentes — murais, periódicos internos, etc., — bem como se reportar aos professores quanto aos seus anseios, ou ainda às autoridades ligadas aos órgãos imediatos em termos de ensino-pesquisa-extensão, quais sejam, os departamentos e coordenadorias. É sempre bom ter em mente que durante todo o ano de 1995 o centro de pesquisas estará funcionando em condições organizacionais de emergência, e portanto sujeitas a mudanças ocasionais.
EFL: Da maneira como o relacionamento centro de pesquisa e CPA foi colocado parece-me estar havendo uma duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes. O CPA não seria um setor autônomo porém pertencente ao centro de pesquisa? Eu não estou conseguindo enxergar essa necessidade aparente de se realizar um acoplamento de coisas que me parecem indissociáveis.
AMF: Em parte você está certo e durante essa fase em que a USJT está se desenvolvendo do ponto de vista organizacional, talvez seja interessante manter os dois num bloco único. No entanto eu vejo o CPA como algo mais que um simples setor de um centro de pesquisas multidisciplinar, e vou tentar descrever esta visão.
O Curso de Psicologia, como tal, está inserido no setor de ensino da USJT e tem como função primordial a formação de bacharéis em Psicologia. Ora, o bacharel em Psicologia, a exemplo do médico ou do advogado, é um profissional que trabalha em contato direto com os elementos da comunidade que necessitam de seus préstimos; em outras palavras, é um profissional autônomo. Esta autonomia exige um aprendizado prático, tarefa a ser cumprida pelo estudante enquanto tal; e esta prática deve ser adquirida junto ao campo de ação, ou seja, junto à comunidade, ainda que de forma assistida por profissionais competentes não só do ponto de vista da especialidade quanto do ponto de vista educacional. O médico, por exemplo, adquire esta experiência através de aulas práticas, realizadas concomitantemente ao curso teórico, e de um ou dois anos de estágio, chamado internato; e tanto as aulas quanto o internato são realizados em hospitais-escola. O hospital-escola, conquanto se preste a complementar o ensino, bem como à realização de pesquisas clínicas, não é um órgão nem do setor de ensino, nem do setor de pesquisas, e sim do setor de extensão universitária. E isto porque sua atividade principal é o atendimento à comunidade.
O CPA, ou Centro de Psicologia Aplicada da USJT, parece-me ter as características de um órgão que foi concebido para propiciar este ensino prático ao Psicólogo e muito provavelmente para evoluir no sentido de se caracterizar como um órgão de extensão. Secundariamente, vejo também uma possibilidade de setorização do CPA, o que lhe daria uma característica mista, extensão-pesquisa, posto que além da tendência ao desenvolvimento de pesquisas clínicas, parece haver uma predisposição para a evolução conjunta de um setor de pesquisa básica, como por exemplo, na área de Psicologia Experimental. De qualquer forma o CPA parece estar imbuído do espírito integracionista ensino-pesquisa-extensão e isto, se por um lado é bom, por outro merece um estudo muito cuidadoso no que diz respeito à política universitária. Este é um dos motivos pelos quais eu disse, ao responder a pergunta nº1, que a nível político-administrativo esta problemática revela-se como uma das mais complexas jamais sonhadas pelo homem. Como vêem, integrar o ensino à pesquisa e à extensão nada mais é que solucionar problemas desse tipo de maneira a manter a unidade universitária. É um trabalho que exige a perspicácia do maestro, a astúcia do político, o desprendimento do sonhador e a paixão inerente ao educador.
8) Será que os alunos de 4º ano terão acesso ao centro de pesquisas no ano que vem (1995)? Ou se não, poder-se-ia atingir este objetivo através de algum tipo de mobilização?
AMF: A princípio os alunos que estiverem freqüentando os últimos anos de quaisquer dos cursos usufruirão dos mesmos direitos que os demais. Não existe nenhum preconceito a esse respeito, como também não estamos programando no momento nenhum privilégio a título de despedida. É nossa intenção no início do ano letivo de 1995, ou quem sabe durante o transcorrer do 1º semestre, abrir duas frentes de participação para os alunos: uma através da inauguração do Setor de Grupos de Estudo e outra através da implantação do regime de iniciação científica, ambas a serem aprovadas pelo CEPE. Apesar disso, e como eu já disse, o nosso projeto é muito grande e nós pretendemos começar muito pequenos. Estas duas frentes serão implantadas em caráter experimental, e com vagas limitadas não só pelo espaço disponível como também pela nossa capacidade em propiciar uma orientação adequada aos anseios dos alunos. Os critérios de escolha certamente não serão aleatórios e provavelmente também não premiarão única e exclusivamente os que chegarem primeiro.
