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frames Alberto Mesquita Filho

"...acho que só há um caminho para a ciência — ou para a filosofia: encontrar um problema, ver a sua beleza e apaixonarmo-nos por ele; casarmo-nos com ele, até que a morte nos separe — a não ser que obtenhamos uma solução. Mas ainda que encontremos uma solução, poderemos descobrir, para nossa satisfação, a existência de toda uma família de encantadores, se bem que talvez difíceis, problemas-filhos, para cujo bem-estar poderemos trabalhar, com uma finalidade em vista, até ao fim dos nossos dias.
Karl R. Popper (10)

3 — A Práxis Científica

 

3.1 Da observação à teorização

A práxis científica compreende o conjunto das atividades desempenhadas pelos cientistas tendo por finalidade a produção de novos conhecimentos científicos. A observação desempenha um papel relevante neste processo, havendo mesmo quem afirme que a ciência começa pela observação. Cajal, por exemplo, afirma que "as principais fontes de conhecimento seriam a observação, a experimentação e o raciocínio indutivo e dedutivo" (1). A observação é essencial mas por si só, e desacompanhada de outros fatores, tão ou mais essenciais, seria incapaz de desencadear o processo de produção de conhecimentos. Vamos então analisá-la segundo os seguintes aspectos: 1) observação controlada; 2) observação indireta, ou secundária, ou associada a consulta de acervo (pesquisa bibliográfica); 3) observação pura, primária e/ou fortúita; 4) observação inesperada, a constatar inconsistências.

3.1.1 Observação controlada:

A observação controlada nada mais é do que a experimentação ou experiência (2), pressupondo a montagem de um "cenário" construído a partir de um processo analítico destinado à verificação de determinada(s) hipótese(s). Não havendo hipótese, não há o que ser testado; e se a hipótese existir, o processo já está a termo, não se podendo afirmar que tenha "começado" pela experimentação. Eventualmente, durante um procedimento experimental poderão surgir observações não programadas e do tipo das chamadas observações puras ou então das observações inesperadas (ver sub-ítens respectivos a seguir).

3.1.2 Observação associada a consulta de acervo:

A pesquisa bibliográfica é útil tanto como fonte de hipóteses, a serem testadas pela experimentação, quanto como fonte de relatos experimentais a fomentarem a teorização (dedução de novas hipóteses). No primeiro caso, e como comentado no item anterior, o processo já está a termo e no segundo caso o cientista poderá estar frente a uma nova temática, e o processo não difere dos que serão comentados nos dois sub-ítens a seguir.

3.1.3 Observação pura:

Segundo Popper não existem observações puras: elas estão impregnadas pelas teorias e são orientadas pelos problemas e acompanhadas pelas teorias. (3) Parece-me estar havendo aqui um rigorismo desnecessário na interpretação do termo, talvez a reforçar uma retórica. Vou utilizar o conceito observação pura como equivalente à direta, ou primária, e não produzida, com o que as distinguimos das discutidas nos sub-ítens anteriores. A observação pura, primária e/ou fortuita pode desencadear processos a culminarem com "insights". E, como vimos no capítulo 2, ela é parte de um processo mais geral a que damos o nome de intuição. O fenômeno em consideração tanto pode estar ocorrendo na natureza bruta quanto na experimentação. Às vezes a intuição desencadeia-se pela leitura (pesquisa bibliográfica ou observação secundária) ou, até mesmo, através da imaginação, ao rememorarmos dados já assimilados e/ou acontecidos no passado. Mais do que uma simples observação, o processo intuitivo inicia-se pelo estranhamento, ou seja, pela percepção de alguma coisa diferente e que jamais tínhamos notado. Esta percepção, em si, não retrata o "insight", ou o estalo ou a constatação efetiva de que um fenômeno novo e de certa forma surpreendente chegou a ser "observado". Entre esta percepção, ou estranheza, e o "insight", podem se passar segundos, horas, dias ou mesmo anos. O processo intermediário pode se dar todo ele em nível inconsciente e irracional. Quando duradouro, certamente tomamos consciência do fato, ainda que não tenhamos a resposta e sequer saibamos a causa exata do estranhamento. Neste caso, consciente e subconsciente entram em comunicação mesmo antes do "insight". Quando dura segundos ou minutos é provável que passe do subconsciente para o consciente já sob a forma de "insight". O "insight" nem sempre representa a última etapa do processo e com frequência não é. Em geral torna-se necessário um procedimento racional para sua conclusão. O que caracteriza o "insight" é aquela certeza de que chegamos ao problema mas não ainda à solução. Em outras palavras, o "insight" seria a certeza de que chegaremos à solução por uma via racional. Neste caso, o que caracteriza o "insight" é a descoberta de uma via de raciocínio a ser seguida para que cheguemos à solução. E é por isso que essa etapa final, após o "insight", tem que se passar no nível consciente. Percebe-se então que o simples "observar" não pode ser responsabilizado pela produção de novos conhecimentos: a observação deve estar associada a uma série de fatores outros e a levar em conta uma série de observações e raciocínios outros efetuados no passado. Seria então mais correto dizer que a produção de novos conhecimentos científicos começa não pela observação mas pela intuição (intuitivismo) (4).

