Alberto Mesquita Filho
Editorial - Integração VI(20):3-5,2000
Ilmo. Sr. Professor da
Universidade São Judas Tadeu.
O ano de 1999 representou, para a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade São Judas Tadeu, um marco de sua existência. Tratou-se do ano V da revista Integração ensino-pesquisa-extensão, foi o ano do V Simpósio Multidisciplinar e, em novembro último, o Centro de Pesquisa da Universidade comemorou o seu quinto ano de atividades, época em que aproveitamos para divulgar, através de um livro, os primeiros resultados observados com o Regime de Iniciação Científica, obra prioritária para o primeiro quinquênio de nosso projeto original. Foi também o ano em que a Câmara de Pesquisa e Pós-Graduação solidificou-se como órgão de apoio ao CEPE e como orientadora desta Pró-Reitoria, em especial em assuntos relacionados à regulamentação do setor de cursos de especialização (pós-graduação
lacto sensu) e à sistematização de nossa pós-graduação stricto sensu, a ser brevemente criada. É importante realçar que nada disso faria sentido se não dispuséssemos de um corpo docente de altíssimo nível a nos apoiar bem como a entender que o objetivo de nossa empreitada visa a propiciar condições para que possamos, às nossas custas, manter o elevado conceito que hoje desfrutamos perante a comunidade educacional, adquirido graças à colaboração indireta que obtivemos, nas últimas décadas, das universidades tradicionais brasileiras. É nosso objetivo, também, promover a Comunidade São Judas Tadeu, bem como a Comunidade da Zona Leste de São Paulo e, para tal, mister se faz que saibamos não apenas planejar mas também discernir quando e se devemos colocar em prática o produto de nossos estudos, pesquisas, experiências e observações controladas do dia-a-dia.
Por motivos óbvios e de parte a parte, não tem sido possível manter conversações rotineiras do Pró-Reitor que assina esta carta com todos os membros do corpo docente. Ainda que já tenha manifestado aos membros da equipe que trabalha comigo a intenção de atender a todos quantos me procurarem, estou ciente de que dados o tamanho da Universidade São Judas Tadeu e as atribuições que sou obrigado a priorizar, nem sempre me é possível compatibilizar a disposição em atendê-los com o tempo que sobra, e deste com o tempo disponível pelos solicitantes. Lembro então a existência de outros canais de comunicação: 1) públicos (apresentação de temas em simpósios, envios de artigos para a seção "Conceitos, Polêmicas e Controvérsias" ou então de cartas para a seção "Correspondência" da revista Integração); 2) oficiais (seguindo as vias normais e a depender do assunto e que poderia ser, por exemplo, "Coordenador
—> Diretor —> Pró-Reitor" ou então "Secretária do CP —> Diretor do CP —> Pró-Reitor" ou ainda mensagens enviadas para o Centro de Pesquisa (o e-mail do Centro de Pesquisa é pesquisa@saojudas.br); 3) extra-oficiais (cartas, mensagens eletrônicas) etc.
Caso o professor queira conhecer o que penso sobre temas universitários em geral ou mesmo à política que tenho adotado em minha gestão como Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, sugiro que acompanhe os Editoriais que escrevo trimestralmente para a revista Integração a qual é distribuída gratuitamente a todos os professores do Complexo Educacional São Judas Tadeu. Nestes editoriais procuro enfocar temas de interesse a nossa comunidade e a refletirem o que penso sobre assuntos que chegam a mim, dentre outras maneiras, através dos canais acima apontados. Reproduzo abaixo o título dos editoriais escritos nos últimos cinco anos e que podem ser encontrados em nossa biblioteca ou em nosso site na Internet:
- O que é a Universidade, afinal? Integração (I)1:3-4, 1995.
- Universidade e Autonomia. Integração (I)2:83-5, 1995.
- Outubro, o mês da poesia na São Judas. Integração (I)3:163-5, 1995.
- E a formação de cientistas? Integração (II)4:3-4, 1996.
- A revolução que está a termo. Integração (II)4:4-5, 1996.
- Pensando a educação. Integração (II)5:83-4, 1996.
- Preconceitos a parte... Integração (II)6:163, 1996.
- E eu com isso? Integração (II)6:4, 1996.
