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Diálogos Ciencialist

 
 

Maio de 2000

Mensagens da
Thread Bolinhas Elementares - Parte 2

 


msg4738
De: Leandro Holanda
Data: 14/05/00
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msg4739
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 15/05/00

Na msg 4738 Leandro Holanda escreveu:

Leandro: A ciência não é feita só de acertos. As boas teorias ficam. As que não confirmam os dados experimentais não ficam.

Sem dúvida.

Leandro: Assim, não havia meios na época de se saber que Einstein estava certo. Lamento, mas a decisão da Fundação Nobel de não premiar teorias duvidosas penso ser a ideal.

Não há como discordar de seus argumentos. Mas tem muitos que não pensam assim. Não só quanto à fragilidade da TRG, na época, mas também quanto à rigidez da comissão Nobel, que consideraram excessiva no caso Einstein. Enfim, o que quis dizer é que propostas revolucionárias via de regra não são bem vindas e mantenho o argumento, independentemente do caso particular Einstein, que pode ser explicado por motivos outros, até mesmo políticos.

Mesquita: Mas não diga o que não sabe sobre física clássica. Ou você pensa que a única física clássica que existe é aquela que lhe foi ensinada por professores de física moderna?
Leandro: Vou dizer só mais uma vez: a Mecânica Clássica não explica fenômenos tais como o spin, o Red Shift, a experiência de Michelson-Morley, a precessão da órbita de Mercúrio, o Efeito Compton, o Efeito Fotoelétrico, o Tunelamento de Partículas, ... Se você conseguir explicar os resultados das experiências envolvidas para os casos que eu citei acima, você estará usando até uma Mecânica Mesquita mas não a Mecânica Clássica!!!

Então vamos ensinar aos físicos o que é física clássica. O French, por exemplo, diz que física clássica é aquela que não vai contra o senso comum e estas, para ele, seriam a relatividade de Einstein e a teoria quântica, com correspondentes árvores genealógicas. Já o Hawking diz que clássica é aquela que não consegue incorporar o princípio da incerteza (e para ele a relatividade de Einstein seria clássica). A grande maioria dos físicos de renome parece aceitar a primeira destas idéias, mas já li alguns defendendo a segunda. E há ainda os que acham que física clássica era a física aceita no ano de 1900 (Esta é classificação utilizada por muitos dos professores que ensinam física moderna, mas não conheço, dentre esses, nenhum de renome). Você está propondo uma quarta classificação ou simplesmente aceita essa última?

Leandro: "A Natureza não é democrática"

Eu poderia então dizer que Deus joga dados? Ou não tem nada a ver? :-)


msg4727
De: Marcello Antonio Alves Talarico
Data: 14/05/00

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msg4729
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 14/05/00

Na msg 4727 Marcelo Talarico escreveu:

Marcelo: Quero deixar bem claro, que o que o Sr. Alberto Mesquita Filho, diz é correto em essencia mas errado em postura.

Pelo menos não estou errado em tudo. risos

Marcelo: Pois os rebeldes, como ele gosta de dizer, devem sempre contestar para que não haja estagnação da ciência, mas essa rebeldia nunca deve ser cega a ponto de se desprezar evidências experimentais.

Nunca defendi a rebeldia cega. Não sou marxista [aliás, dizem que Marx também não era risos]. Sob esse aspecto sou mais popperiano.

Marcelo: E quando essas discussões atingem pontos falhos da teoria, isso se deve unicamente à evidências que deixam em duvida o paradigma dominante,

Paradigma cheira-me a dogma e dogma não combina com ciência. Aliás, Thomas Khun chegou a confessar, em trabalhos escritos posteriormente a seu livro principal, que seus paradigmas tinham muito de dogma.

Marcelo: neste estágio qualquer nova proposta é bem vinda, seja ela uma mudança sutil na teoria dominante ou uma idéia completamente nova.

