Um elétron não tão nebuloso
Debate acontecido no news uol.ciencia - fevereiro
de 1998
Foram reproduzidas apenas as mensagens de Alberto Mesquita Filho
com
respostas às questões formuladas por seu oponente
Msg 01
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Saturday, February 21, 1998 5:58 PM
Subject: Um elétron não tão nebuloso
Conforme
prometi no tópico
Onde
estao os cientistas brasileiros (msg
27), relato abaixo alguns pormenores de interesse geral referentes a
minha teoria sobre o elétron (vide
A equação
do elétron e o eletromagnetismo).
A teoria
eletromagnética clássica, desenvolvida no século XIX, apoiou-se
fundamentalmente em experiências que retratavam o comportamento
macroscópico observado em sistemas dotados de cargas e/ou correntes
elétricas. Pouco se sabia a respeito destas cargas ou correntes. Grande
era o numero de físicos a duvidarem da real existência do átomo de
Dalton; e, à exceção de algumas propriedades relacionadas à "natureza
química" da matéria, pouco valor se deu ao significado físico das leis
da eletrólise de Faraday e que pudessem conduzir à idéia de uma corrente
elétrica produzida por partículas em movimento.
Sob esse clima
surgiram as leis de campo de Maxwell. Macroscópicas em sua origem,
macroscópicas em suas interpretações e macroscópicas em seus efeitos. E,
acima de tudo, retratando a idéia vigente no século XIX: a de fluidos
elétricos como agentes produtores destes campos.
Também sob este
clima, ao final do século XIX descobriu-se o elétron (Thompsom). Como a
teoria dos fluidos elétricos estava completa (teoria de Maxwell), não
restou outra alternativa a não ser a de admitir que o elétron, a exemplo
de uma carga elétrica, seria também, em essência, constituído por este
fluido. A única exceção a esta regra, ou a única diferença aceita entre
uma carga elétrica e um elétron, era a indivisibilidade deste ultimo. Ou
seja, o elétron seria o quantum de fluido elétrico, nada mais do
que isso.
Ora, dizer que
o elétron é uma carga elétrica, posto que uma carga elétrica é
formada por elétrons é quase tão absurdo quanto dizer que
um
átomo tem o formato de um avião, posto que um avião é formado por átomos;
ou então, dizer que um tijolo é idêntico a uma casa e, como tal,
possui portas, janelas, compartimentos internos (às vezes
realmente tem, quando habitado por cupins), etc.
Esta idéia
¾
de identificar o elétron a uma carga elétrica¾
foi fortalecida por algumas experiências que, apoiadas neste absurdo,
conseguiram "medir" o que passou a se chamar carga do elétron.
Estas experiências nada mais constatavam do que: o elétron, em
determinados campos, sujeita-se a determinadas forças; porém, nenhum
dado experimental, e/ou de consistência lógica, justificava a conclusão
de que tais forças tinham o mesmo significado físico daquele
representado pelas forças coulombianas, conquanto se ajustassem
matematicamente a essa conclusão.
Essa idéia de
"elétron carga-elétrica" logo mostrou-se incompatível com a
experimentação. O numero destas experiências é enciclopédico, mas
citarei apenas duas: a de Rutherford, que mostrou a fragilidade da
teoria dos fluidos elétricos, comportando a hipótese ad hoc
das órbitas permitidas; e a descoberta do spin dos elétrons
(1924-6), algo que não combina com a idéia de elétron-fluido, ou
seja, a de uma partícula essencialmente geradora de efeitos
esfericamente simétricos, o que seria de se esperar de uma carga
elétrica. Nem mesmo a idéia de spin como giro satisfaz os
requisitos necessários, razão pela qual os físicos modernos de há muito
já a abandonaram. Trata-se de um spin que não é um giro, ou
"não é spin".
Procurando por
uma solução que não estivesse contaminada pelos absurdos apontados,
cheguei a uma teoria eletromagnética apoiada na idéia de elétron
partícula, e não fluido. Obviamente esta partícula deveria apresentar
propriedades constitucionais relacionadas a este efeito spin e,
sendo assim, propriedades relacionando sua constituição (o que é) a um
vetor (como este "o que é" mostra-se para nós).
Ora, como
partículas vetoriais em seus efeitos
¾e
portanto com simetria cilíndrica¾
poderiam produzir entidades macroscópicas (cargas elétricas) cujo efeito
(campo elétrico) manifesta-se por uma simetria esférica (lei de
Coulomb)?
Um alfinete, ou
uma agulha, tem simetria cilíndrica. Graças a essa simetria produz
lesões típicas em nossos dedos. No entanto se você possuir uma pequena
bola de isopor e prender na mesma uma grande quantidade de agulhas, lado
a lado, até que o conjunto das agulhas assuma a aparência da bola
interior, ou seja, uma simetria esférica, e estando as agulhas bem
próximas umas das outras, elas "perdem" a propriedade de perfurar seus
dedos. Você pode jogar este "porco-espinho" para um colega e este poderá
pegá-lo no ar sem se machucar (Cuidado! A idéia é valida, mas se quiser
aplicá-la procure ter certeza do que está fazendo antes de jogá-la).
Esta é a minha
idéia de uma carga elétrica. A de um conjunto de partículas elementares
dotadas de simetria cilíndrica constituindo um elemento macroscópico
dotado de simetria esférica.
É obvio que as
leis de força, no mundo das partículas elementares, devem ser bem
diferentes daquelas observadas macroscopicamente (por exemplo, a lei de
Coulomb). Mas não é isso o que se observa na prática? Percebam que não
existe um único capítulo em livros de física moderna, qualquer que seja
ele, que não retrate alguma situação na qual o elétron desobedece o
comportamento esperado classicamente para uma carga elétrica.
Que dizer do
elétron quando em uma corrente elétrica? Ora, aí a coisa fica mais fácil.
Afinal, um fio condutor retilíneo tem simetria cilíndrica.
Consequentemente, o elétron deve mostrar algumas propriedades
relacionadas a sua simetria cilíndrica (campo magnético) e que ficam de
alguma maneira ocultas quando entram na constituição de uma carga
elétrica ("porco-espinho").
Aí está, em
linhas bem gerais, alguns dos fundamentos da minha teoria. Estou à
disposição para responder às possíveis duvidas sobre o que disse bem
como sobre a teoria apresentada no meu Web. À medida do possível, e
sempre que a discussão comportar maiores esclarecimentos, procurarei
apresentar outras idéias relacionadas à teoria e de interesse geral.
Msg 02
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Saturday, February 21, 1998 10:55 PM
Subject: Re: Um elétron não tão nebuloso
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Tenho MUITAS
contestações a fazer, mas uma dúvida me parece particularmente
interessante (eu gosto de fundamentos de mecânica quântica, apesar
de minha área de trabalho ser outra).
A aceitação ou
não da teoria quântica é uma questão de opção, como teria dito Popper e
como Bohr deixou implícito em alguns de seus comentários a respeito. Por
outro lado, e plagiando Laplace, "eu não necessitei desta hipótese"
(teoria quântica) para desenvolver a minha teoria, e portanto não sou a
pessoa mais indicada para comentar os possíveis absurdos da teoria
quântica, bem como suas "magníficas" predições. Minhas hipóteses são
apenas quatro. Se conseguir responder pelas mesmas, ou pela maneira como
desenvolvi a teoria a partir destas quatro hipóteses, dar-me-ei por
satisfeito. Quanto ao mais, procuro opinar apoiando-me em argumentos
clássicos. Como já disse, é uma questão de opção. O vetor é um artifício
matemático clássico; o spinor é um construto quântico.
Como você explica a experiência da dupla
fenda, que nega completamente uma interpretação clássica do elétron,
no sentido de dar propriedades de onda no que se pensava ser
material (seja esférico, cilíndrico ou assimétrico)?
A sua
afirmativa é válida para o elétron "clássico", ou seja, para o elétron
aceito pelo eletromagnetismo clássico. Eu estou propondo uma partícula
diferente, ainda que clássica, porém não no sentido que você esta
adotando ao termo. A experiência da dupla fenda é muito simples; tão
simples que pode ser explicada com argumentos propostos por Newton há
nada menos do que 311 anos atrás: O elétron emite "informações
eletromagnéticas" (espírito da matéria, segundo Newton) que, ao serem
refletidas nas bordas das fendas, alcançam o mesmo após este ter cruzado
o anteparo "por apenas uma destas fendas", exercendo então um efeito
clássico. O elétron ondulatório, a meu ver, é uma ilusão, bem como o
elétron spinorial.
Msg 03
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Monday, February 23, 1998 3:45 AM
Subject: Re: Um elétron não tão nebuloso
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Alberto Mesquita
Filho escreveu
A
aceitação ou não da teoria quântica e' uma questão de opção...
Por outro lado, e plagiando Laplace, "eu não necessitei desta
hipótese" (teoria quântica) para desenvolver a minha teoria, e
portanto não sou a pessoa mais indicada para comentar os
possíveis absurdos da teoria quântica, bem como suas
"magníficas" predições.
Aceitar as hipóteses
da teoria quântica até pode ser questão de gosto, mas uma teoria que
a substitua tem que explicar os fenômenos experimentais que a
mecânica quântica descreve tão bem.
Concordo com a
idéia mas discordo de suas implicações, bem como da última frase. Alem
disso, há que se levar em conta, também, aspectos espaço-temporais: Não
posso, sozinho, e num curto intervalo de tempo, explicar o que milhares
de físicos, a meu ver de forma não satisfatória, o fizeram em 80 anos.
A minha teoria,
é uma teoria nascente. Se é boa ou não, não me cabe dizer. Até agora,
ela me satisfez, e físico algum, até há bem pouco tempo, preocupou-se em
me convencer de que estou errado. Fico-lhe muito grato pela
consideração, mas sou obrigado a afirmar que nenhuma teoria pode ser
derrubada a não ser através de suas hipóteses, e minhas hipóteses não
são nem relativísticas nem quânticas.
Alem disso, é
bom que se perceba que minha teoria não se propõe a substituir a teoria
quântica; o que ela propõe, sim, é livrar a teoria eletromagnética
clássica de conceitos sabidamente conflitantes, como por exemplo, a
idéia de fluido elétrico. A teoria quântica, no decorrer do tempo, e ao
lado de outras magias, substituiu o termo "fluido" por "nuvem";
posteriormente equacionou esta nuvem através de conceitos
probabilísticos. Se ela seguiu ou não o caminho certo, volto a dizer,
não sou a pessoa indicada para opinar, sob pena de perder-me em
pormenores que em nada fortalecem ou enfraquecem minhas convicções.
Só para não parecer
que mecânica quântica é uma brincadeira de físicos sem conexão com a
realidade,...
Nunca pensei
nisso. Quem afirmou algo parecido foi Jacques Barzun (caracterizava a
ciência como um jogo). Jeremy Bernstein, por cima do pensamento de
Barzun, afirmou: "Einstein, o maior cientista dos tempos modernos, quiçá
da historia, tinha uma maneira quase infantil de manipular a natureza,
como se virtualmente jogasse com os conceitos científicos".
Será que os
demais físicos quânticos são tão diferentes de Einstein? Obviamente, não
se trata de um jogo, ou brincadeira, "sem conexão com a realidade", e
estou citando o fato não como critica a sua afirmação, mas para
desmistificar um conceito mal estabelecido, o da "seriedade" da ciência.
Ha onze anos
atrás eu escrevi o seguinte a respeito: "A física deve se apoiar em algo
muito serio e deve dar origem a conceitos bastante sérios. O mais, é
brincadeira, e nós fazemos parte desta brincadeira." Se alguém não
entendeu o que eu quis dizer, e se sentiu ofendido, eu acho que esse
alguém não gosta do que faz. Perdoe-me, então, este alguém, pela
irreverência; a ofensa, se é que houve, não foi intencional.
... não se esqueça
que coisas como diodo túnel, tomógrafo de emissão de pósitrons e a
própria bomba atômica são fenômenos quânticos. ...
Eu diria que
são fenômenos que comportam uma explicação quântica, mas jamais que são
fenômenos quânticos. Isto cheira-me a lavagem cerebral. Por
exemplo, se o "teletransporte" de fótons, anunciado recentemente por
nossa mídia, tivesse sido realizado 10 anos atrás, ele teria ido contra
os fundamentos da física quântica de então. Hoje já estão chamando o
mesmo como "teletransporte quântico". E logo mais irão citar este
"fenômeno quântico" como uma das miraculosas previsões da teoria
quântica. O Popper deve estar se remoendo em seu túmulo.
... Isto sem falar
nos problemas clássicos que a originaram (espectroscopia, efeito
fotoelétrico e radiação de corpo negro).
Concordo que
estes efeitos merecem uma explicação clássica; mas não com uma teoria
apenas eletromagnética como a minha. Para tanto eu precisaria evoluir ou
para uma teoria de campo mais geral, ou para uma teoria relacionada à
constituição da matéria. Na minha imodesta opinião, já dei o primeiro
passo. Tenho muitas idéias à respeito, até mesmo publicadas em livros,
mas há muito o que ser feito para separar o joio do trigo. Todos nós
estamos sujeitos a ter boas ou mas idéias. Nada como o tempo para
convencermo-nos da necessidade de uma depuração. A "equação do elétron"
não foi psicografada por mim. Ela é o produto de muitos anos de estudos
e meditação. Junto com ela, outras idéias foram surgindo; algumas foram
jogadas no lixo, outras foram arquivadas para uma possível evolução para
uma teoria mais geral.
O que (em geral) não
se gosta em MQ é a introdução da incerteza como ingrediente
fundamental (Einstein criticava isto), a correlação instantânea a
longas distâncias (paradoxo EPR) e a dicotomia observador-observável
(Bohm criticou muito este ponto).
Eu acho que a
incerteza foi uma das coisas mais bonitas que o Heisenberg "bolou";
lamentavelmente ele não conseguiu encontrar uma explicação clássica, e
muito menos alguma variável oculta a colocá-la em padrões clássicos.
Einstein chegou perto disso mas não quis sacrificar sua relatividade (O
Bohr que o diga!). David Bohm chegou mais perto ainda, mas sua imagem
estava por demais desgastada, até mesmo entre seus colegas que o
indicaram para o prêmio Nobel. A história de Bohm é interessantíssima e
tem muito a ver com o que chamei acima por "lavagem cerebral". Não digo
que ele tenha passado por este processo, mas sofreu muito as
consequências do mesmo.
O spin é incluído ad
hoc para explicar problemas espectroscópicos
O spin
quântico, sim. O spin clássico não foi incluído ad hoc,
pois é um achado experimental: Em 1924, Stern e Gerlach observaram o
comportamento dual do elétron em órbita ao ser lançado num campo
magnético. Em 1926 Uhlenbeck e Goudsmit tentaram explicar o espectro da
luz emitida por átomos contendo um único elétron admitindo que este
girasse [o elétron, em órbita em torno do núcleo, giraria em torno de
seu próprio eixo, tal e qual a Terra]. Obviamente este spin
clássico vai contra os princípios quânticos: Se conhecermos o sentido de
giro e a direção do eixo de um elétron, estaremos, no referencial da
partícula, definindo todo o movimento do elétron, "o que é proibido pela
teoria quântica".
...Existe um físico (me esqueci o nome)
que recentemente em um congresso de física nuclear apresentou uma
teoria clássica de espalhamento. Existe o modelo puramente quântico,
a aproximação semi-clássica (aproximação de Born) e a dele
¾todas
dão o mesmo resultado. Ele foi perguntado ao fim da palestra se
acreditava em MQ, e respondeu taxativamente que não, mas estava
pronto para fazer a primeira concessão: o spin.