Resumindo, 1995 será para nós um ano experimental no qual nossa maior pesquisa, ou melhor dizendo, nossa frente principal de pesquisas será aquela que terá por objetivo a implantação efetiva e o desenvolvimento do centro de pesquisas. No mais, trabalharemos com amostras pequenas. Se estas satisfizerem a todos, ótimo, pelo menos por enquanto. Se não, paciência, tentaremos evoluir nesta direção.
Aliás, eu gostaria de fugir da pergunta e aproveitar o tema para comentar algo que de uns tempos para cá vem me incomodando profundamente, posto que traduz uma idéia corporativista que vem se instalando subrepticiamente nos meios universitários. No tempo em que eu dava aulas no Curso de Biologia da USJT, até 1989, eu costumava dizer aos meus alunos que se 1 a 2% dos universitários brasileiros se preocupassem em seguir uma carreira universitária voltada à pesquisa básica, ou mesmo à pesquisa aplicada, desde que sob vocação integral, em pouco tempo resolver-se-iam todos os graves problemas do país. O que é que eu queria dizer com isso? Ora, um Curso de Medicina, por exemplo, tem por finalidade formar profissionais em medicina, ou seja, médicos destinados a trabalhar em consultórios e/ou hospitais. Esse médico obviamente tem que ter uma formação voltada para a pesquisa e tem que ser um pesquisador, posto que ele vai se defrontar com situações que exigirão esta aptidão. Neste mesmo Curso de Medicina, no entanto, formam-se também aqueles que vão optar pela carreira de pesquisador, e estes é que têm por função primordial fazer com que a medicina evolua, o que em hipótese alguma exclui deste processo a participação dos profissionais da medicina. Até aí acredito que todos acompanharam meu raciocínio sem estranhezas.
Vejamos agora a realidade nacional a respeito. Comenta-se por aí que tomando-se por base o nosso produto nacional bruto (PNB), bem como índices de países do primeiro mundo, o Brasil precisa de aproximadamente 55 mil cientistas. Admitindo que existem no país cerca de 50 mil cientistas, certos grupos corporativistas começaram a se mobilizar no sentido de desincentivar propostas como a nossa. Nosso déficit científico é mínimo, na opinião destes grupos, e conseqüentemente a nossa proposta trará problemas insanáveis ao país, qual seja, a formação de inúteis desempregados. Ledo engano. Alguns especialistas no assunto afirmam que dos 50 mil cientistas considerados como tais, apenas 200 são produtivos; outros, menos pessimistas, chegam a nivelar esse número ao de funcionários do CNPq. Eu quero crer que com um pouco de boa vontade possamos elevar este número a algo entre 3 e 5 mil. O que isto significa? Significa que, a serem verdadeiros os dados apontados, precisaríamos formar urgentemente cerca de 50 mil cientistas de alto nível, ou seja, pelo menos dez vezes mais o número que possuímos na atualidade. Esta é a nossa realidade e, para superá-la, não podemos ficar à mercê do paternalismo de estado; e muito menos ao sabor de entidades corporativistas que, desfraldando a bandeira da abolição da competitividade, pretendem instaurar no país a república da mediocridade.
Como eu já disse, o brasileiro precisa aprender a pedir. Precisamos pedir coisas grandes e que beneficiem a coletividade. E já que o aluno que efetuou esta pergunta se mostrou disposto a se mobilizar em prol da ciência pátria, aí está um tema que merece uma batalha. Una-se a nós.
9) Eu gostaria de poder trabalhar em pesquisas de testes projetivos. Qual a área que devo seguir no quinto ano para poder concretizar meus objetivos? Quais os locais que desenvolvem esses trabalhos?
K.Y.: Como a pessoa que fez a pergunta quer trabalhar com testes projetivos, no quinto ano ela deve, naturalmente, escolher para estágio o núcleo de psicodinâmica. E para desenvolver pesquisas com esses testes, deve procurar, aqui, em São Paulo, a Sociedade de Rorschach, ou ainda os cursos de pós graduação em Psicologia na Universidade de São Paulo, na Pontifícia Universidade Católica, no Instituto Metodista de Ensino Superior, entre outros.
10) Os temas do projeto da São Judas são livres ou deveriam estar relacionados à pesquisa na universidade particular?
AMF: A pesquisa na universidade particular foi o tema da Mesa Redonda que apresentamos por ocasião da IV Semana de Psicologia, será o tema de um Simpósio a ser realizado no ano que vem (1995), e também o de um Congresso reunindo Universidades Particulares e que estamos dispostos a propor para que ocorra aqui, na USJT, em 1996. Trata-se de um tema geral ou, por assim dizer, o tema central do Simpósio ou do Congresso. Não obstante os dois eventos serão multidisciplinares e, a exemplo do que ocorre no Congresso da SBPC, que também tem um tema central e chamativo, e variável de ano para ano, qualquer trabalho relativo a qualquer área do conhecimento poderá ser apresentado em sessões apropriadas.