Pois é justamente aí que não concordo. Nenhuma proposta revolucionária é bem vinda. As teorias de Newton somente foram aceitas na Inglaterra bem após sua aceitação na França (há quem diga que foram recusadas para a publicação, o que teria sido feito a revelia com o financiamento de Halley); a equipe Nobel recusou-se a dar o prêmio a Einstein pela teoria da relatividade (ele foi premiado pelo efeito fotoelétrico graças a um empenho muito grande de outros cientistas já laureados); Boltzmann suicidou-se por ter sido ridicularizado por seus pares e até mesmo por seus alunos; Carlos Chagas somente não recebeu o Nobel de medicina em 1921 porque após ter sido indicado, foi alvo de uma maciça campanha de oposição e em um debate na Academia de Medicina foi atacado publicamente por Afrânio Peixoto, Henrique Aragão e Figueiredo de Vasconcelos (Em 1921, era o único indicado e ninguém levou o prêmio). Se você acha que tudo isso está certo, que mais dizer?

Marcelo: O que jamais deve ser feito é dizer que um modelo não é bem fundamentado só porque alguém imaginou algo alternativo, que muitas vezes não faz sentido algum.

Se não faz sentido algum, porque os acadêmicos têm tanto medo de se manifestar a respeito? Ignorar não é o mesmo que negar. Negar, tanto quanto afirmar, exige coragem. Mas os intocáveis que conheço não têm coragem suficiente sequer para arriscar seu prestígio no combate a algo não faz sentido algum, quanto mais para distinguir o certo do errado. Porque? Quer exemplos?

Não sou o dono da verdade mas, tanto quanto você, não tenho medo de expor o que penso. Erro, sim, mas não necessito de paradigmas para ocultar minha mediocridade.


msg4732
De: Marcello Antonio Alves Talarico
Data: 14/05/00

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msg4743
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 15/05/00

Na msg 4732 Marcelo Talarico escreveu:

Marcelo: Estranho vc citar Newton como um rebelde, se ele foi, após propor o Principa, um dos mais conservadores presidentes da Royal Academy ofScience,...

Tanto quanto Fidel Castro após a revolução cubana risos, Stalin após a revolução russa, etc. Isto não os desqualifica como "jovens" rebeldes. Já Guevara foi rebelde a vida toda, assim como Einstein, Schrödinger, David Bohm e tantos outros que, conquanto reconhecidos, pagaram caro por sua rebeldia.

Marcelo: basta lembrar o que ele fez com Huygens (está correto a o nome?)...

Está. Alguns colocam um "h" entre o "g" e o "e" e a Enciclopédia Britânica dá as duas formas.

Marcelo: ...na discussão sobre a natureza da luz. Newton defendia a idéia corpuscular (por que será?)...

Parece-me que Newton apoiou suas convicções em dados experimentais (curvatura da luz precedendo a refração, refração incomum do cristal de Islândia, difração "a partir da sombra", reflexão total de raios de luz observada após a passagem pelo vidro em direção ao vácuo —seria uma resistência de um vácuo absoluto?—, etc).

Marcelo: ...e Huygens a ondulatória, Newton usou do cargo dele para tentar rebater a teoria ondulatótia.

Você está sugerindo que ele teria sido um mau caráter? E o que isso tem a ver com a sua teoria? Tem gente que afirma que tudo de bom que Newton fez ele teria "roubado" de Hooke. Será verdade? Se for eu passarei a defender a física de Hooke. Não é o caráter de Newton que está em discussão mas as idéias que ele nos deixou, roubadas ou não. E, roubadas ou não, elas somente foram aceitas na Inglaterra anos após terem sido consagradas na França. Por outro lado, se você julga que Huygens foi também um mártir da ciência, você está apenas reforçando meu argumento.

Marcelo: o caso de Boltzman, foi na verdade devido a derrota filosófica que sofreu para Mach e não por propor revoluções (pois em vida Boltzman já gozava de prestígio pelo que fez para a Mecânica Estatistica).

Eu não falei nada a respeito de Mecânica Estatística. Disse apenas que ele foi ridicularizado por seus pares graças a seu espírito rebelde.

Marcelo: Concordo que a discussão é o único caminho para a ciência, mas discordo que se deva conclamar a sociedade cientifica para cada idéia que aparece, pois com isso vc. pode dar crédito a coisas absurdas.