Ou ele estava
se referindo ao que chamei acima por "spin clássico", ou ele
estava propondo uma nova teoria quântica não clássica. O spin
quântico, ou simplesmente spin, é uma entidade quântica e, a meu
ver, não ha como fugir disso. Se eu desprezar o principio da incerteza e
conservar o spin, na realidade estarei criando um spin
clássico. Volto a dizer que não sou a pessoa mais indicada para fazer
observações deste tipo e relacionadas à teoria quântica, mas procurei
apenas expor o que penso a respeito. Aliás, com a finalidade de evitar
conflitos deste tipo, tenho evitado ao máximo, em minha teoria, o termo
spin, o que não significa dizer que ignore os dados experimentais
que levaram os físicos a admitir este "construto". É possível que este
físico não tenha tomado esses cuidados.
O importante desta
história (real) é que ele estava preocupado em construir uma teoria
clássica consistente com resultados (pelo menos alguns mais
gritantes) da MQ, e não em dizer que não acredita e ponto.
Pelo que
entendi, ele estava propondo uma nova teoria clássica de espalhamento;
eu estou propondo uma nova teoria eletromagnética clássica. Por outro
lado, eu não desprezo o que a teoria quântica explica; simplesmente vejo
a explicação com muita desconfiança, o que é bem diferente.
Acho que tenho
utilizado muito mais palavras do que pontos e, sempre que possível,
procuro justificar minha descrença em determinadas interpretações dos
fenômenos observados. Desta forma, não entendi o trecho final do
parágrafo acima. Será que você está confundindo interpretação com
constatação?
Quanto a defender a
consistência de sua teoria, isto não basta. Em matemática isto é
muito importante, apesar de ser uma tarefa inglória (vide segundo
teorema de Gödel). No entanto, em física é essencial o bom acordo
com a experiência e a previsão de novos fenômenos, até então
ignorados. Ser consistente em física é muito pouco, e relativamente
fácil.
Na minha
primeira mensagem de 21/02/98 eu afirmei: "Conforme
prometi no tópico 'Onde estão os cientistas brasileiros', relato abaixo
alguns pormenores de interesse geral referentes a minha teoria..."
Não foi minha intenção, nem era este o propósito, defender a
consistência da teoria neste newsgroup. Estou apenas colocando-me
à disposição para responder pelo que escrevi. Acho mesmo que os demais
freqüentadores do uol.ciencia devem estar vibrando com as nossas
divergências; e eu, particularmente, sinto-me envaidecido por encontrar
um oponente do seu porte. Sua preocupação procede. Apenas acho que a
teoria, no Web, não está tão desprovida de fundamentos e/ou previsões
quanto a frase dá a entender.
A sua teoria e muito
parecida com as teorias de variáveis ocultas de David Bohm...
Com efeito. E
eu relatei isso, de passagem, no final do
item 2.5. Não obstante, qualquer semelhança deve-se muito mais ao
fato de eu ter lido Newton (e certamente ele também leu), do que de ter
sido influenciado por David Bohm, ainda que admire sobremaneira seu
trabalho.
...(aliás,
colaborador, neste tipo de questão, do próprio Einstein). Bohm
incluiu um tal de potencial quântico para justificar certos
fenômenos experimentais que não possuíam análogos clássicos.
O meu vetor
A assemelha-se a este potencial, como também assemelha-se ao vetor
potencial clássico A do eletromagnetismo.
... é a hamiltoniana
clássica. Bohm abriu mão disto para construir sua teoria. O problema
(como foi demonstrado por J Bell) é que tal teoria é não local, ou
seja, admite ação instantânea a distância. Aliás, o teorema de Bell
garante que qualquer teoria consistente, em termos de certas
previsões experimentais, que seja realista (no sentido defendido por
Einstein) será necessariamente não local (o teorema de Bell é
bastante elegante e pode ser bem compreendido por qualquer um com
conhecimentos equivalentes a graduação em física). As tais previsões
experimentais se confirmaram, em particular numa experiência muito
famosa de Alan Aspect, em 81.
Tudo isso é
verdade. A título de esclarecimento aos demais usuários, eu diria que um
dos textos mais didáticos a respeito do teorema de Bell foi escrito por
Bernard d'Espagnat e pode ser encontrado na "Scientific American", cuja
versão em espanhol (Investigation y Ciencia) saiu no volume 40. Trata-se
de uma aritmética relativamente simples, conquanto um pouco enfadonha.
Estudei esse assunto há muito tempo, e o que me deixou na época um tanto
quanto descrente das interpretações relatadas é que deixou-se de lado um
fenômeno observado por Etienne Louis Malus, em 1809, e ainda não
explicado por teorias corpusculares da luz, nem pelas clássicas
(corpúsculos de Newton), nem pelas modernas (bósons). Tenho minha
opinião a respeito, mas volto a dizer que não me compete explicar as
falácias da física moderna, conquanto possa eventualmente apontá-las.
Aliás, uma dúvida, a
sua contestação ao elétron spinorial é ao spin, ou à descrição
matemática usando spin. Ou seja, você aceita o spin com algo ad
hoc, sem nenhuma explicação mais profunda?
Quando eu digo
que o elétron pode ser representado matematicamente por um vetor, eu
estou evitando chamar a isto como propriedade de giro, pois procuro não
fazer conjecturas infundadas. A idéia de giro me é simpática, nada mais
do que isso. Porém perceba que esta partícula vetorial
¾ou se
quiser, esta partícula dotada de giro¾
deve apresentar efeitos relacionados ao seu movimento de translação e
que diferem daqueles observados por um "ponto material" em movimento.
Tanto "vetor" quanto "ponto material" são artifícios matemáticos
convenientes, porém bastante diferentes. Um vetor em movimento, seja
este movimento retilíneo, seja orbital, mostra, para um observador,
características outras não mostradas por um ponto material. Uma destas
características assemelha-se muito ao que os físicos chamam efeitos
quirais. Se este vetor, alem de "poder ser observado visualmente" for
responsável por algum efeito físico, os efeitos desse movimento podem
gerar fenômenos outros e que talvez respondam pelo comportamento
observado pelo que os físicos chamam "elétron spinorial". Perceba que eu
não sou contra o fenômeno originado por este hipotético corpúsculo;
apenas minhas hipóteses são outras, o que me obriga a explicar estes
fenômenos de forma diferente. E procuro evitar nomenclaturas
conflitantes. Como já disse acima, o "spin clássico" não é ad
hoc. É um achado experimental. Ad hoc foram algumas das
interpretações dadas ao fenômeno observado e que tiveram, como única
finalidade, justificar lacunas da teoria quântica.
Msg 04
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Tuesday, February 24, 1998 8:10 AM
Subject: Re: Um elétron... (metodologia)
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Vou continuar com
minhas críticas, mas tentarei colocá-las dentro de um contexto mais
bem definido. No entanto, antes alguns comentários:
Achei
interessante a forma como você subdividiu a mensagem: "Comentários",
de natureza principalmente metodológica (teoria das teorias ou da
teorização) e "crítica" propriamente dita. Tentarei quebrar a
resposta em duas, seguindo esta idéia, e creio que os demais usuários
terão a ganhar com isso.
É possível que
a parte metodológica esgote-se rapidamente, pois nossas divergências a
respeito têm muito de semânticas e através de um dialogo sadio como este
poderemos convergir em muitos pontos. Por outro lado, creio que este é
um terreno em que os demais usuários poderão participar ativamente mesmo
que não conheçam, de antemão, nenhuma das teorias de que estamos
tratando.
Quanto à
segunda parte (e já iniciando aqui a primeira), fiquei feliz ao ler "minhas
criticas estão apenas começando". Gostaria, no entanto, de deixar
explícitos alguns detalhes a respeito de debates deste tipo que, como
você dá a entender, não são muito comuns. Se é verdade que eu terei que
assumir o papel de "principal advogado", se não o único, não é menos
verdade dizer que o "promotor" é quem dá as cartas. Eu posso, quando
muito, e com finalidades várias, tentar desviar a atenção para
determinados assuntos de maior ou menor importância, mas não tenho como
fugir ao que for delatado a não ser derrubando a critica, ou confessando
minha ignorância no assunto ou, ainda, concordando com a idéia que, na
melhor das hipóteses, enfraquecerá minha teoria.
Felizmente você
concorda que a atividade de pesquisa tem um forte componente lúdico e
desta forma, a exemplo do acontece nos tribunais, entre uma "desavença"
e outra, advogado e promotor poderão "tomar um cafezinho numa boa".
Qualquer que seja o resultado, gostaria que nossa discussão terminasse
em pizza (não no sentido político do termo).
Vamos aos
fatos:
Quando você diz
"uma teoria, para substituir outra tem que explicar o que a outra já
explicava", eu concordo dentro de limites temporais. A historia da
ciência está repleta de exemplos a justificar a sua afirmação. No
entanto isso não acontece imediatamente após a nova teoria ter sido
lançada. A nova teoria precisa ser trabalhada, precisa passar por
testes, precisa enfrentar críticas como as suas, precisa ganhar adeptos,
enfim precisa, de alguma maneira, solidificar-se. Faraday, ao ser
questionado sobre para que servia uma de suas teorias respondeu: "Para
que serve uma criança ao nascer?" Perceba que dentre as crianças de
hoje, aquelas que sobreviverem irão nos substituir. Porém não sabemos
exatamente quem irá substituir cada um de nós, no sentido social do
termo.
É verdade que a
minha teoria já adquiriu um certo grau de sistematização mas, sem duvida
alguma, "ela ainda é uma criança". À medida em que ela for se
desenvolvendo, e admitindo-se que venha a resistir aos testes e críticas
por que passar, certamente ganhará novos adeptos, com idéias novas e,
gradativamente, e na dependência de sua abrangência, irá substituindo as
outras teorias de menor consistência lógica; e aí então não precisaremos
mais cobrar pelas explicações, pois ou ela explica o que estas outras
teorias já explicavam, ou ela não as substituirá. Talvez aí esteja o
"xis" da questão: a minha teoria não veio para substituir nenhuma outra;
ela veio para ser testada. Se passar no teste, aí a historia será outra.
É obvio que, se
eu estou propondo uma teoria num terreno em que já existem tantas
outras, isto se deve ao fato de, por algum motivo, eu não estar
satisfeito com a situação atual. E, em decorrência disto, exponho o que
penso sobre esta ou aquela teoria, em termos do que momentaneamente me
preocupa. Mas para que você entenda como eu me enxergo ao criticar a
física moderna e, ao mesmo tempo, possa perceber que, embora até o
momento seja o único, eu não posso ser um "bom advogado" de minha
teoria, leia este pensamento de Einstein:
"Se o senhor quer estudar em qualquer dos
físicos teóricos os métodos que emprega, sugiro-lhe firmar-se neste
principio básico: não dê credito algum ao que ele diz, mas julgue
aquilo que produziu. Porque o criador tem esta característica: as
produções de sua imaginação se impõem a ele, tão indispensáveis, tão
naturais, que não pode considerá-las como imagem de espírito, mas as
conhece como realidades evidentes." (A. Einstein)
Quanto à
"interpretação realista" que dei ao elétron, talvez tenha faltado
acrescentar que tratava-se de um construto analógico-didático, a exemplo
de outros frequentemente utilizados em física. Poderia citar: o
"lançamento de fótons virtuais" através de trajetórias atrativas ou
repulsivas, da eletrodinâmica quântica; as imagens de partículas quirais
destrógiras ou levógiras; a representação gráfica do "espaço-tempo
bidimensional, da métrica de Minkowski; a idéia de uma bexiga sendo
insuflada, para explicar a expansão do universo a partir do Big Bang,
etc. O lapso talvez faça parte do que Einstein (op. cit.) chamou por
"realidade evidente". Concordo com a "extensão do domínio de validade da
teoria" no caso da supervalorização deste construto analógico (o que
espero discutir na segunda parte ¾crítica
propriamente dita). Aliás, a
figura
2b (item
3.3) retrata esta "imagem de espírito".
Msg 05
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Tuesday, February 24, 1998 9:25 PM
Subject: Re: Um elétron não tão nebuloso
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Que efeito é esse
(Malus)? Quero referências. Onde está escrito bósons, suponho que
sejam fótons. Uma advertência muito séria: fótons não são
corpúsculos de luz (como se lê em muitos textos)
O efeito Malus,
descrito em 1809, pode ser encontrado em livros que versam sobre Óptica
Física, no capítulo referente a polarização da luz, especificamente no
estudo de cristais polarizadores. Para a verificação do mesmo,
utilizam-se dois cristais polarizadores, situados no trajeto de um feixe
de luz normal, e uma célula fotoelétrica, que recebe o feixe após a
passagem pelos cristais. Denomina-se o primeiro de "cristal polarizador"
e o segundo de "cristal analisador". Quando o ângulo entre os eixos
ópticos dos cristais é zero, considera-se como 100 a intensidade da luz
que atinge a célula (poderia ser qualquer outro valor
¾100 é
apenas um número conveniente). Gira-se o cristal analisador deste ponto
até que os eixos ópticos fiquem perpendiculares entre si, quando a
intensidade da luz que atinge a célula cai a zero. Malus observou,
dentre outros valores intermediários, os seguintes:
.
Ângulo entre os eixos ópticos |
0 |
30 |
45 |
60 |
90 |
Área reduzida (redução da área onde hipoteticamente deveria
estar concentrada a luz que atravessa os dois cristais) |
0 |
33% |
50% |
66% |
100% |
Intensidade da luz que atinge a célula fotoelétrica |
100 |
75 |
50 |
25 |
0 |
Diferença (100 - Int) |
0 |
25 |
50 |
75 |
100 |
.
O mérito de Malus foi ter mostrado a diferença entre a área
reduzida e a "Diferença (100 - Int)", estabelecendo a Lei de Malus
(relação matemática que retrata o fenômeno).
As teorias
ondulatórias somente conseguiram explicar a lei de Malus após o
desenvolvimento da teoria eletromagnética de Maxwell. Uma teoria
corpuscular clássica provavelmente precisaria dotar seus corpúsculos de
algum tipo de giro (ou algo equivalente). Do ponto de vista quântico,
creio que não seria nenhum sacrilégio referir-me a fóton como bóson,
mesmo porque para o caso ondulatório a teoria eletromagnética clássica é
suficiente.
Quando eu me
referi a bóson estava pensando na estatística quântica, em particular a
estatística de Bose-Einstein (que para ser sincero conheço apenas de
passagem) associada ao principio da complementaridade de Bohr, que
poderia ser enunciado como: "em certos contextos experimentais são os
aspectos ondulatórios que irão se manifestar, enquanto que em outros, os
corpusculares; mas nunca os dois aspectos irão se manifestar
simultaneamente no mesmo contexto experimental". Ou seja, dependendo
da experiência a ser utilizada para testar o paradoxo EPR, ou da
grandeza "medida", e para sermos coerentes com este principio, devemos
adotar ou o caráter puramente ondulatório ou o caráter corpuscular do
fóton, e não aquele que melhor nos satisfaz.
Perceba que eu
não sou totalmente refratário à teoria quântica. Apenas acho que ela
acomoda-se a princípios dogmáticos e/ou instrumentais (estes últimos têm
sido chamados por critérios de utilidade). Sob esse aspecto, acho-a uma
teoria superprotegida (sempre há um jeitinho para defendê-la).