3.1.4 Observações inesperadas:

Ainda que possamos dizer que as observações inesperadas constituam um caso especial de observação pura, vale a pena estudá-las separadamente pois os procedimentos que se seguem podem ser bastante diferentes. Neste caso o caráter da estranheza é diferente daquele observado no item anterior, pois trata-se de algo novo captado diretamente pelo consciente, como que a falsear um procedimento esperado. De posse de uma constatação como essas, nada impede que a estranheza aloque-se no inconsciente vindo a gerar "a posteriori" um "insight" em nada diferente do descrito no subitem anterior; não obstante o mais comum nestes casos seria o cientista procurar por novas saídas seguindo um procedimento racional (dedução de novas hipóteses). Na procura por novas hipóteses, e para explicar estes fatos anômalos, não é raro o cientista deparar-se com idéias a confrontarem os paradigmas aceitos pela comunidade científica. Por vezes, e procurando não se situar na contra-mão da ciência, chega a hipóteses à primeira vista absurdas e nem sempre factíveis de experimentação direta e/ou imediata. Não raramente, em condições como estas, o bom cientista lança mão da lógica transcendental [7].

3.2 A espiral da práxis

A práxis científica pode ser representada, de maneira didática e bastante simplificada (figura 1), por um campo central de observação, —onde está situado o objeto de estudo, e que nada mais é senão a natureza,— por quatro A espiral da práxiscampos de atuação (H, E, L e C) e por quatro tipos de operações mentais, (dedução, análise, indução e síntese), a constituírem uma via de raciocínio disposta em espiral, representada na figura 1 (5) e a interceptar os campos de atuação. Temos ainda a intuição que está aí representada pelas linhas que saem do centro do esquema em direção às linhas que representam a dedução; a parte inicial das linhas de dedução (a começarem no campo L) podem ser consideradas como comportando também a intuição, nos casos em que há a observação secundária (pesquisa bibliográfica).

Como vimos no item anterior (3.1), o processo intuitivo conclui-se quando chegamos a formular um problema, visualizando então uma via de raciocínio a ser seguida. Esta via começa pela dedução de hipóteses, que são enunciados particulares correspondentes a um dado fenômeno observado e, portanto, mais geral. Por exemplo, Galileu, ao "visualizar" (intuição) a inércia circular para todos os corpos (caso geral), deduziu a hipótese de que os corpos terrestres (caso particular) tendiam ao repouso graças ao atrito. É característica da dedução a evolução do geral para o particular. Frequentemente esta evolução se dá em função da procura por um mecanismo (no caso, o atrito) a justificar um comportamento particular ou local (no caso, a evolução para o repouso) à primeira vista diverso daquele aceito, "a priori", como geral ou universal (no caso, a inércia). E este "a priori" nem sempre decorre de uma experimentação precedente.

Conhecida pelo menos uma hipótese, prossegue-se pela análise, destinada a esmiuçar os procedimentos e os detalhes técnicos necessários para o teste da hipótese. Para o exemplo indicado, a análise deveria selecionar o material apropriado para o teste, os mecanismos destinados a colocarem o corpo em movimento (impulso inicial), as manobras destinadas à redução do atrito, a seleção das variáveis a serem levadas em consideração, os dispositivos a medirem as variáveis escolhidas, a análise dos erros, etc. A complexidade deste procedimento analítico chega a ser enfatizada por Popper com as seguintes palavras: O experimentador não está principalmente empenhado em fazer observações exatas; seu trabalho é, também, em grande parte, de natureza teórica. A teoria domina o trabalho experimental, desde o seu planejamento inicial até os toques finais, no laboratório. (3)

Nota-se, pelo exposto, o caráter da via analítica: não só no sentido exposto, a esmiuçar detalhes técnicos mas, também, e à semelhança do observado na via anterior (dedutiva), parte-se do geral (todos os corpos terrestres, quaisquer que sejam os mecanismos destinados a reduzirem o atrito) para o particular (os corpos escolhidos para a experimentação, nas condições restritas pela técnica adotada).