- Democratizar o acesso ao conhecimento. Integração (II)7:243-4, 1996.
- A universidade e a infoera. Integração (III)8:3-4, 1997.
- A pós-graduação, no Brasil, está consolidada? Integração (III)9:83, 1997.
- O ano em que a universidade parou... Integração (III)10:163-5, 1997.
- Sem censura? Integração (III)11:243-4, 1997.
- O uso do cachimbo... Integração (IV)12:3-4, 1998.
- Crise ou marasmo? Integração (IV)13:83-4, 1998.
- Universidade São Judas de roupa nova. Integração (IV)14:163-4, 1998.
- O fim do vestibular? Integração (IV)15:243-4, 1998.
- A Usenet e a Universidade. Integração (V)16:3-4, 1999.
- Os fenômenos naturais e seus princípios. Integração (V)17:83-4, 1999.
- A produtividade literário-científica brasileira. Integração (V)18:163, 1999.
- Educação a distância e a Universidade do futuro. Integração (V)19:243-4, 1999.
Tenho também escrito, esporadicamente e como autor ou co-autor, artigos outros e, dentre aqueles que, de alguma maneira, relacionam-se ao nosso projeto, poderia citar:
- Participação em "Mesa redonda: A pesquisa na universidade particular". Integração (I)1:51-75, 1995.
- A síndrome dos três i's. Integração (I)2:128-32, 1995.
- Sobre o Regime de Iniciação científica. Integração (I)3:214-9, 1995.
- Revistas científicas e a realidade nacional. Integração (II)6:222-4, 1996.
- Teoria sobre o método científico. Integração (II)7:255-62, 1996.
- A universidade e a imprensa. Integração (III)9:116-8, 1997.
- Integração ensino-pesquisa-extensão. Integração (III)9:138-43, 1997.
- Diálogos Usenet. Integração (V)18:208-14, 1999.
- Experiência de uma revista interativa na Internet — A metodologia Net-In. Integração (V)19:262-4, 1999.
Lembro ainda que nos editoriais da revista Integração, e sempre que pertinente, procuro guiar-me pelas diretrizes fixadas e/ou adotadas pela entidade mantenedora da Universidade. Desta forma, ainda que não seja um documento oficial da entidade citada, o editorial, de alguma maneira, reflete a opinião de um Pró-Reitor sobre assuntos oficiais que lhe são afetos e que julga conveniente levar a conhecimento da comunidade.
Aos professores que me conhecem, seja através do contato pessoal, seja através da leitura de meus escritos ou da observação de minhas palestras ou, ainda, da análise da atuação da equipe que comigo trabalha, não deve ser surpresa destacar o quanto tenho devotado de meu tempo a defender uma revolução educacional a primar por um ensino verdadeiramente criativo e a consubstanciar o que os educadores de respeito têm como certo. Parece mesmo existir um certo consenso nacional a referendar o que pensam esses educadores. Não obstante, realça o marasmo ou a falta de disposição para que se inicie um processo que todos sabem: mais cedo ou mais tarde será deflagrado. Por quê então esperar? Preguiça? Insegurança? Má vontade? Desamor?
Ao lado deste marasmo a acometer os privilegiados pelo sistema e que, de uma forma ou de outra, poderiam desencadear o processo de mudança, existe ainda a ignorância das massas, ou dos excluídos, a propalar impropérios ouvidos dos agentes da mídia e que, distantes dos problemas educacionais, interpretam esta imutabilidade como um sinal de que o sistema vai bem e, consequentemente, os problemas, quando flagrados, são meramente locais.
Por exemplo: repete-se, com frequência, que o computador substituirá o professor e a escola cederá o seu lugar para a educação a distância. Com efeito: a) se aceitarmos o ensino decadente que temos flagrado nas últimas décadas, e em todo o país, como o ideal; b) se pensarmos no professor como um mero transmissor de informações; c) se pensarmos no cérebro do aluno como um mero banco de dados; e d) se pensarmos, enfim, na escola, como o ambiente ideal para formar "papagaios cultos", então não tenham dúvidas de que a escola está com os seus dias contados. Por outro lado, pergunto: O computador será capaz de explorar e/ou desenvolver a intuição das pessoas? Digo intuição no sentido mais simples possível, qual seja, o ato de ver, perceber, discernir, pressentir... Será o computador capaz de tornar as pessoas criativas ou então explorar e/ou desenvolver a criatividade inerente ao ser humano? A exceção do que se vê em filmes de ficção, quando foi a última vez que observou-se o computador criar alguma coisa? Consequentemente, e raciocinando por absurdo, diria: Ainda que fosse possível ao computador efetivamente ensinar um aluno, este computador precisaria ser gerenciado por um ser criativo. Mas em que recinto este ser criativo foi formado se, no mundo assim proposto, não existem mais escolas mas apenas bancos de dados interligados?
