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Figura 3.8 | Figura 3.9 |
A figura 3.9 acrescenta alguns detalhes mais ou menos óbvios e a relacionarem as coordenadas x e y com s, a distância percorrida pelo objeto virtual ao longo de sua trajetória, entre a primeira medida e a medida efetuada após um certo tempo t (no caso da figura, a quarta medida da tabela 3.2). Nota-se claramente a possibilidade da determinação de s = f(t) aplicando-se Pitágoras, ou seja, através da relação s² = x² + y², válida para todos os pontos experimentais. Em outras palavras, a abordagem bidimensional (plano x,y) contém, como não poderia deixar de ser, as características unidimensionais do movimento.
Vamos agora às equações expressas nas figuras 3.6 e 3.7 (com x e y em pix e t em s):
x = 59t - 0,4 e y = -45t + 0,2
Convém mudar novamente a origem dos espaços, de modo a obtermos inicialmente (x, y, t) = (0, 0, 0). Facilmente verifica-se que isto ocorre para
x = 59t e y = -45t
(x e y em pix e t em s)
Observação: Do ponto de vista físico esta modificação é sempre permitida. Não obstante, para o cálculo do desvio padrão deve-se utilizar a equação obtida através do método dos mínimos quadrados sem modificações (isto será observado no próximo item).
Aplicando Pitágoras, como sugere a figura 3.9, chegamos na equação de s:
s² = x² + y²
s² = (59² + 45²)t²
s² = 5506t²
s = ± 74,2t
Escolhendo o sentido dos s positivos coincidente com o sentido do movimento, chegamos à equação procurada para a função s = f(t):
s = 74,2t
(s em pix e t em s).
Esta é a equação horária do movimento, notando-se que é a equação de uma reta no "plano" (x,t) e, portanto, a sugerir que o movimento é uniforme (o objeto percorre distâncias iguais em tempos iguais), conforme comentado no item 2.7. Deixarei aqui uma questão a ser esclarecida oportunamente: Os erros experimentais afetaram as variáveis x e y (no caso a incerteza foi estimada em 1 pix para mais e para menos). Como propagar essa incerteza para as estimativas dos valores de s?
Com o auxílio das equações x = f(t) e y = g(t) pode-se também caracterizar a trajetória do movimento. Com efeito, essas duas equações são chamadas equações paramétricas de uma curva definida por y = F(x). O parâmetro no caso é a variável t e esta "curva" nada mais é senão a trajetória do objeto virtual que estamos estudando. Vamos então obter a equação da trajetória:
x = 59t | ▬► |
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▌ ▼ |
||
y = -45t | ▬► | ![]() |
Como era de se esperar (movimento retilíneo), estamos frente à equação de uma reta com inclinação negativa e que neste caso, e por opção nossa, passa pela origem.
Importante: A equação horária [s = f(t)] caracteriza o movimento em função do tempo sem fornecer detalhes sobre o tipo de trajetória. Uma equação horária retilínea caracteriza a uniformidade do movimento, assim como determinados tipos de equações senoidais caracterizam a periodicidade do movimento (vide mhs). O movimento circular e uniforme, por exemplo, tem uma equação horária s = f(t) do mesmo tipo que aquela que estamos ora estudando. Quem caracteriza a trajetória é a equação da trajetória [do tipo y = f(x)].
3.8 Mais sobre erros e desvios
Ao efetuarmos medidas de variáveis correlacionadas, como fizemos nos itens anteriores, é costume considerar a medida da variável independente (no caso em consideração, a variável t) como exata (ou sem erros). Isto não é equivalente a uma desconsideração do erro, mas sim a uma transferência desse erro para a estimativa da variável dependente. Como então efetuar essa transferência? Por um lado, já comentamos algo nos capítulos anteriores e a relacionar-se com a subjetividade do método e/ou com a astúcia do experimentador. Por outro lado, e como veremos, nem mesmo esta subjetividade e/ou astúcia irão pesar significativamente no estudo dos erros, haja vista que estamos trabalhando com variáveis correlacionadas e a possibilitarem previsões matemáticas um pouco mais sofisticadas.
No capítulo 1, item 1.8, chamamos a atenção para uma sutil diferença entre erro e desvio. Vamos reproduzir uma dessas diferenças: "Quando estamos trabalhando com grande número de medidas, podemos deixar as considerações sobre erros de lado e pensar em desvios. Desvio seria "a diferença entre um valor obtido ao se medir uma grandeza, e o valor que estamos assumindo como aquele que mais se aproxima do valor real."