Pelo que eu entendi
de sua teoria e das discussões você tem a ambição de fundir
relatividade geral e eletrodinâmica clássica em uma única teoria,
provavelmente de conteúdo geométrico.
Não. A minha
idéia inicial foi tentar livrar a física clássica do conceito de fluido
elétrico. Tanto a relatividade geral quanto a teoria quântica situam-se
em terrenos paralelos ao da minha teoria e, em decorrência disso [haja
vista que ambas surgiram como decorrência da teoria de Maxwell, cada uma
firmando-se em um de seus pilares], não há como evitar atropelos entre a
minha teoria e as outras duas. Aquela historia de a minha teoria vir a
substituir esta ou aquela é uma questão que foge ao meu controle.
Acredito que outras teorias virão; e serão estas que ocuparão os
possíveis espaços que surgirem. Mas isso não acontecerá de um dia para o
outro. Posso apontar incompatibilidades entre a minha teoria e as
demais, mas isto não implica em substitui-las. Por ex.: Existem muitas
incompatibilidades entre a teoria da relatividade e a teoria quântica,
mas as duas subsistem, pois nenhuma das duas consegue
preencher todas as
lacunas que surgiriam com a "revogação" da outra.
É uma síntese teórica
sem nenhuma ambição, a priori, de explicar algum experimento
bizarro.
Galileu
construiu uma teoria para explicar o que todos julgavam conhecer. A
idéia da necessidade de algum experimento bizarro, na minha opinião, tem
muito a ver com os paradigmas de Thomas Kuhn. É aquela história de que a
ciência só progride às custas de fatos novos, inexplicáveis pelas
teorias existentes. A esse respeito, sou mais popperiano: revolução
permanente.
A contradição entre
ambas deriva do seu paradoxo: elevador de Einstein-Faraday? (Não
estou completamente convencido da existência de contradição: ver "o
paradoxo da carga acelerada").
Não. Eu acho
que o paradoxo poderá vir a ser importante, mas não se trata de algo
crucial ou definitivo. As experiências de pensamento podem, quando
muito, serem utilizadas para derrubar uma hipótese ou teoria, mas não
para sustentar outra. O que sustenta uma teoria é a experimentação.
90% das minhas
críticas vinham em relação a (possíveis) contradições de sua teoria
com a mecânica quântica. Se meu parágrafo anterior está correto,
então minhas críticas são basicamente improcedentes,
As criticas
procedem. Talvez a forma como foram colocadas, se é que houve a
expectativa de uma resposta absoluta é que, a meu ver, pode ser
improcedente. Não que você não tenha o direito de esperar algo absoluto
mas, como espero ter deixado claro, não posso responder, com a minha
teoria, por fenômenos que extrapolam o domínio da mesma simplesmente
porque existem incompatibilidades entre a minha teoria com outras mais
gerais e abrangentes. Por exemplo, quando eu me referi à lei de Malus,
isto em nada relaciona-se com a minha teoria, mas sim com uma possível
extensão da mesma para uma teoria da luz. Isto surgiu porque eu fui
questionado a respeito do teorema de Bell que, eventualmente, é
utilizado para explicar uma experiência que pretende simular algo
parecido com o que Einstein propôs ao questionar a teoria quântica. A
minha teoria não tem nada a ver com isso, mas como você disse: uma coisa
puxa a outra, que puxa a outra... Admitamos então que eu conseguisse
ressuscitar o paradoxo EPR. O que isso teria a ver com a minha teoria?
Em principio, nada. Mas dai eu posso puxar por aqui, depois por ali, e
quem sabe...
Dá para
perceber o que quero dizer? Qualquer dado que vá contra a teoria
quântica pode, eventualmente, ser útil no fortalecimento da minha
teoria. Isto não significa que eu deva tentar derrubar a física quântica
a qualquer custo. Por outro lado, existem muitas coisas que a física
quântica explica e que não me dizem respeito, a menos que eu me proponha
a ataca-la gratuitamente.
Mas então vamos a
minhas críticas (ao que eu já li do texto, que não foi na íntegra).
Como o seu "elétron" parado pode gerar um campo magnético?
E porque não?
Qual é a experiência que me garante o contrário?
E pior, não vi
referência ao potencial escalar, de onde se obtém o campo elétrico.
Ou seja, o seu elétron é, na verdade, um monopolo?
O potencial
escalar é referido no
item
6.3, equação 6.8. Mas surge aí apenas como uma opção, que poderia
ser deixada de lado sem prejuízo para a teoria. O campo elétrico (bem
como o magnético) pode ser obtido tanto deste potencial escalar quanto
do vetor potencial A. No primeiro caso, através do que chamei por
"produto
vetorial interno" e no segundo, pelo translacional de um vetor,
definido em 5.4. Evitei utilizar a expressão "potencial" afim de não
gerar confusões com os potenciais definidos em outras teorias. Não
obstante, eles estão lá.
Das duas uma: ou em
cargas macroscópicas não há direção privilegiada (fato
experimental), ou você está realmente falando de elétrons, e daí
voltamos ao domínio da MQ.
Concordo com
você, e estou realmente falando de elétrons. Acrescentaria também que
mesmo que o caso fosse outro, com a evolução poder-se-ia cair nesta
hipótese. Como diz Mario Bunge, um realista no sentido einsteiniano do
termo, a finalidade ultima da teorização é evoluir para teorias
representacionais que abarquem e expliquem as que as deram origem.
Na verdade sua
descrição parece, neste caso, de dipolos. (Obs.: a lei de Coulomb,
tal como é conhecida, é consequência da lei de Poisson: div E =
densidade de carga. Esta equação é no entanto não causal, e portanto
problemática para uma descrição relativista.)
A matemática
utilizada na minha teoria tem muitas similaridades com aquela utilizada
em estudos de dipolos. Nada mais do que isso, à primeira vista; a menos
que procuremos evoluir para o representacionismo. É possível que a não
causalidade da equação vá contra as hipóteses relativistas atuais. Até o
momento tenho utilizado apenas a relatividade de Galileu. Por outro
lado, uma de minhas hipóteses (H-2),
se explorada devidamente, poderá nos levar a uma interpretação de
localidade totalmente diferente do que se tem discutido no decorrer
deste século. Acho ainda um pouco cedo para se falar na localidade da
física moderna como algo a se opor à minha teoria. Perceba que na física
newtoniana não há nada equivalente à hipótese H-2; no entanto, Newton
não ignorou este fato, e sentiu que sua teoria, de alguma forma, e neste
terreno, estava incompleta.
Por fim, você conhece
alguma coisa, mesmo que superficialmente, das eletrodinâmicas de
Weyl, da de Weber e da teoria de Mie?
Há 5 anos
assisti, na USP, uma conferencia de um professor da Unicamp, que estava
desenvolvendo uma teoria que se apoiava nos conceitos de Weber.
Interessei-me sobremaneira pela mesma ao verificar que manipulava
velocidades de fontes geradoras de campos eletromagnéticos de maneira
muito semelhante àquela que estava sentindo ocorrer com a minha teoria.
Conversei, um ano após, com este professor lá na Unicamp (perdoe-me, ele
foi bastante simpático ao me receber e passamos algumas horas
conversando, mas não recordo o seu nome); levei a minha teoria e trouxe
uma apostila onde ele expunha em detalhes seus estudos. Li o seu
trabalho e fiquei ciente, na época, da teoria de Weber. Não encontrei
similaridades entre a teoria de Weber e a minha, a não ser aquilo que
comentei acima. É só o que sei sobre o assunto, a não ser uma referencia
um tanto vaga de que há em São Carlos (SP) um físico que estuda algo a
respeito sob um prisma diferente ao deste professor da Unicamp.
Mie queria exatamente
dar conta da existência de partículas eletricamente carregadas, no
entanto provou-se como corolário de sua teoria que não poderiam
existir partículas em campos externos constantes, o que acabou com a
idéia.
Neste caso, a
teoria de Mie deve ser uma teoria de campo, tal e qual a teoria
procurada por Einstein. A minha é uma teoria de partículas geradora de
campos. Sob esse aspecto conceitual, concordo com você que a minha
teoria tem mais a ver com a teoria quântica do que com o
eletromagnetismo clássico; mas eu paro por aí na similaridade.
Msg 06
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Thursday, February 26, 1998 1:47 PM
Subject: Re: Um elétron...
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Cuidado, pois a
discussão começa com uma teoria apresentada por você, e o ônus da
prova cabe a quem levanta ao assunto.
Estou ciente
disso. O "dar as cartas" não significa um privilégio, apenas uma questão
de ordenação. Afinal, eu delimitei, sob certos aspectos, o tema. O que
não significa que não possamos fugir do mesmo ou que divaguemos por
assuntos paralelos.
(Só para dar um
exemplo, quando submeti os resultados da minha dissertação de
mestrado para publicação no Journal of Physics, da Inglaterra, um
dos julgadores disse, em síntese, que estava tudo errado. No final o
artigo foi aceito, apesar de um parecer destrutivo como este.)
Neste caso,
Viva a Inglaterra! Não é à-toa que o Popper nasceu lá.
Ao ler este trecho me
percebi diante de um popperiano (confirmado na segunda mensagem). A
rigor eu discordo da falseabilidade, a priori, das teorias
científicas (em especial as grandes).
Não sou
popperiano em tudo. Aliás, se dissesse o contrário, seria um falso
popperiano. A falseabilidade nem sempre tem sido bem entendida pelos
críticos de Popper, e isto promove uma confusão muito grande em
metodologia cientifica. Na minha opinião Popper cometeu alguns erros e o
mais fundamental foi exatamente quando ele tentou utilizar a
falseabilidade como critério absoluto para delimitar o que é ciência do
que não é. Não só desagradou a muitos (os Psicólogos que o digam) como
também cometeu um erro crasso. No entanto, a essência das idéias de
Popper eu considero como impecável.
Você critica,
através de exemplos, e com propriedade, os critérios absolutos de
falseabilidade. Thomas Kuhn fez algo parecido mas evoluiu no sentido de
assassinar um cadáver (algo que já havia caído em descrédito); e graças
a uma influência tomada por empréstimo entre os historiadores da
ciência, passou-se por filosofo da ciência sem nada ter
acrescentado à filosofia da ciência que não fosse destruir o que de bom
Popper nos legou.
Além disso, a
mecânica de Newton, como é do conhecimento de qualquer estudante de
2 grau, é revestida com uma armadura protetora contra experiências
desagradáveis.
Esta armadura
protetora foi criada no século XVIII e seguintes, muito após a morte de
Newton. Newton reconheceu que sua teoria era incompleta. E deixou isto
bastante claro não apenas em inúmeros comentários que fez, como também
ao expressar uma frase que frequentemente é repetida com uma conotação
totalmente diversa da que ele tentou passar: "Não faço hipóteses". O que
Newton não fazia, de fato, eram especulações ou conjecturas infundadas,
e por este motivo ele optou por deixar sua teoria incompleta, até que a
experimentação atingisse um nível capaz de fundamentar suas conjecturas.
De certa feita eu escrevi: "No contexto em que o termo hipótese é hoje
aceito, raríssimos foram os cientistas que, em sua fase produtiva, as
levantaram em número tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela
atingida por Newton" Os seguidores de Newton, incapazes de
completar sua teoria, criaram a armadura protetora referida.
São as chamadas
hipóteses ideais, ou objetos ideais: corpos perfeitamente rígidos,
superfícies sem atrito.
Aí eu vou
discordar. Superfícies sem atrito, bem como algumas hipóteses ideais,
não surgem como armaduras protetoras, e sim como uma sutil e engenhosa
aplicação, em física, do conceito de limites. Creio mesmo que o conceito
matemático de limites foi uma extensão do trabalho de Galileu. A lei da
inércia é o exemplo típico do que chamo como "lei limite"; e esse limite
não é ideal: consegue-se chegar a ele como extrapolação de dados
experimentais. Se os estudantes de 2°. Grau se derem conta disso, eles
não só poderão aprender a física newtoniana como também estarão em
condições de compreender noções intuitivas de limites, o que os ajudará
em muito para que possam no futuro compreender o Cálculo.
No entanto ninguém,
absolutamente ninguém, considerava que, simplesmente, a mecânica de
Newton pudesse estar errada (na escala de laboratório, é claro).
Onde, então ela é falseável?
Em condições
limites. Por exemplo, se ao reduzir o atrito você notar que corpos em
movimento a várias velocidades tendem a reduzir sua velocidade à metade
do valor inicial, você terá falseado a lei da inércia.
No entanto eu aceito,
e acho muito simpática, a idéia de falseabilidade quando aplicada a
enunciados científicos, e não a teorias como um todo.
Então, sob esse
aspecto não há divergência entre nós. Talvez o problema surja (não entre
nós, mas na situação em si) após a negação de uma hipótese, pois "teoria
é um conjunto de hipóteses coerentemente interligadas, tendo por
finalidade explicar, elucidar, interpretar ou unificar um dado domínio
do conhecimento" [Esta definição é uma adaptação, daquela encontrada no
Dicionário Aurélio, de forma a adaptar-se ao argumento dedutivista].
Ora, é muito difícil, ainda que não impossível, sustentar uma teoria
após a negação de uma de suas hipóteses.
Pois então, duas
coisas, fundamentais, que eu sinto muita falta em sua teoria, ou, se
preferir, seu, ainda, esboço de teoria, são exatamente os fatos
(experimentais ou até teóricos) que não são explicados pelas teorias
vigentes...
Na opinião de
um físico quântico, existe algum fato experimental que a física quântica
ainda não explicou e que não virá a explicar nos próximos dois anos
através de algum artifício ad hoc?
...e as previsões
experimentais (enunciados falseáveis).
Você encontrará
algo a respeito. É muito pouco ainda, mas sem dúvida alguma falseia a
teoria.
eu posso afirmar que
já coloquei um imã próximo a uma carga elétrica (macroscópica, é
verdade)...
Macroscópica,
e' verdade.
...e não detectei
nenhum campo magnético até o limite de exatidão dos instrumentos
usados.
Nem eu. Aliás,
se tivesse detectado você/eu teria falseado não só o eletromagnetismo
clássico como também a minha teoria.
A lei de Coulomb...
...tenho confiança nas experiências clássicas, no domínio do
macroscópico
Concordo e
compartilho a confiança no domínio do macroscópico.
É evidente que eu não
fiz nenhuma destas duas experiência com elétrons individuais. Mas se
eu fizesse certamente daria errado.
Sem
comentários.
pensamento de
Einstein: "Se o senhor quer estudar em qualquer dos físicos
teóricos os métodos que emprega, sugiro-lhe firmar-se neste
principio básico: não dê credito algum ao que ele diz, mas
julgue aquilo que produziu. ...
Não estou julgando-o
pelo que você é, pois sequer o conheço. Estou falando apenas e
tão
somente de sua teoria.
Eu entendo e
não pretendi dar esse sentido. Coloquei o pensamento de Einstein apenas
como atenuante para o fato de não conseguir me portar como um "bom
advogado". Aliás, creio ser regra em Direito não se advogar em causa
própria. Não há mal nenhum nisso, mas é difícil (acho que você já
comentou algo a respeito dessa dificuldade).
Não é o caso do
elétron-porco-espinho, pois neste caso, por ser algo tão fora de
esquadro...,
Apenas uma
observação: onde se lê "elétron-porco-espinho", entenda-se
"carga-porco-espinho", ou então, se quiser, "elétron-espinho".