É verdade mas nem sempre é fácil separar o jôio do trigo. E também não creio que fosse necessário "conclamar a sociedade científica" para isso. Você está propondo que se jogue o trigo no lixo? Pois isto é feito com grande frequência. Há dez anos, ou pouco mais, uma cientista aos oitenta anos recebeu o prêmio Nobel de medicina por um trabalho publicado aos quarenta anos de idade. Este trabalho sequer chegou a receber uma critica decente na época e só ressurgiu das cinzas porque os paradigmas começaram a se mostrar inconsistentes, e estavam prestes a reinventar a roda. Onde estavam os críticos de então? Tiveram medo de concordar com um erro? Tiveram medo de emitir uma opinião contrária a algo que poderia estar certo? Ou alguma coisa está errada com o sistema ou estamos frente a atitudes covardes acobertadas por uma filosofia a protegê-las.

Marcelo: (A exemplo do caso da matéria escura ao qual chegou-se ao ponto de em uma época de se propor o axion; uma particula que tem massa mas não pode ser detectada por uma questão de princípio).

Pois então que se diga, a respeito, pelo menos o que você disse. Isso já é uma crítica. Pois se algo não pode ser detectado por uma questão de princípio, que mais dizer? Mas eu dei um exemplo diferente (e existem muitos) relativo a um estudo que após 40 anos de ignorância completa, recebeu o prêmio Nobel de medicina. Um verdadeiro "salto quântico" do fracasso para a glória, sem nada a intermediar entre um e outro.

Some-se ao absurdo citado, os táquions e o universo paralelo. São tão absurdos quanto o que você citou e pelo mesmo motivo. Não obstante, estão por aí, pois não ferem os paradigmas da moda. Graças a isso estão liberados até mesmo para serem repetidos nas revistas "dignas de crédito", ainda que em tom místico.


msg4736
De: Roberto Belisário
Data: 14/05/00

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msg4740
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 15/05/00

Na msg 4736 Roberto Belisário escreveu:

Alberto escreveu:
Alberto: É verdade. Mas ainda assim predomina a sistemática cômoda de privilegiar única e exclusivamente aquilo que funciona, em detrimento de uma infinidade de idéias novas que poderiam também funcionar...
Belisário: Ninguém pode, nos dias de hoje, acusar a ciência de se negar a confirmar experimentalmente teorias alternativas consistentes. Isso está acontecendo o tempo todo.

Seria bom que fosse assim. Mas não sou tão otimista. E nem falo por mim. Muito antes de desenvolver teorias eu já era um crítico do academicismo vigente. Não é impossível que, inconscientemente, eu faça teorias com a finalidade de testar uma outra teoria. Enfim, eu sou um cientista amador e minha função na universidade não tem nada a ver com fazer ou não teorias. Sob certos aspectos, isso parece ser muito cômodo; sob outros...


msg4725
De: Leandro Holanda
Data: 14/05/00
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msg4731
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 14/05/00

Na msg 4725 Leandro Holanda escreveu:

Leandro: Eis o ponto!!!

Ou seria ponto de vista?

Leandro: Na mecânica clássica além de estranho, é inexplicável; não se consegue explicar o spin de maneira clássica, eis um ponto em que a teoria falha. Na mecânica quântica não é incomodativo: o spin pode ser explicado.

Pois eu diria que não se consegue explicar o "giro" real de uma partícula através de maneiras quânticas. Quanto ao "spin" o que se consegue é construir um algoritmo que dizem que funciona. O "spin quântico" nada mais é do que um artefato criado por um campo magnético ao agir sobre partículas que giram (e esta é uma explicação clássica). Se não concorda, explique-o quanticamente utilizando-se de argumentos físicos! Ou será que física = matemática?

Leandro: Um ente que possua massa de repouso nula, no caso o fóton, é necessário e explicável através de uma teoria, tal como a mecânica relativística. Se a idéia é vista como uma "aberração" é porque quem está observando, quer explicar por meios de mecânica clássica. Mas os resultados experimentais nos mostram que para corpos com altas velocidades e/ou grandes massas a mecânica relativística é a que melhor se ajusta aos resultados.