11) Como é que fica o aluno desinteressado que é chamado pelo professor a desenvolver um projeto de pesquisa?
AASF: A pergunta é interessante. Suponho que pretenda identificar a postura adequada do professor, diante da falta de envolvimento de alguns membros de sua equipe.
Sempre que se trabalha com alunos, é óbvio que alguns não atingem, por fatores diversos, os objetivos traçados pela instituição de ensino. Esse problema é vivido em todos os níveis de formação. Quando da formação superior, essa dificuldade deveria estar extinta.
Todas as áreas do saber exigem dedicação e habilidades especiais. Somente o desejo pessoal é que permitirá assumir o empenho necessário para a realização. Neste caso, eu acho que o aluno não estaria suficientemente mobilizado, internamente, para busca do conhecimento.
A identificação dos fatores que imobilizam a prática permitirá uma outra escolha, a qual só poderá ser um processo individual, singular e possivelmente partilhada com grupos de interesses idênticos. Ou seja, o aluno será esclarecido da possibilidade de nova escolha e levado a buscar a identificação do seu desejo de atuar ou não na área de pesquisa. Respondendo a essa questão; -- Como fica o aluno desinteressado...? -- Eu, particularmente, diria que nem existe esse aluno, mas caso houvesse eu considero que a orientação para sua auto-percepção seria fundamental. Afinal, ser responsável por si é condição básica para ser responsável pelo outro. A escolha profissional é uma escolha de vida. Levá-lo a questionar -- O que eu quero para minha vida? -- É auxiliá-lo a repensar a própria escolha. Sempre deverá ser uma atitude responsável, como outras, a própria opção. Aproveitarmos a possibilidade da decisão de nossas vidas é o que nos diferencia dos animais; sermos conscientes de nós, dos outros e das leis.
Enfim, não adianta a paixão de um professor, dos colegas ou até do apoio da universidade, se os alunos não utilizarem do melhor que a natureza nos proveu: A CONSCIÊNCIA. Os alunos não são ressarcidos em notas por seus desempenhos em pesquisa, mas, sim, enriquecidos pelo crescimento profissional e pessoal que a leitura científica pode proporcionar. Se isso estiver fora do alcance dos alunos, nós, professores e universidade, deveremos auxiliá-los a buscar uma forma de redescobrir sua opção de vida. Afinal, existem infinitas formas de nos tornarmos úteis para a sociedade e para nós mesmos. Novamente evoco o resgate da paixão como sendo a única forma de movimentar construtivamente o saber.
Nas palavras de Fromm, em seu livro Análise da Destrutividade Humana, -- "O homem impedido de criar, destruirá", -- para o autor o nada significa a imobilidade comparada à da morte. Isso é inconcebível durante a vida. Eu suponho que todos prefiram criar e viver em harmonia consigo e com a sociedade.
SOBRE O FINANCIAMENTO DA PESQUISA E BOLSAS
Alberto Mesquita Filho, AMF
Armando Rezende Neto, ARN
Carla Witter, CW
Edilson Fernandes Loureiro, EFL
12) Qual a disponibilidade financeira da USJT em ajudar o aluno cientista em investir mais em pesquisa e divulgá-la em condições de se conseguir bolsa através da USJT?
AMF: A pergunta é muito abrangente e merece uma resposta cautelosa, posto que esbarra na aceitação ou não de certos paradigmas que sustentam doutrinas ideológicas, tanto de direita quanto de esquerda, que pretendem conservar o status quo. Para os que aceitam estes paradigmas, a resposta é uma; para os que realmente pretendem evoluir para uma sociedade mais justa, estes paradigmas devem ser repensados. Proponho, então, inicialmente que se reflita sobre uma série de questionamentos via de regra deixados de lado pelos estudiosos do assunto:
Quem deve arcar com os custos de ensino de nível superior? Quais são os beneficiários deste aprendizado? Os alunos ou a sociedade? Por que 85% dos estudantes paulistas pagam por este ensino enquanto o restante recebe esta dádiva do governo, às custas dos impostos pagos pelos primeiros? Qual é o verdadeiro papel de uma Universidade Particular? Qual é o verdadeiro papel de uma Universidade Pública? Universidade Particular e Universidade Pública têm objetivos diferentes? Quem deve arcar com os custos necessários à formação de um pesquisador? Quais são os beneficiários deste aprendizado? Os alunos ou a sociedade? A pesquisa realizada por estudantes universitários traz por si só algum benefício além daquele representado por sua formação? No caso negativo, este universitário deve ser remunerado? E se sim,... Quem deve arcar com essa despesa? No caso positivo, quem seria o beneficiário? Quem deve pagar por este suposto benefício? Com base nas respostas dadas às últimas perguntas continuemos nos questionando: O aluno universitário deve receber bolsa de iniciação científica? A quem cabe arcar com a despesa destas bolsas? O aluno que estuda em Universidade Particular, e que através dos impostos, paga por estas bolsas recebidas pelos alunos das Universidades Públicas, tem direito também a este privilégio? Se não, a Universidade Particular deve propiciar, às suas custas, algum outro privilégio? Se sim, este privilégio deve ser repassado às mensalidades?!!!