Outro exemplo: Recentemente a Universidade São Judas Tadeu foi alvo de chacota por parte de um famoso apresentador de programa de televisão pelo fato de que três de seus alunos, que compareceram ao programa por vontade própria, desconheciam um dado aceito "por consenso" como de "domínio público acadêmico", qual seja: os alunos deveriam saber, dentre os continentes América e Ásia, qual o de maior superfície. Este "domínio acadêmico", obviamente, existe apenas na mente daqueles que aceitam a identidade homem-máquina ou, ainda, daqueles que acreditam na similaridade entre o homem e o papagaio no que diz respeito ao aprendizado.
Mais grave foi a repercussão que o fato teve em alguns setores educacionais. Dignas de nota foram as manifestações pró ou contra a opinião do apresentador, a meu ver ambas falaciosas. Ressalte-se que até mesmo aqui na Universidade São Judas, ainda que em grau menor, flagramos opiniões, emitidas por professores e alunos, dos dois tipos e a justificarem e/ou se apoiarem na aprovação do sistema educacional vigente e em franca decadência.
Os que defenderam a posição assumida pelo apresentador admitiram implicitamente que é função da escola cuidar para que seus alunos decorem determinados lemas ou motes aceitos pela mídia, ou sabe-se lá por quem, como característicos de uma cultura de nível superior. O simples não saber de uma destas questões por um ou mais de seus alunos seria motivo de chacota a comprometer o bom nome da instituição de origem. Será que os que assim pensam estão propondo a adoção de cartilhas nos cursos universitários? E supondo que sim, estariam propondo que o critério de aprovação fosse a captação de 100% do conteúdo desta cartilha? Sinceramente, é lamentável que existam universitários a pensarem desta maneira.
Os que atacaram a posição assumida pelo apresentador procuraram justificar o erro cometido pelos alunos através de meios outros que não a crítica ao sistema que tem levado a população a raciocínios falaciosos. Alguns chegaram a afirmar que a dúvida apresentada pelos alunos seria irrelevante, ou seja, o assunto não estaria incluso em "suas cartilhas"; digno de nota foi o cálculo que alguns fizeram da diferença percentual entre as superfícies da América e da Ásia, concluindo-se daí que o erro dos alunos não foi "estatisticamente significativo". Outros chegaram mesmo a "pesquisar" entre a população, não apenas da Universidade São Judas mas também de outros rincões, quantos saberiam responder corretamente à questão; e ao que parece verificaram uma correlação positiva e "estatisticamente significativa" entre os que sabiam responder a questão e os que tinham jogado "War" na infância.
A grande maioria se calou, talvez por considerar o assunto de pouca importância ou, então, pensando em não se comprometer ou, quem sabe, por estar contaminada pelo marasmo acima apontado. E eu fico pensando: Numa era em que a universidade é avaliada por apresentadores de televisão ou, até mesmo, por critérios estabelecidos pela revista
Playboy... Quem sabe tenha mesmo chegado a hora de sermos substituídos por computadores.
Espero que o assunto apontado sirva para gerar debates, críticas e reflexões em meio ao nosso corpo docente e, desde já, coloco à disposição dos interessados em polemizar a respeito, um espaço no VI Simpósio Multidisciplinar da USJT, a ser realizado em outubro do ano 2000 e que terá, como tema central "A Educação a Distância". Quanto ao mais, desejo a todos um Feliz Natal e que o ano de transição entre o segundo e o terceiro milênio, seja repleto de alegrias, votos estes extensivos a seus entes queridos.
São Paulo, 02 de dezembro de 1999
Alberto Mesquita Filho
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
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