E eu diria que Papai Noel existe e ajusta-se perfeitamente aos resultados que observo e que repetem-se anualmente em qualquer shopping. Gosto não se discute. Se você gosta da relatividade moderna, ótimo. Aceite-a. Mas não diga o que não sabe sobre física clássica. Ou você pensa que a única física clássica que existe é aquela que lhe foi ensinada por professores de física moderna?


msg4735
De: Marcello Antonio Alves Talarico
Data: 14/05/00

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msg4741
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 15/05/00

Na msg 4735 Marcelo Talarico escreveu:

Marcelo: Pois eu diria que nem clássicamente se consegue explicar o Spin,

Pelo menos você parece reconhecer que não se trata apenas de uma falha clássica.

Marcelo: pois se fosse uma bolinha como vc tanto gosta de falar ele precisaria girar mais rápido do que a velicidade da luz, e a energia associada ao elétron seria muito maior que o medido. Tenho a impressão de estar numa máquina do tempo, estamos discutindo (como no primeiro quarto deste século) que o senso comum do homem, que já se ajustou á mecânica clássica, não consegue aceitar os efeitos quânticos que não possuem análogo clássico.

Talvez você tenha razão.


msg4759
De: Leandro Holanda
Data: 17/05/00
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msg4760
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 17/05/00

Na msg 4759 Leandro Holanda escreveu:

Leandro: Se souber me explicar, gostaria de saber como, sem usar os conceitos básicos de mecânica quântica, usando apenas o conceito de bolinhas elementares "clássicas" pode-se explicar as figuras de interferência obtidas quando se realiza a experiência da dupla fenda usando-se um feixe qualquer de partículas.

O que eu poderia dizer a respeito e em termos bem elementares, tanto para fótons quanto para elétrons, está em "A Experiência das Fendas". Algumas dúvidas que poderão surgir e relativas à natureza da luz, poderão ser encontradas em "O que são Ondas Eletromagnéticas". Se surgirem novas dúvidas estarei aqui para "segurar as pontas" e me defender das malhações que se fizerem necessárias.

msg4762
De: Roberto Belisário
Data: 18/05/00

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msg4763
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 18/05/00

Na msg 4762 Roberto Belisário escreveu:

Holanda: Se souber me explicar, gostaria de saber como, sem usar os conceitos básicos de mecânica quântica, usando apenas o conceito de bolinhas elementares "clássicas" pode-se explicar as figuras de interferência obtidas quando se realiza a experiência da dupla fenda usando-se um feixe qualquer de partículas.

Alberto: O que eu poderia dizer a respeito e em termos bem elementares, tanto para fótons quanto para elétrons, está em "A Experiência das Fendas" ...estarei aqui para "segurar as pontas" e me defender das malhações que se fizerem necessárias.
Belisário: Aí vão elas. ...

Alberto: Lembro que a questão do Holanda, acima reproduzida, referia-se a "como eu explico" a experiência da dupla fenda através de "minhas idéias". Indiquei uma página Web para evitar repetir o que já comentei inúmeras vezes. Nesta página, além daquilo em que fui questionado não apenas agora como também na época, exponho também meu desagravo para com a física quântica. Porém isso retrata uma opinião de uma época em que, dentro daquele egocentrismo que, em maior ou menor intensidade, trazemos dentro de nós, julguei que os físicos brasileiros estivessem interessados em conhecer "como eu vejo a física moderna". Tratam-se de questionamentos paralelos e de pouquíssima importância para o esclarecimento da dúvida inicial. E a dúvida inicial era "O que você teria a dizer sobre essa experiência, de acordo com suas idéias".