Procurei sobre lei de
Malus no Principle of Optics (Born and Wolf), Solid State Phyisics
(Ashcroft), Quantum Mechanics (Cohen-Tannoudji - veja onde eu fui
parar!) e McGraw-Hill Dictionary of Physics. Achei duas citações a
lei de Malus:
Realmente, não
existe quase nada sobre isto (se é que existe alguma coisa a respeito).
Ou seja, modifica-se a "experiência de pensamento" de Einstein,
transforma-se a mesma em um análogo à primeira vista totalmente
diferente, e relacionado ao fenômeno de polarização da luz e, a seguir,
despreza-se uma das leis fundamentais e relativa ao fenômeno que se
pretende estudar. Por fim, conclui-se, "experimentalmente", que Einstein
estava errado.
Toda teoria
científica é superprotegida.
Nem tanto. Max
Planck comentou algo a respeito (aliás, num sentido crítico) mas jamais
supôs que uma teoria cientifica pudesse desprezar tanto a metodologia
cientifica quanto faz a teoria quântica dos tempos atuais.
A mecânica de Newton
continua firme e forte na esmagadora maioria das aplicações
macroscópicas.
Isto é história
para secundarista ouvir. O que continua firme e forte não é a mecânica
de Newton, e sim os algoritmos dela resultantes. Eles dão certo quando
aplicados, mas quantos físicos aceitam como absolutos os princípios
newtonianos?
Este é uma bom momento
para esclarecer um fato (nem tanto para você, mais para os outros
leitores ¾na
versão otimista que há algum, e ele chegou até aqui).
Gostei! ... Ei,
TEM ALGUÉM AÍ???!!!!!
90% das minhas
críticas vinham em relação a (possíveis) contradições de sua
teoria com a mecânica quântica. Se meu parágrafo anterior
está correto, então minhas críticas são basicamente
improcedentes,
As criticas
procedem.
Como o meu "parágrafo
anterior" não estava correto, então minhas críticas procedem.
(Estranha esta frase, não?)
O raciocínio
lógico, salvo maior juízo, está correto. Talvez você tenha estranhado
uma mudança, entre uma mensagem e outra, na forma em que eu respondi a
questionamentos similares. A verdade é que existem algumas questiúnculas
de natureza semântica que nós precisamos resolver (não digo que devamos
concordar, mas precisamos entender o que o outro quer dizer). Por
exemplo, às vezes nós estamos efetuando comparações entre teorias
macroscópicas e microscópicas; outras vezes damos mais ênfase a aspectos
fenomenológicos e representacionais. Via de regra uma teoria
microscópica é mais representacional do que uma macroscópica, mas os
conceitos em jogo são diferentes. A minha teoria é microscópica (e sob
este aspecto faz paralelo com a teoria quântica), mas por questões de
natureza cautelar tenho tomado cuidados para não me exceder no terreno
representacional (aliás, a teoria quântica hamiltoniana conserva
características fenomenológicas, talvez até por opção lógica
¾qualquer
evolução em sentido oposto surge como um capitulo da mesma, como EDQ,
CDQ, etc., que são, na realidade, teorias outras que surgiram no seio da
primeira).
Não estou disposto,
de forma alguma, a abrir mão de uma teoria bela, funcional e precisa
(no sentido experimental), mas com algumas incongruências, por uma
teoria, talvez mais bela, talvez mais funcional, sem incongruências
mas que não responde por aquilo que já é conhecido, e que não tenha
(eventualmente) precisão experimental.
Ainda que fosse
o contrario, conforme afirmou Planck ninguém abandona uma teoria com a
qual se habituou a trabalhar. Estou ciente disso e não tenho a pretensão
de convencer alguém, que eventualmente possa estar errado, a que
abandone um terreno que sei, de antemão, que ele se recusará a
abandonar. O que não significa que não possamos dialogar. Aprende-se
muito dialogando.
Não que você tenha de
responder de imediato por cada detalhe, mas se não houver uma
maneira de pelo menos, pelo menos, explicar coisas do início do
século que geraram a MQ ou foram consideradas suas primeiras
confirmações (radiação de corpo negro, efeito fotoelétrico, difração
de elétrons, experiência de Stern-Gerlach e efeito túnel, entre
muitos) então não creio, sinceramente, que sua teoria tenha a menor
chance de encarar a MQ no campo do adversário,
Se eu disser
que posso explicar estas coisas apenas com as quatro hipóteses
apresentadas, estarei mentindo. Mas se eu disser que, promovendo
ligeiras modificações nas hipóteses, posso satisfazer o seu desejo, você
me chamara de maluco e eu terei que concordar com você a respeito. Eu
preciso tomar muito cuidado com minhas afirmações "porque o criador
tem esta característica: as produções de sua imaginação se impõem a ele,
tão indispensáveis, tão naturais, que não pode considerá-las como imagem
de espírito, mas as conhece como realidades evidentes". Meu lema é
devagar e sempre; e acho que já dei um passo muito grande ao publicar
minha teoria.
Qualquer dado que vá
contra a teoria quântica pode, eventualmente, ser útil no
fortalecimento da minha teoria.
Só no sentido
popperiano de falseabilidade, mas certamente seria muito melhor um
resultado de acordo com a MQ.
Não se a minha
teoria passasse por um teste que falseasse a MQ. Embora passar por um
teste não signifique confirmar uma teoria, falsear uma teoria e
corroborar (no sentido popperiano do termo) outra concorrente é ruim
para a primeira e bom para a segunda. Por outro lado, qualquer resultado
em acordo com a MQ será ocasional e pouco ajudará a minha teoria. Pelo
contrario: a minha teoria, pela hipótese
H-1,
incompatibiliza-se com a MQ. Logo não há como fundi-las, a não ser com a
despersonalização de uma das duas, e isso não me parece ser bom para
nenhuma delas.
Como o seu
"elétron" parado pode gerar um campo magnético?
E porque não? Qual é
a experiência que me garante o contrário?
No mundo
macroscópico, todas. Todas. Absolutamente todas. ...
...No mundo microscópico, por motivos óbvios, eu nunca fiz tal
experiência e creio que, de maneira direta ela sequer possa ser
feita.
Não digo que
seja impossível, mas é realmente muito difícil conceber tal experiência.
Mas porque não de maneira indireta? Afinal, o paradoxo EPR não foi
"resolvido" experimentalmente de maneira indireta? Ou então, porque não
numa condição limite? A lei da inércia não é comprovada
experimentalmente em condições limites? E a termodinâmica, então?
No aspecto teórico, o
campo magnético gerado por uma corrente em movimento se ajusta
perfeitamente (através de covariância relativista
¾transformações
de Lorentz) a inexistência de campo magnético no caso de cargas
paradas. Para isto tem-se que aceitar as transformações de Lorentz
(e todas suas consequências, como contração espacial e dilatação
temporal). Negá-las significa negar as equações de Maxwell
Não
obrigatoriamente. Negá-las significaria negar as interpretações
relativísticas das equações de Maxwell. Quem nasceu primeiro? A teoria
de Maxwell ou a Relatividade de Einstein? Aliás, conta-se que o
insight de Einstein teria sido exatamente este: ele tentou imaginar
uma onda eletromagnética parada e não conseguiu justificar classicamente
a teoria de Maxwell a partir deste referencial.
ou então aceitar a
existência de um referencial privilegiado.
Não gosto deste
termo (referencial privilegiado). Não que não enxergue o privilégio, mas
é porque ele é citado com conotação pejorativa. Os que assim agem não se
dão conta que meramente estão substituindo um privilégio por outros: os
fótons são entidades ultra-privilegiadas; a velocidade da luz é uma
entidade privilegiada. Que mal há nisso? Nenhum! Então porque destratar
o referencial absoluto? Se ele existe, ou não, é outra coisa. Existindo
ou não, deve ficar claro que não nos resta outra opção que não aceitar
uma ou outra condição privilegiada.
Voltamos ao domínio
da MQ, e tudo recomeça.
É verdade, mas
pelo menos acho que estamos nos entendendo melhor; e, de minha parte,
estou aprendendo muito.
... fiquei
interessado no fato que sua teoria é invariante de Galileu e não de
Lorentz. Ainda será fonte de muitas (e pesadas) críticas, ...
Sem a menor
dúvida.
... e não possui
explicação via transformações de Galileu, já que nestas o tempo flui
da mesma maneira para todos os observadores.
Será?
Ha' 5 anos atras
assisti, na USP, uma conferencia de um professor da Unicamp,...
Deve ter sido o André
Assis.
Exatamente.
Espero que ele perdoe o branco que me deu.
Msg 07
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Tuesday, March 03, 1998 7:19 AM
Subject: Re: Um elétron...
Fabio Augusto da Costa Carvalho Chalub escreveu
Alberto Mesquita Filho
escreveu
O que não significa
que não possamos fugir do mesmo ou que divaguemos por assuntos
paralelos.
É o que mais temos
feito.
Realmente. Vou
tentar colaborar para que isto não empane nosso diálogo. Tudo que você
escreveu na última msg é muito interessante mas vou me ater apenas a
alguns comentários relativos ao que possa, na minha opinião, ser útil
para o prosseguimento do diálogo. Se deixar algo importante de lado, não
terá sido proposital, mas pode "puxar-me as orelhas"
1) Sobre a
falseabilidade:
Acho que
estamos nos referindo ao termo "falsear" com significados distintos. É
possível que Popper tenha valorizado a expressão em seus primeiros
trabalhos, pois é muito comum constatar divergências semelhantes entre
outros cientistas, mesmo quando estão em acordo com tudo o mais.
Não vou dizer
que você está errado. Mas quando eu digo que uma experiência "falseou"
uma teoria, não tenho a pretensão de dizer que a teoria é "falsa", mas
sim que passou por um teste adverso. Nada mais do que isso. É possível
que existam fatos alheios à formulação do teste e que, se tivessem sido
levados em conta, teriam interferido no resultado talvez num sentido
conflitante com aquele obtido. Popper chegou a reconhecer esta situação,
o que se nota em alguns de seus escritos, ou em algumas de suas
réplicas. Portanto, quando Popper diz que uma teoria, para ser
científica, deve ser "falseável", ele está dizendo que ela deve se
sujeitar a passar por testes adversos. Por exemplo, deve fazer
previsões. Mas isto não significa, em dados absolutos, que, ao NÃO
passar por um, ou até mesmo por todos os testes adversos propostos, a
teoria é falsa. Para os que seguem este raciocínio popperiano é tão
difícil negar uma teoria quanto aceitá-la como "verdadeira". E o
critério da opção, e me refiro aqui a uma opção racional, acaba sendo o
mais adotado, por mais rigorosos que imaginemos nos posicionar.
Por outro lado,
quando digo que uma hipótese foi "negada", estou querendo dizer que
foram tantos os testes a "falseá-la", ou se não tantos, foi tamanha a
relevância destes, que "eu" (ou "você", "ele") me convenci de que esta
hipótese não me convém, ou seja, deve ser descartada até prova em
contrário. Este critério (o da opção) é pessoal e pode, ou não,
tornar-se consensual. Parece-me que Popper chegou a afirmar, em seus
últimos escritos, que não há como se negar definitivamente uma teoria
(obviamente uma teoria construída dentro de padrões lógicos
irreprimíveis).
2) Sobre o
eletromagnetismo e teorias afins:
Concordo com
tudo o que você comentou sobre eletromagnetismo, no sentido de que
corresponde ao que é aceito na atualidade. Deixarei abaixo anotações com
a única finalidade de me orientar sobre algumas de suas idéias, até
mesmo aquelas com as quais concordo, no sentido de que possam vir a ser
úteis em nosso diálogo futuro.
Sem pretender
gerar polêmicas, vi com simpatia a seguinte colocação:
Maxwell fez uma alteração
por considerações estéticas, e depois inventou uma justificativa
convincente.
Perceba a
autoridade de Maxwell sobre os seus seguidores. Observa-se algo
semelhante também em Newton, Einstein e Bohr dentre outros (refiro-me a
uma autoridade até mesmo atemporal; mais que autoridade, é um respeito
pelo muito que eles fizeram).
Por um "acaso" isto é
exatamente igual a velocidade da luz, que já era conhecida na época.
Isto levou os físicos de então a conjecturar que a luz seria uma
onda eletromagnética.
Conjecturas bem
fundamentadas, como é o caso, nada mais são que hipóteses soltas (teoria
de hipótese única). Como você dá a entender a seguir, esta conjectura
foi incorporada a outras hipóteses, completando-se uma teoria (no caso,
esta conjectura foi incorporada à teoria de Maxwell não como hipótese
propriamente dita, mas implícita nas demais). Este esclarecimento é
puramente de ordem didática e para os demais leitores, já que eles
insistem em nos prestigiar.
3) Sobre
referenciais:
Creio que
discussões sobre algumas das afirmativas abaixo virão à tona, mais cedo
ou mais tarde.
Mediu-se então como
uma precisão sem precedentes qual é a velocidade da terra em relação
a este referencial privilegiado (experiência de Michelson-Morley).
Encontrou-se que a velocidade era zero!...
... aceitar Maxwell e
negar Lorentz é aceitar a existência de um referêncial privilegiado,
e pior, este é o referencial da Terra (que do ponto de vista
clássico, sequer é inercial)... Além de o referencial privilegiado
ser o da Terra (exp de Michelson Morley),...
4) Sobre o
tempo:
já que nestas o
tempo flui da mesma maneira para todos os observadores.
Será?
Sem dúvida. É parte
da definição de tranf de Galileu.
A qual
(transformação de Galileu), sem dúvida alguma, deve admitir algum
conceito rígido para "tempo".
5) Sobre a
evolução do diálogo:
Creio que até o
próximo fim de semana conseguirei dar alguma opinião mais detalhada.
Em especial, quero estudar o limite macroscópico do seu modelo de
elétron, entre outros pontos que certamente surgirão.
Ou eu muito me
engano ou, por suas palavras percebo que encerramos a primeira parte, ou
a fase de preparativos, do nosso debate. Estou à disposição para trocar
qualquer idéia a respeito, enquanto aguardo sua leitura. Renovo meus
sentimentos de gratidão pelo seu interesse em conhecer minha teoria. Sei
que daqui para a frente "minhas loucuras" virão à tona, mas espero
manter o nível elevado do diálogo.
[ ]s a você e a
todos que nos prestigiaram.
Alberto
Msg 08
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Monday, March 09, 1998 4:19 AM
Subject: Re: Novo eletromagnetismo - 1a parte
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Terminei de
ler o seu texto e vou fazer vários comentários sobre ele,...
É bastante gratificante, para um
teorizador, receber críticas ao seu trabalho escritas em sua língua
pátria, experiência que estou vivenciando pela primeira vez.
...que serão
divididos em secções. ...
Recebi alguns comentários dos EUA e do
Reino Unido, dentre outros, e até mesmo da Argentina, mas nenhum que
abordasse a teoria dentro de um amplo espectro, como você o fez.
Procurarei, dentro do possível, respeitar as seções apontadas, nem
sempre na ordem apresentada.
... Suporei que o
eventual leitor deste texto tenha lido, ao menos vagamente, os seus
escritos...
Realmente, seria interessante. A esse eventual
leitor, lembraria que o texto está em
A equação do elétron e o
eletromagnetismo.
... Ou seja,
não pretendo expor suas idéias aqui, apenas para depois criticá-las,
mas tentarei ir direto ao ponto. Todas as citações a seu texto são
traduções minhas.
De qualquer forma acredito que, na maioria
das vezes, o ônus de deixar clara qualquer possível explicação deverá
caber a mim. Pelo que percebi, você já foi claro em seus questionamentos
(pelo menos para mim).