Uma coisa é atender um aluno ocasionalmente carente, e a USJT, como entidade filantrópica que é, deve participar deste gesto de solidariedade; outra coisa é pagar por serviços que beneficiam a terceiros, sustentando, dentre outras, a indústria da bitributação.
É triste conviver com a miséria e ter que distribuir migalhas a pessoas que merecem condições mais dignas. Mais triste ainda é conviver com pessoas que têm o poder de destruir o pouco que se fez em termos de educação naquele que é considerado
o país mais carente de planos de educação que há no mundo
(1). De qualquer forma é bom que fique claro que o centro de pesquisa da USJT está empenhado nesta batalha e de tudo fará para atingir seus objetivos, inclusive aqueles implícitos na pergunta. Não vou me alongar mais, pois sei que existem quatro outras perguntas relacionadas ao assunto e gostaria de ouvir a opinião dos demais participantes do debate.
13) A Universidade teria condições de dar bolsas de estudos para seus alunos que desenvolverem pesquisas?
ARN: Esta questão já foi respondida, mas eu gostaria de acrescentar alguma coisa. Enquanto os colegas estavam apresentando as suas opiniões sobre a pesquisa na Universidade Particular, eu estava lembrando do modelo de trabalho, do modelo de departamento no qual eu estou inserido na minha pós-graduação. Lá existe uma preocupação muito grande na captação de recursos fora do departamento. Trata-se de um departamento de uma instituição federal, a única da cidade de São Paulo, especificamente a Escola Paulista de Medicina. Apenas nove professores de lá conseguiram, com recursos próprios ou de pesquisas e iniciativas, levantar um prédio de quatro andares. É um departamento que tem muita verba própria, muitas condições, mas graças à iniciativa destes professores criou-se um fundo de pesquisas.
É bem possível que essa idéia talvez já tenha sido objeto de consideração pelos professores responsáveis pela implantação do nosso centro de pesquisa, qual seja, a da possibilidade da criação, para que futuramente pudesse gerenciar verbas, de um fundo que daria suporte e sustentação a uma série de pesquisas ligadas a esse centro. Então eu acho que a partir daí nós poderemos pensar em bolsas de iniciação científica para os alunos em apoio a projetos que não têm condição de gerar verbas próprias. Acredito que alguns projetos, mesmo na área de ciências humanas, mesmo projetos na área de psicologia, podem gerar verbas próprias, mantendo alunos e talvez até mesmo professores. Não sei se estou sendo muito idealista, mas acho que é alguma coisa que poderia estar dentro da nossa paixão, conforme disse a professora Anete, não é mesmo? Acho que tanto os professores como os alunos deveriam se preocupar com relação a isso. Que projetos poderiam ser desenvolvidos dentro da graduação em condições de gerar verbas próprias? Uma série de projetos teriam esse tipo de condição, ligados a empresas, a escolas, e inclusive dentro da própria comunidade.
Gostaria de aproveitar o espaço para lembrar a vocês que o curso de psicologia já tem uma pós-graduação lato-senso na área de medicina comportamental. Esta é mais uma tentativa de nós nos posicionarmos na vanguarda, desenvolvendo pesquisas, neste caso na pós-graduação. Mas eu quero reafirmar a minha posição dizendo que a formação do futuro profissional pesquisador deve ser privilegiada dentro da graduação.
AMF: O professor Armando tocou em vários pontos nevrálgicos da questão e, de forma magnífica, complementou tudo o que temos dito até aqui. Creio que vivemos o momento oportuno, o momento de abraçar uma paixão racional. O idealismo apontado, e que há décadas teria sido chamado de ingênuo, e realmente era, a ponto de frustrar todas as nossas tentativas anteriores em conceber um centro de pesquisa, está se transmutando em realismo, posto que o homem está voltando às suas origens e agora em um nível muito mais profundo que o adotado pelo homem primitivo. A lei da mídia, injustamente conhecida por lei do Gerson, está prestes a ser revogada.
Quem vem a público para pedir uma bolsa ou um emprego, está se subestimando. Peçam por coisas maiores e de valor coletivo. Repudiem a inércia, abandonem o marasmo, utilizem-se da imaginação, da criatividade; e a exemplo do professor Armando, proponham mobilizações reais e não virtuais como sói acontecer. Pintar a cara é bom, mas arregaçar as mangas é melhor. Para que num futuro próximo bolsas possam ser distribuídas às pencas e novos empregos venham a ser gerados a fim de que os nossos professores possam se dedicar com afinco, e em condições mais dignas, à vida universitária que abraçaram.