O que "eu penso" sobre a física moderna é, portanto, algo secundário e que "hoje" procuro, sempre que possível, deixar de lado. Isto não significa dizer que mudei de idéia a respeito. Não. São idéias que acumulei durante cerca de 20 anos, idéias estas entrelaçadas umas nas outras, e portanto não facilmente reproduzidas em pequenos textos. Por outro lado, e como já disse, não me cabe derrubar a física moderna. O bom cientista é aquele que propõe hipóteses falseáveis a suas próprias teorias, não às teorias dos outros. Ora, se não me cabe derrubar a física moderna, também não me cabe ficar exaustivamente e a todo momento justificando o que penso a respeito dela. Estou convicto de que ela está errada, estou convicto que os físicos quânticos colocam embaixo do tapete milhares de dúvidas cujas explicações não têm para com uma infinidade de dados experimentais que falseiam suas idéias, estou convicto de que os físicos quânticos criam hipóteses ad hoc em série e num número jamais verificado em nenhuma outra área do conhecimento, estou convicto de que os físicos quânticos fogem do diálogo, estou convicto de que os físicos quânticos não sabem a distinção entre física e matemática, estou convicto de que os físicos modernos promovem a lavagem cerebral nos jovens que entram nas universidades a cada ano e estou convicto de que os físicos modernos refugiam-se nas idéias de Thomas Khun pois que lhe são muito convenientes e a justificarem todos os absurdos apontados, bem como inúmeros outros no momento não lembrados e que acumulei (para mim) nos últimos 20 anos. Isto, no entanto, não tem a mínima importância a não ser no sentido de mostrar, para mim mesmo, o que penso a respeito; mesmo porque, como tenho notado, o que penso a respeito não tem interessado a ninguém.

Porque então haveria de me dar ao luxo de justificar o que penso se quando imagino ter conseguido atingir meu objetivo uma de duas coisas quase sempre acontecem: 1) o diálogo é encerrado; ou 2) muda-se de assunto. Não digo isso quanto ao nosso diálogo. Aliás, estou na Internet desde 1997 e você é uma das poucas pessoas com quem realmente consegui dialogar, no verdadeiro sentido do termo. É óbvio que, e isso todo popperiano sabe, um diálogo entre dois acaba se esgotando, a medida em que as idéias se fortalecem bilateralmente e atingem o clima de uma aparente infalseabilidade. Algumas convicções persistem de forma inabalável e não há mais como um denunciar falácias no argumento do outro. Às vezes, atingido esse clima, os oponentes passam a se evitar: parece ter sido o caso de Einstein e Bohr. Outras vezes persistem como grandes amigos, ainda que com idéias divergentes. Espero que o nosso diálogo termine assim. Raramente tornam-se inimigos, a não ser quando travam o que poderia ser chamado um falso diálogo. Voltemos à temática.

Se estou convicto, para mim mesmo, de que a física moderna é uma balela, não posso meramente ficar esperando que alguma coisa melhor seja colocada no seu lugar. Simplesmente, procuro por essa alguma coisa. Faço teorias apoiadas na experimentação de pelo menos 300 anos. E proponho fatos passíveis de serem observados em laboratório experimental. Respondo por minhas idéias e por meus escritos, mas não por minhas opiniões sobre aquilo que estou convicto que está errado, pois que para isso seria necessário escrever não menos do que um livro de pelo menos 500 páginas o que, certamente, não me levaria a nada, pois contra dogma não há argumento que vença.

Belisário: Me diga três fenômenos que os físicos quânticos joguem para baixo do tapete

A última vez que me dei ao luxo de responder a questionamentos desse tipo, minhas idéias foram jogadas para baixo do tapete. Enfim, não me interessa julgar o comportamento dos físicos quânticos. Eles são maiores de idade, vacinados, que façam o que julgarem conveniente que seja feito.

Alberto: Será que a partícula se desdobra em duas, uma real e outra fantasma, e cada uma passa por um dos orifícios, sofre cada uma a difração simples, e depois se interferem e, por final, a partícula fantasma desaparece tão misteriosamente como quando surgiu? Aparentemente é isso o que acontece.
Belisário: Não. O que acontece é que o fóton não é partícula. Nem onda. Não tem partícula nenhuma se desdobrando em duas, simplesmente porque o fóton não é uma partícula. O que então acontece? Ora, quando translada através das fendas, o fóton comporta-se como um pulso de onda. E aí passa literalmente pelos dois orifícios, mesmo sendo um fóton só, exatamente como faz uma onda (isto não é uma suposição "ad hoc": basta fazer as contas com a equação de Schrödinger para ver que é isso o que ela prevê).

Se o fóton não é o que não é, pergunto então: O que o fóton é? Se bem entendi, você está jogando a dúvida para baixo do tapete, mas isso é minha opinião. Aliás, de uma maneira bem mais sutil, Schrödinger teria chegado à mesma conclusão: "Esperamos que a vacilação de conceitos e opiniões signifique apenas um intenso processo de transformação, que conduzirá finalmente a algo melhor do que as confusas séries de fórmulas que cercam o nosso tema." Note que Schrödinger está se referindo a sua própria equação.