Vou dividir minha resposta em tópicos,
reservando esta mensagem para apenas dois de seus questionamentos, que
não chegam propriamente a entrar no mérito da teoria. Sinta-se à vontade
para responder às partes se assim julgar conveniente. Sob o título
"Críticas mais profundas", você inicia o texto afirmando:
Existe uma
caracterização de que as pessoas, sobretudo não especialistas, que
querem fazer teorias revolucionárias (mudar profundamente os
conceitos comumente aceitos) enquadram-se em 3 grupos: "a
relatividade está errada", "a mecânica quântica está errada" e "a
conservação de energia está errada".
Concordo com esta sua observação e acredito
mesmo que a minha teoria possa ser classificada segundo o critério
apontado, o que responderei oportunamente. Concordo também que existe o
personagem indicado, aquele que "quer fazer teorias revolucionárias".
Sinceramente, não foi essa a minha intenção. Acho muito difícil que
alguém dotado deste único trunfo (o de querer passar por revolucionário)
consiga construir alguma coisa de valor. Via de regra esses indivíduos
são profundamente inconvenientes ao meio acadêmico científico e
extremamente prejudiciais aos teorizadores bem intencionados, posto que
cultivam o desprezo dos demais para com idéias novas e/ou
revolucionárias.
Como eu já me referi, não sei se nesta
thread ou em outra, novas idéias científicas surgem graças à intuição,
através de um estalo ou insight. Não adianta "querer ter um
insight"; ele vem e nos pega totalmente desprevenidos. Quando eu
tive o insight, que me levou a raciocinar por um lado totalmente
avesso ao que é hoje aceito como o correto, eu era um grande admirador
da teoria da relatividade e pouco conhecia a respeito de física quântica
a não ser o suficiente para entender algo de físico-química, bem como as
críticas do próprio Einstein, de natureza heurístico-epistemológicas.
Einstein combateu os fundamentos da física-quântica, mas aceitava-a, se
não totalmente, pelo menos como algo a ser um dia substituído por alguma
coisa melhor.
A partir deste insight, ocorrido em
1983, eu me senti na obrigação de seguir a trilha que se me abriu, sem
saber o que iria encontrar em meio a esta selva. Eu teria sido um
covarde caso adotasse qualquer outro tipo de comportamento. Alguns anos
após eu percebi que a melhor maneira de explorar esta selva seria
através do eletromagnetismo e, em particular, a partir da minha "visão"
do "elétron". Entre o insight inicial e esta idéia de "elétron",
outros insights secundários se sucederam mas, a menos que provem
que estou errado, algum dia terei de retornar ao ponto de partida
(1983). Alguns destes insights secundários levaram-me também a
observar algo que ainda não cheguei a utilizar na teoria, e está exposto
em meu Web como
Uma curiosa
coincidência.
Procurei, em vão, por alguém que se
dispusesse a me provar que estava errado, pois somente assim eu
conseguiria me libertar destas idéias alucinantes. Hoje, após 15 anos, e
graças à Internet, consegui encontrar meia dúzia de indivíduos, dentre
os quais você, que se dispuseram a me ajudar, seja tentando convencer-me
de que estou errado, seja colocando-me frente a situações a suscitarem
profundas reflexões de minha parte.
Curiosamente, tenho me defrontado com
indivíduos outros, autores de teorias várias. Alguns aparentando
enfrentar problemas semelhantes aos meus e procurando muito mais uma
aproximação amistosa do que propriamente uma opinião sobre suas teorias;
acreditam que, por estar num país de baixa tradição científica, estou
menos sujeito à dogmatização observada em seus países. Outros
procuram-me tentando me convencer de que estou certo nas minhas
críticas, mas totalmente errado em minhas outras convicções, posto que
eles já resolveram todos os problemas do Universo e, portanto, eu não
preciso mais me preocupar com qualquer outra teoria que não seja aquela
proposta por eles; acreditam que a aceitação de suas teorias é apenas
uma questão de tempo.
Quanto aos seus questionamentos, achei-os
bastante interessantes e pertinentes, mas não creio que você tenha
conseguido destruir os meus argumentos fundamentais; de qualquer forma,
necessitarei de novas leituras para certificar-me do que estou
afirmando. Algumas dessas críticas eu já recebi, às vezes expostas num
outro contexto; a maioria, ainda não.
De uma coisa esteja certo: eu posso até
mesmo ser um "cabeça dura", mas aguardo ansiosamente por alguém que me
liberte desta praga que me atormenta. Para mim seria muito mais
gratificante esta libertação do que a permanência nesta selva, ainda que
com minhas convicções renovadas e/ou fortalecidas.
Seção 3.1 -
Confusão completa entre infinitesimais e funções. "dq pode assumir
qualquer valor que desejármos", entre outros.
Não consigo enxergar a confusão apontada e
nem mesmo concordo com a estranheza quanto ao texto "dq pode assumir
qualquer valor que queiramos".
O parágrafo em discussão, que poderia ter
sido omitido no original, foi justamente aí colocado para chamar a
atenção para o fato de que as diferenciais são funções, o que deixei
claro ao reproduzir um texto de Spiegel: "dado dt,
determinamos dq mediante dq = idt...", ou seja dq = f(dt).
Fiz questão
acrescentar este parágrafo justamente para desmistificar um erro comum
observado entre os físicos, o de considerar diferenciais como entidades
infinitamente pequenas, ou infinitesimais. As diferenciais podem sim
assumir qualquer valor que desejarmos, desde que definidas duas a duas,
ou seja, desde que amarradas por uma função do tipo i =
dq/dt.
Curiosamente, esta é a terceira vez que recebo essa crítica e todos os
que me criticaram a respeito acabaram aceitando minha réplica.
Para que se entenda o que Spiegel quis
dizer, quando afirmou que diferenciais não são grandezas
infinitesimais, anexei uma figura onde se pode observar valores
compatíveis com dq (dq1, dq2,...) e não infinitesimais. Observar que
para cada dq existe um e somente um dt. Se dt for infinitesimal, dq
também será (e vice-versa).
Msg 09
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Monday, March 09, 1998 10:15
PM
Subject: Re: Novo eletromagnetismo - 2a Parte
Nesta mensagem vou tentar responder a suas
críticas referentes à
Seção
3.4 de meu trabalho.
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Seção 3.4 - Os
postulados de Bohr foram feitos para explicar certos resultados
experimentais,...
Realmente, e espero ter deixado isto claro
no segundo parágrafo da seção 3.4. Estes postulados, embora enunciados
conforme Eisberg et al. (ref.20), estão implícitos no trabalho de Bohr
(1913, ref.3) que, ao lado de outros que se seguiram, constituíram o que
hoje denomina-se "física quântica primitiva".
...mas podem
perfeitamente ser deduzidos da equação de Scrödinger e dos postulados
básicos da MQ.
Com efeito. A partir da equação de
Schrödinger a física quântica amadureceu, ou seja, evoluiu para sua
segunda fase. Se os postulados podem ser deduzidos desta equação, isto
mostra que não há incompatibilidades a respeito, e posso sossegadamente,
no que diz respeito à temática abordada, utilizar-me da "física quântica
primitiva". Do contrário, e para utilizar uma expressão que ouvi pela
primeira vez em aulas de Cálculo, estaria tentando "matar um mosquito
com um canhão".
(Sobre críticas
mais profundas a este seu comportamento, ver final do texto.)
Responderei a estas críticas no local
oportuno. Convém esclarecer que as equações mostram-se úteis em virtude
de serem deduzidas a partir dos resultados experimentais. Algumas
exceções confirmam a regra (por exemplo, a dedução primeira da equação
de Planck, referente à radiação do corpo negro) mas, ainda assim, acabam
caindo no descrédito caso não se prestem a comportar uma dedução
compatível com a experimentação (o que, para o caso citado, foi efetuado
por Einstein).
Afirma-se que a física quântica começa pela
equação de Schrödinger, da mesma forma que costuma-se dizer que o
eletromagnetismo clássico está todo ele contido nas equações de Maxwell.
Sem dúvida, isto é verdade. Quantos anos, no entanto, são necessários
para que um físico adquira o status de começar a estudar o
eletromagnetismo a partir das equações de Maxwell? E o que ele fez,
nesses anos todos, que não deduzir estas equações a partir de resultados
experimentais, como as experiências de Coulomb, Oersted, Biot-Savart,
Ampère e Faraday, dentre outras?
O mesmo eu poderia dizer para a física
quântica, no que diz respeito à equação de Schrödinger, a menos de um
fator relacionado à incerteza de Heisenberg e que, por motivos
aparentemente miraculosos, estavam contidos nesta equação. É óbvio que
um estudo aprofundado de como Schrödinger chegou a sua equação, bem como
da justificativa física para incerteza de Heisenberg, encontrada por
Bohr, mostra que a coincidência não surgiu por milagre mas única e
exclusivamente pelo fato de que tanto a dedução de um quanto a
justificativa do outro estavam apoiadas nos mesmos resultados
experimentais e relacionados aos quanta de Planck, ao efeito
fotoelétrico de Einstein, à constância da velocidade da luz, à difração
de elétrons, às leis da difração e à dualidade corpúsculo-onda de De
Broglie.
Com relação a "equações" e "interpretações
de resultados experimentais", vale a pena meditar sobre a opinião de
Schrödinger:
"Esperamos que a
vacilação de conceitos e opiniões signifique apenas um intenso
processo de transformação, que conduzirá finalmente a algo melhor do
que as confusas séries de fórmulas que cercam o nosso tema".
Não é necessário dizer que em virtude deste
e de outros pensamentos, Schrödinger foi enviado para a mesma
"geladeira" onde se encontrava Einstein e, para a qual foi também
enviado, anos após, David Bohm [e quero crer que até mesmo Dirac].
Quando você
fala que várias teorias contraditórias são consideradas corretas, o
que lhe faz concluir que o que está errado é a "lógica de Popper",
você esquece que estas teorias têm domínios de validade distintos
(além da citação a BP3 ser errada).
Concordo que o centro dos domínios
considerados não sejam coincidentes; não obstante, estes domínios
interceptam-se em vastas áreas, incluindo aquelas que comportam o que
está sendo debatido no item criticado (Órbitas
permitidas).
É possível que você esteja raciocinando
tomando por base os "critérios de utilidade" da ortodoxia quântica de
Copenhagem, quais sejam:
-
o formalismo matemático da teoria é
mais simples sem variáveis ocultas;
-
este formalismo simplificado prediz
resultados que confirmam a experimentação;
-
a adição de variáveis ocultas não
origina novas predições verificáveis.
Partindo destes critérios, e
generalizando-os para outras áreas do conhecimento, concluímos que "uma
teoria boa é aquela que funciona". Mas... Funciona em que condições?
Apenas quando nos interessa que funcione? Se não posso cruzar teorias
cujos domínios têm áreas em comum, creio que precisaremos então
redefinir a física. Como se vê, a matemática tomou conta da física
moderna!
A sua
"pseudo-explicação" para a estabilidade do benzeno, é
pré-quântica... (como aliás quase todo seu texto, ver adiante).
Não foi minha intenção explicar a
estabilidade do benzeno, conquanto tenha deixado clara a possibilidade
de podermos evoluir nesta direção por uma rota não quântica. Quanto a
ser pré-quântica ou não, volto à questão do mosquito/canhão.
...O problema
da estabilidade é resolvido como superposição de estados
macroscopicamente distintos. Se você discorda disto é outro
problema, mas não há problema de coerência.
Eu não discordo. Apenas acho que existem
maneiras mais simples, que não se apóiam em absurdos, não necessitam
critérios de utilidade, respeitam a metodologia científica, adaptam-se à
experimentação (não apenas em condições convenientes, mas em todos os
domínios relacionados); e são algo melhor do que as confusas séries
de fórmulas que cercam o nosso tema.
Espero ter respondido à série de
questionamentos relativos ao item 3.4 e que estão muito mais
relacionados aos méritos da teoria quântica do que propriamente à minha
teoria. Continuarei com esta réplica em breve.
Msg 10
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Tuesday, March 10, 1998 2:50 PM
Subject: Re: .Novo eletromagnetismo - 3a parte
Nesta msg vou tentar responder a suas
críticas referentes à
Seção 4.2
de meu trabalho.
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Seção 4.2 O
seu modelo de uma esfera superficialmente carregada não reproduz a
lei de Coulomb, ao contrário do que você diz.
Realmente não, e eu espero não ter dito
isso. O que eu disse na seção 4.2 foi: "a equação 4.4 é compatível com a
lei de Coulomb", o que é bem diferente. Além disso, a lei de Coulomb
propriamente dita refere-se a "duas" cargas, e não a "uma" esfera
carregada. É possível que, por algum motivo ¾falta
de clareza, talvez¾ eu tenha dado margem a
confusões. Vamos tentar então esclarecer este ponto.
Ao final do item 4.2, e imediatamente antes
de passar para o item 4.2.1, fiz a seguinte afirmação: "Demonstraremos
a seguir que a solução 2 da equação 4.4 é realmente
compatível com a lei de Coulomb." Essa demonstração, iniciada no
item
4.2.1, não é tão simples, estando concluída apenas ao final do
item
4.3.1 com a expressão 4.19 seguida dos dizeres: "A expressão
4.19 nada mais é que a lei de Coulomb expressa em termos dos números
de elétrons N e N' contidos nas cargas Q e Q'."
Curiosamente, ao final do item 4.2.1 surge
uma equação (a 4.11) que, para r>R lembra o campo elétrico coulombiano.
No entanto, este nada mais é que o "campo de efeitos elétricos" que,
supostamente, age sobre um elétron, e não sobre uma carga
elétrica. Ora, além deste fato, a lei de Coulomb é uma lei de forças, e
não de campos elétricos. Consequentemente, embora eu possa ter sido
infeliz quanto a possíveis mal entendidos [e, na minha opinião a
respeito, o leitor sempre tem razão], rigorosamente falando o texto não
está errado. Perceba também que, para r<R o campo referido não é
coulombiano [caso contrário seu valor seria zero, independentemente de
r, desde que < R].
A fim de resumir o conteúdo dos itens 4.2
até o final de 4.3.1 eu diria:
A expressão que dá o "campo de efeitos
elétricos" de "um elétron" (eq 4.4), associada à expressão que dá a
força que age sobre "um elétron" (eq. 4.14) localizado num "campo de
efeitos elétricos" qualquer, permite que se calcule, pela utilização das
hipóteses apresentadas, a força exercida entre "duas esferas
carregadas". E esta coincide com a lei de Coulomb; ou seja, o microcosmo
(elétron), da forma como foi concebido, satisfaz o que é observado no
macrocosmo.
Deve-se observar que, no trabalho
apresentado, a dedução não foi generalizada para uma esfera dentro da
outra, o que não significa que o resultado, se calculado, discorde do
esperado pela teoria eletromagnética clássica (campo elétrico "clássico"
nulo no interior das esferas).
Não é difícil
perceber, que a levar a sério seus postulados, os seus elétrons
vetoriais diametralmente opostos irão cancelar o termo de segunda
ordem, sendo o termo dominante de terceira ordem e o campo
proporcional ao quadrado do raio da esfera.
Não foi isto o que eu demonstrei
analiticamente. Você está tentando utilizar artifícios utilizados em
Cálculo Diferencial e Integral e válidos para cargas elétricas ou
elementos afins, admitindo que seus elementos infinitesimais reproduzam
o macrocosmo [no caso, produzam campos de simetria esférica]. Se eu
estivesse integrando a equação 4.3, a sua observação se justificaria.
