Alberto Mesquita Filho
Editorial - Integração VI(23):243-4,2000
Além da mente humana e como um impulso livre, cria-se a ciência. Esta se renova, assim como as gerações, frente a uma atividade que constitui o melhor jogo do "homo ludens": a ciência é, no mais estrito e melhor dos sentidos, uma gloriosa diversão.
Jacques Barzun
Aprovado por unanimidade, na sessão de 9 de novembro de 2000 da Câmara de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade São Judas Tadeu, o tema principal do VII Simpósio Multidisciplinar da USJT, a ser realizado em outubro do ano 2001 será "O que é ciência, afinal?"
A idéia vem a propósito e a orientar-se pelos ditames que dia a dia ganham destaque nos meios acadêmicos, quais sejam, aqueles relacionados à multidisciplinaridade, por um lado, ou aos objetivos essenciais e inerentes ao conceito de universidade, por outro, e, dentre estes últimos, aqueles destinados à formação de cientistas assim como também a promoverem a aproximação Universidade-Comunidade.
Ao questionarmos "O que é ciência?", direta ou indiretamente estamos questionando o método científico. Alguns definem ciência a partir do método; outros propõem uma definição de método a partir da ciência. Não raramente, outros problemas também à primeira vista elementares são levantados, quais sejam: Existe realmente um método científico? Ou existiriam vários métodos a agraciarem várias ciências? O método é único? Existe unicidade da ciência?
Mais do que convidar à reflexão e/ou pontuar a necessidade de promoção de debates multidisciplinares a congregarem membros da comunidade universitária brasileira, a temática insere-se também num contexto amplo e, até mesmo, a consubstanciar o projeto do Ministro da Ciência e Tecnologia de "desencadear ampla campanha para divulgação cientifica entre os jovens".
O momento não poderia ser mais oportuno. Dia a dia cresce o interesse do jovem brasileiro pela ciência e de uma forma bem diversa daquela observada há dez ou vinte anos. Frequentador assíduo de listas e grupos de discussão de ciência da Internet nacional, vejo com satisfação professores e jovens estudantes universitários, e até mesmo secundaristas, debatendo assuntos relacionados à ciência básica, outrora restritos ao Olimpo acadêmico. Entre a infinidade de temas apresentados, destacam-se: O que é o tempo? Existe uma velocidade limite? O que é gravitação? O que é carga elétrica? O que é entropia? Porque os físicos gostam de conceitos tão malucos? O que é o método científico? O que é ciência, afinal?
Há poucos anos essa disposição para o debate era quase exclusiva de listas e grupos internacionais, via de regra sediados nos EUA. Hoje temos inúmeras listas ou grupos, com destaque para a Ciencialist e para os grupos de ciência do Universo Online. Para nossa satisfação, verificamos que a Internet portuguesa caminha na mesma direção e não são raros os estudantes brasileiros a frequentarem e postarem mensagens, por exemplo, no "pt.ciencia.geral", talvez hoje o melhor do gênero em língua portuguesa. Para que tenham uma idéia, no dia primeiro deste mês, novembro, surgiu, neste grupo de discussão uma mensagem relativa ao nosso tema: O que é ciência? A
thread assim inaugurada foi alvo de um enxame de respostas. No dia 15, ao escrever este editorial, somavam cerca de 50 mensagens, entremeadas por dúvidas outras; e percebia-se a tendência de seu prolongamento por muitos dias. Em meio a essas dúvidas, levantadas em geral por jovens, algumas respostas de alto nível e, acima de tudo, uma vontade muito grande de aprender pelo diálogo.
Que esse entusiasmo nos contagie a tal ponto que o nosso VII Simpósio consiga reeditar o sucesso dos anteriores.
A.M.F.
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