Concluída a experiência, tem início o processo inverso. E agora, através das relações constatadas, iremos enunciar as leis ou, então, constatar o inesperado (a menos que a experiência tenha sido conduzida na expectativa de falsear a hipótese). Para o exemplo em discussão, esta fase seria também a ideal para a extrapolação dos valores encontrados para a hipotética condição ideal correspondente a uma redução total do atrito. Nesta etapa utilizamos o raciocínio indutivo: verificadas as características inerciais nos objetos testados (caso particular), teremos corroborado a hipótese (caso mais geral), podendo aceitá-la como lei (particular pois refere-se ao comportamento dos corpos terrestres ao serem livrados do atrito).

Na etapa seguinte podemos efetuar a síntese desta lei com aquela observada para os corpos celestes, chegando-se à lei universal da inércia. O conhecimento assim adquirido acumula-se no campo das concretizações C, a assumir o papel de fonte de observações secundárias, tanto mais fidedignas quanto mais as observações forem corroboradas por procedimentos outros, no decorrer do tempo.

É interessante observar que as duplas indução-dedução e análise-síntese estão constituídas por elementos dotados de propriedades antagônicas e complementares. Em cada dupla, um dos elementos representa uma via de raciocínio a ir do geral para o particular e o outro o oposto. Por outro lado, as duplas indução-dedução e análise-síntese constituem em conjunto um par de elementos antagônicos e complementares. A primeira dupla representa um par de operações mentais que, em determinadas etapas, exige um certo grau de abstração; e a segunda representa um par de operações mentais que exige a permanência no mundo real. (5)

3.3 O método científico

A porção periférica do esquema mostrado na figura 1, com quatro campos e uma via de raciocínio, com quatro etapas, representa de maneira simplificada, o que muitos livros de metodologia científica consideram como método científico. A intuição, ainda que essencial para a práxis científica, não costuma ser incluída no método, a considerar apenas os procedimentos racionais. Conquanto esteja já se transformando em coisa do passado, alguns livros ainda adotam o argumento indutivista, a omitir a dedução de hipóteses. O esquema apresentado não se adapta ao argumento indutivista, a menos que excluamos alguns de seus componentes. Críticas ao indutivismo podem ser encontradas na maioria dos livros de metodologia científica e, em particular, nos livros de Chalmers (6) e de Popper (3).

O método em si é mais complexo e engloba não apenas a dedução de hipóteses mas também a produção de teorias com múltiplas hipóteses. As teorias nem sempre são testadas por suas hipóteses mas por suas previsões. Nestes casos o teorizador adota, com frequência, artifícios outros, e não pertencentes ao "plano da práxis". Por vezes estes artifícios têm como finalidade fortalecer argumentos a respaldarem uma ou outra das hipóteses ainda não testadas; por outras têm por finalidade a dedução do "entrelaçamento entre as hipóteses" a dar corpo à teoria; ou mesmo, à sondagem de possíveis "variáveis escondidas" a comportarem a existência de hipóteses ainda não visualizadas. Estes procedimentos, em geral, podem ser sistematizados e, pelo fato de levarem à dedução de teorias que fazem previsões, ou seja, que permitem que "se determinem os conceitos que se relacionam aos objetos independentemente da experiência, e anteriormente a ela", podemos dizer que relacionam-se à chamada lógica transcendental de Kant (7).

3.4. O macrométodo científico

Podemos ainda conceituar o método científico de uma maneira mais ampla o qual, para evitar confusões, costumo chamar por macrométodo científico (8). Suponhamos que um cientista tenha publicado seus resultados, ou seja, tenha completado uma etapa da sua existência como tal. O macrométoco científicoQue fazer a seguir? Uma possibilidade seria estudar algum tema novo; outra seria aprofundar-se em algum tema de seu interesse. De qualquer forma, ele provavelmente vai entrar agora numa fase de "aquisição de conhecimentos, visando à criatividade". Então ele vai começar a estudar, visando a obter um insight. Enquanto ele está estudando, debatendo, discutindo em grupos de estudo, de repente torna-se "possuído" por um certo pressentimento (intuição). Com grande frequência esta intuição relaciona-se apenas superficialmente com o tema escolhido para estudo e, em menor grau, aparenta estar totalmente dissociada do mesmo, condição que o leigo atribui ao acaso. Após o cientista ter o estalo, ou o "insight", ele caminha no sentido de realizar uma pesquisa, o que está representado na figura 2 com a flecha que culmina na "elaboração de novos conhecimentos". Se aplicássemos um zoom no lado direito da figura, bem em cima desta flecha, seria então de se esperar que visualizássemos, na mesma, o método científico mostrado na figura 1, ou seja, o caminho percorrido pelo cientista entre a intuição e a conclusão dos trabalhos daí decorrentes.Chegando a uma conclusão, o cientista irá publicar os resultados, irá apresentá-la em um congresso, irá submetê-la a discussões, etc. Essa etapa está representada na figura 2 como "difusão". E, terminado o trabalho, o cientista volta a percorrer uma trajetória semelhante à apresentada, obviamente agora num nível mais elevado. Sem dúvida, a ciência é produzida graças à observação do método científico. Não obstante, não se trafega pelo método científico se não houver a intuição, a imaginação, a criatividade. E de nada adiantará a produção de novos conhecimentos se não houver a difusão dos mesmos para a comunidade científica.