Por outro lado, e para integrar a eq. 4.4, o raciocínio que eu segui,
apesar de mais cansativo, é muito mais rígido e muito menos sujeito a
erros de interpretação do que aquele que você gostaria que eu tivesse
utilizado.
Em outras
palavras, dois elétrons vetoriais colocados sobre pontos antipodais
vão produzir campos em direções opostas que vão se cancelar, a menos
do fato que eles estão a uma certa distância um do outro (o que gera
termos de terceira ordem).
Não, e o resultado a que cheguei prova que
você está errado; ou então não entendeu o que, efetivamente, está sendo
integrado.
Pelo que eu
acompanhei de sua dedução, você esqueceu de tomar projeções radiais,
e tratou seus campos (vetoriais, por natureza) como escalares.
Este cuidado foi tomado e referido
antes da
eq. 4.7: "decorre da simetria do problema..." (e segue-se a eq.
4.7). Perceba, pela figura abaixo, a imagem especular de um trecho da
figura
7 do Web. Talvez ela o ajude a compreender que todos os componentes
radiais cancelam-se aos pares, restando apenas os componentes segundo o
eixo z (conforme eq. 4.7 e fig. 7).
Na esperança de ter colaborado para o
entendimento de alguns pontos duvidosos e/ou confusos de meu trabalho,
renovo meus sentimentos de consideração e respeito. Continuarei com esta
réplica em breve.
Msg 11
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Wednesday, March 11, 1998 6:34 AM
Subject: Re: .Novo eletromagnetismo - 4a parte
Nesta msg vou tentar responder a suas
críticas referentes à
Seção
5.4 de meu trabalho.
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Seção 5.4: As
afirmações 4 e 5 estão erradas.
Então, vejamos!
4) Dado um
campo vetorial A, com exigências mínimas (globalmente definido e
derivável) o rotacional de A está definido.
A sua afirmação está correta, o que não
significa que a crítica seja procedente. Parece-me que o objeto da
crítica apontada seria a primeira oração do texto contido na alínea 4 do
segundo parágrafo da seção 5.4, qual seja: "A existência de
Ñ´A como campo vetorial
não é intuitiva". Creio que você está confundindo "ser intuitivo"
com "estar definido", o que são coisas totalmente diversas.
Dizemos que determinado fato ou objeto "é
intuitivo" quando ele se mostra "claro, manifesto ou evidente". Perceba
o subjetivismo desta afirmação. Algo pode "ser intuitivo" para você,
relacionando-se a um tema que faz parte de seu ambiente e/ou objeto de
trabalho, e não ser tão evidente assim para outros leitores. É
importante observar que nem tudo o que se percebe pela intuição "está
definido" e nem tudo o que "é não intuitivo" deixa de estar definido.
Por outro lado, o "estar definido" é dotado
de um caráter de objetividade aceito por consenso e, portanto, não pode
ser violado, sob pena de adentrarmos num terreno onde nossas conclusões
não satisfarão aos membros que aceitam a hierarquia normativa
estabelecida. Espero não ter cometido este sacrilégio no que diga
respeito ao rotacional.
(Acho que você
confundiu com o inverso: dado um campo vetorial, será que ele pode
ser escrito como rotacional de algum outro campo? Em geral não.)
Não, não houve confusão alguma, conforme
espero ter deixado claro acima. A sua afirmação a respeito de campo
vetorial, conquanto improcedente, também é verdadeira. E não intuitiva
para a maioria das pessoas. Até mesmo para a maioria dos
estudantes de física; até que concluam, com bom aproveitamento, o
segundo ano de seu curso superior.
5) Você afirma
que o rotacional obedece a lei do produto...
Sim ou não, dependendo do que você
considera "lei do produto". O que eu disse, não nos termos que você
utilizou, poderia, sob certos aspectos, ser interpretado da maneira que
você propõe. O que eu afirmei foi: "Sendo Ñ´ um operador diferencial, ele opera
satisfazendo as regras da diferenciação parcial, incluindo a
diferenciação de um produto". Talvez eu tenha pecado por deixar
implícito algo que driblou a sua intuição: o produto pode ser escalar
(interno) ou vetorial; e se levarmos a sério o que propus no item 5.3, o
produto vetorial pode ainda ser de dois tipos: interno ou externo.
...[d(ab) =
(da) b + a (db)].
.......Isto
é falso: rot (A x B) = ( B . Nabla) A - (A. Nabla) B + A div B - B
div A
Não sei se poderia, seguindo a sua linha de
raciocínio, dizer que a primeira equação retrata a "lei do produto
escalar" e a segunda "a lei do produto vetorial". Para mim soa estranho,
mas é algo que eu poderia aceitar sem outros prejuízos. O argumento
"Isto é falso", conquanto tenha lógica, é improcedente, posto que
refere-se a um erro que não cometi.
Eq 5.5. A
definição de translacional não é linear (problemas mais a frente).
Com efeito. Grato pela advertência.
A não linearidade, de fato, decorre de sua definição (eq. 5.5). E isto
está implícito na
seção 6.2,
quando afirmo: "o translacional, ao contrário do rotacional, não
obedece a propriedade distributiva."
Msg 12
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Thursday, March 12, 1998
12:49 AM
Subject: Re: .Novo eletromagnetismo - 5a parte
Nesta msg vou
tentar responder a suas críticas referentes às Seções
6.1,
6.2
e 6.3
de meu trabalho.
Fabio Augusto da Costa Carvalho Chalub escreveu
Seção 6.1 Não é nem um
pouco claro quem é
l
na eq 6.1
Clareza não se
discute. A esse respeito, eu já disse: O leitor sempre tem razão; e
existe ainda um dos "princípios da eficácia comunicativa" a afirmar: "O
significado não está nas palavras mas na cabeça dos que as recebem."
Vamos, então, tentar esclarecer este ponto.
No parágrafo
imediatamente anterior à equação 6.1 eu suponho a existência de um campo
A (a ser determinado) tal que possua, em todos os pontos de seu
domínio, todas as derivadas direcionais.
Não é muito
comum a utilização de derivadas direcionais ao caracterizarmos entidades
dotadas de significado físico, embora este conceito possa ser encontrado
na maioria dos livros de Cálculo. O nome diz tudo: da mesma forma que eu
posso tomar derivadas em relação aos eixos x, y e z, posso também
tomá-las em outras direções, e até mesmo segundo linhas curvas
regulares. Freqüentemente utilizamo-nos destas derivadas como um
auxiliar matemático na resolução de problemas que exijam a adoção de
sistemas outros que não os cartesianos.
Ora, um campo
A, como suposto acima, tem linhas de campo regulares. Podemos,
então, calcular suas derivadas direcionais com relação a comprimentos de
arco l
pertencentes às linhas de campo de A; explico melhor: derivadas
curvilíneas segundo as linhas de campo
l do
campo A no ponto considerado.
A equação 6.4 está
errada. Ñ
. (1/r) = (x+y+z)/r (divergente
de 1/r), completamente distinto do que você fez.
Não, não e não.
A equação 6.4 está absolutamente correta. A divergência é um escalar que
resulta da aplicação do operador
Ñ sobre um
"vetor", simulando um produto escalar entre dois vetores. Ora, o vetor,
ao qual aplicamos o operador desta forma,
deve possuir um módulo, uma direção e um sentido. Digamos que este vetor
tenha o módulo 1/r, para que possamos utilizar o seu exemplo. Qual é a
direção e o sentido deste vetor? A resposta que você deu será correta
se, e somente se, o seu "vetor" de módulo 1/r tiver a direção e o
sentido do vetor de posição no ponto considerado. Mas... o vetor que eu
estava considerando... não era esse!
A primeira das
equações 6.4 foi obtida pela aplicação do translacional exigindo,
portanto, o cálculo da divergência
¾segundo a eq. 5.5¾
ao vetor de módulo w/r
e com direção e sentido concordantes com as do vetor
w.
Como w
não tem obrigatoriamente a direção do vetor de posição, eu não poderia
nunca obter a resposta que você obteve. [eq. 5.5 Þ ÑÄA = (Ñ.A)
Â],
Senti falta no texto da equação
correspondente para b,
por que você a cita, mas ela não estava lá.
Eu cheguei na
equação 6.3 sem me utilizar de efeitos magnéticos, apenas elétricos.
Observei, no entanto, que ao aplicar operadores convenientes ao vetor
A da equação 6.3, a mesma transformava-se em expressões familiares
(eqs 6.4). A primeira destas é uma variante matemática da eq. 4.4, a se
compatibilizar com a lei de Coulomb (macroscópica) conforme visto em eq.
4.19. E o segundo termo da outra equação é uma variante matemática da
lei de Biot-Savart, expressa em termos de campo magnético. Como estou
trabalhando com um elétron, e não com elementos de corrente, nada mais
justo que igualar a expressão ao campo b,
ou seja, ao que chamei "campo de efeitos magnéticos" de um elétron.
Perceba, então,
que não está faltando a equação pela qual você andou procurando. A
segunda das equações 6.4 é, conforme o raciocínio seguido, a equação que
define o "campo de efeitos magnéticos" de um elétron. Deve ser observado
que, se eu tivesse partido da lei de Biot-Savart, aí sim eu deveria
apresentar o campo b
de outra forma e chegaria então na primeira das equações 6.4 como
equação de definição do "campo de efeitos elétricos" de um elétron. Esta
liberdade de escolha de caminho para que se chegue à equação do elétron
(eq. 6.3) está referida ao final da seção 6.2 como "reversibilidade
matemática das vias teóricas".
Seção 6.3: A primeira
equação 6.10 está errada. Novamente você esqueceu que o
translacional não é linear.
Não. Você não
leu direito o texto. Eu não disse que as equações 6.10 são sempre
verdadeiras, mas, sim, que a função φ = K/r
goza das propriedades definidas pelas expressões 6.10. É muito fácil
demonstrar isso. É suficiente expandir ambos os termos das equações
(para φ = K/r), chegando-se às identidades.
Não entendi o
novamente. Até agora, observando-se o seu texto crítico, eu não
havia cometido este "erro"! Você apenas imaginou, ao referir-se à
equação 5.5, que eu poderia cair nesta armadilha. E ao acreditar, pela
primeira vez, que eu havia caído na mesma, teve uma sensação dejavù.
Infelizmente você
passa da 6.6 para a eq após 6.10 como se o translacional fosse
linear...
Eu não passei
da equação 6.6 para a equação "após 6.10", mesmo porque elas referem-se
a contextos diversos. Na eq. 6.6 (pertencente à seção 6.2) eu estou me
referindo a campos observados para populações de elétrons, e deixo clara
a impossibilidade de expressá-las em termos de um único vetor A
(exatamente em virtude do caráter não linear do translacional). Na
equação "após 6.10" eu estou me referindo a campos originados por um
único elétron [note o índice i bem como o afirmado no início da seção
6.3, onde a equação se localiza: "é possível considerar o campo
eletromagnético do elétron através de..."]. Você está
torcendo para que eu transforme o translacional em linear, não é mesmo?
...O seu erro foi supor que todos os
w
envolvidos estavam na mesma direção, o que é falso dentro de sua
própria teoria.
Espero ter
deixado claro que não cometi erro algum, a não ser possíveis erros de
clareza a ponto de permitir interpretações duvidosas quanto ao
significado físico-matemático do translacional. Em decorrência disso, e
até prova em contrário, este último trecho citado perde a razão de ser.
Msg 13
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Thursday, March 12, 1998
2:41 PM
Subject: Re: .Novo eletromagnetismo - 6a parte
Nesta mensagem
vou tentar responder a suas críticas referentes à
Seção 7
e à Seção
8 de meu trabalho.
Fabio Augusto da Costa Carvalho Chalub escreveu
Seção 7.1: Você diz
que um elétron pode passar do estado de repouso para um estado de
movimento uniforme em movimento inercial. Até onde se entende
movimento inercial é um movimente livre da atuação de forças
externas, e portanto é um movimento a velocidade constante.
Não encontrei o
texto referido e duvido que tenha feito tal afirmação. No início da
seção 7.1 faço referência à alteração do estado de movimento de uma
"carga elétrica" e não do elétron; e ao final da frase deixo claro que
esta alteração do estado de movimento subentende uma fase de aceleração;
este final destrói todo o seu argumento.
No terceiro
parágrafo da seção 7.1 digo que o fenômeno descrito pode ser expandido
para elétrons, "desde que eles sejam acelerados em direções
específicas..."
Corolário C7. Você
está definindo referencial inercial como o referencial de repouso do
elétron, o que é muito estranho, já que dois elétrons podem estar em
movimento relativo acelerado.
Será que o meu
inglês está tão ruim assim? Não é nada disso! Vou tentar traduzir à
minha maneira:
Corolário 7: Um referencial
inercial é aquele no qual a equação do elétron em repouso é A = w/r, e tal que os campos de efeitos x e
b (produzidos por este elétron) possam
ser expressos pelas equações 6.5.
Aliás,
prosseguindo-se a leitura do texto é possível perceber que a sua
afirmação não faz sentido. Caso contrário eu não precisaria ter definido
"referencial apropriado", ou seja, aquele no qual o elétron mantém P e
w constantes, e portanto está "em
repouso". Repare que na seção 7.2
afirmo: "No restante deste artigo iremos estudar somente 'campos'
produzidos por elétrons situados em sistemas de referência 'apropriados'
e 'inerciais' ". A sua crítica entra em conflito com esse texto em,
pelo menos, dois pontos: 1) Se você estivesse certo, eu estaria sendo
redundante ao dizer que um determinado referencial é apropriado e
inercial; 2) estou admitindo a possibilidade de existirem elétrons de
prova em movimento, sem restrição alguma (a restrição assumida refere-se
apenas aos elétrons que geram os campos a serem estudados).
Seção 7.2: "Pode
ser esperado, no entanto, que K mantenha-se constante para
v << c". Esta frase está completamente fora de contexto, pois você
tenta construir uma teoria não relativista e depois faz esta imensa
concessão à relatividade.
Não. O que
tentei deixar implícito no texto é que a teoria da relatividade de
Einstein não é obra do acaso. Einstein também não jogava dados.
Se ela está correta ou não, é um problema de fé. Mas esta fé apóia-se na
experimentação; e o que a experimentação diz é que ao nos aproximarmos
de uma velocidade v muito grande em relação ao referencial em que
vivemos, por exemplo, próximo a c, acontecem alguns fatos estranhos que
normalmente não são observados a velocidades menores. Não há como negar
este fato, posto que é isto o que se observa. Se eu tivesse negado, aí
sim, você facilmente poderia destruir a minha teoria. Por outro lado
¾e
isto, sim, confronta a minha teoria com a relatividade de Einstein¾
acontecendo o assinalado, ainda que para v próximo a c, estaríamos de
posse de "um argumento fortemente sugestivo a corroborar a intuição
de Newton com relação à existência de um referencial absoluto"
(trecho extraído do final da seção 7.2.1).
Não vejo nisto
concessão nenhuma que tenha feito a esta ou àquela teoria. Fiz
concessão, sim, à experimentação. Por outro lado, eu não tentei
construir uma teoria não relativista pelo fato de abominar a
relatividade. Ao final da
seção 1
deixei claro que iria, preliminarmente, manter-me alheio a dados
relativísticos; no entanto, conclui o pensamento afirmando que a
relatividade clássica iria desempenhar um papel importante no
desenvolvimento da teoria [e isto está explícito na seção 7].
Seção 8: Existe uma
confusão entre a velocidade que uma carga em movimento gera um campo
magnético e a velocidade com que uma carga em movimento em um campo
magnético sofre o efeito da força de Lorentz.
