Sobre a Formação do Profissional em Pesquisa

framesKayoko Yamamoto

Integração I(1):59-60,1995

 

O desenvolvimento da pesquisa científica na universidade particular ou pública necessita, além de apoio financeiro e de subvenções provenientes de setores governamentais ou privados, como foi mencionado pelos colegas aqui presentes, da existência de pesquisadores experientes e com sólida formação ética e profissional.

A pesquisa científica compreende um processo que tem início na observação e na formulação de hipóteses explicativas a respeito do observado. E que prossegue, de acordo com uma metodologia adequada, com a coleta de dados que, depois de reunidos e organizados, serão analisados a partir de um referencial teórico específico com a finalidade de se extraírem conclusões que irão transformar o conhecimento já existente, ampliando, aprofundando ou simplesmente, modificando-o (Meyers and Grossen, 1974). E é este conhecimento que irá agora orientar e influenciar as ações dos profissionais e das pessoas em geral, ao determinar padrões de conduta e de valores, tanto no sentido positivo, desmitificando tabus e preconceitos, quanto no sentido negativo, incrementando fantasias persecutórias ou exacerbando desnecessariamente sentimentos de ódio, inveja e de competição, que constituem as raízes dos muitos conflitos individuais, familiares, sociais e culturais.

Considerando esse poder de influência que está potencialmente contido na pesquisa, ou mais ainda, em suas conclusões, a confiabilidade com que ela é realizada, torna-se uma questão de suma importância. Sabe-se que pesquisas anteriormente elaboradas e conduzidas resultam em conclusões confiáveis e fidedignas, que só tendem a produzir benefícios às pessoas e à sociedade, garantindo-lhes a tranqüilidade e a segurança necessárias para uma vida adaptada, e dando-lhes condições para solucionarem seus conflitos ou para evitar de tê-los. E que as pesquisas mal elaboradas e conduzidas incorretamente, apresentarão resultados duvidosos ou falsos que certamente irão causar graves prejuízos a todos, seja porque os perigos serão exagerados e acentuados, gerando facilmente um clima de terror e de pânico, seja porque eles serão minimizados erroneamente, impedindo que os cuidados necessários sejam devidamente tomados.

A confiabilidade numa pesquisa e em seus resultados depende diretamente da competência profissional, da honestidade e seriedade com que o pesquisador a executa Para assegurar a idoneidade e a imparcialidade, o pesquisador deve estar atento e manter-se isento das influências das variáveis internas a ele, ou seja, de suas ambições pessoais, de seus sentimentos de inveja e de competição entre outros, para evitar atitudes ou interpretações tendenciosas que irão comprometer a neutralidade que é dele esperada enquanto pesquisador. Quanto à sua competência profissional, o pesquisador deve possuir extenso e aprimorado corpo de conhecimentos tanto teóricos quanto práticos, o qual irá fundamentar as normas do procedimento científico e a interpretação dos resultados. E ainda, dominar com eficiência os métodos e as técnicas de investigação, a fim de que a metodologia adotada na pesquisa seja apropriada e compatível com os objetivos a que ela se propõe e à natureza do objeto a ser pesquisado. Porém, serão a posse desses conhecimentos e a consciência ética suficientes para se terem bons profissionais?

Se ponderarmos que a atividade de pesquisa representa a busca e a descoberta de respostas para fatos e situações ainda não conhecidas, constatamos que não, que eles não são suficientes. Esses conhecimentos, embora essenciais, só adquirem sua real importância e significado quando o pesquisador, impulsionado pelo desejo de saber, age, passando a utilizá-los como instrumentos de investigação e de compreensão. A partir desse dado, a tarefa de formar pesquisadores que cabe aos professores e supervisores dos cursos de graduação e pós-graduação nas universidades, fica então mais abrangente e complexa. Eles deverão não apenas transmitir informações e conhecimentos teóricos, práticos e éticos, mas também despertar nos estudantes a vontade de descobrir o conhecimento, incentivando-os a enveredarem por caminhos desconhecidos e incertos ao encontro de novos conhecimentos. E durante esse percurso, ajudá-los a não temerem a aquisição de novos conhecimentos, amparando-os e apoiando-os nos momentos em que se virem invadidos pela angústia que a descoberta do novo traz.

O ensino do procedimento científico, no entanto, não deve ter como única finalidade a formação de pesquisadores acadêmicos ou de laboratório. Ele deve ser ensinado a todo profissional que, como o psicólogo, tem na investigação um elemento de fundamental relevância de seu método de trabalho. Isto porque o objeto de estudo e de trabalho do psicólogo é o ser humano, um ser que para adaptar-se aos estímulos e às mudanças que ocorrem em seu mundo interno e externo, está sempre se modificando, de maneira mais eficaz ou menos eficaz, pois do contrário, conforme Simon (1986), ele não sobrevive. Para acompanhar tais mudanças sem perder a compreensão sobre o seu objeto, o psicólogo, num sentido amplo, deve se conduzir, em sua atividade profissional, como um pesquisador cuja pesquisa nunca se encerra, mas sim que é retomada a cada descoberta que faz sobre ele, qualquer que seja sua área de atuação: psicoterapia, psicologia escolar ou organizacional, entre outros.

Diante do que foi visto, podemos afirmar que o psicólogo só estará formado como psicólogo quando ele estiver apto a observar, sistematizar suas observações e, após integrá-las ao seu repertório teórico-conceitual (pesquisa diagnóstica), realizar intervenções que irão favorecer o crescimento e a maturidade emocional daqueles que o procuram.

Para finalizar, resta mencionarmos uma questão que, por sua importância, mereceria tornar-se tema de pesquisa: Por que será que os estudos e as pesquisas realizados na área de Psicologia não recebem divulgação suficiente e seus resultados são tão pouco utilizados e tão mal aproveitados? Em geral, eles ficam esquecidos nas estantes das bibliotecas ou, quando muito, circulam entre pequeno número de profissionais, desperdiçando importantes achados que representariam contribuições significativas ao trabalho de campo de muitos psicólogos e benefícios incalculáveis às pessoas por eles assistidas.


Referências bibliográficas:
  1. MEYERS, L. S. e GROSSEN, N. E.: Behavioral research. Theory, procedure and design. San Francisco, W. H. Freeman and Company, 1974.
  2. SIMON, R.: Psicologia clínica preventiva. Novos fundamentos. São Paulo, EPU, 1986.

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