14) Como conseguir bolsa de iniciação científica?
AMF: Esta pergunta, quero crer, surgiu graças à minha citação, por ocasião do encerramento da mesa redonda, da existência de um pré-projeto de implantação de um regime de iniciação científica, RIC, a ser colocado em prática aqui, na USJT, muito provavelmente em 1995. Vamos, então, antes de responder à pergunta, tentar entender o que seja regime de iniciação científica.
Nas universidades brasileiras, a iniciação científica, via de regra, é um processo desestruturado em que jovens -- futuros cientistas -- ficam ao sabor dos caprichos e da animosidade de pretensos orientadores e/ou seus comandados, quase que num sistema de toma-lá-dá-cá, sabe-se lá se recebendo bolsas porque entraram no esquema, ou se entraram no esquema para receberem bolsas. A crise de criatividade que este sistema gera, e denunciada há vários anos por Mario Schenberg
(2), reflete-se na baixíssima produtividade dos pseudo-cientistas assim formados, conforme comentado quando da resposta à pergunta nº 8. Não é este o esquema que pretendemos aqui implantar.
O pré-projeto citado está prestes a se transformar em projeto que, uma vez aprovado, trará como conseqüência a nomeação, primeiro pelo C.S.A. depois pelo CEPE, da comissão de planejamento por nós indicada. O que nós temos de praticamente acertado para este regime (RIC), durante o ano de 1995, está exposto nos itens a seguir:
- Trata-se de um projeto piloto, de cujo sucesso dependerá sua implantação definitiva em anos futuros;
- Em 1995 trabalharemos com um número reduzidíssimo de alunos de graduação, talvez sessenta, a serem escolhidos por critérios ainda não estabelecidos;
- Os alunos inscritos no regime submeter-se-ão a três frentes distintas de aprendizado e interligadas:
a) Participação em grupos de estudos voltados ao desenvolvimento da criatividade. Estes grupos serão observados a distância por setores gerais e específicos de orientação e ligados aos vários Departamentos, e serão supervisionados pela Diretoria de Pesquisa da Pró-Reitoria Comunitária.
b) Monitoração frente aos setores de Ensino, Pesquisa e Extensão da USJT, supervisionada por Coordenadores de Cursos e/ou Chefes de Departamento e/ou professores por eles indicados e/ou ainda pelas divisões de apoio ligadas ao ensino, à pesquisa e à extensão.
c) Freqüência a cursos, palestras e reuniões, organizadas pelo centro de pesquisa, realizadas em épocas especiais e previstas no calendário do regime. Os temas abordados nos cursos e palestras visarão a complementar as tarefas desenvolvidas junto aos grupos de estudos, dando-se ênfase especial a abordagens práticas atinentes à Metodologia Científica, Filosofia da Ciência, Estatística Aplicada e a temas gerais outros que se mostrem necessários. As reuniões propiciarão condições para os participantes do RIC exporem os projetos desenvolvidos nos grupos de estudos, bem como a metodologia, os resultados e as dificuldades.
- Prevê-se a dotação de um título de Extensão Universitária em Ciência aos que cumprirem os créditos do RIC, não estando ainda definidos os critérios de avaliação.
- Os alunos inscritos e aceitos para o RIC receberão bolsa de monitoria, podendo-se complementá-la com bolsas outras provenientes de órgãos de pesquisa conveniados com a USJT.
- Os critérios para inscrição e aceitação estão por serem definidos.
É importante assinalar que o RIC não é o único meio de o aluno da USJT participar do centro de pesquisa. Outras frentes serão abertas durante o ano de 1995, provavelmente mais amplas que o RIC. A principal eu já comentei ligeiramente por ocasião da resposta dada à pergunta nº. 2: o Setor de Grupos de Estudos.
15) O que é necessário para se conseguir uma bolsa no CNPq?
CW: Eu conheço um pouco dos trâmites legais do CNPq, --eu mesma tive bolsa do CNPq,-- mas não profundamente, de forma que é difícil para eu responder a essa questão. Sei, por exemplo, que o CNPq fornece bolsa para as pessoas que estão a nível de pós-graduação, como bolsa de mestrado e de doutorado, e também a nível de pós-doutorado. Eles têm bolsa de iniciação, de aperfeiçoamento; mas, para se conhecer os trâmites legais, ou como conseguir a bolsa, em si, seria melhor a pessoa se dirigir ao CNPq que aqui, em São Paulo, fica numa travessa da Av. Paulista, na rua Pamplona, 512, 8º andar. Chegando lá, vocês devem perguntar sobre o que é necessário para se conseguir uma bolsa de iniciação científica, como é o caso de vocês. Em geral, o aluno necessita de um orientador que esteja vinculado a uma instituição de ensino ou outro tipo de instituição que seja reconhecida por este órgão e, provavelmente, à apresentação de um projeto de pesquisa que será apreciado, avaliado e aprovado por uma comissão de pesquisadores da área.