Esta confusão
existe, sim, e é inerente ao eletromagnetismo clássico ou, até mesmo,
"relativístico". Creio que o André Assis poderia lhe esclarecer esta
dúvida com mais propriedade, pois ele é um expert no assunto.
Dentro do que me cabe responder, eu diria que esta confusão não está
presente na minha teoria. Acredito que defini muito bem estas
velocidades. Qualquer confusão reside ou na discrepância com as
interpretações clássicas, ou devido ao fato de, na minha teoria, a
velocidade não participar da gênese do campo de efeitos magnéticos, mas
tão-somente na caracterização de seus efeitos. Não é um fato muito
simples de ser entendido, nem mesmo de ser aceito após o entendimento;
mas também não é uma bizarrice e, tampouco, coisa do outro mundo.
Por outro lado, a equação que eu apresento para forças sobre elétrons,
simula uma equação de Lorentz, no sentido de que é parecida com esta,
mas não só é diferente como também tem um sentido físico-matemático
diverso.
Msg 14
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Thursday, March 12, 1998
10:19 PM
Subject: Re: Novo eletromagnetismo - 7a parte
Nesta msg vou
tentar responder às críticas referentes ao item "Críticas mais
profundas" de sua mensagem de 8/3/98.
Fabio Augusto da Costa Carvalho Chalub escreveu
Críticas mais profundas.
Existe
uma caracterização de que as pessoas, sobretudo não especialistas,
que querem fazer teorias revolucionárias (mudar profundamente os
conceitos comumente aceitos) enquadram-se em 3 grupos: "a
relatividade está errada", "a mecânica quântica está errada" e "a
conservação de energia está errada".
Creio que já
respondi a este parágrafo na primeira
mensagem de 9/3/98. Ele está citado em virtude de sua ligação com o
seguinte, que é:
Você está claramente
enquadrado nos dois primeiros grupos, e tangencialmente no terceiro.
Digamos que a
minha teoria possa ser classificada desta forma sui-generis.
Continuemos, então:
... O primeiro pois
acredita na definição de um referencial inercial,...
Creio que
muitos físicos acreditaram ou acreditam na possibilidade desta
definição, e não me parece, salvo maior juízo, que isto seja um
pré-requisito para a aceitação ou negação da relatividade einsteiniana.
Existe, até mesmo, aqueles que definem um referencial inercial a partir
das equações de Maxwell; o problema, e este sim, é relativístico, é que
um referencial inercial maxwelliano não é um referencial inercial
newtoniano [Durma-se com um barulho desses!
].
O que eu acredito, e que vai contra a relatividade de Einstein, mas não
contra a relatividade, é num referencial absoluto; mas não me
utilizei desta "hipótese", ou melhor dizendo, desta fé, ao desenvolver
minha teoria.
...o segundo porque
ignora solenemente todas as experiências famosas da MQ...
Não é verdade.
Em primeiro lugar posto que experiências famosas da MQ, se é que
existem, são raríssimas. O que existem são experiências famosas da
física que receberam explicações ou interpretações compatíveis com a
teoria quântica [Creio que já disse algo a respeito e, ao que me parece,
você respondeu concordando com a idéia]. Em segundo lugar, porque
procuro não ignorar nenhuma experiência da física, nem as famosas, nem
as que estão na gaveta, como por ex. a experiência de Malus já citada [e
existem muitas outras, por sinal]. É óbvio que a minha capacidade de
assimilar estas experiências é limitada, mas não a ponto de ignorar as
famosas. Procuro, não obstante, não misturar "alhos com
bugalhos". Se a experiência de Malus é ou não importante para a física
quântica, isto pode me interessar como amante da física, mas não como
defensor de uma teoria que, por suas hipóteses, é incompatível com a
teoria quântica.
...e tenta dar um modelo
realista para o elétron.
Realmente. Sob
esse aspecto comungo do ideal realista que diz: "o fim último da
teorização científica é edificar teorias representacionais que abarquem
e expliquem as correspondentes teorias fenomenológicas". A esse
respeito situo-me ao lado da maioria dos físicos que fizeram importantes
contribuições para que a física quântica chegasse a ser o que é como,
por ex., Einstein, Schrödinger, De Broglie, Bohm, etc.
...A terceira, pois você
não trata de energia eletromagnética por que as suas equações não
são conservativas, e portanto não pode falar de energia.
Sob esse
aspecto [o caráter conservativo das equações] vou lhe dar um desconto
pois, conforme mostrei em
mensagem anterior, você não entendeu a seção 6.3 do meu trabalho.
Consequentemente, a
seção
6.4, intimamente ligada à 6.3, deve ter lhe passado desapercebida.
Nem de longe, sem o perfeito entendimento do que está explícito nestas
duas seções, a ponte que pode ser estabelecida entre as e.m.i
(informações eletromagnéticas) e o conceito de energia, poderia ter sido
suspeitada.
Seu texto ignora um
século de desenvolvimento em física e, a ler nas entrelinhas do seu
texto, isto deve ser uma vantagem, pois evita todas as bizarrices da
MQ. Evita-as escondendo-se como um avestruz, quando elas deveriam
ser encaradas de frente.
Deixarei esse
texto para ser comentado ao final, juntamente com outros dois que, na
minha opinião, estão bastante inter-relacionados.
As citações a Bohr são
infelizes, pois são postulados colocados apenas para justificar
certos fatos experimentais. Você parece desconhecer completamente
que as órbitas dos elétrons em um átomo de hidrogênio, ou mesmo
hidrogenóide, podem ser obtidas a partir da equação de Schrödinger.
Você parece
desconhecer que a equação de Schrödinger foi "deduzida" a partir de
equações outras que retratavam fatos experimentais supostamente
explicados pelos postulados que despreza. Equações não são nada mais que
equações! Física não é isso! Física é uma ciência experimental a
retratar fenômenos observáveis e que existem de fato. Se as equações
funcionam, ótimo. Vamos então utilizá-las. Procure, no entanto,
analisar, em seus escritos, o que está por trás da ênfase que você dá às
equações de Schrödinger ou de Dirac. De duas, uma: Ou você acredita
nestas equações pelo fato delas estarem respaldadas em postulados
consistentes; ou então você está nada mais, nada menos, que
refugiando-se nas "saias" supostamente autoritárias de Schrödinger ou
Dirac, físicos estes que não acreditaram nas suas equações tanto quanto
você vem demonstrando acreditar.
Basta procurar as
soluções desta que você verá que só existem algumas órbitas
admissíveis. Além disto o potencial a ser usado na equação de
Schrödinger é o potencial Coulombiano.
Isto é por
demais óbvio. Só não enxerga quem não quer. A equação citada apóia-se em
equações outras que foram deduzidas aceitando-se estas suposições: a das
órbitas "permitidas" e a do potencial coulombiano devido ao elétron.
Caso acontecesse o contrário seria de se esperar que a dedução da
equação estivesse errada.
Parabéns ao
Schrödinger matemático. Mas o que dizer do Schrödinger físico? Porque os
mesmos que aceitam sua equação, como um produto da genialidade humana,
tratam-no como um imbecil, quando examinam seus textos onde tenta
mostrar que também transportava um físico dentro de si?
Este mesmo problema
aparece relacionado ao spin, tanto no texto quanto nas nossas
discussões prévias. O spin não é uma hipótese ad hoc que persiste
sabe-se lá por que. O spin aparece naturalmente da equação de Dirac.
No que diz
respeito à equação de Dirac, vale tudo o que foi dito logo acima. Quanto
ao spin, volto a dizer, é um construto matemático, nada mais do que
isto. Funciona? Ótimo! Vamos então utilizá-lo. Nem por isso deixa de ser
irreal, abstrato e confuso. Nem por isso deixa de representar algo que
um dia será explicado de forma "melhor do que as confusas séries de
fórmulas que cercam o nosso tema" [palavras heréticas proferidas por
Schrödinger].
Quanto às
hipóteses ad hoc convém dizer que aceito-as como um recurso
legítimo em ciência, desde que não utilizado de forma abusiva e não
tendo, como única finalidade, salvar uma teoria que está se esfacelando
a olhos vistos. Em política existe um análogo bastante conhecido dos
brasileiros: "as medidas provisórias". Politicamente falando, trata-se
de um recurso sábio, desde que usado por políticos sábios e interessados
no bem estar da população e em condições de rara excepcionalidade.
(Acho que o problema é
que sua concepção de ciência, ou talvez apenas de MQ,...
Grato pelo
talvez.
...é que está é apenas
um acúmulo de postulados ad hoc, sem preocupação de
consistência entre eles.
Ou, quem sabe,
um acúmulo de equações que, em determinadas condições, funcionam, sem
que se saiba o porquê.
...Não é bem assim,
existem esforços de síntese,
Realmente.
Citaria os esforços de Einstein, De Broglie, Schrödinger, Bohm, e até
mesmo Dirac, por suas últimas conferências. Onde foram parar os produtos
destes esforços? Seriam apenas equações?
...que mostram que
muitos deles, em geral, são dedutíveis de teorias mais simples.
Com efeito. E
foi por isso que disse que os postulados não foram definitivamente
abolidos, como você dá a entender.
Msg 15
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Thursday, March 13, 1998
4:03 PM
Subject: Re: Novo eletromagnetismo - 8a parte
Com esta msg
encerro minha réplica às críticas até então apresentadas.
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu
Entre muitos outros
experimentos, um em particular destrói toda a sua teoria: efeito
Bohm-Aharonov.
Enfim, uma
crítica de fato à teoria, e não a possíveis erros contornáveis [por ex.
erros de refinamento, de complementação indevida, etc.] ou então a
interpretações e/ou problemas relativos a convicções íntimas do autor.
O efeito
Aharonov-Bohm (1959) é algo que foi descrito pela primeira vez, e ao que
parece num contexto mais abrangente, por Edmund Whittaker em 1903-4
através de dois trabalhos [O segundo, de 1904, pode ser encontrado em
Proceedings of the London Mathematical Society, Series 2, Vol 1, pp.
367-72]. É interessante notar que, nesta época, a física moderna, em
suas duas versões principais, residia ainda no útero materno. Whittaker
demonstra, neste segundo trabalho, o de 1904, que os campos
eletromagnéticos clássicos podem ser classificados como artificiais,
chamando a atenção para o que denominou interferometria potencial
escalar, que seria a base a comportar tais construtos de alto nível (os
campos de força).
A idéia de
considerar a força ¾e,
em decorrência, os campos de força,¾
como um construto de alto nível, creio que é de Newton, tendo sido
admitida em seus Principia. O interessante, e até mesmo inusitado para a
época de Whittaker (início deste século), era admitir o potencial como
entidade primária, e a força como um construto (isto soa como uma idéia
relativista não clássica). É como se eu dissesse que o importante para
definir a altitude de uma cidade seria a diferença de altitude entre
esta e outra cidade qualquer, desprezando outros dados relacionados a
esta segunda cidade. Ou seja, eu conheceria o distanciamento vertical
entre duas cidades, sem me preocupar em definir a posição de qualquer
das duas com relação ao planeta sede (por ex., sem me preocupar em
relacioná-las a algo como, por ex., o nível do mar). Nota-se aí um certo
desprendimento para com possíveis dados absolutos [a segunda cidade, do
exemplo citado, é um ponto de referência secundário, porém não fixo;
novas medidas utilizar-se-ão de outros referenciais, não havendo como
comparar os resultados].
Em 1949,
Ehrenberg e Siday [Proc.Phys.Soc. London, B62, 8, 1949], ao definirem o
que chamaram "índice refrativo do elétron como função do potencial
eletromagnético", e não do campo, chegaram a comentar sobre "um
curioso efeito", sem dúvida o próprio "efeito Whittaker", numa das
versões do que é hoje conhecido como efeito Aharonov-Bhom (AB).
Em 1959
Aharonov e Bohm redescobriram uma das versões do "efeito Whittaker",
rapidamente incorporada como um dos sucessos relativos à moderna teoria
quântica e, como tal, batizado como um "efeito quântico devido ao
fenômeno da interferência". Sem dúvida alguma, trata-se de um
fenômeno que a teoria de Maxwell-Lorentz não explica (em particular, no
que diz respeito à lei de Faraday), mas daí a dizer-se que é um fenômeno
quântico..? A menos que eu diga que é tão quântico quanto as "órbitas
permitidas" de Bohr, que também ainda não foram explicadas
classicamente. Hão de dizer que as
órbitas são permitidas pela equação de Schrödinger, o que é verdade.
Mas, e o efeito AB? Ora, a equação de Schrödinger está dotada de uma
propriedade denominada "gauge invariance" que se relaciona
ao potencial eletromagnético.
Para o leitor
leigo, se é que existe algum aqui, eu diria que seria semelhante a
dizer: Ao calcular a diferença de altitude entre São Paulo e Santos, eu
obterei o mesmo resultado, independentemente do local onde colocar o meu
referencial absoluto de altitude (por exemplo, o nível do mar, o centro
da Terra, um ponto situado no alto do Himalaia, etc.). Gauge significa
calibrar, aferir. Ao fixar o meu referencial de medida, estaria
calibrando, de forma conveniente para mim, as altitudes de cada cidade,
e isto não deve interferir (daí o termo invariância) na diferença de
altitudes entre duas cidades.
Voltemos à
invariância quântica de calibre. Ao que parece, o grande mérito de
Aharonov e Bohm foi terem demonstrado que a versão estudada do "efeito
Whittaker" passava pelo teste da gauge invariance,
compatibilizando-se portanto com a equação de Schrödinger. É possível
que o leitor tenha considerado esquisita a frase anterior.
Propositalmente inverti a lógica, a exemplo do que é feito por fração
significativa de eméritos físicos modernos. Deveria ter escrito: a
equação de Schrödinger passou pelo teste de falseabilidade proposto no
estudo do efeito AB.
Em 1995, J'un L'iu, após 4 anos de
repetidas rejeições editoriais injustificadas, publicou um trabalho
deveras interessante. Liu estuda o "efeito Whittaker"
sob um espectro mais abrangente do que o apresentado por AB. Em
decorrência de seus estudos, constrói uma teoria que "viola o
conceito de invariância de parâmetros físicos sob uma transformação
gauge eletromagnética" [uma tremenda heresia, a justificar o
imediato envio de Liu para a
fogueira kuhniana]. Liu propôs uma experiência, segundo Stirniman,
extremamente elementar e fácil de ser realizada. Traduzi alguns trechos
dos comentários de Stirniman:
"Sua
teoria é relativamente fácil de ser testada e verificada mas,
estranhamente, ninguém ainda se deu a esse trabalho. Seria porque
nós já sabemos que ela não pode ser verdadeira? Uma predição
interessante da teoria de Liu é que o potencial eletromagnético
resultará numa dilatação do tempo. Liu parece não ter dado conta de
que já existem evidências experimentais de que isto ocorra. [...]
Liu espera que alguém realize uma experiência a fim de verificar a
ocorrência, ou não, de uma mudança em comprimentos de onda,
utilizando um interferômetro quântico. Uma excelente idéia. Mas, o
que dizer dos pesquisadores que já mediram este efeito com um
relógio? [...] O efeito AB lançou fagulhas revolucionárias ao
pensamento físico. Existe uma variedade de idéias novas e
experiências, como a verificação da teoria de Liu, e que poderiam
começar a abanar (este pensamento físico) a ponto de rapidamente,
transformá-lo em chamas. Quando a chama tornar-se suficientemente
iluminada, assistiremos aos cientistas políticos começarem a
procurar por um assento confortável próximo ao fogo." [Robert Stirniman]
Mas... O que
isso tem a ver com a minha teoria? Ora, você disse que o efeito
Aharonov-Bohm destrói a minha teoria. Creio que não, mas não estou tão
certo de que a mecânica quântica resista a uma investigação a respeito.