Alberto: não deixa de ser uma idéia que adapta-se a alguns dos dogmas da física moderna,...
Belisário: Permita-me interrompê-lo: não há dogmas em Física Moderna. Há afirmações científicas falseáveis.

E há "vacilação de conceitos e opiniões" que refugiam-se (ou são jogadas para baixo do tapete) por trás de uma equação falseável mas que embute inúmeros dogmas a explicarem como o "fóton" faz o que na realidade não faz (passar literalmente pelos dois orifícios). Enfim, eu não concordo com esta linha mas, ao que tudo indica, o conceito de dogma está se tornando algo relativo entre os físicos.

Alberto: Pelo que eu consegui entender, a mecânica quântica não tem como explicar o que acontece. Não só não tem como também não quer. Todos os físicos que tentaram explicar o fenômeno por um raciocínio não abstrato caíram em desgraça frente a seus pares. Pudera! Chegam a conclusões que, a curto prazo, condenam a física quântica à insolvência.
Belisário: Alberto, em qualquer livro-texto de Física Quântica básica você acha uma explicação para a experiência de Young com um fóton de cada vez. A própria equação de Schrödinger explica perfeitamente por que se dá a figura de interferência. Que negócio é esse de "a mecânica quântica não tem como e não quer explicar o que acontece"?

É o que penso sobre a física quântica. Mas, volto a dizer: O que penso a respeito da física quântica é muito pouco importante, até mesmo para mim. Como posso valorizar o que penso sobre algo que, por motivos vários, estou convicto de que está errado? O máximo que posso fazer é rebater argumentos. Mas isso, por um lado é cansativo e sem levar a nada e, por outro, torna-me antipático. O que me cabe fazer então é explorar minhas idéias, concatenar minhas hipóteses segundo a lógica da teorização, desenvolver minhas teorias, propor afirmações falseáveis e aguardar os acontecimentos. Quanto ao mais, deixo a quântica para os quânticos.


msg4772
De: Roberto Belisário
Data: 19/05/00

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msg4783
De: Alberto Mesquita Filho
Assunto: As Bolinhas Elementares
Data: 19/05/00

Na msg 4772 Roberto Belisário escreveu:

Belisário: Alberto, Compreendo e louvo sua atitude de tentar colocar algo no lugar de uma teoria que você supõe estar errada. Nada mais científico. Mas devo ressaltar que me é muito difícil tentar entender o que você vê de tão ruim na Física Moderna (o que estão jogando para baixo do tapete, por que ela é feita de dogmas, etc.).

Às vezes fica difícil, para mim, distinguir Física Moderna de atitudes dos "físicos" modernos. Excetuando os "papagaios cultos" que, em nome da física moderna, e como que a ocultar uma ignorância, vivem alardeando, por todos os rincões, um palavreado sem sentido, e a comprometer até mesmo o que julgam estar defendendo, noto que a grande maioria dos demais como que têm medo de um dia descobrir que apenas nadaram a favor da correnteza mas que, apesar disso e por causa disso, afastaram-se cada vez mais de seus objetivos nobres. Deixando a arrogância dos primeiros de lado, preocupa-me a natureza deste medo apresentada pelos segundos, que não são poucos. Se, por um lado, um pouco de cautela é essencial e inerente à postura científica, por outro lado medo e covardia consubstanciam arrogância, estagnação, marasmo e decrepitude. A ciência exige o discernimento mas também a coragem.

Belisário: Pelo que compreendi até agora, você está profundamente insatisfeito com a solução dada pela Física Moderna, em primeiro lugar porque você supõe que os fatos experimentais que levaram ao rompimento com a Física Clássica poderiam ser explicados sem esse rompimento.

Como disse acima, talvez tenha focalizado mal o motivo da insatisfação que, admito, tenha revelado. Com efeito, julgo que o rompimento com a física clássica deu-se de uma maneira abrupta e sem que se esgotassem suas potenciais virtudes. A meu ver, em algum lugar do passado cometemos um erro muito grave e este erro repercutiu-se por toda a física e por mais de um século. Tento localizar este erro.

