Física Quântica e Psicologia

framesAlberto Mesquita Filho

 

Editorial - Integração XI(43):303-4,2005

 

 

Resposta a uma consulente:

Recentemente fui indagado a respeito do meu posicionamento em um diálogo que participei na Ciencialist, em julho de 2001, e que pode ser encontrado na Internet [1]. A mensagem original era a seguinte:

Boa Tarde,
Eu sou psicóloga, não tenho nada a ver com a área de exatas, porém nutro um grande interesse pela física quântica.
Seu questionamento [1] me deixou bastante confusa, perplexa, visto que tinha encontrado algumas respostas na física quântica...
Gostaria que você explicasse, no meu idioma, quais as bases e fundamentos da física quântica, o que você questiona, se há algo aproveitável nisso tudo e em questionando tudo isso, que até então me parecia exuberante, qual seria o viés mais plausível para se entender certas questões que a física quântica consegue explicar?

A seguir, a minha resposta:

Prezada consulente

É bastante comum os psicólogos simpatizarem com a física quântica, e creio que isso decorre da grande amizade que existiu entre Jung e um de seus ex-pacientes, o famoso físico Wolfgang Pauli.

Sinceramente, não acredito que a física quântica se preste a servir como base sólida para nenhuma das ciências de natureza mais complexa, como acredito ser o caso da psicologia. A física quântica ainda não conseguiu decifrar o que reside por trás dos conceitos que se escondem através das palavras dualidade, incerteza, spin, permitida (de órbita permitida) etc, ao lado de inúmeros outros, por vezes de sabor intrinsecamente místico, como universos paralelos e outros que tais.

Noto que esta confiança excessiva no desconhecido assemelha-se bastante a uma atitude ingênua apresentada por um grande amigo e professor de Cálculo que tentou me convencer que, ao criticar a teoria quântica, eu estava me comportando como um herege, posto que graças a essa teoria ele havia conseguido provar que Deus existe. Pergunto então: O que há de tão importante na física quântica para os psicólogos? Como uma disciplina que sequer chega a ser devidamente compreendida por aqueles que a estudam, pode ser tão fundamental a ponto de servir de bengala para outras áreas do saber?

Os fundamentos da física quântica são experimentais e de início supõem um absurdo, qual seja: Que a física clássica não consegue explicar determinados fatos experimentais. Isto não é verdade, posto que existem dezenas de físicas clássicas e o físico quântico, ao emitir tal opinião, aparenta conhecer apenas uma delas, exatamente aquela que lhe interessa. A bem da verdade, eu digo: É perfeitamente possível explicar, de maneira clássica, tudo aquilo que os físicos quânticos assumem como inexplicável pela física clássica. É suficiente retornar à física de Newton e assumir: 1) a luz corpuscular [2]; 2) o movimento da matéria como entidade absoluta [3]; e 3) o agente dos campos de força como algo de natureza imaterial [4]. Esta não é a única saída clássica, mas é aquela que eu adoto em minhas teorias.

Aceitando que a física clássica não consegue explicar tais experiências (espectro do corpo negro, estabilidade do átomo etc.), os físicos "modernos" criaram uma matemática a se acoplar a esses fenômenos a qual, não obstante, ainda não conseguiu se justificar fisicamente, apesar da teoria já contar com mais de cem anos de existência. Como teria dito o físico "moderno" Alan Sokal:

...Já a teoria da física quântica é muito complicada, e nem os físicos têm certeza do que ela significa. E tenho de confessar que, quanto mais eu estudo teoria quântica, menos eu a entendo.

Aliás, de uma maneira ou de outra, quase todos os físicos “modernos” chegam a dizer algo semelhante, ainda que de forma amenizada.

Com relação a seu último questionamento, eu diria que é praticamente impossível entender física quântica, a não ser que estejamos dispostos a brincar de ficção. Por outro lado, ao contrário do que afirmam nas melhores universidades de todo o mundo, não acredito que a física quântica consiga explicar alguma coisa. Explicar subentende conhecer, interpretar, entender, esclarecer, tornar claro ou inteligível aquilo que era obscuro ou ambíguo (dicionário Houaiss). Sob esse aspecto, e tomando de empréstimo as insatisfações manifestadas por aqueles que estudam o assunto, poderíamos dizer que a física quântica não consegue explicar nada, absolutamente nada. Não devemos confundir coincidência de dados numéricos com explicação. Um físico quântico, assim como um contador, consegue fechar um balanço (chegar a um resultado zero), mas diferentemente do contador, não consegue explicar por que o balanço deu certo (quais os argumentos a justificarem o zero encontrado).

Dualidade, incerteza, spin, órbita permitida etc. são todos termos com equivalentes clássicos e explicáveis através de uma física clássica newtoniana. Se alguém quiser apoiar a psicologia em algo sério, garanto que não será nada fácil, mas sugiro que comecem pela física genuinamente newtoniana. Como cheguei a dizer em um livro publicado em 1987 [5], a física "moderna" nada mais é senão uma fina camada de gelo, incapaz de sustentar a biologia ou a medicina (e acrescento aqui a psicologia).

PS: Não sou físico e sim graduado em medicina. Comecei a me interessar pela física na década de 80, quando dava aulas de biofísica e bioquímica. A partir de então me considero um físico amador.

Abraços

A.M.F.


Referências:
  1. Mesquita F.º, A., 2001: Questionando a física quântica
  2. Mesquita F.º, A., 2003: A natureza da luz e o princípio da superposição.
  3. Mesquita F.º, A., 2004: O movimento absoluto e a física de Newton. Artigo apresentado em seminário na disciplina História da Ciência, Depto de Filosofia USJT.
  4. Mesquita F.º, A., 1997: The equation of the electron and the electromagnetism. A new unifying electromagnetic theory. Integração III(11):286-304. Este artigo foi traduzido para o português.
  5. Mesquita F.º, A., 1987: Confesso que blefei – Física antiga x moderna. Editora das Faculdades (hoje Universidade) São Judas Tadeu, São Paulo.

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