16) Existem outras instituições além do CNPq?
CW: Que eu conheça existe a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP, da qual eu fui bolsista quando tinha dezoito anos de idade, como eu já falei para vocês, e a FUNDAP, que também oferece bolsas de iniciação científica. Para saber como é que se conseguem estas bolsas, vocês têm que se dirigir a estes órgãos e solicitar informações, que em geral eles dão. No que diz respeito ao meu caso, ou seja, à minha experiência com a FAPESP, o que eu posso dizer é que estava dentro de um projeto de pesquisa maior e que era orientado por dois professores da USP, dentro do Arquivo do Estado de São Paulo, e estava também sob a orientação de uma doutora em Psicologia. Lembro-me de que fizeram análise dos currículos dos orientadores da pesquisa e uma análise do projeto. Com a aprovação do projeto, eles enviam uma notificação e, no caso, como eu era estudante, foi feita uma seleção de bolsistas de iniciação. É comum aparecer na USP, nos quadros de alunos, solicitações para pessoas que queiram trabalhar com pesquisas. A sugestão que eu posso dar para vocês é que se dirijam a esses órgãos para informações. A FAPESP fica na rua Pio XII, no Alto da Lapa, no final da Cerro Corá, e a FUNDAP fica numa travessa de Pinheiros, parece-me que é na rua Alves Guimarães.
EFL: Como se pode notar, pela resposta dada pela professora Carla, existem diversos órgãos de financiamento à pesquisa, tanto na área do governo federal como também nas áreas estadual e municipal, e eu gostaria de complementar o assunto dizendo que é parte dos nossos objetivos colaborar com os pesquisadores que tiverem projetos aprovados no sentido de abrir as portas que se fizerem necessárias para a obtenção dos recursos desejados. Além destes financiamentos governamentais, procuraremos obter recursos através de convênios com outras instituições estatais e para estatais, nacionais e internacionais, para o desenvolvimento de nossos trabalhos. Pretendemos ainda estabelecer parcerias com empresas privadas nacionais e multinacionais, voltadas ao desenvolvimento de projetos de interesse comum, em busca do conhecimento científico.
Todos esses caminhos serão por nós percorridos no seu devido tempo e estão nos planos da Diretoria de Pesquisas da Universidade, e através deles pretendemos não só atingir nossos objetivos bem como os dos pesquisadores do Centro de Pesquisas e dos alunos em geral.
SOBRE PESQUISA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
Alberto Mesquita Filho, AMF
Anete A. Souza Farina, AASF
17) É possível enfatizar o papel da pesquisa e ao mesmo tempo desmistificar a ciência, a retirada de um pedestal do saber pronto e acabado, sobretudo na Psicologia, onde as abordagens parecem existir quase que para serem seguidas?
AASF: Se é possível...? Sim. Não apenas possível como também necessário, porque a evolução das ciências depende de questionamentos, inquietações que levam à busca de novos paradigmas. O desenvolvimento profissional, em qualquer área do saber, exigirá sempre esse movimento. Certa vez, no início de minha carreira profissional, ouvi de um professor, uma frase que pode resumir o que pretendi dizer: a especialização precoce é o leito suicida do profissional.
Antes de se tentar seguir uma teoria, faz-se necessário conhecer bem, não apenas a eleita, mas principalmente as excluídas, em maior profundidade. A psicologia, com seus vários modelos teóricos, desenvolveu na própria ciência o surgimento de verdades inquestionáveis, pelo menos para boa parte da classe de psicólogos, a qual atrasa o desenvolvimento da ciência, sua aplicação dentro de nosso contexto social, bem como a possibilidade do surgimento de novas teorias.
Não haverá de ser por acaso que muitos dos estudantes do curso de psicologia, já ao ingressar nos estudos, tenham eleito uma determinada teoria para seguir e desenvolvam ao longo de sua formação uma surdez psicológica para o aprendizado de outras, quanto mais para discutir criticamente a eleita. Na minha opinião, isso é nocivo à própria ciência.
A angústia que o professor revela ao fazer essa pergunta... confie... é também partilhada por mim. Se isso pode ser alterado... eu ouso dizer que sim, basta apenas começarmos a desempenhar o verdadeiro papel de professor. A promoção do desenvolvimento intelectual exige, para todos os níveis de ensino, o exercício do questionamento. Se o aluno do curso universitário não teve acesso anterior a essa forma de pensar, isso não nos exime dessa responsabilidade; ao contrário, nossa responsabilidade torna-se maior ainda. Esse é o grande desafio da docência. O conhecimento teórico fornece a possibilidade do questionamento que dará uma postura científica à atuação profissional, a qual é necessária para o aprimoramento da ciência.