Belisário: Em segundo lugar, porque vê uma porção de inconsistências no corpo da Física Moderna.

A partir deste parágrafo você passa a focalizar sua atenção em sobre como encaro essa possível inconsistência. Deixarei de lado então os comentários paralelos, na tentativa de esclarecer bem, não só para você e para os demais amigos da ciencialist, mas até mesmo para mim, o que penso sobre o assunto. Suas afirmações a respeito são:

  • Quanto às inconsistências que você vê na Física Moderna - as que vi até agora -, não me convenci sequer de que elas existem.
  • Pela sua própria generalidade, nossa conversa tende sempre a dispersar-se por vários assuntos. Todos eles, porém, parecem poder ser classificados em três tipos: (1) Provas da inconsistência da Física Moderna...
  • Vejo que não te atrai a discussão sobre o item (1) ("deixo a quântica para os quânticos"), e entendo que isso se deve à quantidade de diálogos tensos que você já deve ter enfrentado por causa disso. Mas devo ressaltar que, quando você diz que uma teoria é inconsistente, trata-se de uma afirmação científica, e deve ser provada. Ora, basta uma única inconsistência para mandar uma teoria inteira para o vinagre.

Talvez fosse o caso de repensar o termo inconsistência. As palavras muitas vezes têm varios significados aparentados e muitas vezes empregamo-los de uma forma a promover dúbia interpretação e/ou a valorizar um dos significados em detrimento do outro que poderia ser o mais conveniente para o caso. Por outro lado, ao dizer que algo é inconsistente devemos apontar em relação a que refere-se essa inconsistência.

No caso das minhas críticas com relação à física moderna: Estaria eu afirmando que as teorias são inconsistentes sob o ponto de vista da lógica da teorização? Fosse esse o caso não teríamos o que discutir mas apenas lamentar que tantos físicos pudessem ter caído nesse engôdo por tanto tempo. Já cheguei a afirmar, não sei se nesta thread, mas em muitos de meus escritos, minha admiração por todos os construtores da física moderna. Suas lógicas, sob esse aspecto, sempre foram perfeitas.

Será então que estas teorias apoiam-se em dados inconsistentes? E, assim sendo, a lógica seria perfeita mas o alicerce estaria condenado? Neste caso, meu caro, não há como responder a questão a não ser se nos remetermos ao passado; ou, quem sabe, ao futuro, quando certamente as inconsistências que existirem virão à tona. Como não disponho da máquina do tempo, sobram-me as bibliotecas de não-ficção a retratarem única e exclusivamente o passado, pois o presente nada mais é do que uma singularidade observada como local.

São essas as inconsistências que tenho procurado. E perceba que em sua grande maioria referem-se não à física moderna em si, mas à física que deu origem à física moderna, vulgarmente conhecida, a meu ver erroneamente, como "física clássica". E digo erroneamente pois afirmo que física clássica incorpora tudo o que se sabia até então em termos de física, e nào apenas "a física que não deu certo".

Por outro lado, se hoje grande número de físicos modernos aceita como certo que a física clássica seria aquela que "não vai contra o senso comum", em que setor eu encaixaria uma teoria física dotada dessa propriedade e "construída" após o advento da física moderna? Seria a "física do Mesquita", ou a "física do Fulano", ou a "física do Beltrano", como alguém teria proposto aqui nesta thread? Que história é essa! Onde está a lógica da argumentação dessa juventude que hoje estuda física moderna? Como podem pretender classificar partículas elementares se não sabem sequer classificar a disciplina que estudam?