3.5 O método científico e as correntes de pensamento

As principais correntes de pensamento, relativas ao estudo do método científico, e a atraírem a atenção dos cientistas no século XX foram principalmente aquelas propostas por Karl Popper (3) e Thomas Kuhn (9). Não apenas divergem em suas conclusões, mas também, e principalmente, seguem, desde o início, abordagens totalmente diversas, focalizando o método científico através de prismas diversos. Popper disseca o método científico propriamente dito, estabelece uma regra metodológica associada a seu método dedutivo de prova, combate o indutivismo com paixão, a ponto mesmo de ignorar a via indutiva acima exposta (item 3.2), e propõe a falseabilidade como critério a ser adotado pelos cientistas para o teste de suas teorias (a falseabilidade será comentada no próximo capítulo desta série). Sua filosofia, quando pensada em termos de macrométodo científico, adapta-se ao lema revolução permanente, a ser adotado pelos cientistas, sem restrições outras ao livre pensar que não aquelas inerentes ao método científico propriamente dito. Kuhn aborda essencialmente o macrométodo científico e constrói as suas idéias tomando por base argumentos históricos. Em linhas gerais, ele traça um perfil da evolução das ciências, estabelecendo a partir daí uma espécie de comportamento padrão a ser observado pelos cientistas. Kuhn enxerga a evolução da ciência como constituída pelo que chama "períodos de ciência normal", nos quais os cientistas limitar-se-iam a se orientar pelos paradigmas vigentes; e "períodos revolucionários", desencadeados pela falácia dos paradigmas até então aceitos como verdadeiros. A filosofia dogmática de Kuhn, ao ser aceita, enfraquece sobremaneira a falseabilidade lógica de Popper. Com efeito, as teorias a sustentarem os paradigmas estão, durante os períodos de ciência normal, superprotegidas quanto a falseabilidade. Qualquer idéia proposta no sentido de falsear um paradigma deveria ser mal vista pela comunidade científica. O cientista, para Popper, deve adotar uma atitude revolucionária permanente, enquanto que, segundo Kuhn, ele deve se acomodar aos dogmas vigentes, sob pena de ser alijado da comunidade científica. O corporativismo é inerente à filosofia de Kuhn. Decorre deste corporativismo a adoção de "modismos", a ênfase à pseudo-exatidão, a justificar a "falta de clareza", e o "autoritarismo do especialista", temas estes excessivamente criticados por Popper (10).

 

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Referências:
[1] CAJAL, S.R.: Regras e Conselhos sobre a Investigação Científica, T.A. Queiroz Ed. Ltda, São Paulo, 1979 (tradução), p.1.
[2] FERREIRA, A.B.H. (1986): Novo Dicionário Aurélio, Ed. Nova Fronteira S.A., Rio de Janeiro, p.743. Experimentação: "Método científico que consiste em observar um fenômeno natural sob condições determinadas que permitem aumentar o conhecimento que se tenha das manifestações ou leis que regem esse fenômeno; experiência".
[3] POPPER, K.R., 1959: A Lógica da Pesquisa Científica, Editora Cultrix, São Paulo, 1975 (trad.).
[4] O conteúdo deste parágrafo é a reprodução, ligeiramente modificada, de um texto que escrevi, em 17/06/00, para a lista de discussão Ciencialist, em resposta a um questionamento apresentado por um dos membros da lista (16/06/00) e que surgiu logo após eu ter publicado, em página Web, o capítulo 1 deste ensaio.
[5] MESQUITA FILHO, A., 1984: Os Átomos também Amam, Editora das Faculdades (hoje Universidade) São Judas Tadeu, São Paulo, figura 1, capítulo 2.
[6] CHALMERS, A.F. (1976): O que é ciência afinal?, Ed.Brasiliense, São Paulo, (1993 - tradução), São Paulo.
[7] Este assunto é estudado em "O Método Científico", item 4.4.
[8] MESQUITA FILHO, A., 1997: Integração ensino-pesquisa-extensão, Integração III(9):138-43 (download, zip, 172 Kb). A figura 2 e os dois últimos parágrafos deste capítulo foram extraídos deste trabalho, com ligeiras modificações.
[9] KUHN, T.S.: A Estrutura das Revoluções Científicas, Ed. Perspectiva, São Paulo, 1962 (tradução).
[10] POPPER, K.R., 1956: Acerca da inexistência do método científico, em Prefácio da edição de 1956 do livro "O Realismo e o Objetivo da Ciência", Publicações Dom Quixote (tradução), Lisboa 1987.

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