A adoção de verdades dá ao homem segurança na condução de sua existência. O conhecimento substitui verdades instaladas e, em geral, traz muita polêmica. Não é por acaso que tantos foram condenados à morte por contestarem a verdade estabelecida. No início, quando desaba a primeira verdade instalada, nós ficamos soltos e desejosos de nos apegar a outra. Eu mesma já passei inúmeras vezes por isso e continuo a passar. Confesso que não é, a princípio, tão agradável assim, mas com a nova descoberta passo a ter atitudes mais cautelosas e questionadoras. A flexibilidade para esse movimento é fruto de treino e orientação adequada dos mentores intelectuais. Isso leva ao crescimento de ambos. Quando somos orientados a agir assim, reorganizamos, criamos e desenvolvemos um excelente processo de conhecimento. Com isso, livramo-nos do paralisante e incômodo peso de uma verdade eterna e ganhamos a liberdade leve de poder voar em busca do conhecimento. Reconhecer essa condição é negar a existência de um saber único e enriquecer prodigiosamente sua bagagem cultural com dúvidas e interrogações. Não há outra forma de conquistarmos algum conhecimento senão pela assunção de nossa imensa ignorância.
Na ciência psicológica, existem várias abordagens, e uma não será melhor ou pior que a outra; antes de tudo, são apenas teorias para serem compreendidas e exploradas. Conhecer todas elas e num futuro optar por uma, considero o caminho de todos os profissionais; mas isso não invalida a constante atenção para com as alterações que surgem na leitura do psiquismo humano, pelo contrário, exige. Tentar vincular-se a uma única verdade é fechar os olhos para o progresso humano, é o sintoma mais claro da insegurança e da falta de visão crítica, a qual condena à morte a própria ciência.
18) Qual a diferença entre um cientista e um pesquisador dentro da realidade do Brasil? É possível se criar as coisas juntas?
AASF: Eu diria, para não me alongar, que um profissional de psicologia, sempre deve ter uma postura científica. Como foi colocado anteriormente pelos professores aqui presentes, eu considero que a postura entre ambos não deverá ser diferente. Se é possível produzir esse tipo de profissional? Suponho que sim. Aqui na Universidade São Judas Tadeu é o que se tem tentado fazer. Para tanto, à medida em que o aluno está sendo capacitado para a atividade profissional, dotando-se da competência necessária para atuação, está desenvolvendo uma postura científica, a qual permitirá a sistematização da busca de respostas para certas indagações, através da prática da pesquisa. Nós não reconhecemos a possibilidade da existência de outro processo formador competente.
A busca científica é interminável, como foi bem colocado pelo nosso pró-reitor, ou seja, as necessidades humanas são incontáveis e estão constantemente se alterando. Assim, a cada indagação, deve-se assumir uma conduta de investigação que tem início nas teorias tradicionais e chega às publicações atuais. Para que se possa atuar adequadamente em todas as áreas do saber, nosso olhar científico e inquiridor não deverá jamais ser excluído da prática profissional. Essa proposta de formação tem por objetivo instrumentalizar o aluno para que ele compreenda a necessidade de uma atuação adequada às carências humanas.
AMF: Dentro do contexto em que a pergunta foi colocada, eu acredito que a síntese efetuada pela professora Anete foi brilhante. Com efeito, o simpósio foi todo ele voltado a promover o cultivo da atitude científica entre os jovens presentes, --futuros profissionais em Psicologia-- e, conseqüentemente, a chamar-lhes a atenção para a importância da manutenção do espírito sempre alerta que deve acompanhar não só o Psicólogo mas todo aquele que se diz profissional graduado em nível superior. Mas estar sempre alerta para o quê? Para que saibam distinguir, dentre as aptidões, a atuar em suas vidas pós-universitárias, em que condições a atitude do profissional deve se impor sobre a do cientista, bem como quando a do cientista deve se impor sobre a do profissional. E é nestas condições que, num ou noutro caso, em menor ou maior intensidade, manifestar-se-á também o pesquisador que existe dentro de todos nós. Não obstante, a partir do momento em que optamos por publicar os anais do simpósio, obrigamo-nos a tentar satisfazer o leitor dentro de um contexto mais geral, e não foi por outro motivo que refizemos os debates. E ao reorganizar a temática, percebi o caráter problemático desta pergunta posto que ela nos induz a considerações filosóficas várias. Com efeito, inúmeros livros de filosofia da ciência se propuseram a estudar o assunto, sem que se chegasse a uma conclusão definitiva.