Acima apontei as inconsistências a se apoiarem no argumento que você apontou: "Basta uma única inconsistência para mandar uma teoria inteira para o vinagre". Existem ainda as inconsistências menores, muitas das quais já discutimos aqui e que não têm esse poder de "destroçar" uma teoria. Muitas vezes são apresentadas como paradoxos, a serem ou não explicados. Outras vezes são efeitos que nos incomodam, mas não sabemos como evitar: é quando costumo dizer que nos provocam "azia" a qual, se persistente, leva-nos a "engolirmos um dogma" (e só assim a "azia" passa). Existem ainda as interpretações experimentais, frequentemente apoiadas em erros crassos e a se propagarem pela mídia inculta, quando não por entre aqueles que defendem a experimentação sem nunca terem efetuado uma medida livre de erros evitáveis — os "papagaios cultos" a que me referi acima. Poderia ainda retratar inconsistências ainda mais "light", como aquelas apresentadas por Einstein e Schrödinger à física quântica, e a enquadrarem-na no terreno das teorias não realistas (hoje já se admite um certo realismo quântico). E diria mesmo que o simples "ir contra o senso comum" não deixa de retratar outra inconsistência "light" apresentada por muitas teorias, ou seja, a física evoluiu (de clássica para moderna) por cima da idéia de que a física, para explicar determinados fenômenos, deveria inerentemente ser inconsistente.

Enfim, inconsistência pode significar meramente falta de solidez de uma teoria. Ora, se reconhecidamente a ciência evolui e, nesse processo, as teorias caem, enquanto não chegarmos à verdade absoluta poderemos sossegadamente afirmar que todas as teorias científicas são, sob algum aspecto, inconsistentes. E uma das funções do cientista é apontar o grau dessas inconsistências, para que a comunidade reflita se deve ou não persistir pelo caminho adotado. Se é verdade que a comunidade científica, no intúito único e exclusivo de preservar a ordem, e não a política universitária em si, deve se apoiar em paradigmas, não é menos verdade que essa comunidade deve incentivar em larga escala a proliferação de cientistas teorizadores a contestarem tais paradigmas. E parar de formar "papagaios cultos".

Belisário: Por exemplo, a questão: "a experiência de Young com um fóton só falseia a Teoria Quântica?" Parece-me que é sobre isto que estamos discutindo

Não diria que a experiência citada falseia a teoria quântica. Talvez você tenha me entendido mal, pois penso que ela corrobora a teoria quântica, ainda que explicada de maneira fantasiosa. O que pretendi deixar claro é que não é impossível explicarmos tais efeitos por métodos clássicos a se apoiarem em argumentos não tão fantasiosos. Em outras palavras: a experiência não falseia a física clássica e, pelo contrário, a física clássica pode explicá-la através de argumentos mais simples e sem contrariar o senso comum.

Belisário: Você pergunta "o que o fóton é" ou "como ele se comporta"? A teoria diz apenas como ele se comporta. A questão de "o que ele é" é outra história, tem a ver é com modelos. E modelos são construtos independentes da teoria, do ponto de vista lógico.

Concordo, mas veja que sobre o aspecto "light" comentado acima, modelos que não se prestam a ir às causas são, a meu ver, pouco consistentes, ou pouco sólidos. Nada contra modelos! Estou apenas retratando uma visão realista: O fim último da teorização científica é edificar teorias representacionais que abarquem e expliquem as correspondentes teorias fenomenológicas (Mario Bunge). Não me parece que a teoria quântica esteja caminhando em direção às causas últimas dos fenômenos que supõe explicar através de seus modelos.

Belisário: Por isso, não haver consenso sobre "o que o fóton é" não me parece suficiente para falsear a Física Quântica, simplesmente porque ela não toca nesse assunto. Trata-se de uma falta de consenso relativa apenas ao modelo.

Concordo.

Belisário: ... na experiência de Young... ...então não podemos acusá-la de inconsistência com base apenas nessa experiência.

Espero ter esclarecido essa dúvida acima.

Belisário: Agora, o *modelo* que os físicos adotam é: o fóton comporta-se de maneira deslocalizada (como "onda") em certas circunstâncias bem definidas, e de maneira localizada (como "partícula") em outras circunstâncias também bem definidas. Esse modelo é abstraído do formalismo matemático da teoria. Alguém pode contestar esse modelo e encontrar outro que seja mais plausível.

Pois vejo aí inúmeras inconsistências "light", o que de maneira alguma derruba, nega ou, nem mesmo, falseia a teoria quântica. Apenas estimulam-me a postura crítica e, como disse acima, não vejo mal nisso. Acho apenas que nossas universidades, e não me refiro apenas às brasileiras, deveriam valorizar mais essa postura crítica. Com o que parece-me, pela análise de msgs anteriores, que você concorda, ainda que admita já existir esta postura.


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