Á primeira vista não poderíamos aplicar esse conceito de desvio em nosso estudo atual, posto que, apesar de termos efetuado grande número de medidas, cada medida foi efetuada uma única vez. Não obstante, essas medidas estão todas correlacionadas, a ponto de nos possibilitarem o encontro de equações que exprimem matematicamente a correlação (o nome adotado em estatística para esta equação obtida pelo método dos mínimos quadrados é equação de regressão e, no caso específico, regressão linear). Aceitando essas equações como algo a nos fornecer "o valor que mais se aproxima do valor real", podemos obter os desvios referentes a todas as medidas efetuadas, tanto para x quanto para y. Não é rara a utilização do termo resíduo para esse tipo de desvio. O desvio, ou resíduo, seria então
desvio = valor obtido experimentalmente - valor obtido utilizando-se a equação.
Vamos chamar de xi (i = 1, 2..., n) os valores obtidos experimentalmente e de x'i os correspondentes valores (mesmo t) obtidos utilizando-se a equação x = 59t - 0,4 (conforme expresso na figura 3.6). Os desvios dxi serão então dados pela expressão:
dxi = xi - x'i (i = 1, 2..., n)
Os quadrados dos desvios serão então:
dxi² = (xi - x'i)² (i = 1, 2..., n).
O mesmo pode ser feito para yi e y'i, obtendo-se os correspondentes desvios dyi e dyi². Notar que a equação a ser agora utilizada é y = - 45t + 0,2.
Promova agora uma expansão na sua tabela do Excel (correspondente à tabela 3.2 acima) acrescentando as colunas x', x-x', (x-x')², y', y-y', (y-y')² e, abaixo da tabela, os textos "Soma", "Média", "Variância", "Desvio Padrão" e "σ" como mostrado na figura a seguir e com os respectivos valores já calculados (Em dúvida clique aqui):
Tabela 3.3
Notar que a soma e a média dos desvios devem ser iguais ou bem próximas de zero [2] [Se tivéssemos desprezado os fatores -0,4 e +0,2 das equações para x' e y' respectivamente, esta igualdade (ou proximidade) poderia não ter sido obtida.].
Pode-se demonstrar [3] que ao assumirmos para a incerteza σ o dobro do valor do desvio padrão, esta incerteza cobrirá uma faixa correspondente a algo muito próximo de 95% dos valores obtidos experimentalmente.
Os valores obtidos para as incertezas concordam, mais uma vez, com o fato de a incerteza de ± 1 pix ter sido uma estimativa razoável. Há de se notar, não obstante, que estamos comparando dois tipos de incerteza conceitualmente distintos. Um deles relaciona-se à estimativa de erro em cada medida obtida individualmente, enquanto que o outro presta-se a caracterizar um intervalo em faixa, onde a maioria das medidas deveria se situar. A figura 3.10 ilustra essas diferenças para a variável x. Os pontos experimentais estão em amarelo, as incertezas individuais em azul. Em roxo são apresentadas duas retas a limitarem uma faixa correspondente à incerteza coletiva. Essas retas são x = 59t ± 1.
Figura 3.10Deixamos pendente, no item anterior, a questão da obtenção da incerteza para s. Aqui também poderíamos pensar em uma incerteza individual ou em uma incerteza coletiva. Nos dois casos elas poderiam ser obtidas através das equações de propagação de incertezas. Não obstante, e haja vista que é possível obter a equação de regressão para s, pode-se também obter a incerteza σs por procedimento semelhante àquele adotado para a obtenção de σx e σy na tabela 3.3.
Para o cálculo de s usar s2 = x2 + y2, com valores de x e y observados nas tabelas 3.2 ou 3.3. A seguir obtenha o gráfico de s = f(t) com esses valores de s e os correspondentes valores de t. No gráfico acrescente a equação de regressão (linha de tendência do Excel) e utilize-a para a construção da coluna s' (vide como exemplo a tabela 3.4 abaixo). A seguir e por procedimento semelhante àquele utilizado na construção da tabela 3.3 procure chegar ao valor de σs.
Fim do Capítulo 3
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- CASTRO HUMES, Ana Flora P.; Inês S. Homem de Melo, Luzia Kazuko Yoshida e Wagner Tunis Martins (1984). Noções de Cãlculo Numérico, McGraw-Hill, São Paulo, p. 93 e seguintes.
- Pequenas diferenças correm por conta da utilização de equações na forma aproximada.
- A demonstração está além dos objetivos deste trabalho, mas poderá ser encontrada na maioria dos livros de estatística.