Para alguns, a ciência é milenar. Outros, revelando quem sabe uma certa ignorância histórica e/ou filológica, datam-na do renascimento; e não seriam poucos, dentre estes últimos, os que condenariam Galileu ou Newton, se nascidos fossem hoje, à marginalidade científica. Ao lado destas disparidades de natureza temporal, há ainda, no que diz respeito ao termo ciência, concepções regionais e, dentro de uma mesma região, faccionamentos corporativistas. Da mesma forma que neste seminário concluímos, por consenso unânime, que todo universitário deve possuir uma postura científica e, portanto, sempre pesquisar, cientistas outros reúnem-se com o propósito de estabelecer, também por consenso, qual seria o número ideal de cientistas a se adaptar à nossa "economia" (vide resposta à pergunta nº 8). Brados como o nosso, em oposição a este elitismo, permeiam por entre as seções científicas das livrarias sob a forma de livros que tratam, dentre outros, dos seguintes temas: a crise da ciência, nos bastidores da ciência, a ciência corporativista, a paixão pela ciência, etc. Seria o caso de, a exemplo de Alan Chalmers
(3), nos perguntarmos: O que é ciência afinal? Até quando a semântica justificará o oportunismo? Vou propor então não uma resposta à pergunta, mas um ensaio sobre o tema, retratando como eu vejo hoje alguns aspectos relacionados ao mesmo.
O pesquisador, dizem os dicionários, é aquele que pesquisa, que investiga, que busca com diligência, que indaga, que devassa. Creio impor-se aqui a ânsia pelo saber, ou a procura apaixonada pela verdade. Dentre estes apaixonados pelo saber, existem os que focalizam o todo como objeto de estudo, ou seja, os que procuram entender as partes através de uma abordagem globalizante: Seriam a meu ver os filósofos. Por outro lado, existem os que se especializam em áreas específicas do conhecimento, como o físico, o psicólogo, o artista, o teólogo, o místico, o ficcionista, etc. Dentre estes pesquisadores, alguns se utilizam do método científico, enquanto outros procuram por verdades não científicas. Os primeiros seriam os cientistas, mas... Que dizer do método científico? O que é ciência afinal?
O método científico não é nada que deva assustar-nos. Conheço inúmeros cientistas que jamais se preocuparam em se indagar sobre o método que seguem e, não obstante, seguem rigorosamente o que chamamos de método científico e mais: a exemplo do marinheiro que inconscientemente se dá conta da aproximação de um temporal muito antes de que ele se manifeste a nós, e corrige desta forma o seu rumo, o verdadeiro cientista possui o dom de se orientar por entre o mundo nebuloso da ciência sem se afastar dos propósitos científicos. Com efeito, o método citado não é meramente um conjunto de normas rígidas, mas sim um conjunto de rotas que poderão ou não nos levar ao destino pretendido. E conquanto seja sempre bom se utilizar de uma bússola... Que fazer se a bússola de repente endoidar? Mas se o método científico retrata, em última análise, a maneira como o filósofo da ciência encara o comportamento do cientista quando em ação, não podemos pretender que o cientista possa ser definido como aquele que se utiliza do método científico. Isto seria andar em círculo. Mas então... O que é ciência afinal?
Vejo a ciência como a área do conhecimento que se apóia não num método, mas sim na regra da repetitividade, a que eu tenho chamado de regra científica fundamental:
Se em dadas condições, um determinado fenômeno, sempre que pesquisado, se repetiu, é de se admitir que em futuras verificações o mesmo suceda. Sem dúvida alguma, esta regra se identifica com a doutrina realista, mas, não obstante, revela o caráter não doutrinário da ciência. Com efeito, falta à ciência o estigma dogmático próprio das doutrinas. Podemos até mesmo concluir que a regra científica fundamental é um princípio, porém jamais um dogma: A regra citada é algo que se propõe ou que se admite como verdadeiro, e estará tão mais próxima desta condição quanto mais corroborada for. Não estamos aqui propondo que se tente falsear a ciência, mas percebemos que, pelo menos em princípio, sua regra é falseável. O que não significa que não possamos nos utilizar de subterfúgios mil a protegê-la de possíveis falsificações, conforme já assinalado pelos críticos do falsificacionismo popperiano.
- PEREIRA DE SOUZA, Paulo Nathanael. Estrutura e funcionamento do ensino superior brasileiro, Livraria Pioneira Editora, São Paulo, 1991, p. 72.
- Sessão de Abertura do Simpósio de Física em Homenagem ao 70.° Aniversário do Prof. Mário Schenberg, Perspectiva em Física Teórica, Edição do Instituto de Física da USP, 1987.
- CHALMERS, A. F. O que é ciência, afinal? Editora Brasiliense (tradução), São Paulo, 1993.