A minha
teoria apóia-se fundamentalmente no conceito do vetor A. Este
vetor, conquanto aparentado com os vetores potenciais da física clássica
e/ou quântica, não é um potencial e sim um campo de fato. Ele não está
sujeito a "calibrações", como soe acontecer com os potenciais. Perceba
que eu não defini o referencial através de campo elétrico nem magnético,
mas através da equação que define o vetor A. Por outro lado, a
minha teoria pode ser estudada tanto vetorialmente quanto escalarmente (A
ou φ),
levando a condições idênticas. E tanto o campo
φ
quanto o campo
A de um elétron são campos conservativos, não no sentido usual,
mas no sentido de que me permitem a definição de uma entidade
conservativa e real, a "informação eletromagnética", intimamente
relacionada a efeitos úteis, porém artificiais, tais como a energia
espalhada pelo espaço, o índice de refração de elétrons, e tantas outras
bizarrices da física moderna contidas na equação de Schrödinger. Meu
vetor A não precisa ser calibrado, posto que ele comporta apenas
um único valor para cada situação considerada. E onde existir um campo
A, ainda que não existam "campos de efeitos elétricos ou
magnéticos", existirão aí informações eletromagnéticas em trânsito. Só
não digo que o "efeito Whittaker" possa ser, eventualmente, detectado em
locais em que A=zero porque, como você mesmo observou, este A=zero
é sem sentido para a minha teoria, haja visto que o translacional não é
linear. De que me adianta calcular o somatório de A se ele deixa
de ser útil para a teoria. Porém, se raciocinarmos em termos de
eletromagnetismo clássico, a minha teoria não estranharia um "efeito
Whittaker" nem mesmo em locais onde o vetor potencial eletromagnético se
anula juntamente com os campos E e B da teoria de Maxwell.
Não comentei
nada sobre o que chamei campo de efeitos indutivos. Este seria, talvez,
o responsável por alguns dos "efeitos Whittaker". Ainda não consegui
explorar essa idéia em toda a sua potencialidade. Existe aí alguma coisa
a me dizer que o vetor A poderia ser expresso como a componente
de um tensor. Não obstante, não creio que para tanto deva acrescentar
qualquer hipótese à teoria. Sob o ponto de vista eletromagnético,
considero-a completa. Talvez a teoria comporte uma extensão, a
complementar o tensor citado, no sentido de estabelecer uma ponte entre
eletromagnetismo e gravitação. Neste caso, sim, acredito seja necessária
a introdução de mais uma hipótese.
Alguns
perguntam-me se a teoria apresentada é uma teoria de campo ou de
partículas. Respondo: nem uma, nem outra; é uma teoria de comunicação.
Qualquer teoria de comunicação que se preza, seja entre seres humanos,
formigas, planetas, ou partículas elementares, deverá apresentar pelo
menos quatro hipóteses: H-1) hipótese da existência e definição do ser
que emite; H-2) hipótese da existência, definição e admissão da emissão
do que há de ser comunicado; H-3) hipótese relacionada ao mecanismo de
propagação da informação; H-4) hipótese relacionada ao mecanismo de
recepção da informação. Obviamente, para informações mais complexas, o
número de hipóteses necessárias deve crescer. Consequentemente, o campo
nada mais é do que a expressão física das informações em trânsito; e as
partículas nada mais são do que os agentes emissores e receptores. Por
ser uma teoria de comunicação, onde quer que exista a informação ela
admitirá a possibilidade de um efeito, mesmo que todos os campos se
anulem.
...Neste efeito as
trajetórias clássicas do elétron são perturbadas pelo
quadri-potencial eletromagnético A, e não pelo campo. Ou seja o
elétron segue uma trajetória que não passa, em nenhum momento em um
campo elétrico ou magnético, mas mesmo assim ele sente sua presença,
através do potencial A, que não é zero no local. Assim pode-se
suspeitar que o potencial A é a grandeza fundamental, e não os
campos E e B. No entanto o potencial A do eletromagnetismo é muito
distinto do seu potencial A.
Com efeito. E é
graças a essa diferença que a física quântica passará, e outras teorias
surgirão tendo por finalidade principal retirar a física do atoleiro em
que se encontra há quase um século.
Seu texto ignora um
século de desenvolvimento em física e,...
Espero ter
mostrado que não. Ignorei, sim, décadas de tentativas de lavagem
cerebral que, lamentavelmente, são impostas, à juventude universitária
pelos falsos seguidores de Bohr.
...a ler nas
entrelinhas do seu texto, isto deve ser uma vantagem, pois evita
todas as bizarrices da MQ.
Poder
conhecer a física sem precisar trabalhar com a equação de
Schrödinger, realmente, parece-me ser uma vantagem sem precedentes.
Raciocinando do ponto de vista puramente matemático, confesso: Já
cheguei a admirar esta equação. Do ponto de vista prático, e deixando de
lado seu valor histórico, admiro-a hoje tanto quanto aos jogos de
paciência de meu computador.
Evita-as
escondendo-se como um avestruz, quando elas deveriam ser encaradas
de frente.
Espero ter
deixado claro quem é o avestruz nessa história.
Uma pergunta sua,
algumas discussões atrás, algo como "será que existe algum efeito
que a MQ ainda não explicará através de hipótese ad hoc?"
mostra muito claramente esta concepção.
Para ser
sincero, não estou tão otimista quanto Stirniman. A fogueira prevista
por Stirniman será acesa, sim; mas logo aparecerão milhares de servos de
Sua Majestade, a MQ, com toneladas de água para apagá-la. Quiçá, surjam,
graças aos trabalhos de J'un L'iu, uma ou duas outras fantásticas
equações que os céticos terão de engolir. E a história repetir-se-á até
que...
Um grande
abraço e muito obrigado pelas valiosas críticas que tanto enobreceram
meu trabalho. Não espero tê-lo convencido de nada, mas estou certo de
que contribui para a produção de inúmeras reflexões. Se quiser fazer
mais algum comentário e/ou crítica, ou mesmo uma tréplica, agradeceria
antecipadamente. Se alguém, além do
Fabio, chegou até aqui, abraços e parabéns.
Msg 16
From: "Alberto Mesquita Filho"
Newsgroups: uol.ciencia
Sent: Sunday, March 29, 1998 5:08
PM
Subject: Re: Novo eletromagnetismo - Final
Caro amigo
Fabio
Grato pela
atenção e consideração que nos últimos meses você dedicou à minha
teoria. Estou aqui expondo algumas idéias em resposta ao colocado por
você em sua última mensagem (sem a intenção de gerar mais polêmicas, o
que, a princípio, é muito difícil).
Fabio Augusto da Costa
Carvalho Chalub escreveu no artigo
Desculpe a demora
(quase duas semanas), mas eu estive tremendamente ocupado nestes
dias e não pude pensar seriamente no que você tinha escrito. Mas
acho que agora vai...
...você nega a
importância dos infinitésimos
Não. Existe em
matemática uma disciplina denominada "Cálculo Diferencial e Integral". O
"e", do título da disciplina, não é retórico. Alguns físicos costumam
distinguir uma disciplina a que chamam "Cálculo Infinitesimal e
Integral" o que, a meu ver, é redundante, pois Integrar, no sentido
riemaniano, implica em somar, de modo apropriado, infinitésimos. Este
Cálculo Infinitesimal e Integral (sic) é apenas uma parcela do Cálculo
Diferencial e Integral, pois despreza o conteúdo do termo Diferencial.
Eu não nego a importância dos infinitésimos mas enfatizo a importância
das diferenciais. Com efeito, não conheço uma teoria física que tenha
evoluído no sentido do entendimento e/ou representação do microcosmos e
que tenha desprezado este poderosíssimo recurso matemático: as
diferenciais.
Em outras palavras se
uma nova teoria que se propõe a substituir uma teoria antiga não for
capaz de explicar o que a anterior já explicava, então ela não é uma
boa teoria.
A teorização,
em ciência, tem por finalidade inicial propor mecanismos que expliquem a
realidade. Tendo em vista o conteúdo universal da realidade física,
surgem teorias antagônicas neste ou naquele aspecto. Em decorrência
deste antagonismo, algumas teorias acabam sendo deixadas de lado, e
tem-se a impressão de que as teorias sobreviventes vieram para
substituir aquelas que se tornaram obsoletas.
Os falsos
"profissionais da ciência" (termo este inerente à "filosofia" de
Thomas Kuhn) seriam aqueles que, em "períodos normais" ignoram a
teorização e, em "períodos revolucionários" procuram substituir teorias
decadentes por outras. Via de regra são suplantados por aqueles que,
"amadoristicamente", deixaram de lado as regras utilitaristas (e/ou os
critérios de utilidade) e, avessos aos consensos dogmáticos, procuraram
explicar a realidade por outros ângulos. [Ao que parece, os seguidores
de Kuhn consideram "profissionais" aqueles que se adaptam aos consensos,
ou seja, são pagos para adaptarem-se a uma idéia preconcebida].
Se uma teoria
explica o que a anterior já explicava isto é muito mais consequência de
ser uma boa teoria do que do fato de seu autor ter se proposto a isso.
Mesmo porque, se não explicar, outras teorias melhores surgirão. Repito:
não existe substituição. Existe, sim, competição, mas as teorias caem
por si sós; ou então, como diria Planck, através da aposentadoria ou
mesmo morte de seus defensores.
Enfim, uma crítica
de fato à teoria, e não a possíveis erros contornáveis
Na sua opinião. Em outros textos, já tinha perguntado sobre efeito
túnel, dupla fenda e outros, com respostas sempre insatisfatórias.
Acredito que a
resposta tenha sido insatisfatória por vários motivos mas,
principalmente, em virtude do contexto em que as perguntas foram
formuladas. Estávamos no início de uma discussão onde você se referia
criticamente a tópicos de meu texto relativos a argumentos iniciais, nos
quais eu procurava contrastar as hipóteses apresentadas com algumas
bizarrices quânticas.
Como disse
acima, não construí uma teoria com a finalidade de substituir outra e,
consequentemente, não entendo que deva, a priori, explicar tudo
que a MQ "explica" (o que não significa que não possa explicar). Por
outro lado, se alguém disser que "o efeito túnel é um efeito
quântico", eu posso lhe garantir que, nesta conotação, não há como
explicá-lo pela minha teoria (a MQ extrapola excessivamente o caráter de
teoria, situando-se muito mais no âmbito do que poderíamos chamar
doutrina ¾vide
abaixo). Se nos lembrarmos, no entanto, de que o efeito túnel refere-se
a um fenômeno notado por Newton (creio que o Aristóteles não chegou a
tanto), poderemos não só estudar o fenômeno através da minha teoria como
também adequarmo-nos aos achados laboratoriais descritos neste século e
que lembram em muito o tunelamento newtoniano. Posso então "tentar
explicar" o fenômeno a que os físicos quânticos chamam por "efeito
túnel", da mesma forma que posso "tentar explicar" o fenômeno a que os
físicos quânticos chamam por spin (algo também implícito à teoria
newtoniana e documentado num contexto ligeiramente diferente e com outro
nome, na Óptica III). O mesmo se diga com relação à dupla fenda,
cuja linha "inicial" de raciocínio já foi esboçada em
msg anterior.
"Fenômeno
quântico" é uma expressão que não se adapta à física e sim à "doutrina
quântica" e, como tal, sua explicação extrapola o que poderíamos
considerar ciência. Não há como explicar, cientificamente, "fenômenos
quânticos".
Você deveria olhar o
artigo antes. Não vejo a mais vaga relação entre este e o efeito
Bohm-Aharonov.
Talvez você
tenha razão dentro do aspecto doutrinário acima referido. Realmente, o
efeito "quântico" Bohm-Aharonov não tem nada a ver com o efeito
Whittaker. O efeito Whittaker, "pelo que entendi" do texto anexado em
sua mensagem (espero não ser acusado de deformá-lo), refere-se à
possibilidade em se documentar distúrbios eletrodinâmicos observados no
"éter" e devidos a elétrons em movimento, em termos das derivadas de
dois potenciais escalares.
O efeito
Aharonov-Bohm relaciona-se a elétrons viajando por este "éter" de
Whittaker e que seriam, na opinião implícita pelo autor, sensíveis a
estes dois potenciais, e não tão somente a possíveis campos elétrico e
magnético. É óbvio que estamos nos referindo a algo concebido há 94
anos, devendo-se dar os devidos descontos. Mas uma coisa é certa:
existe, há 94 anos, pelo menos, uma maneira clássica de se explicar um
fenômeno "considerado inexplicável pela física clássica" (segundo
Feynman, Lectures).
Quem derrubou muitas
das noções presentes (éter, por exemplo) foi um físico sem expressão
nenhuma, que sequer tinha emprego acadêmico (Einstein).
Um verdadeiro
"cientista amador", sem sombra de dúvidas; e que continuou com o
espírito amadorístico, mesmo após ter se profissionalizado.
Você deve achar
(claro) que o artigo do Witthaker era muito melhor, e que não
sobreviveu devido a lavagem cerebral relativista.
"Lavagem
cerebral relativista" é um termo novo para mim. Não posso garantir que
não exista, mas não é do meu conhecimento. Qualquer físico relativista
que se proponha a tal perversão certamente não entendeu o principal do
pensamento de Einstein. Certamente, não é um bom físico relativista e,
em decorrência disso, não terá sucesso nesta pretensa "lavagem".
A invariância de
gauge da equação de Schrödinger, está associada a fase da função de
onda. A invariância de gauge do eletromagnetismo está associada a
poder somar funções ao quadri-potencial. Da relatividade geral com
as deformações (difeomorfismos) do espaço-tempo.
Sim, mas se
raciocinarmos fisicamente perceberemos que "existe" alguma coisa em
comum por trás de todos estes artifícios matemáticos.
Poder "conhecer a
física" sem precisar trabalhar com a equação de Schrödinger,
realmente, parece-me ser uma vantagem sem precedentes.
Então, por favor, me
deduz as raias espectrais, de outra maneira.
Dê tempo ao
tempo.
Semicondutores tem
belíssimas explicações (muitas das quais parciais e ad hoc)
mas que usam a equação de Schrödinger. Sem ela, não conheço nenhuma
explicação.
Ou seja,
citando Schrödinger, você conhece um fenômeno que se presta a ser
equacionado mas... "não conhece nenhuma explicação".
...o ato de discutir,
quando conduzido com um certo bom senso mínimo (como foi o caso) é
sempre produtivo.
Concordo, e
espero ter correspondido a este mínimo.
Acho que valeu a
pena.
Sem dúvida.
Encerro minha
participação aqui, depois de pouco mais de um mês de discussão.
Provavelmente você responderá as minhas críticas. Mas eu não as
replicarei por que acho que já estamos nos repetindo. Grande abraço
Com efeito. De
qualquer forma, creio que contribuímos para elevar o nível da Usenet
brasileira. Como diria Lao Tse, "tudo
o que tem um princípio, tem um fim" e o importante é que atingimos
nosso objetivo com dignidade. Se, no decorrer do tempo, nada restar da
minha teoria, restará para mim a saudade destes momentos alegres de
discordâncias amigáveis que travamos.
Muito obrigado, e outro grande abraço.
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